DIVISÃO SOCIOESPACIAL NA PROCISSÃO DE SÃO JOSÉ: IMAGENS NARRADAS DA CAPILINHA DO BONSUCESSO

Autores

  • Raimundo Nonato de Morais Silva
  • MILENA AZEVEDO DE MENEZES
  • Antonio George Lopes Paulino

Resumo

Este trabalho aporta em um território analítico que demanda o diálogo teórico-metodológico com a Antropologia da Religião, Antropologia da Política, Antropologia Urbana e Antropologia Visual. O estudo adentra na história da rústica capelinha do Bonsucesso, em Fortaleza, onde São José é festejado há mais de oito décadas. Nos anos 1980, a igreja católica edificou no bairro, oficialmente, uma capela dedicada a São José Operário. Desde então, no dia 19 de março duas procissões eram realizadas: a procissão dos antigos, cujo percurso destinava-se à capelinha, legitimada pela força do catolicismo popular; e a procissão que se dirigia ao templo de São José Operário, seguindo a liturgia oficial da igreja. Dentre os fatos pesquisados, destaca-se a demolição da capelinha, ocorrida em 2013. A pesquisa de campo abrange o exercício etnográfico da procissão que ocorre no dia 19 de março, partindo do bairro João XXIII, tendo como ponto de chegada a capela de Santa Teresinha, em Bonsucesso, após a demolição da antiga capelinha. A cobertura desse evento é feita através do registro fílmico e fotográfico, mesmo procedimento empregado no dia 1º de maio, quando acontece a procissão de São José Operário, que começa e termina na capela oficial, onde não mais acontecem festejos no dia 19 de março. As entrevistas realizadas com interlocutores da pesquisa e o registro de imagens possibilitaram perceber que o arcabouço simbólico de São José – evocado em narrativas de memórias e nos testemunhos de graças obtidas e relações votivas que se firmam entre fiéis e o santo – evidencia mais do que o evento religioso em si, assinalando mudanças que desenham um bairro em relação com bairros vizinhos. Os relatos informam também acerca de uma divisão socioespacial que permanece, configurando campos distintos de poder simbólico dentro de um mesmo bairro e de uma mesma história, com traços específicos que sinalizam a festa religiosa como fenômeno em constante transformação.

Publicado

2019-01-14

Edição

Seção

XXXVII Encontro de Iniciação Científica