AFETOPOLÍTICA: A GOVERNAMENTALIDADE DOS AFETOS

Autores

  • Lucas Oliveira de Lacerda
  • Ada Beatriz Gallicchio Kroef

Resumo

O objetivo da pesquisa foi investigar a governamentalidade neoliberal e os seus efeitos na sensibilidade do indivíduo. Para isso, a partir da metodologia da virada afetiva na filosofia contemporânea (MASSUMI, 1995; HARDT, 2007), que propõe a inclusão do estudo dos afetos na ética e na filosofia política, além de uma revisão crítica dos temas clássicos das disciplinas supracitadas. Neste sentido, interpretamos a governamentalidade neoliberal a partir da ótica dos afetos. O filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) estuda uma mudança de governamentalidade do governo do território para o governo da população. O objeto do Estado deixa de ser o território e torna-se agora a população. A governamentalidade é uma arte de governar (FOUCAULT, 1978). A noção de “arte” aqui deve ser entendida no sentido do grego antigo da palavra “tékne”, ou seja, "técnica". Assim, a governamentalidade possui dois sentidos: pode ser tanto uma arte de governar o outro como a si mesmo. A governamentalidade pode ser um conjunto de técnicas que conduzem a conduta do outro; ou um conjunto de técnicas de conduzir a si mesmo. Partindo dessa formulação foucaultiana, a pesquisa investigou o uso e a produção dos afetos como técnicas de governo do outro e de si, a partir de uma análise da governamentalidade neoliberal e os seus efeitos na sensibilidade do indivíduo, composto por mente e corpo (SPINOZA, 1677). Para isso, desenhou-se uma cartografia da produção de afetos neoliberais, dromopolíticos, biopolíticos e necropolíticos (MBEMBE, 2013), tais como o medo, a insegurança (NEGRI; HARDT, 2012), a ansiedade (VIRILIO, 1977), o cansaço (HAN, 2010), a apatia, o esquecimento o saudosismo etc. Por fim, concluímos a importância e urgência de afetos biopotentes (PELBART, 2017) como a coragem, a alegria, a solidão, o silêncio, a desistência, o desinvestimento e a potência do “não” como elementos na criação de uma nova sensibilidade, de novos modos de existência e possibilidades de vida (DELEUZE, 1986).

Publicado

2019-01-01

Edição

Seção

XXVIII Encontro de Extensão