A ESCRITURA DO AMOR E DA MORTE NA METAPOESIA SARAMAGUIANA

Resumo

O escritor José Saramago se consagrou nas letras como um grande romancista, no entanto pouco se atenta para a trajetória poética percorrida em sua bibliografia, ainda que, antes mesmo do reconhecimento público, o autor compôs três livros constituídos de poemas. São eles: "Os Poemas Possíveis" (1966), "Provavelmente Alegria" (1970) e "O ano de 1993" (1975). Por meio de uma leitura comparativa, podemos verificar que essas produções possuem em comum o interesse do enunciador pelo objetivo estético, a poesia. De fato, são muitos os exemplos na escritura saramaguiana dedicados à práxis poética, construindo sentidos que dizem respeito à lírica em sua forma e conceito. Dessa postura, tem especial relevo o metapoema, proposta discursiva em que a escrita poética recai sobre o processo criativo da poesia, fato que continuar na prosa ficional do autor. Nessa perspectiva e à luz da semiótica discursiva greimasiana, escolhemos analisar alguns dos metapoemas de José Saramago que exploram as conexões isotópicas do amor e da morte (universais semânticos, segundo Greimas e Courtés), visto que, em suas múltiplas manifestações, esses recursos se desenvolvem nos versos, seja tematicamente relacionados à resistência (ética), seja associados ao sentido do fazer artístico (estética). Neste momento da investigação, selecionamos quatro poemas: “Arte poética”, “Não escrevas poemas de amor”, “Poema a boca fechada” e “Quando os homens morrerem” que elaboram a ideia do amor e da morte dialogando intrinsecamente com interesse metalinguístico. Para o embasamento do nosso estudo contaremos com apoio da teoria filosófica e literária representada pelos escritos de Juan Arias (2003), Carlos Ceia (2008), José Luiz Fiorin (2008), Denis Bertrand (1998), Greimas e Courtés (2008), Roman Jakobson (1970), Roland Barthes (2015) e Nicola Abbagnano (2012).