DA LITERATURA PARA O CINEMA: UMA ANÁLISE DAS REESCRITURAS DO ROMANCE JANE EYRE, DE CHARLOTTE BRONTË

Resumo

Este trabalho tem por principal objetivo analisar o processo de tradução do romance Jane Eyre, publicado em 1847, de autoria da escritora inglesa Charlotte Brontë, para os filmes homônimos de 1944 e 2011, dirigidos respectivamente por Robert Stevenson e Cary Joji Fukunaga, com enfoque no processo de adaptação da personagem protagonista para as telas. Em seu romance, Charlotte Brontë critica a sociedade inglesa do século XIX ao construir uma personagem questionadora do papel social da mulher e dos estereótipos de gênero da época, criando assim uma imagem alternativa do que era esperado da mulher no período vitoriano. Como as adaptações fílmicas criam novas imagens da obra e das personagens, questionamo-nos quais traços da personagem Jane Eyre os filmes aqui estudados criam e quais estratégias foram utilizadas nos processos de adaptação. Para tanto, fundamentamos nosso trabalho com a contribuição teórica de Woolf (2013; 2014), Showalter (1993), Gaskell (1997) e Gilbert & Gubar (2000) que discutem sobre a literatura vitoriana de autoria feminina e a obra de Charlotte Brontë; como também os textos de Lefevere (2007), Stam (2008), Hutcheon (2013) e Bordwell (1985) que discorrem sobre tradução como reescrita, intertexto, adaptação fílmica e narratividade fílmica. Os resultados apontam que o filme de Stevenson ateuna a voz do personagem Jane Eyre, tornando-a, durante boa parte do filme submissa às normas da sociedade, apagando assim a crítica feita pela escritora à era vitoriana. A adaptação fílmica de Fukunaga, por sua vez, constrói a imagem de Jane como protagonista e com uma voz acentuada que a destaca, e é dado à personagem mais espaço para sua construção psicológica. Consideramos que essas mudanças são feitas a partir das escolhas dos diretores e produtores do filme, influenciados pelas ideologias e poéticas de suas respectivas épocas. Agradeço à CAPES, pela concessão da bolsa de estudos, no período de 2018 a 2020, para desenvolvimento desta pesquisa.