A CRIANÇA E A CENA DA TORTURA: INCIDÊNCIAS CLÍNICAS E SOCIAIS
Resumo
O trabalho sintetiza uma pesquisa realizada no âmbito do mestrado e que tem com objetivo geral investigar a posição da criança em cenas de tortura partir do fenômeno de reprodução massiva nas redes sociais. Nesse trajeto, propõe investigar a mudança que ocorreu no estatuto da tortura, de modo a encontrar elementos que permitam articular a dimensão do olhar, do supereu e do sadismo no fenômeno de sua reprodução massiva; analisar a figura da criança e sua presença nas cenas de tortura a partir de especificidades de sua posição na cultura; recolher proposições relativas à clínica, com destaque para os efeitos e destinos possíveis dessa experiência. O interesse em estudar, nas crianças, os efeitos da perda de um parente por tortura e homicídio, vem de uma experiência como pesquisadora sobre homicídios na adolescência, em 2016. Um dos aspectos que me chamaram a atenção nessa experiência foi o modo como as crianças eram tomadas pelos adultos. O público do projeto estava circunscrito aos sujeitos considerados vítimas diretas de tortura ou homicídio, o que implicava terem sido torturados ou terem participado da cena de tortura ou homicídio. As crianças, ainda que estivessem na cena, não eram incluídas como vítimas diretas, assim como seus testemunhos não eram reconhecidos como passíveis de aportarem elementos descritores do crime. Ainda que essa exclusão esteja relacionada a fatores relativos à proteção da criança - como aqueles que buscam evitar o confronto da criança com situações de julgamento – algo parecia se anunciar além desse nível, indicando o lugar da criança em um contexto que parecia selar seu destino. Estaria a criança numa cena que mostraria sua divisão entre o jovem torturado (um irmão, um primo...) e o torturador - também este um dia torturado e agora agente da tortura?. O que esse fenômeno contemporâneo revela das relações sociais que situam a criança numa posição precisa em um contexto onde a tortura sai dos porões e invade o espaço das casas?Publicado
2019-01-01
Edição
Seção
XII Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação
Licença
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