CORPOS QUE NÃO EXISTEM MAIS: NARRATIVAS BIOGRÁFICAS SOBRE AS TRANSFORMAÇÕES DO CORPO E NOVAS FORMAS DE VIDA

Resumo

Esse artigo propõe apresentar reflexões sociológicas acerca da categoria “deficiência”, a partir das narrativas biográficas de sujeitos que tiveram seus corpos transformados devido às lesões adquiridas. O objetivo desse texto é compreender os sentidos atribuídos às experiências que se constituem a partir de um imaginário capacitista dos corpos, tendo em vista a relação dialética entre esses discursos e as noções atuais da ideia de “deficiência”. Ao realizar diálogos com o Disability Studies (Estudos sobre deficiência), esse trabalho fundamenta-se na sociologia compreensiva e fenomenológica para entender em que medida as narrativas dos sujeitos alcançam diferentes formas de pensar as transformações do corpo e de suas experiências individuais. O estudo foi feito com base nas histórias de vida narradas por sujeitos que passaram por episódios traumáticos, levando-os a adquirir lesões e, a partir disso, mudanças em várias instâncias das suas vidas. Esses sujeitos retratam memórias de um corpo que não mais existe, traumas diante do inesperado, e o modo como tiveram que lidar com essa experiência. Nessa análise, foram identificados discursos de superação e sucesso referentes a maneira como a transformação do seus corpos fora vivenciada, visando um processo de reencontro com a vida a partir de novas formas de reintegração social. Para realizar essa análise, tenho disposto de estratégias metodológicas que priorizam as narrativas e relatos de experiências, as biografias públicas autorizadas e os discursos públicos de sujeitos com deficiência adquirida, além dos relatórios de campo e entrevistas realizadas com interlocutores. Os resultados do trabalho mostram que esses sujeitos criaram uma narrativa de sucesso vinculada a ideia de sujeito produtivo e bem-sucedido, em uma sociedade atravessada por valores neoliberais de sucesso individual, decorrente de iniciativas empreendedoras.