O TRÁGICO EM TRÂNSITO: REESCRITURAS DE ANTÍGONA EM JORGE ANDRADE E ÂNGELA LINHARES

Autores

  • Renato CÂndido da Silva
  • Orlando Luiz de Araujo

Resumo

No ensaio “Breves observações sobre o sentido e evolução do trágico” Bornheim (2007) salienta que estudar os antigos e modernos permite tentar compreender a essência da tragédia, uma vez que a comparação com os gregos possibilita aquilatar não apenas o sentido da evolução do trágico no teatro ocidental, mas também medir o que permanece constante e o que difere desse constante. À vista disso, esta pesquisa tem por objetivo analisar os rastros do trágico em duas reescrituras brasileiras da tragédia "Antígona" (c. 442 a. C), de Sófocles; a saber: as três versões "Pedreira das Almas", de Jorge Andrade, respectivamente publicadas em 1958, 1960 e 1970, e "O Caldeirão de Santa Cruz do Deserto e Outras Poéticas do Amor" (2017), de Ângela Linhares. Para tal objetivo, optou-se por uma leitura do trágico enquanto categoria, dimensão ou reflexão ontológica, sobretudo a desenvolvida por Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling na décima das "Cartas Filosóficas Sobre o Dogmatismo e Criticismo" e na "Filosofia da Arte". As peças que compõem o corpus desta pesquisa trazem a personagem Antígona para o primeiro plano, apresentando-a como uma figura de resistência política contra a opressão social em períodos de ruptura histórica, o que pode ser atestado a partir do contexto no qual a ação dramática transcorre: "Pedreira das Almas" está ambientada durante a Revolta Liberal de 1842 e "O Caldeirão de Santa Cruz de Deserto e Outras Poéticas do Amor" apresenta fortes imbricações com o massacre ocorrido no Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, na região do Cariri cearense, no final da década de 1930. Ambas as obras selecionadas integram o “Catálogo dos nossos mortos: rastros de Antígona no Brasil (1914-2019)”, elaborado entre os anos 2017 e 2019, que reúne ainda quarenta e seis versões brasileiras da história da filha de Édipo, nas mais diferentes manifestações artísticas.

Publicado

2019-01-01

Edição

Seção

XII Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação