O PAPEL DO DISPOSITIVO DROGA NA PRODUÇÃO DA ALTERIDADE DOS POVOS "PRIMITIVOS" - A GEOPOLÍTICA DE DROGAS E O BINÔMIO "CIVILIZAÇÃO-BARBÁRIE" NO SÉCULO XXI

Autores

  • Lucas Bezerra LeitÃo
  • Pablo Severiano Benevides

Resumo

Na presente pesquisa, foi empreendida uma análise de discurso de inspiração foucaultiana, no intuito de evidenciar os discursos que historicamente ocuparam-se em produzir uma relação de interioridade entre o vício e os habitantes nativos das colônias europeias (negros e índios). A hipótese defendida é a de que as drogas, enquanto dispositivo - operador de cisões e produtor de subjetividades - terminam por atualizar as tensões baseadas no binômio "civilização-barbárie", próprias à Modernidade e perpetuadas de modo velado na contemporaneidade através de uma Divisão Internacional das Drogas. A mesma se sustenta no fato de que são as ex-colônias europeias - delegadas desde o início a um lugar de periferia no capitalismo que emergia através do projeto de expansão ultramarina protagonizado pelas potências europeias daquele período - que hoje sofrem as piores consequências de uma fracassada política proibicionista de drogas, enquanto os países centrais do capitalismo que, inclusive, impuseram tais políticas ao mundo, passam por um processo de descriminalização de drogas e extinção das mesmas. Através de autores como Vera Malaguti Batista, defenderemos o ponto de vista de que a "guerra às drogas" é uma política de extermínio, alinhada à lógica da colonialidade exercida nos últimos cinco séculos. Para fomentar tal perspectiva, foi produzida uma relação de continuidade entre diversos autores clássicos, medievais e modernos que atribuíam uma valoração negativa ao corpo e à natureza, para mostrar como posteriormente tal discurso inflexionou-se em uma aproximação entre a animalidade e os povos "primitivos", para, enfim, ser estabelecida uma vinculação entre o vício e tais povos através das drogas, na passagem do século XIX para o XX. Vale lembrar que no mundo inteiro a "epidemia de drogas" fora associada à minorias étnicas: no Brasil, a cannabis era sinônimo de negritude, nos Estados Unidos, os mexicanos carregavam tal estigma, assim como os chineses eram atrelados ao ópio.

Publicado

2019-01-01

Edição

Seção

XII Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação