BEM ME QUER, MAL ME QUER: O DRAMA DO BUSTO DE FLORBELA ESPANCA REJEITADO EM ÉVORA (1931-1949).

Autores

  • Priscilla Freitas de Farias
  • Francisco Regis Lopes Ramos

Resumo

Para além de toda especulação acerca do suicídio da poeta portuguesa, Florbela Espanca (1894-1930), vários episódios negativos sucederam após sua morte, contribuindo não só para a difamação de sua imagem, mas, sobretudo, para a marginalização do seu lugar de autora. Como foi o caso do busto em homenagem a autora, esculpido pelo artista Diego de Macedo e oferecido em 1931 à cidade de Évora, que só foi oficialmente inaugurado em 1949, ou seja, foi vetado por 18 anos. Atiravam-se pedras na memória da poeta morta, denunciavam que, na cidade alentejana, Florbela viveu sua juventude travessa e agitada, além de muitas outras insinuações carregadas de preconceitos da época. Convém ressaltar que Portugal estava sob domínio do Estado Novo, cujo governo era regido por fortes princípios morais. Naquele período, o Salazarismo, juntamente com o apoio inquestionável da Igreja Católica, teve como núcleo fundamental o regresso da mulher ao lar. A mulher que não seguia esse padrão determinado pela ação de propaganda nacional era malvista na sociedade. Dessa forma, partindo do pressupostos das concepções teóricas sobre a categoria do autor desdobradas por Michael Foucault em seu livro “O que é um autor?”, proponho questionar quais os usos do suicídio para a construção autoral de Florbela Espanca? Em que medida o suicídio interferiu na interpretação da obra de Florbela Espanca? Nesse sentido, não pretendo explicar o inexplicável ─ o suicídio ─, mas analisar o impacto do suicídio na construção do lugar de autora da poeta, problematizando a relação do suicídio com o discurso da religião, da política, da literatura e, por fim, do seu lugar de mulher na sociedade portuguesa no início do século XX.

Publicado

2019-01-01

Edição

Seção

XII Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação