BIOGRAFIAS, LUTO E MEMÓRIA: OS SANTINHOS DE FALECIMENTO COMO FONTES HISTÓRICAS

Resumo

Através do Projeto de Extensão intitulado “Fotobiografias: a Fortaleza que se encontra em acervos fotográficos pessoais'', conhecemos a Dona Ivoneide, moradora do bairro Poço da Draga, em Fortaleza/CE, que há muitos anos guarda consigo as lembranças dos que se foram, através dos “santinhos de falecimento”, folhetos que registram o falecimento dos moradores do bairro que, comumente, contêm a foto do falecido, as datas de nascimento e falecimento e uma mensagem como forma de homenagem e alento aos que ficaram. Neste trabalho, buscamos refletir sobre como os santinhos de falecimentos podem fornecer subsídios aos estudos historiográficos como fontes históricas das biografias que pulsam no Poço da Draga. Realizado durante a pandemia de COVID-19, com restrições de circulação na cidade, para o desenvolvimento deste trabalho, nos apropriamos dos meios digitais e, como metodologia, empregamos a pesquisa bibliográfica e documental, com base nas postulações de Bloch (2002) e Barros (2019), adaptando o trabalho historiográfico aos recursos disponíveis. Dessa forma, dispomos do “álbum dos mortos”, da Dona Ivoneide, disponível no acervo digital do Grupo de Estudos e Pesquisas Rastros Urbanos (UFC). Como resultados parciais, identificamos que os santinhos de falecimentos fornecem, dentre muitos elementos, a possibilidade de reter uma parte do outro que se foi, uma possibilidade de materializar a memória de alguém. Com forte vinculação às práticas religiosas do catolicismo, notamos transformações em torno dos recursos iconográficos e textuais com que os registros são feitos. Ademais, observamos que, com o passar dos anos, os santinhos foram se popularizando, a ponto de tornarem-se parte significativa do repertório que expressa os sentimentos de perda, luto e ternura pelos entes queridos e mantém vivas as biografias do Poço da Draga.