MISTERIOSO E POSTIÇO: O RIO DE JANEIRO DE ORESTES BARBOSA 1920-1940
Resumo
O painel imaginado por Millôr de que Orestes Barbosa e Noel Rosa inventaram o Rio de Janeiro e a assertiva de Maurício Vaitsman a respeito de que "Orestes é o Rio" tem seu quinhão de verdade, quando levado em conta o papel da imprensa, do livro e da música popular. Nascido no subúrbio do Rio, na Aldeia Campista, Orestes publica seu primeiro livro em 1917, coletânea de poemas intitulada Penumbra Sagrada. Nos anos que seguem, saem do prelo Água Marinha, Na prisão, Banbanban!, Portugal de Perto, A Fêmea, O Português no Brasil, O Pato Preto, O Phantasma Dourado e Samba. É nos anos de 1930, quando já é um dos principais cronistas da cidade, escrevendo a diários, que começa sua atividade enquanto compositor, pelo menos quando atento às gravações fonográficas, fazendo parcerias com Francisco Alves, Antônio Nássara e Silvio Caldas. "Taquígrafo das esquinas", Orestes Barbosa escreve sobre a miséria, o morro e a malandragem, o cárcere, o rádio e a música popular. Com a mesma verve que fala de um Catulo de Paixão Cearense e de um Nássara, traça perfis políticos como os de Silva Jardim, Deodoro da Fonseca e Getúlio Vargas. É nas esquinas que se dão os encontros, interseção do popular com o erudito, e, no limite, onde os caminhos se opõem. Mergulhada nos jornais, a cultura não é, aqui, a dos reformadores urbanos e dos engenheiros, guardando outras etiquetas de prestígio e moralidade. As esquinas não são feitas apenas de dobras retas e regulares que em algum ponto se tocam, mas também por curvas, ora bruscas e sinuosas, ora largas e suaves. Há, por certo, esquinas e esquinas, baixos, becos, ruelas e elevações, o tecido urbano é bem mais vasto, promovendo o encontro e o desencontro, a solidão e a presença, com o chamado planejamento urbano, onde o “Rio civiliza-se”, e a expulsão dos pobres. De alguma janela se pode escutar o ruído do rádio, na calçada meninos vendem jornais, algum passo adiante está o botequim, o café, onde se come e se bebe, onde se lê, conversa, consulta as horaPublicado
2019-01-01
Edição
Seção
XII Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação
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