O TEXTO, O CORPO E A MATERNIDADE EM OLHOS D'ÁGUA

Resumo

Escritores(as) negros(as) vêm abrindo caminhos e conquistando espaço na produção literária e crítica brasileira, de modo que se consolida uma vertente negra significativa e urgente em seus aspectos estético-sociais. A fusão entre autoria, ponto de vista e linguagem parece sintetizar o que é a expressão literária negra e/ou afro-brasileira hoje. Dessa fusão resulta um sujeito enunciador negro. Um(a) escritor(a) de pertencimento étnico-racial que tem seu universo axiológico, seu conjunto de valores atravessados por tal posicionamento, o qual se estampa na própria matéria da linguagem, não de forma mecânica, de fora para dentro, mas porque é mesmo por meio dela que este universo se materializa (DUARTE, 2011). No bojo temático dessas produções alguns traços se apresentam com maior intensidade, como a afirmação do sujeito enunciador negro, a denúncia da violência e da exclusão social, a valorização das heranças afrodescendentes, a reapropriação positiva de símbolos associados negativamente aos negros e o reconhecimento das figuras heroicas negras (PEREIRA, 2010). Nesse movimento, com significativas contribuições em prosa e poesia, está o nome de Conceição Evaristo, cuja obra ficcionaliza questões como gênero, raça/etnia e classe, como se observa em Olhos D’Água (2016), corpus de nossa pesquisa. Dessa forma, nosso estudo em andamento objetiva compreender o corpo negro nos contos de Olhos D'Água e desenvolver as noções de corpo/texto e texto/corpo. Focalizando o corpo feminino, procura-se mapear as construções da maternidade negra, observando suas significações. Além disso, soma-se à pesquisa uma reflexão a respeito do paradoxo de uma literatura negra que não seja continuamente perseguida pelo imperativo de se autoafirmar e legitimar diante do outro, o que não abrandaria o seu caráter político, mas renovaria o potencial que ela oferece.