SOBRE CORPO, TEMPO E TORPOR: MÉDICOS E ENTORPECENTES EM FORTALEZA NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX
Resumo
O presente estudo tem por objetivo geral compreender como se constitui o problema da utilização de substâncias entorpecentes no contexto social da cidade de Fortaleza durante as primeiras décadas do século XX através da análise de dois mecanismos discursivos que tornaram possível a estruturação e a implantação de um discurso médico disciplinar de controle sobre os corpos. O primeiro dispositivo a ser investigado refere-se à produção do discurso médico enquanto poder que se quer fazer legítimo à partir da tentativa de dissolução da prática discursiva de outrem, evidenciando o deslocamento sutil que promove a substância à categoria de sujeito enquanto desresponsabiliza e desautoriza o indivíduo sobre o poder de controlar seu próprio corpo. O segundo refere-se ao processo de entificação da história que parece ter levado a um desejo de poder sobre o tempo na medida em que controlar o tempo, instituir leis históricas e apreender os desígnios do porvir passou a significar a revelação do caminho do progresso, do sentido da marcha da humanidade (o que viabilizou a eugenia enquanto discurso que pressupõe o conhecimento prévio e teleológico sobre o curso “natural” da vida). O recorte temporal, ainda um tanto vago, não busca descobrir as origens do problema e sim captar as variações que as práticas de utilização destas substâncias tiveram ao longo do tempo. Nesse sentido, as primeiras décadas do século XX são ricas em mudanças pois o contexto de recente urbanização e rearranjo dos papeis sociais parece conduzir a novas práticas de serialização da produção e do consumo de tais substâncias. Pretende-se assim marcar o momento em que novas tecnologias de poder foram criadas e inseridas no contexto social tornando visíveis as relações entre modernização e controle. O presente trabalho é metodologicamente construído a partir do estudo de processos crime, matérias jornalísticas e anúncios publicitários extraídos de periódicos e em artigos publicados na revista Ceará Médico.Publicado
2019-01-01
Edição
Seção
XII Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação
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