AUTOBIOGRAFIA DE MEU PAI: QUANDO A ESCRITA DE SI SÓ É POSSÍVEL ATRAVÉS DO OUTRO

Autores

  • Juliana Milman Cervo Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Resumo

Resumo: o presente trabalho propõe-se a aprofundar a noção de autobiografia enquanto constituída através de uma relação de alteridade. A partir do livro escrito por Pierre Pachet (1994), denominado de “Autobiographie de mon père”, o psicanalista Pontalis (1991) desenvolve uma análise da escrita de si que se faz possível somente por intermédio de um outro que nos habita, de um certo distanciamento promovido pela ficção. Diante de uma experiência traumática, de perda ou de luto, o sujeito se vê impossibilitado de se apropriar de sua história. Os escritores, na vivência íntima do relato em primeira pessoa, buscam estratégias enunciativas para elaborar sua dor. O trabalho discute em que medida o “eu” e o “tu”, o “eu” e o “ele” conseguem se mesclar a ponto de borrar os limites da biografia e da autobiografia. Além disso, dispõe-se a pensar que talvez a experiência de si só consiga ser narrada exatamente ali onde os limites se perdem, nos espaços fronteiriços que revelam a força de uma existência.

Biografia do Autor

Juliana Milman Cervo, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Mestranda em Escrita Criativa pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com Trabalho de Conclusão de Curso acerca da escrita autobiográfica na interface entre literatura e psicanálise.

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Publicado

2017-08-01