"DIÁRIO": A PAIXÃO DO GESTO
Resumo
O presente estudo dá enfoque à obra fílmica “Diário”, produzida por Marilá Dardot entre os dias 08 e 30 de janeiro de 2015, em uma residência na Casa Wabi, em Oaxaca, no México. Nesse período, a artista realizou um vídeo por dia, utilizando impactantes manchetes que lia em jornais mexicanos. Escrevendo as trinta e duas manchetes com tinta de água em um grande muro de concreto, as palavras iniciais tão logo se apagavam antes mesmo que a frase estivesse finalizada. A partir do visionamento desse filme, objetivamos investigar a) a relação entre texto e imagem na obra de Marilá Dardot; b) a potência das palavras ao se deslocarem do campo jornalístico para o poético, em que novas formas de comunicação surgem; c) a natureza deste movimento que perdura pelas quase duas horas da obra: escrever, ver desaparecer o escrito, retomar o gesto de escrever, apesar e/ou contra e/ou a partir desse desaparecimento. Para discutirmos estas questões, recorreremos, especialmente, aos filósofos Giorgio Agamben, com seu ensaio “Notas sobre o gesto” (2008), e Gilles Deleuze, com o livro A imagem-movimento (2004), a fim de investigarmos o pathos que perpassa o gesto de escrever. Nesse percurso, compreendemos que o poético é o desvio cuja dimensão política demanda, antes de mais nada, escuta e atenção, habilitando, em primeira instância, uma política dos sentidos. De tal modo, compreendemos que sua força não deriva de um discurso informativo, mas se refaz no convite a ver e sentir o mundo de outra forma além daquela a que estávamos habituados. E se a arte é também um espaço de tensão, cuja dinâmica oferece a possibilidade de outrar-se e criar táticas no próprio momento do acontecimento poético, efetiva-se, aí, uma democracia por vir. Democracia que se faz coletivamente, pela escuta, pelos sentidos, pelo diário que escrevemos em conjunto com Marilá Dardot, em um gesto ativo de paixão.
Publicado
2019-01-14
Edição
Seção
XI Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação
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