AS MUTAÇÕES DA ARQUITETURA DO ESTRANHO NA LITERATURA FANTÁSTICA

Autores

  • Fabiano Chagas Rabelo
  • Karla Patricia Holanda Martins

Resumo

Este trabalho discute o mapeamento das mutações na arquitetura da literatura fantástica como forma de investigar as vias de realização do sentimento do infamiliar na cultura. Entende-se por arquitetura o arranjo intencional de um conjunto de balizas - implícitas e explícitas - que modulam a relação do leitor com o texto. Um pressuposto importante desta investigação é a ideia de que a literatura fantástica orienta-se no sentido mobilizar no leitor o sentimento do Unheimliche, palavra alemã que recebe diferentes traduções no português: estranho, inquietante, sinistro, macabro, lúgubre (HANS, 1998) e infamiliar (IANNINI; TAVARES, 2019). Em termos metapsicológicos psicanalíticos, pode-se dizer que o escritor de textos fantásticos assume a tarefa de engendrar no leitor o desenvolvimento regulado – isto é, mantido dentro de certos limites de intensidade - do afeto de angústia (FREUD, 1933/1997e), o que torna possível a manutenção de uma atitude racional durante a interpretação do texto, a qual, não obstante, é abalada, favorecendo um afrouxamento dos vínculos com a realidade e o cotidiano (ROAS, 2014). Essa conjunção de fatores abre caminho para que algo que deveria permanecer oculto ou recalcado possa se manifestar, ainda que pontualmente (FREUD, 1919/1997d), por meio de uma anamorfose. Isto é, uma mostração de algo que só pode ser visto por um certo ângulo e de uma determinada posição e que produz em quem vê o sentimento de surpresa. Tal efeito estético, quando se mostra eficaz, constitui o ponto nevrálgico da arquitetura do fantástico (CALVINO, 2006, CASARES, 2013). Logo, o estranho/inquietante é um fenômeno ao mesmo tempo literário, estético, psicológico e cultural (MASSECHELEIN, 2011, ROYLE, 2003, TRIAS, 2011), havendo uma covariância entre a sintaxe do fantástico e a modulação de determinadas reações psicológicas no ato de leitura. São as variações dessas sintaxes na sua relação com as modulações do sentimento do Infamiliar que se toma como objeto de pesquisa.

Publicado

2019-01-01

Edição

Seção

XII Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação