ESTIGMA E SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL DE PESSOAS COM HANSENÍASE NO CONTEXTO DE TRANSFORMAÇÃO DA CIDADE DE FORTALEZA

Autores

  • Sofia Silva Vasconcelos
  • Mikaele dos Santos Aguiar
  • Francisco Willams Ribeiro Lopes

Resumo

A hanseníase tem sido uma doença estigmatizada por causar desfiguração, ser contagiosa e até os anos 20 não existir cura. O combate à doença no Brasil, antes da descoberta do tratamento em 1960, levou a construção de estabelecimentos chamados leprosários que visavam conter a proliferação da doença e afastar dos centros urbanos as pessoas infectadas. No Ceará, o leprosário Antônio Justa foi construído em 1942 na área da atual cidade de Maracanaú, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), e serviu como núcleo habitacional autossuficiente para a moradia e subsistência dos doentes, possibilitando a formação de uma colônia de moradores e, em seguida, a delimitação de bairro da referida cidade. Assim, o objetivo desta pesquisa é analisar a percepção dos moradores da área do leprosário Antônio Justa sobre o estigma e a segregação socioespacial enfrentados no contexto de transformação da cidade de Fortaleza e sua RMF. Para tanto, têm sido realizadas pesquisas bibliográfica, documental e de campo por meio de observações e entrevistas com os moradores remanescentes do leprosário e integrantes do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan). As primeiras aproximações mostram um cenário de tensões e conflitos em torno de interesses imobiliários a partir da construção de um Parque Aquático que se apresenta como ameaça à permanência dos atuais moradores. Com isso, a comunidade iniciou um processo para regularização fundiária por meio de um instrumento de gestão do solo urbano e rural presente no Estatuto das Cidades definido como ZEIS (Zona Especial de Interesse Social). A pesquisa no leprosário Antônio Justa mostra que a transformação de Fortaleza em cidade "moderna" foi marcada pelo controle e exclusão das populações ditas indesejadas, causando uma desconexão tão complexa que, mesmo após a descoberta do tratamento da hanseníase, não foi possível a completa reintegração social de seus moradores.

Publicado

2019-01-01

Edição

Seção

XXXVIII Encontro de Iniciação Científica