Problematizando paradigmas patriarcais de heroísmo

memória e discurso narrativo em “Soldados não choram”

Autores

  • Matteo Gigante Universidade de Lisboa - Faculdade de Letras - Membro integrado do CLEPUL

Resumo

Este trabalho propõe uma reflexão acerca do mito do heroísmo e sobre a coercitiva construção da identidade masculina a partir do depoimento Soldados não choram (2008), redigido pelo jornalista Roldão Arruda para narrar das vivências de Fernando de Alcântara Figueiredo e Laci De Araújo, o primeiro casal assumidamente homossexual no Exército Brasileiro. Este relato, que apresenta analogias genológicas com o testemunho latino-americano, considera-se importante na reivindicação de instâncias políticas de revisão das instituições militares num sentido democrático. Na sua crítica dos abusos e da arbitrariedade dos poderes, refletindo sobre a quimera da perfeição e sobre as injustiças sociais, este texto apresenta, implicitamente, um novo modelo de heroísmo. Um heroísmo antiautoritário disposto a enfrentar modelos sociais excludentes, como o patriarcado, redesenhando uma masculinidade que, historicamente vinculada com o poder, gera um sofrimento externo e interno, exacerbado no contexto castrense. Neste sentido, analisaremos como determinadas instituições condicionaram o devir do protagonista que, por outro lado, apesar dos poliédricos domínios dos dispositivos repressivos, conseguiu afirmar-se como sujeito histórico resistindo às constrições sociais e representando esta resistência através da escrita desta obra, que se apresenta como uma preciosa ferramenta de reflexão sobre um micromundo militar, raramente questionado de perto.

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Publicado

2022-06-12