Cartas de Graciliano Ramos: uma epistolografia do corpo

Autores

  • Lygia Barbachan de Albuquerque Schmitz Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Resumo

O consumo crescente de textos que, de alguma forma, trazem o “eu” para o centro da escrita, proliferam desde as décadas de 1970-80 no mercado editorial latinoamericano, dentre eles, no Brasil, as edições de cartas de escritores consagrados da literatura nacional. Para além da “espetacularização do sujeito” (ARFUCH, 2010) ou “biografismo”, defendemos, via Silviano Santiago (2006), a importância de “ler” a vida do autor junto à sua obra para que, a partir do estabelecimento de jogos intertextuais, ampliemos a compreensão da obra artística e aprofundemos o conhecimento acerca da história literária. Partindo do pressuposto de que as experiências pessoal e literária, nas epístolas de Graciliano Ramos, se “tocam” – conforme Nancy (2000) –, apresentamos algumas das reflexões metalinguísticas sobre a natureza da criação literária e do ofício do escritor. Pretendemos com isso ter demonstrado que: 1. as cartas constituem um rico material para a compreensão do universo literário do autor; e 2. o estudo epistolográfico permite-nos não somente “ler” o corpo que escreve como pensar esse corpo como responsável pela ficção que perpassa a escrita das cartas de Graciliano Ramos, que, imerso e absorto no processo de escrita, faz com que a literatura confunda-se com a sua própria vida.

Biografia do Autor

Lygia Barbachan de Albuquerque Schmitz, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Bacharel em Língua e Literatura Vernáculas (UFSC)

Mestrado em Literatura (UFSC)

Doutoranda em Literatura (UFSC)

Referências

ANDRADE, M. A lição do guru: cartas a Guilherme Figueiredo (1937-1945). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1989.

ARFUCH, L. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Trad. Paloma Vidal. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2010.

BLANCHOT, M. O espaço literário. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.

BORGES, J. L. Borges e eu. In: ______. O fazedor. Tradução de Josely Vianna Baptista. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 54- 55.

BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. 3. ed. São Paulo: Cultrix, 1994.

CARTAS inéditas de Graciliano Ramos a seus tradutores argentinos: Benjamín de Garay e Raúl Navarro. Introdução, ensaios e notas de Pedro Moacir Maia. Organização e apresentação de Fernando da Rocha Peres. Salvador: EDUFBA, 2008.

FOUCAULT, M. A escrita de si. In: ______. O que é um autor?

Prefácio de José A. Bragança de Miranda e António Fernando Cascais. Trad. António Fernando Cascais e Edmundo Cordeiro. Lisboa: Vega, 1992. p. 127-160.

GARRAMUÑO, F. O regionalismo crítico de Vidas secas. Tradução de Jorge Wolff. Crítica cultural, Palhoça, v. 5, n. 1, p. 89- 101, jul. 2010. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.19177/rcc.v5e1201085-102>. Acesso em: 15 ago. 2016.

KLINGER, D. I. Escritas de si, escritas do outro: autoficção e etnografia na narrativa latino-americana contemporânea. 2006. 204f. Tese (Doutorado em Letras) – Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. Disponível em:

<http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?sele ct_action=&co_obra=198038>. Acesso em: 14 set. 2013.

MIRANDA, W. M. Corpos escritos. 2. ed. São Paulo: EdUSP, 2009.

NANCY, J.-L. Corpus. Trad. Tomás Maia. Lisboa: Veja, 2000.

_____. Ser singular plural. Trad. Antonio Tudela Sancho. Madrid: Arena, 2006.

RAMOS, G. Cartas. Nota de Heloísa Ramos. 8. ed. Rio de Janeiro: Record, 2011.

______. [Carta a Candido Portinari, de 13 fev. 1946]. In: RAMOS, C. Mestre Graciliano: confirmação humana de uma obra. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1979. p. 130-131.

______. Caetés. Prefácio de Wilson Martins. 10. ed. São Paulo: Martins, 1972.

______. São Bernardo. Posfácio de João Luiz Lafetá. 64. ed. Rio de Janeiro: Record, 1995.

SANTIAGO, S. O entre-lugar do discurso latino-americano. In: ______. Uma literatura nos trópicos: ensaios sobre a dependência cultural. 2. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2000. p. 9-26.

______. Suas cartas, nossas cartas. In: ______. Ora (direis) puxar conversa!: ensaios literários. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. p. 59-95.

SÜSSEKIND, F. Tal Brasil, qual romance? Uma ideologia estética e sua história: o naturalismo. Rio de Janeiro: Achiamé, 1984.

WOLFF, J. Florencia Garramuño traduz Graciliano Ramos. Crítica cultural, Palhoça, v. 5, n. 1, p. 85-88, jul. 2010. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.19177/rcc.v5e1201085-102>. Acesso em: 15 ago. 2016.

Downloads

Publicado

2019-07-30