A POESIA ERÓTICA DE GILKA MACHADO E SEUS RESÍDUOS MEDIEVAIS

Autores

  • Jessica Thais Loiola Soares
  • Elizabeth Dias Martins

Resumo

Na Idade Média Central, a Igreja Católica medieval ditava as normas que os cristãos deveriam seguir na sua rotina sexual. A virgindade era exaltada e a mulher não podia sentir prazer, mesmo casada, de maneira que a única finalidade do ato sexual era a procriação. O corpo feminino era execrado, temido e, ao mesmo tempo, desejado. Esse imaginário difundido pela Igreja medieval em torno do sexo, do corpo, da mulher e do erotismo perpetuou-se residualmente ao longo dos séculos e dos lugares, sendo o prazer feminino por muito tempo encarado como algo proibido. No Brasil, até o início do século XX quase nada se sabia de mulheres que, na literatura, revelassem o desejo erótico feminino e defendessem seu direito de sentí-lo e concretizá-lo, como sujeito do prazer. Até que, nos anos 1900, Gilka Machado assombrou os leitores do Rio de Janeiro com poemas de teor erótico. Entretanto, em meio a uma sociedade ainda conservadora, era de se esperar que a autora em muitos momentos refreasse seus impulsos literários repletos de imagens eróticas. Assim, de maneira geral, percebe-se durante toda a obra gilkiana um constante conflito entre o proibido e a transgressão, uma vez que seus poemas estão sempre divididos entre o prazer de transgredir o interdito e a dor por fazê-lo. Dessa forma, verifica-se que a poesia de Gilka Machado está eivada pelo imaginário erótico medieval, que difundia o dualismo entre o pecado e a virtude, a carne e a alma, o Bem e o Mal. Para tanto, tomar-se-á como base a Teoria da Residualidade (PONTES, 1999, 2012), segundo a qual toda manifestação cultural mantém residualmente traços de um imaginário anterior no tempo e no espaço. É o caso da poesia de Gilka Machado, dividida medievalmente entre a proibição e a transgressão, marcando seus versos pela consciência das proibições, a dúvida por desobedecer-lhes, a culpa por tê-lo feito e, em alguns momentos, a completa entrega ao pecado.

Publicado

2019-01-01

Edição

Seção

XII Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação