POR UMA MEMÓRIA DO TEATRO CEARENSE: A DRAMATICIDADE E A TEATRALIDADE DE CARLOS CÂMARA (1918-1939).

Autores

  • Camila Imaculada Silveira Lima
  • Antonio Gilberto Ramos Nogueira

Resumo

Entre os anos de 1918 e 1939, o Ceará assistiu as aventuras de D. Peraldiana, as confusões de Zé Fidélis e Calu, as peripécias dos piratas, da mocidade e dos coriscos e as disputas em o paraíso, histórias que foram escritas por Carlos Câmara e encenadas pelo Grêmio Dramático Familiar (GDF). Eram temporadas recorrentes e com grande audiência conforme os periódicos da época que, por sua vez, teciam as críticas aos seus textos dramáticos e às atuações do corpo cênico do GDF. Para o teatrólogo cearense Marcelo Costa, esse período se fez “áureo” para o teatro do Ceará e a figura do dramaturgo cearense se tornou o símbolo desse momento. Assim, nossa pesquisa tem como objetivo compreender como a dramaticidade e a teatralidade de Carlos Câmara foram constituindo memórias para o teatro cearense. Em diálogo com Joël Candau, Alessandro Portelli e Paul Ricoeur, entende-se a memória como um processo social que traz o jogo dialético entre discursos constantemente reiterados e atualizados e os silêncios de uma presença esquecida. Neste sentido, procura-se analisar os discursos de críticos, cronistas, memorialistas e pesquisadores em relação às obras dramáticas de Câmara, seja na forma de armar os conflitos (dramaticidade) ou nas formas de usar a cena (teatralidade) como define Patrice Pavis. Verifica-se que para seus críticos contemporâneos, o dramaturgo era o cronista dos “verdadeiros costumes cearenses”. Algo que foi reiterado por cronistas, memorialistas e pesquisadores posteriormente. Seus textos dramáticos foram definidos como burletas caracterizadas pela comicidade, musicalidade e representação dos costumes e para alguns, tinham um caráter popular. Por outras palavras, Carlos Câmara era o mestre das burletas cearenses. Portanto, tem-se uma memória autorizada e institucionalizada que, por sua vez, tem seus usos no presente. Nesse processo, os artistas que fizeram o GDF ficaram nas coxias e/ou nos porões do teatro.

Publicado

2019-01-01

Edição

Seção

XII Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação