Informação em Pauta
IP
Inf. Pauta
ISSN 2525-3468
Fortaleza
v. 4
p. 1-198
jul./dez. 2019
Ficha Catalográfica
Informação em Pauta : IP / Universidade Federal do Ceará, Departamento de
Ciências da Informação, Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação. - v. 4, n. 2 (jul./dez. 2019)-- Fortaleza : UFC, 2019 - .
v. : il. ; 27 cm.
Semestral.
Descrição baseada em: v. 2, n. 1 (jan./jun. 2017).
Disponível no Portal de Periódicos da UFC em:
<http://www.periodicos.ufc.br/index.php/informacaoempauta/index>
1. Biblioteconomia Periódicos. 2. Ciência da Informação Periódicos. I.
Universidade Federal do Ceará. Departamento de Ciências da Informação. II.
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação.
CDD 020.5
Expediente volume 4, número 2 (jul./dez. 2019)
Reitor
José Cândido Lustosa Bittencourt de Albuquerque
Vice-reitor
José Glauco Lobo Filho
Editora
Maria Giovanna Guedes Farias, Universidade Federal do Ceará, Brasil
Comitê de Política Editorial
Gabriela Belmont Farias, Universidade Federal do Ceará, Brasil
Lídia Eugenia Cavalcante, Universidade Federal do Ceará, Brasil
Luiz Tadeu Feitosa, Universidade Federal do Ceará, Brasil
Virgínia Bentes Pinto, Universidade Federal do Ceará, Brasil
Corpo Editorial
Aida Varela Varela, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Ariel Antonio Morán Reyes, Universidad Nacional Autónoma de México, México
Carlos Alberto Ávila Araújo, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
Cibele Araújo Camargo Marques dos Santos, Universidade de São Paulo
Fabrício Silva Assumpção, Universidade Federal do Paraná, Brasil
Fernando César Lima Leite, Universidade de Brasília
Hamilton Rodrigues Tabosa, Universidade Federal do Ceará, Brasil
Heliomar Cavati Sobrinho, Universidade Federal do Ceará, Brasil
Isidoro Gil Leiva, Universidad de Murcia, Espanha
Januário Albino Nhacuongue, Universidade Federal de São Carlos
Jefferson Veras Nunes, Universidade Federal do Ceará, Brasil
Jonathas Luiz Carvalho Silva, Universidade Federal do Cariri, Brasil
Jorge Caldera-Serrano, Universidad de Extremadura, Espanha
José Eduardo Santarém Segundo, Universidade de São Paulo, Brasil
Luciane Paula Vital, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Luís Fernando Sayão, Comissão Nacional de Energia Nuclear, Brasil
Marco Antonio de Almeida, Universidade de São Paulo, Brasil
Maria Cleide Rodrigues Bernardino, Universidade Federal do Cariri, Brasil
Maria das Graças Targino, Universidade Federal do Piauí/Universidade Federal da Paraíba,
Brasil
Maria de Fátima Oliveira Costa, Universidade Federal do Ceará, Brasil
Maria Nelida Gonzalez de Gomez, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Miguel Angel Mardero Arellano, Ibict, Brasil
Miquel Termens Graells, Universitat de Barcelona, Espanha
Osvaldo de Souza, Universidade Federal do Ceará Departamento de Ciências da Informação
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Brasil
Peter Ingwersen, University of Copenhagen, Dinamarca
Rafael Capurro, Universidade de Stuttgart, Alemanha
Raimundo Nonato Macedo dos Santos, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil
Tomàs Baiget, El Profesional de la Información, Espanha
Vera Dodebei, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Virgínia Alves, Universidade Federal de Alagoas, Brasil
Assistente Editorial
Juliana Soares Lima
Revisão e edição de texto
Francisco Edvander Pires Santos
Cynthia Chaves de Carvalho Gomes Cardoso
Normalização
Francisco Edvander Pires Santos
Coordenação de Suporte Técnico
Osvaldo de Souza
Capa
Conceito e criação: Diana Teles
Copyright
© 2019 Informação em Pauta
ISSN 2525-3468
Universidade Federal do Ceará
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Informação em Pauta
Informação em Pauta (IP) é uma revista multidisciplinar da área de Ciências Sociais Aplicadas, tendo como
campos prioritários a Ciência da Informação, Biblioteconomia, Arquivologia e áreas afins. É uma publicação de
acesso aberto, e sua periodicidade é semestral. A revista é ligada ao Departamento de Ciências da Informação e
ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal do Ceará
(DECINF/PPGCI/UFC), em formato exclusivamente eletrônico. A revista publica pesquisas originais e com
elevado mérito científico, contribuições inéditas em português, inglês e espanhol, visando contribuir para o
desenvolvimento de novos conhecimentos entre pesquisadores, docentes, discentes e profissionais em Ciência
da Informação, Biblioteconomia, Arquivologia e áreas afins, desde que aprovados em revisão cega por pares
(Double Blind Peer Review) e pelo Comitê Editorial. A Informação em Pauta exige originalidade dos artigos
submetidos e que pelo menos um dos autores tenha titulação de Mestre ou de Doutor.
Editora
Maria Giovanna Guedes Farias
Doutora em Ciência da Informação
Professora do Departamento de Ciências da Informação e do Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação da Universidade Federal do Ceará.
Telefone: (85) 3366-7700
E-mail: giovannaguedes@ufc.br / informacaoempauta@gmail.com
Correspondência
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CEP: 60020-181 - Fortaleza-CE
Tel.: (85) 3366-7700
Copyright e Fotocópia
Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida desde que citada a fonte.
Acesso online
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Indexação e Diretórios
1findr | Base | BRAPCI - Base de dados em Ciência da Informação | CiteFactor | Diadorim | Dialnet | DOAJ | DRJI |
EZB - Electronic Journals Library | I2OR | Latindex | LatinRev | Livre CNEN | MIAR | OAJI | OAISTER | PKP Index |
Portal de Periódicos da Capes | REDIB | Research Bible | SHERPA ROMEO | Sumários.org
Editorial .............................................................................................................................................................
7
Artigos
Impactos das teses e dissertações do Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação da UFMG: dos dados de leitura no Mendeley às citações no Google
Scholar ................................................................................................................................................................
Belkiz Costa; Marlene Oliveira; Ronaldo Araújo
11
Modelos semânticos para dados bibliográficos de publicações científicas
disponibilizados como Linked Data .......................................................................................................
Antonio Victor Wolf Tadini; José Eduardo Santarem Segundo
32
O bibliotecário e as fake news análise da percepção dos egressos do curso de
Biblioteconomia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte ........................................
Silvana Souza da Silva; Gabrielle Francinne de Souza Carvalho Tanus
58
Tratamento temático da informação análise sobre abordagens e enfoques em artigos
científicos da área de Ciência da Informação ....................................................................................
Lais Pereira de Oliveira; Daniel Martínez-Ávila
83
Análise bibliométrica da produção científica publicada na revista Informação &
Sociedade no período de 2011 a 2017 estudos, no período de 2011 a 2017.......................
Ana Cláudia Carvalho de Miranda; Bruno Duarte Freire; Nadia Aurora Vanti Vitullo
101
Produção e tipologia documental de movimentos sociais estudo sobre o arquivo do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras do Brasil (MST)........................................
Jean Camoleze, Sonia Trointiño
121
Memória, Cidade e Bibliofilia ....................................................................................................................
Hanna Sandy de Oliveira, Lidia Eugenia Cavalcante
137
Auditoria de repositórios arquivísticos digitais confiáveis .........................................................
Henrique Machado dos Santos
156
Telessaúde uma estratégia de educação permanente aplicada às práticas e
reorganização dos processos de trabalho na atenção básica no estado da Bahia .............
Rosivan Matos, Angélica Silva
173
Liderança do educador e empoderamento do educando como instrumentalização no
constructo ético-moral-social sob a ótica freiriana ........................................................................
Eduardo Martins De Arruda; Hugo Medeiros Souto; Wilson Honorato Aragão
176
Resumos
de
Dissertações
Comportamento informacional de servidores e colaboradores da Universidade
Federal do Ceará no uso do Sistema Eletrônico de Informações (SEI) ..................................
Thiago Pinheiro Ramos de Oliveira
193
Gestão de acervos audiovisuais em repositórios .............................................................................
Francisco Edvander Pires Santos
196
SUMÁRIO
Prezados(as) leitores(as),
Começamos este último número de 2019 agradecendo à equipe editorial,
avaliadores, autores e leitores da revista Informação em Pauta (IP) por mais um ano de
confiança no nosso trabalho, o qual é realizado de forma voluntária em prol da
disseminação do conhecimento científico. A IP publicou sua primeira edição em junho de
2016 e, para nossa grata surpresa, em 2017 a revista obteve seu primeiro Qualis, fixado
em B5. Em 2019, após quatro anos de existência e para nossa satisfação, a Informação em
Pauta consta na lista do Qualis (2019) como B1 e com índice H=4, o qual verificamos que
houve um aumento no mês de novembro para H=5.
Para obter esse crescimento, trabalhamos visando garantir qualidade e
compromisso ao implantar diversas ações, a exemplo do aperfeiçoamento das políticas
editoriais, adesão às políticas contra plágio e más-condutas em pesquisa com base nas
diretrizes do Committee on Publication Ethics (COPE), bem como à política de
compartilhamento de dados com sugestão de repositórios em acesso aberto para o
arquivamento; adesão ao ORCID, uma exigência inserida nos templates da revista, além
da recomendação de que os autores atribuam uma licença Creative Commons ou Open
Data Commons e definam explicitamente os termos de reutilização de seus dados.
Oferecemos aos artigos publicados o Digital Object Identifier (DOI), somos filiados à
Associação Brasileira de Editores Científicos (ABEC) e signatários da Declaração de São
Francisco sobre Avaliação da Pesquisa (DORA).
Ainda com foco na qualidade da IP, ao longo destes quatro anos de existência, a
revista Informação em Pauta foi indexada nas seguintes bases de dados e repositórios:
1findr; Bielefeld Academic Search Engine (Base); Base de dados em Ciência da Informação
(Brapci); CiteFactor (Academic Scientific Journals); Diretório de Políticas Editoriais das
Revistas Científicas Brasileiras (Diadorim); Dialnet; Directory of Open Access Journals
(DOAJ); Directory of Research Journals Indexing (DRJI); Electronic Journals Library (EZB);
European Reference Index for the Humanities and Social Sciences (Erih Plus);
Inf. Pauta
Fortaleza, CE
v. 4
n. 2
jul./dez. 2019
ISSN 2525-3468
DOI: https://doi.org/10.32810/2525-3468.ip.v4i2.2019.43164.7-10
EDITORIAL
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
International Institute of Organized Research (I2OR); Índice de revistas Actualidad
Iberoamericana; Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de
América Latina, el Caribe, España y Portugal (Latindex); Red Latinoamericana de Revistas
(LatinRev); LivRe (Revistas de Livre Acesso); Information Matrix for the Analysis of
Journals (Miar); Norwegian Register for Scientific Journals, Series and Publishers (NSD);
Open Academic Journals Index (OAJI); OAISTER (Catalog of Open Access Resources); PKP
Index; Portal de Periódicos da Capes; Red Iberoamericana de Innovación y Conocimiento
Científico (Redib); Research Bible; Sherpa Romeo; Sumários.org.
Para esta edição, foram avaliados pelo sistema double peer review e aprovados
nove artigos. O primeiro artigo, intitulado Impactos das teses e dissertações do
programa de pós-graduação em Ciência da Informação da UFMG: dos dados de
leitura no Mendeley às citações no Google Scholar, que tem como autores Belkiz Costa
e Marlene Oliveira da Universidade Federal de Minhas Gerais (UFMG) e Ronaldo Araújo
da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), objetivou analisar os impactos acadêmico e
social das teses e dissertações do PPGCI/UFMG, defendidas entre 2002 e 2018 e
disponibilizadas na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD).
Antonio Victor Wolf Tadini e José Eduardo Santarem Segundo, da Universidade de
São Paulo (USP), escreveram o artigo Modelos semânticos para dados bibliográficos
de publicações científicas disponibilizados como Linked Data, o qual aponta como
resultado que a representação bibliográfica das publicações científicas no Linked Data
valoriza a coexistência de vários vocabulários para descrição em um mesmo registro.
O bibliotecário e as fake news: análise da percepção dos egressos do curso de
Biblioteconomia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, de Silvana Souza
da Silva e Gabrielle Francinne de Souza Carvalho Tanus, da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), relaciona o tema das fake news ao profissional da informação,
elucidando suas competências e conduta ética, e conclui que os egressos conhecem acerca
das notícias falsas e seus desdobramentos, buscando, em determinadas situações,
combater o uso e a propagação das fake news.
Os autores Lais Pereira de Oliveira e Daniel Martínez-Ávila, da Universidade
Estadual Paulista (UNESP), analisam as abordagens e os enfoques das pesquisas
desenvolvidas sobre tratamento temático da informação e publicadas na modalidade de
artigo científico, com o artigo intitulado Tratamento temático da informação: análise
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
sobre abordagens e enfoques em artigos científicos da área de Ciência da
Informação.
Ana Cláudia Carvalho de Miranda, Bruno Duarte Freire e Nadia Aurora Vanti
Vitullo, da UFRN, são autores do artigo Análise bibliométrica da produção científica
publicada na revista Informação & Sociedade no período de 2011 a 2017, cujo foco
foi traçar o perfil dos autores e caracterizar os artigos publicados na Revista Informação
e Sociedade: Estudos, entre 2011 a 2017, atualizando estudos anteriores já realizados.
O artigo Produção e tipologia documental de movimentos sociais: estudo
sobre o arquivo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras do Brasil
(MST), de Jean Camoleze e Sonia Troitiño da UNESP/Marília, objetivou discutir a
contribuição da tipologia documental para a organização e contextualização de
documentos produzidos por movimentos sociais.
As autoras Hanna Sandy de Oliveira e Lidia Eugenia Cavalcante, da Universidade
Federal do Ceará (UFC), escreveram o artigo intitulado Memória, cidade e bibliofilia, o
qual trata dos lugares de memória, apresentando a cidade como lugar de memória,
vislumbrando a construção da identidade dos sujeitos a partir do que é dado a ler e a ver
em seu patrimônio literário.
Auditoria de repositórios arquivísticos digitais confiáveis, de Henrique
Machado dos Santos, da UFRN, discute a implementação de repositórios arquivísticos em
conformidade com o Sistema Aberto para Arquivamento de Informação e a necessidade
de auditá-los para avaliar sua confiabilidade.
Rosivan Matos, da Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab), e Angélica Silva, da
Fundação FioCruz, são autores do artigo Telessaúde: uma estratégia de educação
permanente aplicada às práticas e reorganização dos processos de trabalho na
atenção básica no estado da Bahia, o qual teve como foco verificar e responder o papel
da oferta da Tele-educação por meio do Telessaúde, na melhoria da qualificação e
identificação dos serviços de saúde segundo a proposta da ferramenta de gestão.
Na seção resumos de dissertações e teses do PPGCI/UFC, publicamos nesse
número o resumo da dissertação intitulada Comportamento informacional de
servidores e colaboradores da Universidade Federal do Ceará no uso do Sistema
Eletrônico de Informações (SEI), de Thiago Pinheiro Ramos Oliveira, que traz como
resultado a sugestão de estratégia de capacitação dos usuários, a fim de superar as
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
dificuldades apresentadas no uso do SEI, a estruturação de um curso básico com conteúdo
que abarque a gestão de documentos administrativos públicos e as boas práticas de uso
do sistema.
Além deste, consta nesta edição o resumo da dissertação intitulada Gestão de
acervos audiovisuais em repositórios, de Francisco Edvander Pires Santos, que
apresenta resultados de pesquisa cujo objetivo se constituiu em construir critérios e
diretrizes para a gestão de imagens em movimento e acervos sonoros produzidos na
Universidade Federal do Ceará, uma proposição realizada a partir da mediação
bibliotecária na estruturação de um repositório audiovisual.
Boa leitura!
Maria Giovanna Guedes Farias
Editora
Informação em Pauta
Dezembro de 2019
IMPACTOS DAS TESES E DISSERTAÇÕES DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO DA UFMG: dos dados de leitura no Mendeley às citações no Google
Scholar
IMPACTS OF THE THESES AND DISSERTATIONS OF INFORMATION SCIENCE
GRADUATE PROGRAM OF THE UFMG: from reading data on Mendeley to citations on Google
Scholar
Belkiz Costa¹
Marlene Oliveira²
Ronaldo Araújo³
¹ Mestranda no Programa de Pós-Graduação em
Gestão e Organização do Conhecimento pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
E-mail: belkizcosta@gmail.com
² Doutora pela Universidade de Brasília (UnB).
Docente na Escola de Ciência da Informação da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
E-mail: marleneotmelo@gmail.com
³ Doutor pela Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). Docente do Curso de
Biblioteconomia da Universidade Federal de
Alagoas (UFAL).
E-mail: ronaldfa@gmail.com
ACESSO ABERTO
Copyright: Esta obra está licenciada com uma
Licença Creative Commons Atribuição 4.0
Internacional.
Conflito de interesses: Os autores declaram
que não há conflito de interesses.
Financiamento: Não há.
Declaração de Disponibilidade dos dados:
Todos os dados relevantes estão disponíveis
neste artigo.
Recebido em: 17/10/2019.
Aceito em: 26/11/2019.
Revisado em: 20/12/2019.
Como citar este artigo:
COSTA, Belkiz; OLIVEIRA, Marlene; ARAÚJO,
Ronaldo. Impactos das teses e dissertações do
Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação da UFMG: dos dados de leitura no
Mendeley às citações no Google Scholar.
Informação em Pauta, Fortaleza, v. 4, n. 2, p.
11-31, jul./dez. 2019. DOI: 10.32810/2525-
3468.ip.v4i2.2019.42444.11-31.
RESUMO
Analisa os impactos acadêmico e social das teses
e dissertações do Programa de Pós-graduação em
Ciência da Informação da Universidade Federal
de Minas Gerais, defendidas entre 2002 e 2018 e
disponibilizadas na Biblioteca Digital de Teses e
Dissertações da UFMG. A pesquisa caracteriza
como descritiva, exploratória e de natureza
quantitativa e qualitativa, utilizou métodos
bibliométricos e altmétricos. A amostra foi
composta por 296 dissertações e 150 teses.
Utilizou o Google Scholar, para mensurar o
impacto acadêmico medido em citações e o
gerenciador de referências Mendeley, para o
impacto social compreendido nos indicadores de
marcação e de contagem de leitores. Registrou
que as 296 dissertações receberam 899 citações
e as 150 teses receberam 1.013 citações no
Google Scholar. Foram identificadas 60
dissertações e 40 teses marcadas no Mendeley. As
dissertações acumularam um total de 295
leitores e as teses 410 leitores no Mendeley. O uso
do Google Scholar e do Mendeley permitiu apontar
o acesso e a visibilidade das teses e dissertações
e que tiveram um impacto acadêmico e social
expressivo. Conclui, que embora o acesso aberto
tenha tornado as teses e dissertações mais
acessíveis, ainda nota-se um pequeno índice de
citação, tanto para as teses, quanto para as
dissertações.
Inf. Pauta
Fortaleza, CE
v. 4
n. 2
jul./dez. 2019
ISSN 2525-3468
DOI: https://doi.org/10.32810/2525-3468.ip.v4i2.2019.42444.11-31
ARTIGO
12
Costa; Oliveira; Araújo | Impacto das teses e dissertações da Ciência da Informação da UFMG
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
Palavras-chave: Literatura cinzenta. Teses e
dissertações. Acesso aberto. Biblioteca Digital de
Teses e Dissertações. Altmetria. Impacto
acadêmico. Impacto social.
ABSTRACT
It analyzes the academic and social impacts of
theses and dissertations of the Graduate Program
in Information Science of the Federal University
of Minas Gerais, defended between 2002 and
2018 and available in the UFMG Digital Library of
Theses and Dissertations. The research
characterizes as descriptive, exploratory and of
quantitative and qualitative nature, used
bibliometric and altmetric methods. The sample
consisted of 296 dissertations and 150 theses. It
used Google Scholar to measure the academic
impact measured in citations, and the benchmark
manager Mendeley for the social impact of
markup and reader count indicators. He recorded
that 296 dissertations received 899 citations and
150 theses received 1,013 citations in the Google
Scholar. We identified 60 dissertations and 40
theses marked in Mendeley. The dissertations
accumulated a total of 295 readers and the theses
410 readers in Mendeley. The use of Google
Scholar and Mendeley allowed us to point out the
access and visibility of theses and dissertations
that had a significant academic and social impact.
It concludes that although open access has made
theses and dissertations more accessible, there is
still a small citation rate for both theses and
dissertations.
Keywords: Grey literature. Theses and
Dissertations. Open access. Digital Library of
Theses and Dissertations. Altmetrics. Academic
impact and social impact.
1 INTRODUÇÃO
No Brasil, as universidades públicas são as principais fontes geradoras do
conhecimento científico. Os programas de pós-graduação têm um papel central neste
contexto, uma vez que produzem novos conhecimentos e formam novos pesquisadores.
Dentre as produções científicas geradas no âmbito destes programas, as teses e
dissertações se destacam pelas peculiaridades atribuídas a esse tipo de literatura.
Relatam o estado da arte sobre um determinado assunto, apresentam um rico material
metodológico que pode ser utilizado em outras pesquisas, além de nortear outros
pesquisadores por meio de questionamentos apresentados em seus documentos.
Teses e dissertações se enquadram na tipologia da Literatura Cinzenta por não
possuírem um sistema de publicação e distribuição comerciais e por terem um número
pequeno de exemplares. Até pouco tempo, o acesso às teses e dissertações era limitado
às buscas nas estantes das bibliotecas tradicionais, e, muitas vezes, os pesquisadores
tinham dificuldade em localizá-las, precisando utilizar serviços de solicitação de cópias
(GOMES; MENDONÇA; SOUZA 2000; POBLACIÓN, 1992).
O desenvolvimento das tecnologias de informação possibilitou a expansão das
formas de disseminação do conhecimento científico, reduzindo de maneira significativa
os custos e facilitando o acesso ao conhecimento. Como resultado dessas mudanças,
Costa; Oliveira; Araújo | Impacto das teses e dissertações da Ciência da Informação da UFMG
13
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
surgiram os ambientes digitais, os quais as instituições de ensino e pesquisa têm usado
como dispositivo de distribuição do conhecimento, possibilitando o acesso livre à
pesquisa científica e o seu compartilhamento.
As instituições de pesquisas, como produtoras e consumidoras de informações
científicas, usam tais dispositivos contribuindo com o movimento do acesso aberto à
produção científica. Elas investem em projetos e ações, criando suas bibliotecas digitais
de teses e dissertações (BDTDs) e Repositórios Institucionais, com o objetivo de
democratizar e facilitar o acesso à produção científica gerada no âmbito dos seus
programas de pós-graduação. E, dessa forma, contribuem socialmente com o
desenvolvimento da ciência, retribuindo à sociedade o investimento público empregado
em suas pesquisas.
Esses avanços tecnológicos também impactaram o processo de comunicação e
disseminação da ciência, suscitando a necessidade de adoção de formas complementares
de avaliação dessa produção acadêmica. Os indicadores de impacto tradicionais são fontes
relevantes de reconhecimento da produção científica. Entretanto, as métricas tradicionais
têm sido alvo de questionamentos e críticas pelas seguintes razões: as contagens de
citações exigem certo tempo para o retorno, são limitadas às publicações formais e não
são considerados o contexto e as razões de citações; o fator de impacto é suscetível a
manipulações e distorções. (ARAÚJO, 2015; NASCIMENTO; ODDONE, 2016).
Diante das inovações tecnológicas que possibilitaram a disseminação em acesso
aberto, especialmente, às teses e dissertações, e considerando que as bases de dados
tradicionais como a Web of Science e Scopus não indexam teses e dissertações,
dificultando a avaliação desses documentos, as novas métricas baseadas nas mídias
sociais são necessárias para medir o impacto da ciência produzida nas instituições e
centros de pesquisas (THALWALL; KOSHUA, 2019; PRIEM et al, 2010). Assim, elaborou-
se este artigo que propõe analisar os impactos acadêmico e social das teses e dissertações
do Programa de Pós-Graduação da Ciência da Informação da UFMG, defendidas entre
2002 e 2018, e presentes na BDTD UFMG. Especificamente, pretende-se: identificar as
teses e dissertações indexadas no banco de dados do Google Scholar; quantificar as
citações recebidas por esses documentos; identificar e mensurar as marcações e os
leitores das teses e dissertações no gerenciador de referências Mendeley.
Neste artigo, os termos impacto acadêmico e impacto social serão usados em
conformidade com o trabalho de S. Bangani, The impact of electronic theses and
14
Costa; Oliveira; Araújo | Impacto das teses e dissertações da Ciência da Informação da UFMG
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
dissertations: a study of the institutional repository of a university in South Africa.
Segundo Bangani (2018), o impacto acadêmico pode ser medido por meio da
contribuição do método da pesquisa, teorias, resultados de pesquisa ou da influência de
uma pesquisa para a academia em geral” (BANGANI, 2018, p. 133, tradução nossa). Uma
das formas de mensurar o impacto acadêmico é pela análise das citações recebidas por
um documento. Ainda segundo Bangani (2018), “o impacto social é a influência positiva
que a pesquisa tem no conhecimento, compreensão, vida, atitudes e comportamentos de
uma comunidade” (BANGANI, 2018, p. 133, tradução nossa). O número de visualizações
de documentos com extensão pdf, o seu compartilhamento em redes sociais ou o seu
registro em gerenciadores de referências são formas, dentre outras, de determinar esse
impacto.
2 TRABALHOS CORRELATOS
Esta pesquisa utilizou metodologias similares às aplicadas nos estudos
desenvolvidos por Kousha, K.; Thelwall, M. (2019); Bangani (2018), Ferreras-Fernandez;
Garcıa-Penalvo; Merlo-Vega (2015) e Pavão (2010), tanto para a coleta quanto para a
análise dos dados. Por esta razão, as pesquisas desses autores são resumidamente
descritas a seguir.
Kousha e Mike (2019) apresentaram um método multi-estágio para extrair as
contagens de citações do Google Scholar (GS) de coleções depositadas em repositórios e
indexadas pelo Google. O método foi aplicado para extrair as citações do GS em 77.884
teses americanas, defendidas entre 2013 a 2017 e indexadas no ProQuest. A contagem de
citações do Google Scholar foi comparada com a contagem de leitores do Mendeley como
um indicador de métricas alternativas.
Bangani (2018) investigou os impactos acadêmicos e sociais das teses e
dissertações eletrônicas da Engenharia na North-West University. O Google Scholar (GS)
foi utilizado para as contagens de citações, e os dados altmétricos (visualizações de pdf)
foram coletados usando o Dspace do Repositório Institucional da Universidade North-
West. Além disso, foram mensuradas as taxas de conversão das teses e dissertações
usando os dados do GS e do Repositório Institucional dessa Universidade.
Ferreras-Fernandez, Garcıa-Penalvo e Merlo-Vega (2015) investigaram os
benefícios dos repositórios de acesso aberto para a literatura cinzenta, usando como
Costa; Oliveira; Araújo | Impacto das teses e dissertações da Ciência da Informação da UFMG
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
exemplo as teses depositadas em acesso aberto no Repositório Institucional da
Universidade de Salamanca. Os autores apresentaram os fundamentos, estado da arte,
tendências e benefícios do acesso aberto, como uma mudança no sistema de comunicação
científica.
Pavão (2010) pesquisou o uso das teses e dissertações depositadas no Lume -
Repositório Digital da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, buscando saber quem
usa, quais os documentos mais utilizados, seus respectivos orientadores e programas de
pós-graduação.
3 ANÁLISE DE CITAÇÃO E IMPACTO ACADÊMICO
Alguns estudos de produção científica são muito importantes, dentre eles os de
análise de citação, por auxiliarem as agências de fomento governamentais e universidades
na distribuição de recursos financeiros e na avaliação de produtos da Ciência. A citação
em um documento científico é fundamental para torná-lo científico. Ziman (1979, p. 72)
reforça esta afirmativa declarando que[..]um escrito científico não se sustenta sozinho
está incrustado de literatura sobre a sua matéria. Cada argumento apresentado e muitos
dos fatos aduzidos têm de ser apoiados por documentação[...]”.
Para Lima; Velho; Faria, (2012), as citações refletem os processos de
desenvolvimento das ciências, reconhecem a contribuição prévia dos pesquisadores por
seus pares, e “são importantes sinalizações, que indicam não apenas o “ambiente teórico”
em que se processam as interpretações acadêmicas, mas, também, os “circuitos
acadêmicos” que as legitimam.“ (LIMA; VELHO; FARIA, 2012, p. 3).
Dentre os estudos bibliométricos, a análise de citações aponta as fontes utilizadas
em novas pesquisas por meio da verificação das referências localizadas no final do
relatório de pesquisa ou em notas de rodapé.
Para as autoras Guedes e Borschiver (2005, p. 11), o estudo relacionado ao campo
da bibliometria denominado de Análise de Citações, parte da hipótese de que a citação é
um indicador válido da influência de um determinado trabalho sobre outro(s),
evidenciando conexões existentes que já foi descrita anteriormente.
De acordo com Vanz e Caregnato (2003), a análise de citação é utilizada para:
Medir o impacto e a visibilidade de determinados autores dentro de uma
comunidade científica, verificando quais escolas” do pensamento vigoram
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dentro das mesmas. Além disso, a análise de citações possibilita a mensuração
das fontes de informação utilizadas, como o tipo de documento, o idioma e os
periódicos mais citados. Utilizando estes indicadores, é possível saber como se
a comunicação científica de uma área do conhecimento, obtendo-se assim, um
“mapeamento” da mesma. (VANZ; CAREGNATO, 2003, p. 251).
Com o objetivo de criar uma ferramenta que auxiliasse as buscas bibliográficas
baseadas na associação de ideias, Eugene Garfield, propôs o índice de citação. Entre as
vantagens desta ferramenta estava a possibilidade de avaliar a influência de um
determinado artigo sobre uma área de conhecimento, ou seu “fator de impacto”.
Rodrigues (2017, p. 49) lembra que “a intenção inicial de Garfield ao elaborar este
indicador fosse a avaliação do periódico, com o tempo, aquele passou a ser aplicado para
medir o impacto não somente do periódico científico, mas também do autor dos artigos
nele contidos.”
O uso exclusivo de índices de citação estrangeiros para avaliar o impacto da
produção científica de países em desenvolvimento, como o Brasil, pode prejudicar os
pesquisadores e os periódicos, por não indexar em suas bases de dados títulos de
periódicos publicados nesses países, provocando um círculo vicioso, como descreve
Suzana Mueller (1999):
[...] Essas bases de dados, adotadas internacionalmente como fonte de referência
para medir citações e impacto de artigos, autores e títulos, incluem apenas uma
percentagem muito pequena de títulos provenientes dos países em
desenvolvimento. [...]
[...] A inclusão de um periódico nos índices da ISI e em outras bases de dados
internacionais garante aos artigos nele publicados a visibilidade necessária para
serem encontrados nas buscas por literatura recente, aumentando a chance de
serem lidos e citados. Os periódicos mais citados se tornam cada vez mais lidos
e citados, atraindo melhores autores, enquanto os periódicos que estão fora
desse núcleo de elite têm acesso cada vez mais difícil aos índices de citação e de
análise, e são, portanto, menos lidos e menos citados, num círculo vicioso [...]
(MUELLER, 1999, on-line).
Diante às mudanças tecnológicas e suas implicações na comunicação científica,
outras formas mais inovadoras de análise da produção científica poderão ser
incorporadas como alternativas ou complementares para medir e avaliar o impacto
acadêmico.
Costa; Oliveira; Araújo | Impacto das teses e dissertações da Ciência da Informação da UFMG
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
4 ALTMETRIA E O IMPACTO SOCIAL
Na literatura, vários conceitos têm sido formulados para definir Altmetria.
Segundo Souza (2014b), o conceito mais citado é o do site altmetrics.org, que define
altmetria como a criação e o estudo de novas métricas baseadas na Web Social para
analisar e informar atividades acadêmicas.” (SOUZA, 2014b, p. 46).
Outros conceitos são encontrados para a altmetria. Para Araújo (2015), a altmetria
é um dos novos subcampos das métricas da informação científica na web e pode ser
entendida como “[...] a aplicação das métricas de mídias sociais no contexto da
comunicação científica, no monitoramento da conversação e engajamento dos usuários
em torno da atenção on-line que os produtos científicos recebem”. (ARAÚJO, 2015, p. 25).
O termo “altmetria” apareceu a primeira vez em uma mensagem enviada pelo
Twitter da conta do pesquisador Jason Priem, em 28 de setembro de 2010, e em seguida
no texto “Altmetrics: a manifest (Altmetria: um manifesto), documento lançado em
novembro de 2010 (PRIEM et al., 2010), que estabelecia as bases desta nova área de
investigação. Segundo o documento, o contexto que justifica o surgimento da altmetria é
a crise dos filtros tradicionalmente utilizados para determinar a qualidade da informação
científica revisão por pares, contagem de citações e fator de impacto de periódicos.
Os primeiros trabalhos que abordaram esse assunto criticavam as limitações das
medidas de impacto tradicionais e sugeriam a criação de novas métricas de impacto com
base na análise das redes sociais. Priem e Hemminger (2010) expõem as debilidades dos
métodos de avaliação baseados em citações e filtragem de artigos por pares em
consequência do grande volume de literatura acadêmica a ser analisada (PRIEM;
HEMMINGER, 2010, apud VANTI; SANZ-CASADO, 2016, p. 351).
Diversos autores (ARAÚJO, 2015; CINTRA, 2017; GOUVEIA, 2013; NASCIMENTO,
2016; VANTI; SANZ-CASADO, 2016) afirmam que o surgimento da Altmetria se deu a
partir da de vários fatores percebidos na comunidade acadêmica com o decorrer do
tempo, dentre eles:
insatisfação com as formas tradicionais de medição do impacto científico; -
o surgimento de novas ferramentas sociais na rede que facilitaram e ampliaram
todas as formas de comunicação;
a necessidade de novos filtros para selecionar informação relevante dentro da
ciência;
o movimento open access que democratizou tanto a divulgação quanto o
alcance a qualquer tipo de informação científica. (VANTI; SANZ-CASADO, 2016,
p. 351).
18
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Borba; Alvarez; Caregnato (2019) acreditam que a influência on-line das
produções científicas tem crescido nas dias sociais, principalmente quando “usuários
e/ou corpo editorial de periódicos e/ou repositórios institucionais disseminam e
compartilham literatura científica em seus perfis, contribuindo para a visibilidade da
pesquisa” (BORBA; ALVAREZ; CAREGNATO, 2019, p. 5).
A altmetria mede a atenção recebida por produtos de pesquisa acadêmica em
fontes não tradicionais, a partir de dados de interações na web, como menções,
compartilhamentos, visualizações e downloads de produtos de pesquisa acadêmicos em
redes sociais, sites de jornais e revistas, blogs e gerenciadores de referências. A altmetria
revela novas dimensões do impacto da produção científica tanto na esfera acadêmica
como fora dela, junto ao público não especializado. (NASCIMENTO, 2016, on-line).
Para Souza (2015), a vantagem do uso das métricas alternativas é a possibilidade
de se ter informações sobre o alcance e o uso de trabalhos científicos que são muito
difíceis ou até impossíveis de se obter por meio de métodos tradicionais como a análise
de citação. A citação é um indicador de grande relevância, entretanto, ela considera
apenas uma parte da história. “A utilidade de um trabalho científico não se resume às
citações formais: ele pode servir para um professor preparar sua aula, pode ajudar
médicos em decisões clínicas, e muitos outros usos que não geram citações.” Para a autora,
a vantagem da altmetria é a possibilidade da construção de um quadro mais completo
sobre o impacto da ciência [...] (SOUZA, 2015, p. 58).
Konkiel e Scherer (2013) destacam que a grande vantagem da altmetria é a
velocidade com que os dados altmétricos se acumulam. Outra importante vantagem está
relacionada ao uso de dados altmétricos em repositórios institucionais (RIs). Segundo os
autores, os dados altmétricos podem ser agregados às estatísticas de uso para convencer
os pesquisadores a disponibilizar livremente seus trabalhos. Os administradores e
financiadores dos repositórios podem utilizar dados de uso dos RIs para o planejamento
das ações para o desenvolvimento de coleções, para a distribuição de recursos, entre
outras atividades relacionadas ao gerenciamento de Ris.
Barros (2015) acredita que as métricas alternativas não criaram nenhum
comportamento novo entre os pares, mas possibilitaram medir práticas comuns que já
existiam na comunidade acadêmica. Segundo o autor a internet agilizou as trocas de
informações, e, com o incremento do uso das redes sociais para o compartilhamento de
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informações, passou a deixar rastros visíveis que, finalmente, permitem que possamos
medir e reportar a quantidade e a qualidade dessas interações, complementando os
resultados e análises que antes estavam restritos somente à contagem de citações.
Segundo Gouveia (2013, p. 221), “os dados altmétricos têm como fonte registros
de acesso, comentários, links, e citações textuais ou indicações em bookmarks sociais que
ocorrem na internet”. O autor adverte que é fundamental a integração dos dados da
produção científica disponibilizada online com os identificadores dos autores (author
identifiers), para que seja viável o levantamento dos dados altmétricos.
Sugimoto et al. (2017), citados por Borba, Alvarez e Caregnato (2019, p. 3),
afirmam que as “altmetrias não existem fora de sua plataforma em particular, o que se
traduz em uma variedade de indicadores totalmente específicos e dependentes da
ferramenta subjacente.” Os autores reforçam que as novas métricas apodem monitorar o
impacto de pesquisa mais cedo ou mais amplamente, “mas elas são limitadas pelos
ecossistemas tecnológicos nos quais são capturadas”. (BORBA; ALVAREZ; CAREGNATO,
2019, p. 3).
As altmetrias apresentam diversos tipos de indicadores tradicionais e alternativos
de interação do público, a partir de diversas fontes e ferramentas, permitindo que
pesquisadores, editores, agências de fomento e outras instituições monitorem a atenção
recebida por produtos de pesquisa na Web Social. A altmetria vem avançando com o
crescimento de estudos na área e, também, com o desenvolvimento de ferramentas que
agregam uma variedade de indicadores de dias e redes sociais. Algumas das
ferramentas mais utilizadas nos estudos sobre altmetria são: PLOS ALM, Altmetric.com,
ImpactStory e PlumAnalytics (SOUZA, 2015).
5 MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa se caracteriza como descritiva e exploratória e de abordagem
quantitativa e qualitativa. Utiliza métodos bibliométricos e dados altmétricos. A amostra
foi formada pelas teses e dissertações do Programa de Pós-graduação em Ciência da
Informação (PPGCI) da UFMG, defendidas entre 2002 e 2018 e disponibilizadas na
Biblioteca Digital de Teses em Dissertações da UFMG.
A Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG (BDTD UFMG) foi criada em
2002 e possui duas comunidades: 1 - Dissertações e Teses: formada pelas sub-
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comunidades de dissertações e teses de todos os Programas de Pós-Graduação da UFMG;
e 2 - Monografias de Especialização: formada pelas sub-comunidades de monografias de
especialização de cursos de Especialização oferecidos pela universidade. Em setembro de
2019, a Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG migrou para o Repositório
Institucional da UFMG.
A justificativa para a escolha do período está relacionada a data de criação da BDTD
UFMG. As teses e dissertações concluídas após 2018 não foram consideradas pois não
tiveram tempo suficiente para acumular citações. Inicialmente, foram identificadas as
teses e dissertações do PPGCI presentes na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da
UFMG. Esta etapa foi realizada em 15 de fevereiro de 2019. Foram localizadas 420
dissertações e 153 teses. Após o recorte temporal foram descartadas, 124 dissertações e
3 teses, pois foram defendidas em período anterior ao selecionado. Desta forma, a
amostra totalizou 296 dissertações e 150 teses. Ressalta-se que o PPGCI formou até
agosto de 2019, 487 mestres e 176 doutores.
Para mensurar o impacto acadêmico, foram identificadas as teses e dissertações
indexadas no Google Scholar. Para tal procedimento, foram realizadas consultas manuais
pelo título completo da tese ou dissertação no Google Scholar. Utilizou-se a pesquisa
avançada, buscando no campo “COM A FRASE EXATA” na opção: “onde ocorrem no título
do artigo”. Esta etapa iniciou-se em 17 de fevereiro, se estendendo até 15 de março de
2019. Para identificar como as teses e dissertações foram indexadas no GS, usou-se as
seguintes categorias:
não indexada o trabalho não foi localizado;
indexada e remete à BDTD UFMG - o trabalho foi localizado e o link da
Uniform Resource Locator (URL), remete à BDTD UFMG;
indexada e remete para outros repositórios , - o trabalho foi localizado, mas o
link da URL remete para outros endereços eletrônicos;
citada, mas não está indexada existe citação para o trabalho, mas ele não foi
indexado no GS;
artigo derivado que foi indexado as citações são para trabalhos derivados
das teses ou dissertações originais.
Paralelamente a esta etapa, procedeu-se à contagem das citações recebidas pela
teses e dissertações no GS. Foram consideradas somente as citações direcionadas para as
teses ou dissertações. Citações para artigos derivados desses trabalhos foram descartadas.
Os dados coletados foram registrados em planilhas Microsoft Excel.
Buscando identificar os tipos de documentos que citaram as teses e dissertações,
realizou-se pesquisas manuais, consultando documento por documento no Google Scholar,
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o que demandou uma análise minuciosa para identificar cada documento que citava a tese
ou a dissertação. A tipologia documental incluiu os seguintes documentos: periódicos
nacionais, periódicos internacionais, teses nacionais, teses internacionais, dissertações
nacionais, dissertações internacionais, eventos nacionais, eventos internacionais, livros e
outros. A categoria “outros” englobou os documentos que não se enquadravam nas
demais categorias acima, ou quando não foi possível a identificação da categoria.
As temáticas centrais das teses e dissertações mais citadas foram localizadas por
meio de consultas à BDTD UFMG, pesquisando no campo Assunto”, os termos do
vocabulário controlado adotados pelas bibliotecas do Sistema de Bibliotecas da UFMG (SB
UFMG).
Para mensurar o impacto social, optou-se por utilizar o software Webometric
Analyst, para realizar a coleta automática dos dados relacionados às teses e dissertações
armazenadas no Mendeley. Esta etapa foi realizada no período compreendido entre a
segunda quinzena de março até a primeira semana de abril de 2019.
Assim, relacionou-se as teses e dissertações, em arquivos de texto simples (.txt). O
Webometric executa a pesquisa no Mendeley por meio de metadados (sobrenome do
autor e título). Os arquivos com os seguintes campos: “[query]”; “[titile]”; “[author]” e
“[year]” são separados por tabulações no seguinte formato: <Blank –tab- title tab-
authors tab- year>. No Webometric Analyst existe a recomendação para que o campo
“[author]” seja descrito da seguinte forma: sobrenome, iniciais do nome do autor. Foram
retirados os caracteres especiais (~, ç, ^, ´, etc.), através de limpeza nos arquivos.
Após esta preparação, esse arquivo foi submetido para ser processado pelo
Webometric. Os resultados foram retornados em vários arquivos, em diferentes formatos.
Segundo instruções disponíveis no manual do Webometric Analyst em:
(http://lexiurl.wlv.ac.uk/searcher/Mendeley.htm), o arquivo que retorna as informações
é o que tem a terminação: _pubsFound_total85.txt.
O arquivo disponibilizado apresenta os seguintes dados: nome dos autores, ano,
título, nome da revista, volume, ano, ISSN, entre outros. O Webometric permite analisar,
a partir do Mendeley, a quantidade de leitores por artigo, assim como o perfil ocupacional,
as áreas do conhecimento e a nacionalidade dos leitores. Os dados relacionados às
marcações no Mendeley, bem como à quantidade de leitores por tese ou dissertação, ao
perfil ocupacional, às áreas do conhecimento e à nacionalidade dos leitores, foram salvos
em arquivos de texto, em formato csv, e compilados em planilhas Microsoft Excel.
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Cabe ressaltar que esses arquivos apresentaram muitas inconsistências,
demandando a limpeza nos dados. Foram adotadas regras específicas, visando filtrar
falsos resultados e duplicidade de registros, além da checagem manual de cada
documento. Estes procedimentos também foram adotados nas pesquisas de Borba,
Alvarez, Caregnato (2019, p. 8), como afirmam os autores: “foram encontradas
duplicidades de registros de artigos cujos títulos estavam redigidos em línguas diferentes,
o que demandou a realização de uma limpeza dos dados.” Kousha e Mike (2019) relataram
a ocorrência de documentos recuperados com o mesmo título e autor, porém tratando-se
de artigos publicados em periódicos, artigos estes derivados de teses.
6 ANÁLISE DOS DADOS
Os dados relacionados ao impacto acadêmico, foram analisados nas seguintes
categorias: presença das teses e dissertações no Google Scholar; número de citação;
tipologias documentais que citaram as teses e dissertações; Temáticas das teses e
dissertações mais citadas.
Tabela 1 - Teses e dissertações do PPGCI da UFMG indexadas no Google Scholar
CATEGORIAS
DISSERTAÇÕES
%
TESES
%
Não indexada
26
8,78%
9
6,00%
Indexada e remete à BDTD
UFMG
190
64,19%
100
66,67%
Indexada e remete para outro RI
75
25,34%
40
26,67%
Citada não indexada
5
1,69%
1
0,67%
TOTAL
296
100,00%
150
100,00%
Fonte: Dados da pesquisa, 2019.
Os resultados apontaram que, das 296 dissertações do PPGCI, 26 não estão
presentes no GS, e 190 estão indexadas e são direcionadas à BDTD UFMG. Registrou-se,
ainda, que 75 dissertações estão indexadas e direcionadas para outros repositórios.
Apesar de 5 dissertações não estarem indexadas no GS, elas foram citadas. Em relação às
150 teses do PPGCI, 9 não foram indexadas no GS e 100 teses estão indexadas no GS e são
direcionadas para a BDTD UFMG. Constatou-se, que 40 teses foram indexadas e são
direcionadas para outros repositórios e que 1 tese, mesmo não estando presente no GS,
foi citada, como demonstrado na Tabela 1.
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Tabela 2 - Número de teses e dissertações do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da
UFMG, com citações registadas no Google Scholar até março de 2019
DISSERTAÇÕES
TESES
Nº de
citações
Dissertações
Nº total
de
citações
% de
Citações
Nº de
citações
Nº Teses
Nº total de
citações
% de
Citações
0
143
0
48,31%
0
64
0
42,67%
1
32
32
10,81%
11
11
1
7,33%
2
35
70
11,82%
22
11
2
7,33%
3
20
60
6,76%
48
16
3
10,67%
4
12
48
4,05%
28
7
4
4,67%
5
11
55
3,72%
20
4
5
2,67%
6
7
42
2,36%
42
7
6
4,67%
7
5
35
1,69%
28
4
7
2,67%
8
4
32
1,35%
16
2
8
1,33%
9
3
27
1,01%
27
3
9
2,00%
10
5
50
1,69%
10
1
10
0,67%
11
5
55
1,69%
48
4
12
2,67%
13
1
13
0,34%
26
2
13
1,33%
14
1
14
0
28
2
14
1,33%
15
1
15
0,34%
15
1
15
0,67%
16
2
32
0,676%
20
1
20
0
18
2
36
0,68%
21
1
21
0,67%
22
2
44
0,68%
54
2
27
1,333%
25
1
25
0,34%
33
1
33
0,67%
33
2
66
0,68%
36
1
36
0,67%
53
1
53
0,34%
38
1
38
0,67%
95
1
95
0,34%
48
1
48
0,67%
_
_
_
_
55
1
55
0,67%
_
_
_
_
61
1
61
0,67%
_
_
_
_
278
1
278
0,67%
TOTAL
296
899
100,00%
TOTAL
150
1013
100,00%
Fonte: Dados da pesquisa, 2019.
Os resultados apontaram que, dentre as 296 dissertações do Programa de Pós-
graduação em Ciência da Informação, 153 receberam um total de 899 citações. Registrou-
se assim, uma média de citação de 3,03% por dissertação. Ressalta-se que, a dissertação
de autoria de Renata M. Vilella. Conteúdo, usabilidade e funcionalidade: três dimensões
para a avaliação de portais estaduais de governo eletrônico na web, orientada pela Dra.
Beatriz V. Cendon e publicada em 2003, foi citada 95 vezes, e uma outra foi citada 53
24
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vezes. Verificou-se que, 7 dissertações receberam números superiores a 20 citações,
conforme mostrado na Tabela 2. Entretanto, registrou que 143 dissertações não
receberam nenhuma citação.
Em relação, às citações para as teses do PPGCI UFMG, constatou-se que, das 150
teses, 86 receberam um total de 1.013 citações. As teses obtiveram uma média de 6,75%
por tese. A tese de autoria Rivadavia C. D. Alvarenga Neto, “ Gestão do conhecimento em
organizações: proposta de mapeamento conceitual integrativo, orientada pelo Dr.
Ricardo Rodrigues Barbosa e publicada em 2005, recebeu 278 citações ao longo do tempo.
Constatou-se que 64 teses não receberam nenhuma citação. Na análise, foi possível
perceber o elevado número de citações, tanto para as dissertações como para as teses.
Observou-se que, 11 teses receberam números superiores a 20 citações.
As pesquisas realizadas em diversos campos científicos mostram que existem
variações na tipologia da fonte citada. Contudo, na Ciência da Informação, como apontado
por Rodrigues (2017 p. 175), “as pesquisas não evidenciaram consenso em relação à
tipologia da fonte citada.” Os resultados mostraram que os documentos que mais citaram
as dissertações foram os periódicos nacionais com 347 citações. Em seguida, vieram as
dissertações nacionais com 156 citações. As teses do PPGCI também foram mais citadas
pelos periódicos nacionais, com 427 citações, e pelas dissertações nacionais, com 161
citações, como registrado na Tabela 3.
Tabela 3 - Tipologias documentais que citaram as teses e dissertações do PPGCI UFMG no GS
Tipologias
Dissertação
Tese
Total
Periódicos Nacionais
347
427
774
Periódicos Internacionais
64
87
151
Teses Nacionais
60
88
148
Teses Internacionais
11
1
12
Dissertações nacionais
156
161
317
Dissertações Internacionais
9
0
9
Eventos Nacionais
79
81
160
Eventos Internacionais
31
18
49
Livros
18
21
39
Outros
124
129
253
Total
899
1013
1912
Fonte: Dados da pesquisa, 2019.
Tanto as dissertações quanto as teses do PPGCI receberam citações de publicações
internacionais. Apesar das citações incipientes, merece destaque o fato de que teses e
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25
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dissertações internacionais citaram as teses e dissertações do PPGCI, o que aponta
resultados positivos em relação à ampliação da visibilidade de teses e dissertações
publicadas em acesso aberto.
Em relação às temáticas tanto das teses quanto das dissertações, percebeu-se uma
diversidade de assuntos que se destacaram. Observou-se que algumas temáticas são
recorrentes aparecendo com maior frequência. Bibliotecas Digitais foi o assunto central
de 3 dissertações, totalizando 79 citações; e Gestão do Conhecimento apareceu em 2
dissertações, o equivalente a 44 citações. Nota-se que nas teses destacaram as temáticas:
Gestão do conhecimento, com 278 citações; Ontologias, com 61; Bibliotecas escolares, 55;
Documentos Eletrônicos, 38; e Sistemas de Recuperação da Informação que ocorreu em
três teses, totalizando 60 citações.
Os dados relacionados ao impacto social foram analisados nas seguintes categorias:
teses e dissertações marcadas no Mendeley; o número de leitores; a nacionalidade; o perfil
ocupacional e a área do conhecimento desses leitores.
Para a análise das teses e dissertações marcadas no Mendeley, foram registrados
os resultados obtidos na coleta realizada pelo software Webometric Analyst.
Posteriormente, foram analisados os resultados obtidos após a limpeza dos dados, como
explicado anteriormente.
Na coleta gerada pelo Webometric foram identificadas 130 dissertações marcadas
no Mendeley. Após a limpeza e filtragem dos resultados, constatou-se que 60 dissertações
estavam efetivamente marcadas no Mendeley, conforme mostra a Tabela 4. Em relação às
teses, foram recuperadas 69 teses na coleta pelo Webometric. As teses também foram
submetidas ao mesmo procedimento de filtragem e checagem dos dados. Após a análise,
foram identificadas 40 teses estavam marcadas no Mendeley.
Tabela 4 - Resultados da coleta das Dissertações e teses do PPGCI da UFMG marcadas no Mendeley
Resultados
Dissertações
Dissertações
%
Resultados
Teses
Teses %
Sem marcação
166
56,08%
Sem marcação
81
54,00%
Documentos
recuperados
Falsos
resultados
70
23,64%
Documentos
recuperados
Falsos
resultados
29
19,33%
Marcadas
60
20,26%
Marcadas
40
26,67%
TOTAL
296
100%
TOTAL
150
100%
Fonte: Dados da pesquisa, 2019.
26
Costa; Oliveira; Araújo | Impacto das teses e dissertações da Ciência da Informação da UFMG
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
Nos anos de 2007, 2008 e 2009 ocorreram as defesas da maioria das dissertações
marcadas no Mendeley. Em relação às teses, as defesas ocorreram na maioria das vezes
nos anos 2007, 2009 e 2011, conforme apresentado na Tabela 6. A dissertação mais antiga
marcada no Mendeley foi defendida em 2004 e a mais recente, em 2016. A tese mais antiga
e marcada no Mendeley foi defendida em 2002 e a mais recente, em 2017.
Tabela 5 - Teses e dissertações do PPGCI UFMG marcadas no Mendeley
DISSERTAÇÕES
TESES
Ano de defesa
Quantidade
Ano de defesa
Quantidade
2002
2002
1
2004
1
2004
1
2005
1
2005
2
2006
1
2006
2
2007
14
2007
6
2008
14
2008
3
2009
14
2009
7
2010
5
2010
4
2011
2
2011
6
2012
3
2012
2
2013
2
2013
3
2015
2
2014
1
2016
1
2016
2
TOTAL
60
TOTAL
40
Fonte: Dados da pesquisa, 2019.
Sobre o número de leitores, registrou-se que as 60 dissertações marcadas no
Mendeley somaram um total de 295 leitores. A dissertação que acumulou maior número
de leitores, foi Apropriações de Bruno Latour pela Ciência da Informação no Brasil:
descrição, explicação e interpretação, de autoria do Ronaldo F. Araújo, orientado pela Dra.
Maria Guiomar da Cunha Frota e defendida em 2009, com 23 leitores. As 40 teses do
PPGCI somaram um total de 410 leitores. As teses com os números mais elevados de
leitores foram Gestão do conhecimento em organizações: proposta de mapeamento
conceitual integrativo, de autoria de Rivadavia Alvarenga Neto defendida em 2005, com
65 leitores e a outra Um modelo baseado em ontologias para representação da memória
organizacional, de autoria do Mauricio de Almeida, defendida em 2006, com 64 leitores,
ambos orientados pelo Dr. Ricardo Rodrigues Barbosa, como demonstrado na Tabela 6.
Borba, Alvarez, Caregnato (2019, p. 11) explicam que os leitores Mendeley são “os
usuários cadastrados na ferramenta que adicionam pelo menos um artigo à sua biblioteca
pessoal”.
Costa; Oliveira; Araújo | Impacto das teses e dissertações da Ciência da Informação da UFMG
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
Registrou-se que as teses somaram um número de leitores superior ao das
dissertações. Segundo Mohammadi, Thelwall, Kousha (2016), a contagem de leitores
Mendeley pode ser útil para avaliar o impacto inicial das teses de doutorado, evitando os
atrasos na publicação de contagens de citações. Thelwall; Kousha (2019), complementam
que “‘pesquisadores e estudantes podem salvar a tese no Mendeley para sua leitura e não
citá-la, utilizando apenas para o ensino e aprendizagem, o que pode ser útil para refletir
uso educacional de teses.” (THELWALL; KOUSHA, 2019, p. 470).
Tabela 6 - Número de leitores das teses e dissertações do PPGCI marcadas no Mendeley
DISSSERTAÇÕES
TESES
Ano
defesa
leitor
Ano
defesa
leitor
Ano
defesa
leitor
Ano
defesa
leitor
Ano
defesa
leitor
2009
23
2007
5
2007
2
2005
65
2007
5
2010
19
2009
5
2008
2
2006
64
2008
5
2012
18
2009
5
2009
2
2011
27
2009
5
2007
14
2013
5
2009
2
2008
25
2011
5
2005
13
2006
4
2008
1
2009
20
2013
5
2007
13
2007
4
2009
1
2006
16
2002
4
2008
13
2008
4
2009
1
2009
14
2007
4
2009
12
2010
4
2012
1
2010
14
2009
4
2009
9
2011
4
2016
1
2012
13
2010
4
2011
9
2007
3
2007
0
2009
11
2011
4
2007
8
2008
3
2007
0
2004
10
2012
4
2007
8
2009
3
2007
0
2007
10
2007
3
2009
8
2009
3
2008
0
2008
10
2011
2
2007
7
2009
3
2008
0
2005
8
2013
2
2008
7
2010
3
2008
0
2011
8
2013
2
2015
7
2010
3
2008
0
2011
8
2009
1
2008
6
2011
3
2008
0
2009
7
2014
1
2008
6
2013
3
2008
0
2016
7
2016
1
2004
5
2015
3
2010
0
2010
6
2007
0
2007
5
2007
2
2012
0
2010
6
2007
0
TOTAL
210
72
13
349
61
295
410
Fonte: Dados da pesquisa, 2019.
Em relação à nacionalidade, constatou-se que a grande maioria dos leitores não
declarou a nacionalidade; os leitores que declararam são em maior parte brasileiros.
Nota-se a presença de leitores de teses e dissertações de nacionalidades estrangeiras, em
especial de Portugal, Espanha, França, Itália, Moçambique e Colômbia, mostrando a
ampliação do acesso e a visibilidade das teses e dissertações publicadas em acesso aberto.
Esse fato, pode ser um prenúncio da internacionalização dos programas de pós-graduação.
O perfil ocupacional foi analisado a partir das informações cadastradas pelos
leitores, relativas à suas ocupações. Nem sempre essas informações são registradas pelos
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Costa; Oliveira; Araújo | Impacto das teses e dissertações da Ciência da Informação da UFMG
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
usuários do Mendeley. Os resultados apontaram que os perfis que mais marcaram as teses
e dissertações foram especialmente os de estudantes de pós-graduação (mestrado e
doutorado) e os de alunos de graduação. Como na pesquisa de Mohammadi, Thelwall e
Kousha (2016), os resultados mostram que o Mendeley é usado principalmente pela
academia. Da mesma forma que no artigo de Borba; Alvarez; Caregnato (2019, p.6), o
perfil bibliotecário também marcou presença como leitores do Mendeley, apontando que
os bibliotecários têm utilizado o gerenciador de Referências Mendeley para leitura e/ou
marcação de artigos.”
Assim como a nacionalidade e perfil ocupacional, a área de conhecimento nem
sempre é fornecida pelos usuários Mendeley. Observa-se que a principal área de
conhecimento, tanto para as teses quanto para as dissertações, foi a das Ciências Sociais,
o que se justifica pelo fato de a Ciência da Informação pertencer à área maior das Ciência
Sociais Aplicadas. Logo após, foi indicada a área de Ciência da Computação, o que pode ser
compreendido pela forte relação entre essas duas áreas. Outras áreas também foram
indicadas pelos leitores como: Negócios; Gestão e Contabilidade; e Artes e Humanidade.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sobre os resultados obtidos neste estudo, constatou-se que foi possível analisar
tanto o impacto acadêmico quanto o impacto social das teses e dissertações do Programa
de Pós-graduação em Ciência da Informação presentes na BDTD UFMG. O uso do Google
Scholar e do Mendeley permitiu apontar o acesso e a visibilidade dessas teses e
dissertações. Percebeu-se que os resultados obtidos para o impacto acadêmico são
semelhantes aos poucos estudos que tiveram o mesmo objetivo e que utilizaram o Google
Scholar como ferramenta para mensurar este impacto.
Observou-se que as teses e dissertações da Ciência da Informação tiveram um
impacto acadêmico expressivo. Entretanto, notou-se que um elevado número de teses e
dissertações não estava presente na BDTD UFMG. Várias são as razões para esse fato,
entre elas, destacam-se: teses e dissertações de conteúdo sob sigilo para publicação,
aguardando a liberação de patente; outras por não possuírem a autorização dos autores
para acesso; outras por não se encontrarem em formato eletrônico; e versões finais que
ainda não foram entregues. Percebeu-se, também, que muitas teses e dissertações
disponibilizadas na BDTD UFMG não foram indexadas pelo Google Scholar.
Costa; Oliveira; Araújo | Impacto das teses e dissertações da Ciência da Informação da UFMG
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
Em relação ao impacto acadêmico, as principais constatações foram: as teses e
dissertações obtiveram um número de citações significativo; a presença das citações em
teses e dissertações internacionais; os documentos que mais citaram as teses e
dissertações apresentaram resultados semelhantes aos de outros estudos; a diversidade
nas temáticas das teses e dissertações mais citadas e alguns temas foram abordados com
maior reincidência, tanto nas teses quanto nas dissertações.
Em relação ao mapeamento do impacto social através da coleta no Webometric,
notou-se que grande parte dos resultados era relacionado a artigos de periódicos e
trabalhos publicados em eventos derivados das teses e das dissertações pesquisadas, e,
portanto, foram descartados. Em relação às marcações no Mendeley, registrou-se que as
teses e dissertações obtiveram números significativos. Quanto às datas de defesa e de
marcação no Mendeley, não houve evidência de impacto social logo após as datas de defesa
das teses e dissertações. Sobre a nacionalidade, nota-se uma tímida presença de leitores
de nacionalidades estrangeiras. Para o perfil, o destaque foi ao perfil bibliotecário, o que
pode ser relacionado ao uso desses trabalhos em práticas profissionais.
Embora o acesso aberto tenha tornado as teses e dissertações mais acessíveis,
ainda nota-se um pequeno índice de citação, tanto para as teses, quanto para as
dissertações. Essa observação também foi registrada no trabalho de Ferreras-Fernandez,
Garcia-Penalvo e Merlo-Vega (2015). Não se trata, entretanto, de apontar que teses e
dissertações sejam fontes irrelevantes de informações ou que tenham pouca importância
acadêmica. Acredita-se que estes trabalhos tenham sido preteridos em razão da
disponibilidade e quantidade de outros tipos de publicação (artigos de periódicos e
eventos, livros etc.) que já têm o acesso on-line mais consolidado.
Espera-se que, com as novas práticas assimiladas na era do acesso aberto, as
próximas gerações de pesquisadores comecem a citar mais teses e dissertações, tendo em
vista que os conhecimentos gerados nestes trabalhos têm um papel fundamental para a
comunicação científica. É sabido que a Universidade vem adotando políticas institucionais
no sentido de orientar e motivar seus autores a publicarem em acesso aberto.
Como limitação desta pesquisa, identificou-se que a pouca existência de estudo
sobre o comportamento das citações de teses e dissertações também foi outro fator
negativo. Esse fato limitou as possibilidades de análise e comparação com os resultados
obtidos nesta pesquisa. As poucas pesquisas localizadas sobre nossa temática foram
desenvolvidas em ambientes sociais, econômicos e culturais muito diferentes da nossa
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Costa; Oliveira; Araújo | Impacto das teses e dissertações da Ciência da Informação da UFMG
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
realidade. Assim, devido à escassez de pesquisas voltadas para citações de teses e
dissertações, limitamos a descrever os resultados obtidos nesta pesquisa.
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31
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163 p.
MODELOS SEMÂNTICOS PARA DADOS BIBLIOGRÁFICOS DE PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS
DISPONIBILIZADOS COMO LINKED DATA
SEMANTIC MODELS FOR BIBLIOGRAPHIC DATA OF SCIENTIFIC PUBLICATIONS MADE
AVAILABLE AS LINKED DATA
Antonio Victor Wolf Tadini¹
José Eduardo Santarem Segundo²
¹ Graduado em Biblioteconomia e Ciência da
Informação pela Universidade de São Paulo
(USP).
E-mail: antoniovwt@gmail.com
² Doutor em Ciência da Informação pela
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
(UNESP). Professor no Departamento de
Educação, Informação e Comunicação da
Universidade de São Paulo (USP).
E-mail: santarem@usp.br
ACESSO ABERTO
Copyright: Esta obra está licenciada com uma
Licença Creative Commons Atribuição 4.0
Internacional.
Conflito de interesses: Os autores declaram
que não há conflito de interesses.
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Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)
Declaração de disponibilidade dos dados:
Todos os dados relevantes estão disponíveis
neste artigo.
Recebido em: 07/11/2019.
Aceito em: 27/11/2019.
Revisado em: 20/12/2019.
Como citar este artigo:
TADINI, Antonio Victor Wolf; SANTAREM
SEGUNDO, José Eduardo. Modelos semânticos para
dados bibliográficos de publicações científicas
disponibilizados como Linked Data. Informação
em Pauta, Fortaleza, v. 4, n. 2, p. 32-57, jul./dez.
2019. DOI: 10.32810/2525-
3468.ip.v4i2.2019.42640.32-57.
RESUMO
Esta pesquisa aborda a oportunidade de aumento
do impacto de publicações científicas com a
disponibilização dos dados de seus registros
bibliográficos como Linked Data. Objetiva
investigar quais são as melhores práticas para tal,
bem como delinear um modelo semântico para
dados bibliográficos de publicações científicas. A
metodologia é exploratória e descritiva. Como
resultado, apresenta um conjunto de declarações
RDF, que estruturam o modelo semântico.
Conclui que a representação bibliográfica das
publicações científicas no Linked Data valoriza a
coexistência de vários vocabulários para
descrição em um mesmo registro.
Palavras-chave: Web Semântica. Linked Data.
Vocabulários. Metadados. Dados Bibliográficos.
Comunicação Científica.
ABSTRACT
This research addresses the opportunity to
increase the impact of scientific publications with
the availability of data from their bibliographic
records as Linked Data. It aims to investigate
what are the best practices for this, as well as to
outline a semantic model for bibliographic data of
scientific publications. The methodology is
exploratory and descriptive. As a result, it
presents a set of RDF statements, which structure
the semantic model. It concludes that the
bibliographic representation of scientific
publications in Linked Data values the
coexistence of several vocabularies for
description in the same record.
Keywords: Semantic Web. Linked Data.
Vocabularies. Metadata. Bibliographic Data.
Scholarly Communication.
Inf. Pauta
Fortaleza, CE
v. 4
n. 2
jul./dez. 2019
ISSN 2525-3468
DOI:
https://doi.org/10.32810/2525-3468.ip.v4i2.2019.42640.32-57
ARTIGO
Tadini; Santarem Segundo | Modelos semânticos para dados bibliográficos
33
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
1 INTRODUÇÃO
Disponibilizar os metadados das publicações científicas, de modo aberto, implica
em importante resultado para a visibilidade de tais documentos. Não obstante, é possível
ir além: a conexão desses metadados, conforme propõem as técnicas de Linked Data, ao
“único espaço de dados global” referido por Heath e Bizer (2011), é uma ação capaz de
potencializar exponencialmente o impacto do que é publicado. Afinal, os metadados
conduzem à publicação e, conforme a Web Semântica planejou e, atualmente, permite,
esses dados podem ser processados automaticamente (BERNERS-LEE, 2006).
Proceder a percepções desse tipo, isto é, da conjuntura histórica em que a
comunidade científica se insere, bem como das tecnologias disponíveis e das fronteiras de
todo tipo que podem ser transpostas em dada conjuntura, é atribuição da Ciência da
Informação. Com isso, ela se torna mais capaz de estabelecer condições para boas práticas
de comunicação científica, organizando conhecimento e informação para que as
publicações possam ser acessadas de modo producente para o avanço da ciência e da
sociedade. Vale notar que, nesse contexto, o impacto das publicações é cada vez mais uma
questão central para a comunidade científica entre outros motivos, por ser um
parâmetro indispensável para que se dimensione a influência de um pesquisador.
Este artigo é, inevitavelmente, uma sintetização de uma pesquisa de grande porte
e capaz de expandir fronteiras de conhecimento sob a perspectiva da Ciência da
Informação. Estrutura-se da seguinte maneira: o referencial teórico esclarece o que
significa publicar como Linked Data e as tecnologias necessárias, destacando-se o RDF;
em seguida, são descritos os procedimentos metodológicos da pesquisa, que são divididos
em três tópicos; os resultados são apresentados fundamentalmente por meio de quadros
e de uma figura; a discussão, então, analisa os resultados obtidos e tece reflexões a partir
deles; e, por fim, a conclusão alinha de modo mais abstrato as questões de pesquisa com
o ponto a que se chegou com ela, avaliando seu êxito com base no objetivo estabelecido.
O objetivo desta pesquisa consiste em investigar quais são, para comunidades que
lidam com metadados de registros bibliográficos referentes a documentos tidos como
resultados de comunicação científica, as melhores práticas em uso no âmbito do Linked
Data, para que, a partir disso, seja possível delinear um modelo semântico para registros
34
Modelos semânticos para dados bibliográficos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
bibliográficos de publicações científicas, estabelecendo vocabulários e declarações RDF
que nele poderiam figurar.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
As iniciativas que lidam com metadados de registros bibliográficos e os publicam
de modo aberto, mas não ainda de acordo com as práticas que caracterizam o Linked Data,
encontram-se na posição de três estrelas na escalada proposta por Tim Berners-Lee,
conforme apresentado na Figura 1.
Figura 1 Percurso de requisitos para as cinco estrelas de Berners-Lee
Fonte: Isotani e Bittencourt (2015, item 2.2.1.).
Estar na posição de três estrelas significa que: os dados estão publicados na Web
sob uma licença aberta (estrela 1); estão estruturados de modo a serem legíveis por
máquina (estrela 2); e a estruturação que confere a estrela 2 é feita utilizando um formato
não proprietário (estrela 3). No entanto, os dados com três estrelas, para atingir as
estrelas 4 e 5, necessitam estar sob a utilização de identificadores únicos e conectados a
outros datasets, isto é, conjuntos de dados de outras iniciativas.
Tadini; Santarem Segundo | Modelos semânticos para dados bibliográficos
35
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
Para tanto, convém observar que basta ser utilizada apenas uma parte do layer
cake que estrutura a Web Semântica. Corresponde, na Figura 2, à relativamente pequena
pilha à esquerda, identificada como Dados Conectados e composta pelas camadas
denominadas: Plataforma Web, Formatos, Intercâmbio de Informação e Modelos.
Figura 2 Tecnologias da Web Semântica (layer cake)
Fonte: Isotani e Bittencourt (2015, item 1.3.).
Em termos gerais, esse layer cake mínimo” se constitui da seguinte maneira: as
entidades e relacionamentos devem estar identificados por um URI (ex: cada artigo
científico é uma entidade com um URI); um formato fornece a sintaxe; o RDF estrutura os
dados em triplas (recurso-propriedade-valor, ou sujeito-predicado-objeto), conectando
esses dados entre si e a outros conjuntos de dados; e, por fim, são acoplados vocabulários
genéricos, como OWL e RDFS, permitindo que vocabulários mais específicos a cada
comunidade sejam posteriormente também acoplados.
O uso do RDF é fundamental para o Linked Data: promove sua estruturação ao
mesmo tempo em que garante interoperabilidade, pois consegue ocupar, em termos
funcionais e ainda que operando em um nível mais abstrato, o espaço que a padronização
dos dados costumava ocupar. Nesse sentido, sabe-se que:
36
Modelos semânticos para dados bibliográficos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
No domínio bibliográfico, em especial, nos processos descritivos da catalogação,
sempre se buscou a utilização de padrões de metadados universais, de modo a
facilitar o intercâmbio e o reuso de dados. No âmbito da Web Semântica, a
utilização de um mesmo padrão de metadados, ou melhor, de um mesmo
vocabulário de classes e de propriedades, deixa de ser o principal requisito
para o intercâmbio e o reuso dos dados. Ocupando essa posição, encontra-
se o modelo de dados RDF que, por ter como unidade básica uma tripla,
possibilita a descrição de recursos utilizando, simultaneamente, classes e
propriedades de diferentes vocabulários, assim como possibilita, a partir de
recursos do RDF Schema (RDFS) e da Web Ontology Language (OWL), um
“caminhar” por entre essas classes e propriedades para a realização de
inferências acerca dos dados (ASSUMPÇÃO; SANTOS, 2016, p. 526, grifo nosso).
O RDF, desse modo, faz com que exista hoje uma tendência à “[...] coexistência de
vários formatos de metadados, pois cada um apresenta uma característica específica que
atende à necessidade de descrição de determinados tipos de recursos informacionais e
comunidades de interesses distintos” (SANTOS; ALVES, 2009 apud ASSUMPÇÃO; SANTOS,
2016, p. 526). Assim, é fundamental para esta pesquisa, a fim de atingir seu objetivo,
desenvolver subsídios para que se obtenha conhecimento amplo e qualificado sobre como
é a necessidade de descrição das publicações no atual contexto da comunidade científica.
3 METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa de caráter exploratório e descritivo, que consiste em
realizar um diagnóstico de datasets publicados no Linked Open Data
1
(diagrama
publicado em 22/08/2017) dentro do segmento temático “Publicações”, identificando as
principais estruturas utilizadas para formalização dos registros bibliográficos referentes
a publicações científicas. Além disso, destacou-se a partir das etapas iniciais desse
diagnóstico um modelo semântico específico, da British Library, para registros
bibliográficos referentes a publicações seriadas, para ser descrito neste estudo.
3.1 Seleção dos datasets do segmento “Publicações”
1
A partir do conjunto de melhores práticas que caracterizam o Linked Data, e por iniciativa de um grupo
formalizado junto ao W3C, foi criado o Linked Open Data (LOD), um projeto que teve como objetivo
estimular a publicação de dados abertos em formato semântico. O grupo foi finalizado, no entanto algumas
dessas pessoas resolveram manter o projeto, que tem crescido significativamente nos últimos anos. Os
dados do LOD estão organizados em datasets, que são classificados em domínios que apontam a temática
de tais dados. Essa divisão em domínios temáticos é feita desde o diagrama publicado em março de 2009.
Dentre esses domínios, destaca-se o denominado Publicações”, que abarca conteúdos acerca de
publicações científicas e conferências científicas, bem como sistemas de organização do conhecimento,
listas de leitura de universidades, datasets de bibliotecas e identificadores de autoridade.
Tadini; Santarem Segundo | Modelos semânticos para dados bibliográficos
37
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
Inicialmente, enquanto pesquisa exploratória, cumpria a esta etapa enfrentar um
importante volume de dados, que demandou operações de seleção de modo a reduzi-lo
progressivamente. Assim, a exploração iniciou-se com a contabilização, por meio do
diagrama presente na Figura 3, dos datasets do segmento “Publicações” do objeto de
estudo, que foram dispostos em uma planilha, totalizando 156 datasets. O seu processo de
seleção envolve, a priori, o exame dos recursos disponibilizados na plataforma DataHub
2
,
catálogo no qual cada dataset possui uma página a ele relativa. Tais recursos são
disponibilizados em diversos formatos, muitos deles como exemplos concretos, e isso
aumenta a dificuldade da exploração, visto que o objeto de estudo é bastante heterogêneo.
Além disso, investiga-se a fonte dos dados, com interface para humanos, cuja referência é
dada pela plataforma.
Figura 3 Diagrama do Linked Open Data publicado em 22/08/2017, com destaque para os datasets do
segmento “Publicações”
2
https://old.datahub.io/
38
Modelos semânticos para dados bibliográficos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
Fonte: Adaptado de Abele et al. (2017).
Tadini, Coneglian e Santarem Segundo (2017) apresentaram pesquisa que
caracteriza este segmento temático, “Publicações”, também por estudo exploratório, com
base no diagrama Linked Open Data de 2014. A categorização dos datasets realizada pelos
autores é baseada em Schmachtenberg, Bizer e Paulheim (2014), de modo a estabelecer
as seguintes categorias: datasets de biblioteca; datasets de informações sobre publicações
científicas; datasets de informações sobre conferências científicas; sem acesso; não
classificados; sistemas de organização do conhecimento (SOCs); listas de leitura de
universidades; e identificadores de autoridade.
Note-se que muitos dos datasets permanecem no diagrama atual, com ou sem
atualização. Assim, foi realizada uma comparação cautelosa com o estudo de Tadini,
Coneglian e Santarem Segundo (2017), para aproveitar as informações já delineadas
acerca dos datasets que permaneceram, sobretudo quanto à sua categorização, tendo sido
consideradas as atualizações.
Foram confrontados os 156 datasets do segmento Publicações” do diagrama de
22/08/2017 com os 133 datasets presentes no de 2014. Uma primeira análise buscou
perceber se o dataset se repetia com base no seu nome, 47 foram detectados,
preliminarmente. Para aqueles em que houve dúvida, uma segunda análise comparou os
registros dos datasets nos catálogos do DataHub de 2014 e de agosto de 2017. Foram
detectados, então, mais 39, totalizando 86.
Para que fosse executada a seleção, primeiramente foram adotadas como
“naturezas” interessantes ao escopo desta pesquisa: datasets de biblioteca, datasets de
informações sobre publicações científicas, e datasets de informações sobre conferências
científicas. Consequentemente, foram descartados aqueles que, sendo repetidos de 2014,
fossem enquadrados nas demais “naturezas”. Assim, foram descartados 30 datasets, de
modo que restaram 56 repetidos de 2014, e mais 70 novos, sem qualquer descrição a
então.
Desse modo, o próximo passo foi descrevê-los minimamente, neste momento.
Com o mesmo critério do descarte realizado anteriormente, mais 46 datasets foram
desprezados, de modo que foram selecionados 24, que se somaram aos 56 anteriormente
selecionados. No total, foram selecionados, preliminarmente, 80 datasets de interesse.
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
Desses 80, 24 foram enquadrados como de biblioteca, 54 como de informações sobre
publicações científicas, e apenas 2 como de informações sobre conferências científicas.
3.2 Descrição dos datasets selecionados quanto ao uso de vocabulários
O estudo descritivo que se inicia neste ponto propõe-se, então, a descrever os
datasets de acordo com o escopo da pesquisa. Para que isso fosse feito, aprimorou-se a
seleção qualitativa operada na pesquisa exploratória. Descartaram-se 7 dos 80 datasets
selecionados anteriormente, com base no seguinte critério: a descrição almejada
requisitava que fosse possível examinar se os chamados vocabulários tecnologias
recorrentes no âmbito da Web Semântica e determinantes na formalização de metadados
estavam sendo utilizados ou não em cada conjunto de dados. Nos 7 datasets descartados
não foi possível tal exame.
Restaram, assim, 73 (19 de biblioteca, 53 de informações sobre publicações
científicas e 1 de informações sobre conferências científicas), fechando-se o conjunto de
datasets a serem descritos.
A identificação de vocabulários se compromete a ser rica, mas não exaustiva. Para
que houvesse método, utilizou-se o Linked Open Vocabularies (LOV)
3
, ferramenta
adotada por Rozsa, Dutra e Nhacuongue (2017), bem como por Freitas Junior e Jacynto
(2016). Registraram-se apenas vocabulários que nele estivessem presentes, com poucas
exceções, que foram marcadas quando aplicadas. Segundo as referências supracitadas, o
LOV é adotado pelo W3C organização que administra e fomenta a Web Semântica como
ponto central para informações sobre vocabulários.
Os vocabulários foram, ao longo da descrição, separados por serem tipicamente
bibliográficos ou não. Pontua-se que os vocabulários da iniciativa Dublin Core (DCTERMS
e DCE), apesar de serem amplamente utilizados no contexto bibliográfico, foram
categorizados como não tipicamente bibliográficos, visto que sua aplicação transpõe esse
contexto alcançando os mais variados tipos de objetos digitais.
3
https://lov.linkeddata.es/dataset/lov
40
Modelos semânticos para dados bibliográficos
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3.3 Modelo de registro bibliográfico da British Library para publicações seriadas:
Estudo Descritivo
Nesta fase, desenvolve-se um estudo descritivo de uma estrutura em específico
identificada no diagnóstico decorrente das atividades conforme itens anteriores, que
consiste em um dos documentos presentes no registro do dataset da British Library no
DataHub. É um modelo semântico de registro bibliográfico utilizado pela biblioteca para
publicações seriadas, como periódicos científicos, que corresponde à Figura 4.
Figura 4 Modelo de registro bibliográfico da British Library para publicações seriadas
Fonte: British Library e Talis (2018).
Como é possível verificar, o diagrama é dividido em 7 regiões (mais 1 espaço sem
denominação); são elas: Autor, Identificadores, Título, Relacionamentos Bibliográficos,
Eventos de Publicação, Assunto e Miscelânea. Os vocabulários utilizados no modelo são:
BIBO, BIO, BLT (BLTERMS), DCTERMS, EVENT, FOAF, GEO, ISBD, ORG, OWL, RDAU, RDF,
RDFS, SKOS, UMBEL e XSD.
Tadini; Santarem Segundo | Modelos semânticos para dados bibliográficos
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4 RESULTADOS
No primeiro estudo descritivo (correspondente ao item 3.2, da Metodologia),
identificou-se pelo menos um vocabulário tipicamente bibliográfico em 28 (38,4%) do
total de datasets selecionados. Foram identificados os seguintes vocabulários tipicamente
bibliográficos: BIBO, vocabulários RDA, vocabulários MARC, ISBD, FRBR e FRBRER, BLT
(BLTERMS), GNDO, BIBTEX, BF (BIBFRAME), LIBRIS, BNF, SUDOC, vocabulários DNB e
TEF.
A frequência de ocorrência ou não desses vocabulários nos datasets está disposta
no Quadro 1. Como opção metodológica, os números não inteiros servem para resolver o
problema de um dataset ser entendido como pertencente a mais de uma “natureza”, ou
seja, se um dataset é de biblioteca, mas também de informações sobre publicações
científicas, e possui o vocabulário BIBO na sua formalização, por exemplo, confere-se 0,5
ocorrência para uma “natureza” e 0,5 para a outra. As porcentagens servem para
reconhecer o total de datasets de cada natureza”, e também o total de datasets
selecionados.
Quadro 1 Frequência de vocabulários considerados tipicamente bibliográficos nos datasets
selecionados
VOCABULÁRIO
Está
no
LOV?
FREQUÊNCIA
Datasets de
biblioteca
Datasets de
informação
sobre
publicações
científicas
Datasets de
informação
sobre
conferências
científicas
TOTAL
%
%
%
%
BIBO
Sim
6,5
34,2%
13,5
25,5%
0
0%
20
27,4%
Vocabulários RDA
Parte
8
42,1%
1
1,9%
0
0%
9
12,3%
Vocabulários MARC
Parte
7,5
39,5%
1,5
2,8%
0
0%
9
12,3%
ISBD
Sim
5,5
28,9%
2,5
4,7%
0
0%
8
11%
FRBR e FRBRER
Sim
4,5
23,7%
1,5
2,8%
0
0%
6
8,2%
BLT (BLTERMS)
Sim
2
10,5%
0
0%
0
0%
2
2,7%
GNDO
Sim
1
5,3%
1
1,9%
0
0%
2
2,7%
BIBTEX
Sim
0
0%
1
1,9%
1
100%
2
2,7%
BF (BIBFRAME)
Sim
1
5,3%
0
0%
0
0%
1
1,4%
LIBRIS
Não
1
5,3%
0
0%
0
0%
1
1,4%
BNF
Não
1
5,3%
0
0%
0
0%
1
1,4%
SUDOC
Não
1
5,3%
0
0%
0
0%
1
1,4%
Vocabulários DNB
Parte
0,5
2,6%
0,5
0,9%
0
0%
1
1,4%
42
Modelos semânticos para dados bibliográficos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
TEF
Não
0
0%
1
1,9%
0
0%
1
1,4%
Fonte: Elaborado pelos autores.
Parte-se, então, para a descrição dos datasets quanto a vocabulários não
tipicamente bibliográficos, o que consiste em desafio maior. A frequência considerando
os 73 datasets selecionados está disposta no Quadro 2 (a seguir).
Quadro 2 Frequência de vocabulários considerados não tipicamente bibliográficos nos datasets
selecionados
VOCABULÁRIO
Está
no
LOV?
FREQUÊNCIA
Datasets de
biblioteca
Datasets de
informação
sobre
publicações
científicas
Datasets de
informação
sobre
conferências
científicas
TOTAL
%
%
%
%
FOAF
Sim
15
78,9%
43
81,1%
0
0%
58
79,5%
VOID
Sim
7
36,8%
41
77,4%
0
0%
48
65,8%
DCE
Sim
13
68,4%
34
64,2%
0
0%
47
64,4%
DCTERMS
Sim
10
52,6%
36
67,9%
0
0%
46
63%
RDFS
Sim
15
78,9%
20
37,7%
1
100%
36
49,3%
AKT
Sim
0
0%
29
54,7%
0
0%
29
39,7%
OWL
Sim
12
63,2%
11
20,8%
0
0%
23
31,5%
SKOS
Sim
9,5
50%
8,5
16%
0
0%
18
24,7%
XSD
Sim
7,5
39,5%
8,5
16%
0
0%
16
21,9%
GEO
Sim
5
26,3%
4
7,5%
0
0%
9
12,3%
SCHEMA
Sim
2,5
13,2%
4,5
8,5%
0
0%
7
9,6%
SCOVO
Sim
1
5,3%
6
11,3%
0
0%
7
9,6%
VIVO
Sim
0,5
2,6%
5,5
10,4%
0
0%
6
8,2%
DCMITYPE
Sim
3,5
18,4%
1,5
2,8%
0
0%
5
6,8%
PRV
Sim
2
10,5%
3
5,7%
0
0%
5
6,8%
GEONAMES
Sim
3
15,8%
1
1,9%
0
0%
4
5,5%
DBPEDIA
Sim
2
10,5%
2
3,8%
0
0%
4
5,5%
EVENT
Sim
2
10,5%
2
3,8%
0
0%
4
5,5%
DOAP
Sim
1
5,3%
3
5,7%
0
0%
4
5,5%
PROV
Sim
1
5,3%
3
5,7%
0
0%
4
5,5%
SD
Sim
1
5,3%
3
5,7%
0
0%
4
5,5%
UMBEL
Sim
2,5
13,2%
0,5
0,9%
0
0%
3
4,1%
WDRS
Sim
2,5
13,2%
0,5
0,9%
0
0%
3
4,1%
ORG
Sim
1
5,3%
2
3,8%
0
0%
3
4,1%
PRVTYPES
Sim
1
5,3%
2
3,8%
0
0%
3
4,1%
CRSW
Sim
0
0%
3
5,7%
0
0%
3
4,1%
DCAT
Sim
0
0%
3
5,7%
0
0%
3
4,1%
SIO
Sim
0
0%
3
5,7%
0
0%
3
4,1%
SWRC
Sim
0
0%
3
5,7%
0
0%
3
4,1%
Tadini; Santarem Segundo | Modelos semânticos para dados bibliográficos
43
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
Vocabulários com 2 ocorrências: BIO, GR, IRW, LIDO, META, OBORO, OPM, ORE, OV, PML, PMLJ, PMLP, RESEX,
SIOC, TAG, UNITS, VANN, VSR e WV.
Vocabulários com 1 ocorrência: API, B3KAT, BFLC, BTE, CC, CON, CONTACT, CONV, COREF, D2R, DATAFAQS, DATE,
DM2E, EBU, ECS, EDITEUR, EDM, EP, EXTN, FORMATS, FREQ, GBV, GRAFFLE, GRDDL, IR, ISWC, JISC, KISTI, LV,
MEDIA, MO, MUSIM, MVCB, NFO, NIF, OCD, ODS, OO, P20, PAV, PRONOM, QB, RE, REL, SF, SUJ, SWIVT, URANAI, V,
VCARD, VOAG, WGS, XLINK e YAGO.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Uma informação necessária é que 33 entre os 73 datasets pertencem à iniciativa
RKB Explorer
4
, e, por apresentarem muitas semelhanças entre si, acabam tendo impacto
significativo nas estatísticas. Para resolver esse problema, procedeu-se à descrição desses
datasets em separado. Todos os datasets RKB Explorer foram categorizados como de
informação sobre publicações científicas. Em seguida, foram desconsiderados, e se
procedeu à elaboração das estatísticas para o grupo dos 40 datasets restantes, como se
pode verificar no Quadro 3.
Quadro 3 Frequência de vocabulários considerados não tipicamente bibliográficos nos datasets
selecionados, excluindo-se os datasets RKB Explorer
VOCABULÁRIO
Está
no
LOV?
FREQUÊNCIA
Datasets de
biblioteca
Datasets de
informação
sobre
publicações
científicas
Datasets de
informação
sobre
conferências
científicas
TOTAL
(sem RKB
Explorer)
%
%
%
%
RDFS
Sim
15
78,9%
15
75%
1
100%
31
77,5%
FOAF
Sim
15
78,9%
15
75%
0
0%
30
75%
DCE
Sim
13
68,4%
9
45%
0
0%
22
55%
OWL
Sim
12
63,2%
10
50%
0
0%
22
55%
DCTERMS
Sim
10
52,6%
10
50%
0
0%
20
50%
SKOS
Sim
9,5
50%
8,5
42,5%
0
0%
18
45%
VOID
Sim
7
36,8%
8
40%
0
0%
15
37,5%
XSD
Sim
7,5
39,5%
5,5
27,%
0
0%
13
32,5%
GEO
Sim
5
26,3%
4
20%
0
0%
9
22,5%
SCHEMA
Sim
2,5
13,2%
4,5
22,5%
0
0%
7
17,5%
VIVO
Sim
0,5
2,6%
5,5
27,5%
0
0%
6
15%
DCMITYPE
Sim
3,5
18,4%
1,5
7,5%
0
0%
5
12,5%
PRV
Sim
2
10,5%
3
15%
0
0%
5
12,5%
GEONAMES
Sim
3
15,8%
1
5%
0
0%
4
10%
DBPEDIA
Sim
2
10,5%
2
10%
0
0%
4
10%
4
RKB Explorer é uma aplicação da Web Semântica que é capaz de apresentar visualizações unificadas de
um mero significativo de fontes de dados heterogêneas com relação a um determinado domínio
(GLASER; MILLARD, 2007, p.1, tradução nossa).
44
Modelos semânticos para dados bibliográficos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
EVENT
Sim
2
10,5%
2
10%
0
0%
4
10%
DOAP
Sim
1
5,3%
3
15%
0
0%
4
10%
PROV
Sim
1
5,3%
3
15%
0
0%
4
10%
SD
Sim
1
5,3%
3
15%
0
0%
4
10%
UMBEL
Sim
2,5
13,2%
0,5
2,5%
0
0%
3
7,5%
WDRS
Sim
2,5
13,2%
0,5
2,5%
0
0%
3
7,5%
ORG
Sim
1
5,3%
2
10%
0
0%
3
7,5%
PRVTYPES
Sim
1
5,3%
2
10%
0
0%
3
7,5%
DCAT
Sim
0
0%
3
15%
0
0%
3
7,5%
SIO
Sim
0
0%
3
15%
0
0%
3
7,5%
SWRC
Sim
0
0%
3
15%
0
0%
3
7,5%
Vocabulários com 2 ocorrências: BIO, GR, IRW, LIDO, META, OBORO, OPM, ORE, OV, PML, PMLJ, PMLP, SIOC, TAG,
UNITS, VANN, VSR e WV.
Vocabulários com 1 ocorrência: API, B3KAT, BFLC, BTE, CC, CON, CONTACT, CONV, CRSW, D2R, DATAFAQS, DATE,
DM2E, EBU, ECS, EDITEUR, EDM, FORMATS, FREQ, GBV, GRAFFLE, GRDDL, IR, ISWC, LV, MEDIA, MO, MUSIM,
MVCB, NFO, NIF, OCD, ODS, OO, P20, PAV, PRONOM, QB, RE, REL, SCOVO, SF, SUJ, SWIVT, URANAI, V, VCARD, VOAG,
WGS, XLINK e YAGO.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Por meio do estudo empírico de descrição quanto ao uso de vocabulários,
tipicamente bibliográficos ou não, da amostra de datasets preestabelecida, obtém-se
como resultado um panorama quanto à utilização de vocabulários para metadados
referentes a publicações científicas disponibilizados como Linked Data. Assim, encerram-
se os resultados do primeiro estudo descritivo.
Os resultados do segundo estudo descritivo (correspondente ao item 3.3, da
Metodologia) estão organizados nos quadros de número 4 a 11. Neles, elencam-se as
declarações RDF, presentes no modelo da British Library, de cada vocabulário que foi
considerado interessante para a pesquisa. Optou-se por não se especificarem as
declarações da região Assunto, pois é demasiadamente detalhada e restrita à lógica do
contexto das bibliotecas.
O Quadro 4 estabelece as declarações RDF que envolvem uso do vocabulário BIBO,
nome simplificado para The Bibliographic Ontology. Segundo o Linked Open Vocabularies
(LOV), o BIBO “provê os principais conceitos e propriedades para descrição de citações e
referências bibliográficas [...] na Web Semântica” (ONTOLOGY ENGINEERING GROUP,
2018, tradução nossa). Pode-se afirmar que se trata de um vocabulário praticamente tão
aplicado no contexto da comunidade científica quanto no das bibliotecas o que se pode
verificar no Quadro 1, apresentado anteriormente.
Tadini; Santarem Segundo | Modelos semânticos para dados bibliográficos
45
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
Quadro 4 Declarações RDF com uso do vocabulário BIBO no modelo da British Library para publicações
seriadas
Região
Recurso/
Sujeito
Chave
Propriedade/
Predicado
Chave
Valor/
Objeto
Chave
Identificadores
Resource BL
URI
Instância
bibo:issn
-
-
Literal
Relacionamentos
Bibliográficos
Resource BL
URI
Instância
-
-
bibo:periodical
ou
bibo:newspaper
Classe
Series
BL URI
Instância
bibo:issn
-
-
Literal
Series
BL URI
Instância
-
-
bibo:series
Classe
Miscelânea
Resource BL
URI
Instância
bibo:numVolumes
-
-
Literal
Espaço sem
denominação
Resource BL
URI
Instância
-
-
bibo:periodical
ou
bibo:newspaper
Classe
Fonte: Elaborado pelos autores.
No Quadro 5, encontram-se as triplas RDF que utilizam o vocabulário BIO, descrito
pelo LOV como “um vocabulário para descrição de informação biográfica sobre pessoas,
tanto vivas quanto mortas” (ONTOLOGY ENGINEERING GROUP, 2018, tradução nossa).
Quadro 5 Declarações RDF com uso do vocabulário BIO no modelo da British Library para publicações
seriadas
Região
Recurso/
Sujeito
Chave
Propriedade/
Predicado
Chave
Valor/
Objeto
Chave
Autor
Person-as-
Agent BL
URI
Instância
bio:event
-
Birth BL URI
Instância
Birth BL
URI
Instância
-
-
bio:Birth
Classe
Birth BL
URI
Instância
bio:date
-
-
Literal
Person-as-
Agent BL
URI
Instância
bio:event
-
Death BL URI
Instância
Death BL
URI
Instância
-
-
bio:Death
Classe
Death BL
URI
Instância
bio:date
-
-
Literal
Fonte: Elaborado pelos autores.
O BLT, ou BLTERMS, ou ainda British Library Terms RDF Schema, é o vocabulário
desenvolvido pela própria British Library. Conforme descrito no LOV, trata-se de “alguns
46
Modelos semânticos para dados bibliográficos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
termos úteis para descrição de recursos bibliográficos que outros modelos não incluem”
(ONTOLOGY ENGINEERING GROUP, 2018, tradução nossa). As declarações RDF com o
BLT estão dispostas no Quadro 6 (a seguir).
Quadro 6 Declarações RDF com uso do vocabulário BLT (BLTERMS) no modelo da British Library para
publicações seriadas
Região
Recurso/
Sujeito
Chave
Propriedade/
Predicado
Chave
Valor/
Objeto
Chave
Autor
Person-as-
Agent BL URI
Instância
blt:hasCreated
-
Resource BL
URI
Instância
Person-as-
Agent BL URI
Instância
blt:hasContributedTo
-
Resource BL
URI
Instância
Organization-
as-Agent BL URI
Instância
blt:hasCreated
-
Resource BL
URI
Instância
Organization-
as-Agent BL URI
Instância
blt:hasContributedTo
-
Resource BL
URI
Instância
Identificadores
Resource BL
URI
Instância
blt:bnb
-
-
Literal
Eventos de
Publicação
Resource BL
URI
Instância
blt:publicationStart
-
PublicationStart
Event BL URI
Instância
PublicationStart
Event BL URI
Instância
-
-
blt:Publication
StartEvent
Classe
blt:Publication
StartEvent
Classe
rdfs:subClassOf
-
blt:Publication
Event
Classe
blt:Publication
Event
Classe
rdfs:subClassOf
-
event:Event
Classe
Assunto
Fonte: Elaborado pelos autores.
A Dublin Core Metadata Initiative (DCMI) é uma iniciativa que mantém tecnologias
para a descrição de objetos informacionais no meio digital. Entre elas, estão dois
vocabulários principais: o Dublin Core Metadata Element Set (DCE), composto de apenas
15 propriedades para descrição, e o DCMI Metadata Terms (DCTERMS), que veio para
sofisticar o primeiro.
Segundo o LOV, ambos estão entre os vocabulários mais populares da Web
Semântica, sendo que o líder é o DCTERMS. O modelo da British Library faz uso dele, como
se verifica no Quadro 7.
Vale pontuar que essa vasta aplicabilidade do Dublin Core deve ser atribuída a sua
premissa de ser capaz de descrever os mais variados objetos digitais e atender diversos
tipos de comunidades. Os vocabulários são flexíveis, isto é, possuem propriedades
genéricas a ponto de serem eventualmente criticados por isso. São notadamente
Tadini; Santarem Segundo | Modelos semânticos para dados bibliográficos
47
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
aderentes à comunidade científica (SILVA; RIBEIRO; LOPES, 2016; SIMEK et al., 2017), ao
domínio bibliográfico (BAKER, 2012), e ao Linked Data (CATARINO; SOUZA, 2012).
Quadro 7 Declarações RDF com uso do vocabulário DCTERMS no modelo da British Library para
publicações seriadas
Região
Recurso/
Sujeito
Chave
Propriedade/
Predicado
Chave
Valor/
Objeto
Chave
Autor
Resource BL
URI
Instância
dct:creator
-
Person-as-Agent
BL URI
Instância
Resource BL
URI
Instância
dct:contributor
-
Person-as-Agent
BL URI
Instância
Resource BL
URI
Instância
dct:creator
-
Organization-as-
Agent BL URI
Instância
Resource BL
URI
Instância
dct:contributor
-
Organization-as-
Agent BL URI
Instância
Person-as-
Agent BL URI
Instância
-
-
dct:Agent
Classe
Organization-
as-Agent BL
URI
Instância
-
-
dct:Agent
Classe
Título
Resource BL
URI
Instância
dct:title
-
-
Literal
Resource BL
URI
Instância
dct:alternative
-
-
Literal
Relacionamentos
Bibliográficos
Resource BL
URI
Instância
dct:isPartOf
-
Series BL URI
Instância
Series BL URI
Instância
dct:hasPart
-
Resource BL
URI
Instância
Resource BL
URI
Instância
dct:isPartOf
-
Resource BL
URI
Instância
Resource BL
URI
Instância
dct:hasPart
-
Resource BL
URI
Instância
Resource BL
URI
Instância
dct:isFormatOf
-
Resource BL
URI
Instância
Resource BL
URI
Instância
dct:hasVersion
-
Resource BL
URI
Instância
Resource BL
URI
Instância
dct:replaces
-
Resource BL
URI
Instância
Resource BL
URI
Instância
dct:isReplacedBy
-
Resource BL
URI
Instância
Resource BL
URI
Instância
dct:relation
-
Resource BL
URI
Instância
Eventos de
Publicação
Agent BL URI
Instância
-
-
dct:Agent
Classe
Assunto
Miscelânea
Resource BL
URI
Instância
dct:abstract
-
-
Literal
Resource BL
URI
Instância
dct:tableOf
Contents
-
-
Literal
Resource BL
URI
Instância
dct:description
-
-
Literal
Espaço sem
denominação
Resource BL
URI
Instância
-
-
dct:Bibliographic
Resource
Classe
Resource BL
URI
Instância
dct:language
-
Lexvo URI
Link
externo
Fonte: Elaborado pelos autores.
48
Modelos semânticos para dados bibliográficos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
O Quadro 8 é composto pelas declarações RDF que utilizam o vocabulário EVENT,
ou The Event Ontology. O LOV o descreve da seguinte maneira: Essa ontologia trabalha
com a noção de eventos reificados eventos vistos como objetos de primeira-classe”
(ONTOLOGY ENGINEERING GROUP, 2018, tradução nossa). Em outras palavras, o
vocabulário EVENT se propõe, basicamente, a fornecer termos para descrição de eventos.
Quadro 8 Declarações RDF com uso do vocabulário EVENT no modelo da British Library para
publicações seriadas
Região
Recurso/
Sujeito
Chave
Propriedade/
Predicado
Chave
Valor/
Objeto
Chave
Eventos de
Publicação
Publication
StartEvent BL
URI
Instância
event:time
-
http://r.d.g/
id/year/YYYY
Link
externo
Publication
StartEvent BL
URI
Instância
event:place
-
GeoNames URI
Link
externo
Publication
StartEvent BL
URI
Instância
event:place
-
Place BL URI
Instância
Publication
StartEvent BL
URI
Instância
event:agent
-
Agent BL URI
Instância
blt:Publication
Event
Classe
rdfs:subClassOf
-
event:Event
Classe
Fonte: Elaborado pelos autores.
FOAF (Friend of a Friend Vocabulary) é um vocabulário que se insere em um
“projeto destinado a conectar pessoas e informação usando a Web” (ONTOLOGY
ENGINEERING GROUP, 2018, tradução nossa). Vale notar que a necessidade de especificar
relações entre as pessoas, contemplada por esse vocabulário, é intrínseca à comunidade
científica. As triplas RDF com o FOAF estão dispostas no Quadro 9.
Tadini; Santarem Segundo | Modelos semânticos para dados bibliográficos
49
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
Quadro 9 Declarações RDF com uso do vocabulário FOAF no modelo da British Library para publicações
seriadas
Região
Recurso/
Sujeito
Chave
Propriedade/
Predicado
Chave
Valor/
Objeto
Chave
Autor
Person-as-
Agent BL URI
Instância
foaf:familyName
-
-
Literal
Person-as-
Agent BL URI
Instância
foaf:givenName
-
-
Literal
Person-as-
Agent BL URI
Instância
foaf:name
-
-
Literal
Person-as-
Agent BL URI
Instância
-
-
foaf:Agent
foaf:Person
Classe
Organization-
as-Agent BL
URI
Instância
rdfs:label
[foaf:name]
-
-
Literal
Organization-
as-Agent BL
URI
Instância
-
-
foaf:Agent
foaf:Organization
Classe
Eventos de
Publicação
Agent BL URI
Instância
-
-
foaf:Agent
Classe
MARC
country code
URI
Link
externo
foaf:focus
-
Geonames URI
Link
externo
Assunto
Espaço sem
denominação
MARC
language
code URI
Link
externo
foaf:focus
-
Lexvo URI
Link
externo
Fonte: Elaborado pelos autores.
O Quadro 10 apresenta as declarações RDF que envolvem o uso do vocabulário
GEO. Segundo o LOV, trata-se de um vocabulário para representar informação de
latitude, longitude e altitude nos dados de referência geodésica WGS84” (ONTOLOGY
ENGINEERING GROUP, 2018, tradução nossa).
Quadro 10 Declarações RDF com uso do vocabulário GEO no modelo da British Library para publicações
seriadas
Região
Recurso/
Sujeito
Chave
Propriedade/
Predicado
Chave
Valor/
Objeto
Chave
Eventos de
Publicação
Place BL
URI
Instância
-
-
geo:SpatialThing
Classe
Assunto
Fonte: Elaborado pelos autores.
50
Modelos semânticos para dados bibliográficos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
O vocabulário ORG, nome mais simples para Core Organization Ontology, é
referido em apenas uma declaração RDF do modelo, como se pode observar no Quadro
11. O LOV o define como “vocabulário para descrever estruturas organizacionais,
especializado para uma ampla variedade de tipos de organização” (ONTOLOGY
ENGINEERING GROUP, 2018, tradução nossa).
Quadro 11 Declarações RDF com uso do vocabulário ORG no modelo da British Library para publicações
seriadas
Região
Recurso/
Sujeito
Chave
Propriedade/
Predicado
Chave
Valor/
Objeto
Chave
Autor
Organization-
as-Agent BL
URI
Instância
-
-
org:Organization
Classe
Fonte: Elaborado pelos autores.
Cabe justificar o descarte de determinados vocabulários presentes no modelo,
quanto ao estudo das declarações que envolvem seu uso. RDF, OWL, XSD (XML Schema) e
UMBEL são vocabulários muito genéricos e abstratos, isto é, aplicam-se a qualquer
matéria. ISBD e RDAU, em oposição, são vocabulários demasiadamente específicos, mas
específicos ao contexto da descrição em bibliotecas, distinto do contexto da descrição de
artigos de periódicos para comunicação científica, estudado nesta pesquisa.
4.1 Modelo semântico para publicações científicas: uma proposição
Com base nos estudos desenvolvidos, é possível propor um modelo semântico
estruturado por declarações RDF, conforme objetivado. Tal proposição se constrói ao
longo de um percurso composto sucessivamente pelos seguintes passos:
(1) Selecionar propriedades no vocabulário DCTERMS, uma vez que, entre outros
motivos, possui alta aderência à comunidade científica (SILVA; RIBEIRO; LOPES,
2016; SIMEK et al., 2017), bem como por ter sido utilizado significativamente no
protótipo para catalogação semântica de publicações proposto por Freitas Junior
e Jacynto (2016);
Tadini; Santarem Segundo | Modelos semânticos para dados bibliográficos
51
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
(2) Estipular declarações RDF para que os recursos sejam relacionados a
identificadores bibliográficos de interesse (identificadores de autoridade, ISSN e
DOI);
(3) Verificar se existe algum outro vocabulário observado no estudo descritivo dos
datasets selecionados que suscite atenção específica, para ser utilizado na
composição das declarações;
(4) Buscar contemplar as 7 regiões do modelo da British Library complementando
nesse sentido o conjunto de declarações propostas nos passos anteriores, e dando
preferência a declarações que utilizem vocabulários com bons índices no estudo
descritivo de datasets.
No Quadro 12, faz-se uma analogia com o modelo de dados da British Library
destinado a publicações seriadas, por meio da organização de todas as declarações RDF
obtidas durante o percurso exposto acima de modo a encaixá-las nas regiões em que se
divide o referido modelo.
Quadro 12 Conjunto de declarações RDF propostas, conforme regiões
Região
Recurso/
Sujeito
Propriedade/
Predicado
Valor/
Objeto
Passo
Autor
RECURSO
URI
dct:creator
AUTOR
URI
1
AUTOR
URI
owl:sameAs
IDENTIFICADOR DE
AUTORIDADE
URI
2
AUTOR
URI
foaf:familyName
Literal
3
AUTOR
URI
foaf:givenName
Literal
3
AUTOR
URI
foaf:name
Literal
3
Identificadores
RECURSO
URI
bibo:issn
ISSN
(Literal)
2
RECURSO
URI
bf:issn
ISSN
(Literal)
2
RECURSO
URI
dct:identifier
RECURSO
DOI
2
Título
RECURSO
URI
dct:title
Literal
1
Relacionamentos
Bibliográficos
RECURSO A
URI
dct:bibliographicCitation
RECURSO B
URI
1
RECURSO A
URI
dct:bibliographicCitation
RECURSO B
DOI
1
RECURSO A
URI
dct:isReferencedBy
RECURSO B
URI
1
52
Modelos semânticos para dados bibliográficos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
Região
Recurso/
Sujeito
Propriedade/
Predicado
Valor/
Objeto
Passo
RECURSO A
URI
dct:isReferencedBy
RECURSO B
DOI
1
SÉRIE
URI
bibo:issn
Literal
3
RECURSO
URI
dct:isPartOf
SÉRIE
URI
4
SÉRIE
URI
dct:hasPart
RECURSO
URI
4
RECURSO A
URI
dct:isPartOf
RECURSO B
URI
4
RECURSO A
URI
dct:hasPart
RECURSO B
URI
4
RECURSO A
URI
dct:isFormatOf
RECURSO B
URI
4
RECURSO A
URI
dct:hasVersion
RECURSO B
URI
4
RECURSO A
URI
dct:replaces
RECURSO B
URI
4
RECURSO A
URI
dct:isReplacedBy
RECURSO B
URI
4
RECURSO A
URI
dct:relation
RECURSO B
URI
4
Eventos de
Publicação
RECURSO
URI
event:producedIn
EVENTO
URI
4
EVENTO
URI
event:place
GeoNames
URI
4
EVENTO
URI
event:time
Literal
4
Assunto
RECURSO
URI
dct:subject
Literal
1
Miscelânea
RECURSO
URI
dct:date
Literal
1
RECURSO
URI
dct:publisher
Literal
1
RECURSO
URI
dct:accessRights
Literal
1
RECURSO
URI
dct:abstract
Literal
1
RECURSO
URI
dct:tableOfContents
Literal
1
RECURSO
URI
bibo:numVolumes
Literal
3
Espaço sem
denominação
RECURSO
URI
dct:type
dctype:______
1
RECURSO
URI
dct:language
Lexvo
URI
1
Fonte: Elaborado pelos autores.
Tem-se que: são 35 declarações RDF propostas no total; são 7 vocabulários
coexistindo no registro (DCTERMS, BIBO, FOAF, OWL, DCMI Type, BIBFRAME e EVENT);
e é evidente a preponderância do DCTERMS, que integra 24 declarações.
No mais, vale citar o quarto princípio do Linked Data, segundo o qual a posição
valor/objeto de uma tripla RDF deve ser preferencialmente preenchida por um URI, em
Tadini; Santarem Segundo | Modelos semânticos para dados bibliográficos
53
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
vez de um literal (BERNERS-LEE, 2006). Disso, interpreta-se que tal princípio se aplica a
tudo que não é literal, seja uma instância ou um link externo, por exemplo. O conjunto
apresentado, nesse sentido, pode ser considerado exitoso ao elencar 20 declarações que
conseguem atender a esse princípio.
Como último resultado, apresenta-se a Figura 5, que esquematiza as declarações
RDF do Quadro 13 de modo semelhante ao esquema visual utilizado e publicado pela
British Library (Figura 5).
Figura 5 Modelo semântico proposto para dados bibliográficos de publicações científicas
disponibilizados como Linked Data
Fonte: Elaborado pelos autores.
Assim como no esquema visual que representa o modelo da British Library, cada
região corresponde a uma cor, e, via de regra, irradia-se a partir do centro da imagem,
onde se encontra o URI referente ao objeto informacional descrito.
54
Modelos semânticos para dados bibliográficos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
5 DISCUSSÃO
Esta pesquisa concerne à investigação sobre quais são as melhores práticas para
publicação em formato semântico, isto é, como Linked Data, de metadados de registros
bibliográficos referentes a documentos tidos como resultados de comunicação científica.
Isso pressupõe a utilização de tecnologias elementares da Web Semântica, e os
vocabulários estão entre elas.
Schaible, Gottron e Scherp (2014) aplicaram um survey sobre vocabulários,
respondido por publicadores e consumidores de Linked Data, a partir do qual se
identificou a preferência, na construção de um dataset, por “se manter uma mistura
equilibrada entre vocabulários populares e específicos de domínio, de modo a fornecer
uma estrutura clara dos dados e facilitar seu consumo”.
No contexto da publicação de metadados bibliográficos, trabalhado no presente
estudo, notou-se que os vocabulários entendidos como tipicamente bibliográficos
correspondem aos vocabulários “específicos de domínio” mencionados. Na constituição
dos datasets, verificou-se que eles realmente se combinam a vocabulários mais genéricos,
isto é, não tipicamente bibliográficos.
Absolutamente, a combinação de vocabulários em um mesmo dataset não é, em si,
um problema. Segundo Assumpção e Santos (2016), tal prática não compromete a
padronização dos metadados tão cara à descrição bibliográfica pois isso se garante
com o alicerce dado pelo RDF, que, mais abstrato do que um vocabulário, é um modelo de
dados, fundamental para a interoperabilidade no contexto da Web Semântica.
A coexistência de estruturas e identificadores diversos para descrição de um
mesmo objeto é um traço característico da Web Semântica. Isso costuma resultar em
conjuntos de metadados complexos talvez até demais para a leitura a ser realizada por
humanos; complexidade que, todavia, não constitui um problema para o entendimento
pelas máquinas. Nesse sentido, um conjunto de metadados rico com coexistência de
vocabulários relevantes é o que se almeja.
6 CONCLUSÃO
Na busca pelo impacto das publicações científicas, sabe-se que uma boa
representação bibliográfica é fundamental. Isso é verdade desde as origens da
Tadini; Santarem Segundo | Modelos semânticos para dados bibliográficos
55
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
catalogação, em contexto completamente analógico. No entanto, é necessário
compreender para além disso que, considerando o processamento por máquina dos
metadados do registro bibliográfico, em Linked Data, esse potencial atinge dimensões
exponencialmente maiores.
Mas, então, o que é uma boa representação bibliográfica no contexto do Linked
Data? Como se pôde perceber neste artigo, é aquela que reconhece que a coexistência de
vários vocabulários em um mesmo registro não constitui um problema.
Pelo contrário. Deve ser valorizada, em equilíbrio com outros requisitos também
importantes, como as demandas de representação do tipo de objeto informacional a ser
descrito e a consistência entre os registros, por exemplo. Assim, pode não ser necessário
se utilizarem vocabulários a se perder de vista para que a publicação esteja bem
representada, bem como pode ser indesejável descrever muito mais determinados
objetos em detrimento de outros.
Em suma, considera-se que a estratégia metodológica contribuiu satisfatoriamente
para a consecução dos objetivos da pesquisa: entender quais são as melhores práticas em
uso no atendimento às necessidades relativas a descrição bibliográfica de publicações
científicas no contexto do Linked Data, bem como, a partir desse entendimento, proferir
um gesto no sentido de vislumbrar um modelo semântico para metadados bibliográficos
de publicações científicas, estabelecendo vocabulários e declarações RDF que nele
poderiam figurar. Neste estudo, o modelo se concretizou na forma de um quadro com as
declarações RDF, e de uma imagem análoga à publicada pela British Library.
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O BIBLIOTECÁRIO E AS FAKE NEWS: análise da percepção dos egressos do
curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
THE LIBRARIAN AND THE FAKE NEWS: an analysis of the Librarianship’s graduates
perception at Federal University of Rio Grande do Norte
Silvana Souza da Silva¹
Gabrielle Francinne de Souza Carvalho Tanus²
¹ Bacharela em Biblioteconomia pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Tecnóloga em Gestão de Recursos
Humanos pela Universidade Potiguar (UNP).
E-mail: silvana.ufrn@hotmail.com
² Professora adjunta do Departamento de
Ciência da Informação da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN). Doutora em
Ciência da Informação pela Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG).
E-mail: gfrancinne@gmail.com
ACESSO ABERTO
Copyright: Esta obra está licenciada com uma
Licença Creative Commons Atribuição 4.0
Internacional.
Conflito de interesses: As autoras declaram
que não há conflito de interesses.
Financiamento: Não há.
Declaração de Disponibilidade dos dados:
Todos os dados relevantes estão disponíveis
neste artigo.
Recebido em: 10/07/2019.
Aceito em: 11/09/2019.
Revisado em: 09/11/2019.
Como citar este artigo:
SILVA, Silvana Souza da; TANUS, Gabrielle
Francinne de Souza Carvalho. O bibliotecário e
as fake news. Informação em Pauta, Fortaleza,
v. 4, n. 2, p. 58-82, jul./dez. 2019. DOI:
10.32810/2525-3468.ip.v4i2.2019.41558.58-82.
RESUMO
A excessiva quantidade de informação não é um
fenômeno do século XXI, assim como também não
é a criação de notícias falsas. Em meio a esse
contexto, vincula-se a sociedade da informação,
que diante da expressiva produção de fake news
(notícias falsas), contribui para o fortalecimento
da pós-verdade, resultando na desinformação em
diferentes âmbitos e em escala global. Esta
pesquisa relaciona-se o tema das fake news ao
profissional da informação, elucidando suas
competências e conduta ética. Dessa forma,
convoca-se os autores que abordam sobre o perfil
do bibliotecário, sobretudo como mediador. O
estudo tem como objetivo geral analisar a
percepção dos egressos do curso de
Biblioteconomia da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte quanto as suas competências no
combate a disseminação das fake news. Como
instrumento de coleta de informações recorreu-
se ao questionário composto por perguntas
fechadas e abertas. Percebeu-se que os egressos
conhecem acerca das notícias falsas e seus
desdobramentos, buscando em determinadas
situações combater o uso e a propagação das fake
news. Sugere-se a ampliação da pesquisa com
outros egressos, envolvendo as temáticas da ética
e da competência frente as notícias falsas e seus
correlatos: pós-verdade e desinformação.
Palavras-chave: Fake news. Pós-verdade.
Desinformação. Competências do bibliotecário.
Biblioteconomia - egressos.
ABSTRACT
The excessive amount of information is not a 21st
century phenomenon, nor is it the new creation
of false news. In the midst of this context, the
information society is linked, which, faced with
the expressive production of fake news,
Inf. Pauta
Fortaleza, CE
v. 4
n. 2
jul./dez. 2019
ISSN 2525-3468
DOI: https://doi.org/10.32810/2525- 3468.ip.v4i2.2019.41558.58 -82
ARTIGO
Silva; Tanus | O bibliotecário e as fake news
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contributes to the strengthening of the post-
truth, resulting in disinformation in different
areas and on a global scale. This research relates
the theme of fake news to the information
professional, elucidating their skills and ethical
conduct. In this way, the authors are invited to
discuss the profile of the librarian, especially as a
mediator. The general objective of this study is to
analyze the perception of the graduates of the
Library Course of the Federal University of Rio
Grande do Norte as to their competencies in
combating the dissemination of fake news. As an
instrument for collecting information, the
questionnaire was used, consisting of closed and
open questions. It was noticed that egresses
know about false news and its consequences,
seeking in certain situations to combat the use
and spread of fake news. It is suggested to expand
the research with other graduates, involving the
themes of ethics and competence in the face of
false news and its correlates: post-truth and
misinformation.
Keywords: Fake news. Post-truth.
Disinformation. Librarian competencies.
Librarianship - graduates.
1 INTRODUÇÃO
Com o avanço tecnológico e sua democratização as pessoas produzem e acessam
informações de diferentes maneiras, as quais podem ser distorcidas, incompletas,
manipuladas, inclusive falsas. Diante de tantas notícias falsas no meio virtual, percebe-se
que identificá-las e extrair delas o que é verídico, se tornou hoje em dia, uma tarefa árdua,
sendo “[...] preciso educar o indivíduo para receptividade das informações que recebe”
(QUESSADA; PISA, 2018, p. 2). Acredita-se ser necessário vincular o desenvolvimento
tecnológico e a disseminação de informações ao profissional da informação, notadamente,
o bibliotecário, que é capacitado ao longo de sua formação acadêmica para contribuir no
meio em que atua e na comunidade com serviços e produtos adequados. Nessa direção,
de um contexto informacional sobredimensionado, cada vez mais é exigido uma maior
seleção e avaliação das informações, bem como a necessária capacitação das
competências informacionais dos usuários, para que possam justamente discernir de
modo analítico e crítico as informações oriundas de diferentes meios e contextos.
A divulgação da competência em informação que o bibliotecário possui e o quanto
suas atividades podem contribuir para um acesso mais seguro da informação é
fundamental, e ao mesmo tempo constitui em um novo desafio para este profissional.
Além disso, o mesmo precisa chamar para si a responsabilidade que o cenário exige a fim
de que seu papel social continue sendo relevante, o que demanda um aprendizado
contínuo para acompanhar os fenômenos sociais e informacionais. Ao retomar as ideias
de José Ortega y Gasset, em seu discurso de abertura, em 1935, no Congresso
Internacional de Bibliotecários realizado em Madri, e, posteriormente, publicado no livro
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"A missão do bibliotecário" (2006), os autores Corrêa e Custódio (2018) atualizaram a
missão deste profissional do século XXI, que vive em meio a uma “informação enfurecida”
a saber:
Isto posto, a missão do bibliotecário nos dias de hoje, disposto de um leque
infinito de interagentes com acesso aos mais diversificados conteúdos online
deve ser repensada em torno de uma nova configuração de competências
direcionadas a esta realidade, caracterizada por um contexto político,
econômico, social e cultural específicos da era da s-verdade e que possam
prover às comunidades respostas às suas demandas informacionais (CORRÊA;
CUSTÓDIO, 2018, p. 211).
Sendo assim, falar sobre informação na era da “cultura digital”, na era da pós-
verdade
i
ou mesmo de uma sociedade da desinformação se tornou indispensável no
contexto atual da sociedade da informação (do conhecimento ou da aprendizagem), em
que essa informação não apresenta apenas o lado positivo, mas também o lado negativo,
ocasionando problemas, deformações, ruídos e prejuízos sociais de toda a ordem. O
critério de avaliação da informação é individual, tendo o sujeito à responsabilidade de
avaliar essa informação, todavia o que se acredita e se aceita sobre o que está sendo dito
acaba sendo uma verdade absoluta conforme os interesses pessoais, mesmo que a
informação seja falsa ou manipulada, porém reconfortante para quem a recebe. E é esse
cenário que molda o contexto e o conceito de pós-verdade, no qual estamos todos
inseridos:
A pós-verdade reside precisamente em descaracterizar a relação entre o
verdadeiro e o falso e desfigurar uma relação entre o não-senso de sentido
(elementos de intervenção/ interferência subjetiva e recepção) e o não-senso de
significado (representação mental significa) que se firmam na relação de
exclusão entre o que seria verdadeiro ou falso, conforme as evidências
ideológicas e convicções psíquicas. (SILVA, 2018, p. 4).
Em meio as mudanças informacionais, as questões relacionadas a conduta ética do
bibliotecário sobressaem com uma temática urgente. Nota-se a necessidade de não
discutirmos sobre a pós-verdade, a desinformação e as fake news (notícias falsas), mas o
de unir esta temática ao dia a dia do bibliotecário, profissional este que trabalha com a
informação em diferentes contextos e dimensões (técnica, estética, ética, política),
podendo, então, contribuir de maneira efetiva para a diminuição da propagação de
informações falsas, o que fortaleceria o paradigma informacional, em detrimento do
paradigma do acervo (COELHO NETO, 1996). Inclusive o Conselho Federal de
Biblioteconomia (CFB) lançou, no dia 19 de outubro de 2018, uma nota blica “que
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repudia a divulgação de fake news, por configurar crime previsto na legislação penal e
passível de ser enquadrado como infração ao Código de Ética do bibliotecário brasileiro”.
Em decorrência da importância do tema acerca das informações falsas ou fake
news, este trabalho propõe-se a responder a seguinte questão: Qual é a percepção que o
egresso do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
possui quanto sua responsabilidade em combater a disseminação de notícias falsas no
ambiente profissional? A fim de que o problema de pesquisa seja respondido, definiu-se
o seguinte objetivo geral: Analisar a percepção dos egressos do curso de Biblioteconomia
da UFRN quanto as suas competências no combate a disseminação das fake news (notícias
falsas). Faz-se necessário ainda, ressaltar o comportamento ético do bibliotecário
mediante a legislação que regulamenta seu exercício profissional, norteando suas ações
no contexto profissional e pessoal por meio de um modelo de conduta ética.
Diante disso, a presente pesquisa a partir da delimitação do problema e do
objetivo, configura-se como um estudo quanti-qualitativo, e de caráter exploratório, que
tem “como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias,
tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para
estudos posteriores” (GIL, 2008, p. 27). A coleta de dados da pesquisa envolveu a
construção e aplicação de um questionário composto de dezenove perguntas, sendo dez
fechadas e nove abertas (ver APÊNDICE), a amostra é de caráter intencional, que de
acordo com Gil (2002, p. 145) é um tipo de amostra “em que os indivíduos são
selecionados com base em certas características tidas como relevantes pelos
pesquisadores e participantes [...]”. Os questionários foram aplicados com oito
bibliotecários que estavam disponíveis para a coleta de dados durante o período de 15 de
março a 8 de abril de 2019. Salienta-se que, esse estudo não é passível de generalizações,
pois reflete uma realidade específica advinda de um grupo pequeno de entrevistados,
assim, sugere-se o desenvolvimento de pesquisas futuras nessa direção com vistas a
abarcar outros egressos e de outros cursos de Biblioteconomia.
2 FAKE NEWS: notícias falsas que parecem verdadeiras
As notícias falsas existem desde a Antiguidade, há relatos de que imperadores
romanos as usavam para demonizar estrangeiros a fim de conseguir apoio da população
nativa (MATTA, 2019). Elas também estavam presentes no Nazismo quando o governo de
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Adolf Hitler precisou disseminar falsas ideias através de notícias mentirosas para
conseguir o apoio popular. A partir desses dois exemplos da presença das fake news em
épocas diferentes percebe-se que esta prática comunicacional existe muito tempo, Rais
(2017) reitera que: “[...] não é uma novidade na sociedade, mas a escala em que pode ser
produzida e difundida é que a eleva em nova categoria, poluindo e colocando em xeque
todas as demais notícias”. Por seu turno, o acesso à internet e às mídias sociais contribuiu
para o aumento desta prática, de notícias falsas, ocasionando danos imensuráveis para
indivíduos e para a sociedade como um todo, em âmbito regional, nacional e global.
Este fenômeno interfere no processo de comunicação e causa grandes transtornos
na capacidade de lucidez e de discernimento entre os pontos decisórios e informacionais
na sociedade contemporânea. As fake news afetam nos processos decisórios e nas
democracias de diversos países, e não devem ser vistas como simples questão de calúnia
ou maldade. As fake news são informações fraudulentas, criadas de modo intencional, de
forma não sustentável, tendo como principal objetivo obter vantagens, principalmente,
política e/ou econômica. Segundo Maia, Furnival e Martinez (2018, p. 1984),
As fake news ou notícias falsas consistem em informações desinformações
que circulam livremente em diferentes meios de comunicação como se fossem
verdadeiras. A dificuldade em identificar e combater as fake news está na
velocidade com que elas se espalham, pois, geralmente, a disseminação é feita de
forma automática, por meio de robôs (bots), o que dificulta consideravelmente
seu rastreamento.
Durante as eleições norte-americanas, em 2016, o termo fake news tornou-se
visível mundialmente durante a campanha do atual presidente Donald Trump. Outro
assunto que também ajudou a expor a força do referido fenômeno foi o plebiscito Brexit,
na Inglaterra, ambos os acontecimentos marcados pela disseminação de notícias falsas
nas mídias sociais. A produção desenfreada de notícias falsas desgasta principalmente, o
campo jornalístico, por ser considerado o meio mais tradicional de veiculação de notícias,
por isso a United Nations Educational, Scientificand Cultural Organization (UNESCO)
publicou em setembro de 2018, o manual: Journalism, ‘Fake news’ & Disinformation, para
servir de modelo de conduta essencial para os profissionais da área de comunicação,
Escrito por especialistas na luta contra a desinformação, este manual explora a
natureza do jornalismo com módulos sobre por que a confiança é importante;
pensar criticamente sobre como a tecnologia digital e as plataformas sociais são
canais do distúrbio da informação; lutando contra a desinformação e a
desinformação através da alfabetização midiática e informacional; verificação de
fatos 101; verificação de mídia social e combate ao abuso online. (UNESCO, 2018,
online).
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Nas eleições de 2018, o Brasil seguiu o mesmo percurso que os países
anteriormente citados: o da desinformação, através da produção desenfreada de fake
news. Principalmente, na eleição do cargo para presidente, o povo brasileiro foi vítima da
criação e da disseminação de fake news impulsionadas por robôs nas redes sociais. A
campanha eleitoral dos candidatos foi marcada pela desinformação e pela falta de
respeito com e entre os eleitores, que como “presas fáceis” caíram em um jogo de
informações enganosas, o que afastou o exercício limpo da democracia. No meio dessa
guerra de notícias mentirosas os candidatos e suas equipes tiveram que se adaptar ao
atual contexto e criaram uma força tarefa com a finalidade de verificar e esclarecer todas
as informações que foram veiculadas, embora em muitas situações sem o desejável
sucesso. Desde então, a tipificação de crime referente à denunciação caluniosa com
finalidade eleitoral, passou a ser regulada pela Lei n. 13.834, de 4 de junho de 2019.
Cumpre ressaltar que a produção e a divulgação de fake news não cessaram com o
fim das eleições, e, infelizmente, elas não se circunscrevem apenas ao campo da política.
Outros âmbitos da vida pública, como a saúde, a educação, a cultura, a segurança e a
política pública são também alvos das notícias falsas. Por exemplo, no contexto da saúde
pública mundial, quando propagadas informações falsas sobre o mal que certas vacinas
estavam causando às pessoas, isto fez com que boa parte da população colocasse em risco
sua saúde, por deixarem de serem vacinadas, simplesmente, por não saberem apurar as
informações como estas que são de grande importância. No Brasil também circulou
notícias falsas sobre as vacinas, ocasionando o retorno de doenças antes erradicadas
como sarampo e poliomielite.
O Ministério da Saúde brasileiro criou um canal de comunicação com a população
via WhatsApp para combater as notícias falsas. O canal tem como propósito disponibilizar
informações sobre qualquer dúvida que as pessoas tenham com relação às informações
duvidosas, os mesmos poderão falar com especialistas da saúde para perguntar sobre tais
informações e obterem assim, as informações verídicas. De acordo com o diretor de
Comunicação Social do Ministério da Saúde, Ugo Braga:
As notícias falsas, ou Fake news como estão sendo mais conhecidas, são uma
praga da modernidade. Vem sendo usadas de toda forma para manipular,
enganar, iludir, prejudicar. No caso da saúde, é muito mais grave, porque a
notícia falsa mata. Então, o novo canal do Ministério da Saúde chega para servir
como uma nova e poderosa camada de segurança na informação sobre saúde
pública, com a vantagem de ter sido criada especificamente para o WhatsApp,
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Silva; Tanus | O bibliotecário e as fake news
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
que é o principal veículo de transmissão das notícias falsas. (SITE DO
MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019).
Como já dito a criação e disseminação de informações falsas extrapolam o âmbito
da política e da saúde, a educação segue como um dos alvos de notícias falsas com o
objetivo de desmoralizar e desacreditar as instituições de ensino, sobretudo as
universidades públicas brasileiras que permanecem sendo atacadas pelo atual governo e
pelo ministro da educação, na maior parte das vezes fundadas em notícias falsas e em
desinformação. Conforme o “Observatório Fake news”, as principais áreas que são
desestabilizadas pela produção de notícias falsas são:
Quadro 1 - Principais categorias de divulgação de fake news
Política
Possui como principal foco causar a manipulação de notícias que difamam
adversários e criam situações de pós-verdade.
Saúde
Tem por objetivo causar alarde na população sobre remédios, vacinas e/ou
epidemias que supostamente colocam a população em risco.
Ciência e Tecnologia
Neste contexto as notícias falsas apresentam autores “cientistas” que
desenvolvem trabalhos rudimentares e podem revolucionar a humanidade com
suas invenções.
Entretenimento
Seguimento mais utilizado para disseminação de fake news, consiste em difamar,
especular e associar informações fraudulentas a pessoas famosas.
Religião
Essas fake news tentam enganar as pessoas com base no que há de diferente na
religião do outro (Islamismo, Candomblé, Umbanda, Espiritismo, Budismo,
Cristianismo e outras crenças).
Propagandas/Golpes
Consistem em relatos positivos ou negativos (manipulados) sobre produtos.
Tendem a viralizar facilmente pela familiaridade que denotam ao leitor.
Fonte: Observario Fake News (2019).
Percebe-se que é cada vez mais importante criar o hábito de verificar as
informações recebidas antes de repassá-las, pois com o combate a ignorância associada
ao uso de ferramentas - as mesmas que são usadas na produção de falsas informações -
que a tecnologia desenvolvida proporciona, será possível o controle das notícias falsas.
Diante disso, é de suma importância acrescentar a esta exposição uma lista de sites
nacionais e internacionais que investigam as fake news na rede a fim de elucidá-las e expô-
las novamente com as devidas confirmações ou refutações. O quadro a seguir reúne os
principais sites que combatem estas informações fraudulentas, e que poderão servir de
fontes de informação para usuários e bibliotecários, a saber:
Silva; Tanus | O bibliotecário e as fake news
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
Quadro 2 - Lista de sites nacionais e internacionais que investigam fake news
Agência Lupa
Foi criada em 2015, é a primeira agência de notícias no Brasil a se especializar em
Fact-Checking. São ofertados pela organização, serviços como a análise e correção
das informações encontradas em noticiários e outros meios de comunicação. Estas
análises são publicadas no site da agência e vendidas para outros veículos de
comunicação. A Lupa também promove um programa de treinamento e capacitação
nas noções básicas de fact-checking.
Boatos.org
Fundado em 2013, pelo jornalista Edgard Matsuki. Existe em uma versão em
espanhol chamada Hablillas.org, nos mesmos moldes do Boatos.org. Foi criado como
forma de atender um maior número de usuários e dessa forma pode apresentar
notícias que podem vir a ser mais relevante para outros países da América
Latina.Grande parte de seu conteúdo provém de material viral como boatos e hoax
que se popularizam em variadas redes sociais.
E-farsas
Criado em 2002 por Gilmar Lopes, com o intuito de desmitificar as histórias
popularmente compartilhadas na Internet de uma forma acessível à todos. Seu
conteúdo em sua maioria vem de recomendações de seus internautas que em sua
maioria pedem uma avaliação de histórias virais que circulam pela rede.
Ground
É um aplicativo que busca uma forma de Fact-cheking em tempo real e com uma
avaliação feita de forma imparcial. A Inteligência Artificial do aplicativo seleciona
notícias de mais de 10.000 portais de notícias e repassa a informação para os
usuários que se encontram nas proximidades do evento relatado, para que os
mesmos possam relatar a veracidade da notícia e colocar comentários corrigindo-a.
O aplicativo também permite que os próprios usuários noticiem eventos com fotos e
vídeos, que também são repassados para outros usuários próximos avaliarem a
credibilidade.
Internationalfact-
checking
network
Criado em 2015 pela Ponyter, como um setor em que fosse possível o
desenvolvimento do Fact-Checking, permitindo o compartilhamento e a promoção
de práticas e conhecimentos no campo. Em 2018, conta com cerca de 50
organizações por todo o planeta que seguem à risca seu código de conduta e
divulgam a importância de checar a veracidade dos fatos.
Politifact
Politifact começou em 2007, mas em 2018 foi transferida para a empresa Ponyter,
com o objetivo de se tornar completamente uma organização sem fins lucrativos.
Inicialmente tinha seu financiamento pelo Tampa Bay Times, após mudança de
domínio para Ponyter se sustentam com receita gerada por parceiros de conteúdo,
publicidade online e doações.
Criou sites parceiros como o Politifact Florida, que foca nas notícias do estado e o
Pundifact checa as afirmações de apresentadores influentes da mídia, sendo
estudiosos no assunto ou não.
Snopes
É um site criado em 1994 por David Mikkelson, como uma forma de investigar lendas
urbanas e com o tempo adotou e ajudou a formar as técnicas de fact-checking usadas
atualmente. O site é referência de pesquisa para interessados em rumores, hoaxes e
assuntos relacionados.
Fonte: Observario Fake News (2019).
Em particular, no campo da Biblioteconomia e da Ciência da Informação foi
elaborado pela International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA) a
“Declaração da IFLA sobre notícias falsas”, publicada em 20 de agosto de 2018, encontra-
se disponível no site da instituição em diversos idiomas. O documento contém
recomendações para os governos e fomenta seus membros a atuarem com alfabetização
informacional e midiática, avaliação das fontes de modo crítico para que os usuários
possam acessar informações verídicas e confiáveis, bem como apoia a liberdade de
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Silva; Tanus | O bibliotecário e as fake news
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
expressão e o acesso à informação (IFLA, 2018). Além dessa declaração, a IFLA elaborou
um infográfico traduzido para mais de quarenta línguas, com oito passos que norteiam a
identificação de informações falsas, conforme a imagem a seguir:
Figura 1 - Oito passos para identificar uma fake news
Fonte: IFLA (2019).
3 O BIBLIOTECÁRIO COMO ALIADO NO COMBATE ÀS FAKE NEWS E A
DESINFORMAÇÃO
No contexto das competências biblioteconômicas, os profissionais agregaram a seu
currículo mais responsabilidades, pois a necessidade de acompanhar as mudanças
tecnológicas e a crescente produção informacional acarretou no aumento de mais
habilidades para lidar com a informação e com os processos de mediação. A abertura a
Silva; Tanus | O bibliotecário e as fake news
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
outros saberes e fazeres é uma constante tanto na prática quanto na teoria, refletida na
literatura científica acerca dos profissionais da informação, que [...] precisa ter um
conjunto de conhecimentos e saberes de diferentes domínios para aplicá-los a uma
atividade específica em bibliotecas e serviços de informação, o que não é possível
encontrar em uma disciplina” (LINE, 1998, p. 46). De acordo com Assis (2018, p. 16),
o bibliotecário é o profissional,
[...] responsável por tornar acessíveis as informações desejadas, seja em meio
físico, seja digital, aos seus usuários, desenvolvendo papel de mediador. Como
base para o alcance, a recuperação e sua posterior destinação e uso, o
bibliotecário adota diferentes técnicas para o tratamento dessa informação:
organização, armazenamento e disseminação. Considera-se que esses processos
contribuem para a democratização do acesso à informação, ressaltando, assim, a
importância do papel do bibliotecário na sociedade.
Enfatiza-se que a busca pela definição do perfil e atuação desses profissionais não
se esgotam, pois é um processo de construção dinâmico e que envolve as mudanças
informacionais e tecnológicas, que por sua vez estão imbricadas com os contextos político,
econômico, social e cultural. Sobre isso, as autoras Varela, Barbosa e Farias (2016)
apresentaram as várias mudanças do perfil profissional do bibliotecário desde a
Antiguidade até o contexto atual, nomeado de sociedade da informação, que requer uma
formação integral e integradora do indivíduo dele e com o ambiente, consciência de seu
papel profissional e social, modulados a partir de uma dada realidade, isto é, uma
compreensão crítica do contexto em que atua. E como evidenciado por Coelho Neto
(1996, p. 5) há décadas, as alterações sociais e tecnológicas impactavam diretamente nos
fazeres dos bibliotecários:
O papel do Bibliotecário na sociedade está se alterando devido às novas
tecnologias de informação e comunicação. Novas formas de trabalhar surgiram
porque novas ferramentas foram criadas para o controle, organização e
disseminação da informação. O profissional não está mais limitado ao espaço
físico da biblioteca; agora ele trabalha com vários suportes em que a informação
está registrada, onde o usuário passa a ser o foco principal e não mais o acervo,
ao mesmo tempo que a disseminação passa a ter mais importância que a
preservação da informação.
Mesmo diante de tantas transformações marcadas por diversas mudanças,
acredita-se que o bibliotecário deve voltar sua atuação em prol dos usuários, ou seja, o
que justifica a profissão e o que a dignifica socialmente é o compromisso com o outro, com
os sujeitos, ora também nomeados de interagentes, efetivando o acesso e a
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Silva; Tanus | O bibliotecário e as fake news
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democratização da informação com vistas a construção de uma sociedade mais justa,
democrática e igualitária, em que os indivíduos possam ser os protagonistas de suas ações
a partir da leitura crítica do mundo e da palavra. É, portanto, de suma importância que o
mesmo compreenda a sua responsabilidade social e política, assumindo a figura de um
mediador, como bem abordado por Almeida Júnior (2009). As discussões sobre o perfil
profissional do bibliotecário no século XXI foi tema de uma importante publicação do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 2018, cujo título é “Bibliotecário do
século XXI: pensando o seu papel na contemporaneidade”, que, de modo geral, chama a
atenção para a importância em centralizar o usuário nas ações dos profissionais e nas
comunidades onde se inserem como trabalhadores e cidadãos.
Dito isto, o bibliotecário precisa desempenhar o papel de disseminador e mediador
da informação na sociedade em geral, promovendo a igualdade nas condições de acesso à
informação entre todos os cidadãos, acentuando a função educativa deste profissional.
Para além do acesso às informações e/ou avaliações das fontes, o bibliotecário precisa se
ater as questões concernentes à apropriação da informação, discutir sobre a informação
que é interpretada é também sua responsabilidade. E nessa era da pós-verdade, em que
as opiniões assumem importância maior que os fatos, em que as informações são
manipuladas, construídas com vistas a uma desinformação, o papel do bibliotecário como
um mediador/educador é de suma importância:
Fica ainda mais evidenciado o seu papel social enquanto profissional capaz de
criar técnicas especializadas de captura, organização e preservação da
informação digital; de suas funções editoriais capazes de filtrar a informação
necessária para demandas específicas e, principalmente, de sua atuação
enquanto mediador para o desenvolvimento de competências em informação
(CORRÊA; CUSTÓDIO, 2018, p. 211).
Deve-se salientar também que outro componente necessário neste percurso é o
desenvolvimento da competência informacional (Information Literacy) pelo próprio
bibliotecário. Segundo Orelo e Cunha (2013, p. 30) a competência informacional [...]
caracteriza-se pelo uso eficiente das informações (identificação das necessidades
localização, recuperação e uso da informação) pelo desenvolvimento cognitivo, isto é, pela
compreensão da informação, e pelo aprendizado ao longo da vida. Compreende-se como
competente em informação o indivíduo que consiste em aprender a aprender
continuamente, acompanhando a evolução tecnológica e internalizando novos
aprendizados ao longo da vida, permitindo assim, a soma de novos conhecimentos e a
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interação deles com o meio em que vive. Acredita-se, assim, que apenas um sujeito
competente em informação poderá ensinar e mediar outros sujeitos ao longo do processo
da apropriação e construção do conhecimento, assim como incorporar a alfabetização
política na agenda de suas atividades e no rol das competências requeridas.
Cabe ao bibliotecário ser esse mediador entre as informações e os usuários, que
são sujeitos ativos nos processos de construção do conhecimento, mas que a partir da
interação com o profissional podem se localizar com mais segurança no mundo
informacional, permeado por informações positivas e negativas. Inclusive o
discernimento das categorias informacionais (verdadeira e falsa) pelos usuários devem
permear os diferentes espaços de atuação dos bibliotecários, com vistas ao
desenvolvimento de competência crítica em informação, e a produção do conhecimento
contextualizado e crítico (BRIZOLA; BEZERRA, 2018).
4 RELAÇÃO ÉTICA DO BIBLIOTECÁRIO COM A INFORMAÇÃO
Para iniciar essa discussão, faz-se necessário introduzir termos essenciais: Ética e
Deontologia. O termo “Ética”, segundo Souza (2002, p. 16), significa, um conjunto de
princípios que rege ou orienta a ação das pessoas e das sociedades na busca do equilíbrio
desta ação”, o mesmo autor acrescenta outro conceito utilizado para explicá-lo, quando
diz, “ética é um conjunto de normas que determinam a conduta das pessoas ou o
funcionamento das instituições” (SOUZA, 2002, p. 16). O conceito de Deontologia, de
acordo com Souza (2002, p. 55) significa:
O elenco de determinações objetivas, instruções operacionais e de cunho prático,
em um grupo profissional devem seguir, no exercício de suas atividades, para
garantir a uniformidade, em todos os seus aspectos e lugar, do trabalho e ação
do grupo, fosse a ação de um único indivíduo.
A ética do profissional da informação está inserida na maneira em que o mesmo se
comporta no manuseio e na disponibilidade das informações que acessa, organiza e
representa, consiste no modo como este profissional age em sua área de atuação e como
trata seus clientes, em relação ao seu exercício na prática. Seu papel é de fundamental
importância para sua área e é imprescindível que o mesmo aja com ética no modo de
pensar e agir perante as instituições e, principalmente, frente aos usuários que o percebe
como principal mediador e solucionador no que se refere às pesquisas informacionais. O
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uso ético da informação faz parte da prerrogativa da profissão, como explicitado no código
de ética da International Federation of Library Association Institution, a saber:
Os bibliotecários e outros profissionais da informação oferecem serviços para
aumentar as habilidades de leitura. Eles promovem a alfabetização
informacional, incluindo a habilidade de identificar, localizar, avaliar, organizar,
criar, usar e comunicar informação. Eles promovem o uso ético da informação,
assim ajudam a eliminar plágio e outras formas de mau uso da informação (IFLA,
2012, p. 3).
No Brasil, o comportamento ético e profissional do Bibliotecário é regido pelo
Código de Ética e Deontologia, elaborado e atualizado pelo Conselho Federal de
Biblioteconomia (CFB, 2018, p. 1). A Resolução CFB nº 207/2018 tem como objetivo fixar
as normas orientadoras de conduta no exercício de suas atividades profissionais,
dispondo dos deveres e direitos dos bibliotecários. O papel social do bibliotecário é
associado ao seu compromisso profissional e ético com a comunidade, devendo o mesmo
conhecer o perfil sociocultural dos usuários, com vistas ao desenvolvimento dos
indivíduos e da sociedade. Vale salientar que o primeiro dever expresso vai ao encontro
do juramento do profissional, que corresponde a: “preservar o cunho liberal e humanista
de sua profissão, fundamentado na liberdade da investigação científica e na dignidade da
pessoa humana” (CFB, 2018, p. 2).
A informação, artefato cultural, como objeto de trabalho ora explicitada no código
de ética é também a marca do profissional da informação, que tem como “missão social
organizar, coordenar e explicar esse movimento, isto é, esse fluir” (SOUZA, 2002, p. 13).
Além disso, os profissionais da informação são competentes em identificar as informações
relevantes, oriundas de fontes confiáveis para alimentar efetivamente as necessidades
informacionais de sua clientela (comunidade e instituições) o que facilita que a missão da
profissão seja plenamente realizada. Conforme o Código de ética da IFLA (2012, p. 2), o
bibliotecário tem como missão, “assegurar o acesso à informação para todos no sentido
de seu desenvolvimento pessoal e educacional, enriquecimento cultural, lazer, atividade
econômica, participação informada e reforço da democracia”. Sendo, justamente, a
informação um dos caminhos para o estabelecimento e fortalecimento da democracia, da
tomada de decisão segura, da possibilidade de mudança individual e social por meio do
uso crítico da informação.
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5 BIBLIOTECÁRIOS ENTRAM EM CENA: egressos do curso de Biblioteconomia da UFRN
As primeiras questões do questionário foram voltadas para o delineamento do
perfil dos respondentes, assim a primeira questão envolveu a identificação do sexo dos
entrevistados, os quais 50% pertencem ao feminino e 50% ao masculino. Na questão 2,
foi perguntado a idade, e constatou-se que 62% deles está na faixa etária de 31 a 40 anos
de idade, o que corresponde a maior parte da amostra. Na questão 3, indagou-se sobre o
tempo de formação dos entrevistados, sendo que 50% dos egressos tem 10 ou mais anos
de conclusão, os outros 50% concluíram o curso menos de 10 anos, incluindo tempos
diversificados: 08 meses, 1 ano, 5 anos e 9 anos. Na pergunta 4, os entrevistados
responderam se conheciam o código de ética que rege a profissão do bibliotecário e
82,5%, o que corresponde a 7 entrevistados, responderam sim, conheciam o código e
apenas 12,5%, correspondente a 1 entrevistado não conhecia o documento.
A fim de complementar a questão anterior, na pergunta 4.1, perguntou-se aos
egressos que disseram conhecer o código de ética do bibliotecário, como eles o colocavam
em prática. Como orienta o Código de Ética do bibliotecário brasileiro no artigo que diz,
A atuação do bibliotecário fundamenta-se no conhecimento da missão, objetivos,
áreas de atuação e perfil sociocultural do blico alvo da instituição onde es
instalada a unidade de informação em que atua, bem como das necessidades e
demandas dos usuários, tendo em vista o desenvolvimento dos indivíduos e da
sociedade. (CFB, 2018, [p. 1]).
Quando indagado sobre a questão, o entrevistado(a) 02 disse, Mantendo meu
compromisso ético e social junto à sociedade em que atuo” (informação verbal). O
entrevistado(a) 06 afirmou que: “Exerço a profissão com responsabilidade social e ética,
buscando promover a importância do bibliotecário para a sociedade” (informação
verbal). Além dessas duas falas, julgou-se importante apresentar o que o entrevistado(a)
08 enunciou:
A composição ética da profissão é determinada pela qualidade das ações
realizadas por cada indivíduo. Ser ético, nada mais é do que agir direito, proceder
bem, sem prejudicar os outros; agir de acordo com os valores morais de uma
determinada classe. No Código de Ética, no Capítulo 2 Da natureza, fundamento
e objeto do trabalho do bibliotecário e o Capítulo 3 Dos deveres do bibliotecário
apresenta um norte de como devemos atuar de forma a realizar da melhor
maneira as atividades da área (informação verbal).
Diante das respostas dadas pode-se entender que os bibliotecários se percebem
como agentes mediadores da informação e procuram agir de maneira ética. Interessante
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perceber a compreensão dos entrevistados acerca do conceito de ética, que envolve
princípios morais e éticos para viver em sociedade, inclusive a citação do código ética da
Biblioteconomia demonstra a preocupação e conhecimento do entrevistado.
Na questão 5 os entrevistados foram perguntados se no momento estavam
empregados em unidades de informação e 100% responderam que sim, em complemento
a pergunta 5, na questão 5.1 os mesmos foram questionados sobre o tipo de instituição
(pública e privada) que atuam, e conforme o levantamento, 50% deles trabalham em
instituições públicas e os outros 50% trabalham em organizações privadas. De acordo
com a pergunta 5.2, quando os entrevistados foram questionados sobre a área que atuam
(biblioteca, museu, arquivo, centro de documentação, escola, universidade, empresa
comercial, etc.), 37% deles responderam que atuam em bibliotecas universitárias, já 25%
disseram que trabalham em arquivo e o restante da amostra está distribuída entre
bibliotecas especializadas e escolares, totalizando 38%.
Para tanto, na questão 5.3 os bibliotecários foram perguntados acerca de qual o
público eles atendem nas instituições que atuam, sendo possível verificar em números
absolutos o seguinte resultado, lembrando que os respondentes poderiam marcar mais
de uma opção: Estudantes de nível escolar (03); Estudantes de nível superior (04);
Funcionários da organização (04); Comunidade em geral (03); Pesquisadores em geral
(02); Estudantes concurseiros (01), sendo que estas duas últimas categorias apareceram
registradas em Outros. Essa identificação dos usuários é importante para o futuro
delineamento de atividades como, por exemplo, cursos de capacitação que requerem o
conhecimento do público alvo a ser atingido. Nessa direção, no site da IFLA pode-se ter
acesso a uma visão geral de como as bibliotecas por meio de suas ações estão ajudando
no combate das fake news, e mais especificamente no país destaca-se o relato de
experiência que envolveu uma ação na biblioteca escolar a partir da integração de uma
bibliotecária e discentes do curso de Biblioteconomia (MARTHA et al, 2019).
Na questão 6, os entrevistados foram perguntados acerca de quais competências
são as mais importantes no exercício da profissão. Nesta questão foi disponibilizada uma
lista com 14 competências elencadas que está de acordo com a Classificação Brasileira de
Ocupações (CBO) e os entrevistados podiam escolher 7 das opções disponibilizadas. O
gráfico apresenta as competências mais escolhidas:
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
Gráfico 1 - Competências do bibliotecário de acordo com a CBO
Fonte: Elaborado pela autora (2019).
É possível visualizar que a competência mais importante que o bibliotecário
precisa desenvolver no desempenhar de suas atividades, de acordo com os entrevistados
é “Agir com ética”, pois todos a escolheram. Talvez esse resultado esteja justamente
relacionado ao tema da pesquisa, que suscita esse debate consciente, político e ético.
Embora como relatado, um dos entrevistados diz não conhecer o código de ética da
Biblioteconomia. Em segundo lugar, com 7 respostas, dentre as competências mais
importantes estão a “Capacidade de comunicação” e a de “Manter-se atualizado”, as quais
também se reconhece como competências importantes para o desenvolvimento do
profissional da informação.
Na questão 7, quando perguntados se já ouviram falar sobre Fake news, Pós-
verdade e/ou Desinformação, todos os entrevistados responderam que sim, o que
significa 100%. Em complemento ao questionamento anterior na pergunta 8 foi solicitado
aos entrevistados o conceito de pelo menos um dos termos supracitados, e todos
souberam conceituar um dos termos corretamente, mas o termo mais detalhado foi o de
fake news. A fim de embasamento podemos observar o que disse o(a) entrevistado(a) 03,
O conceito mais usado no momento é o da fake news que em uma tradução literal
seria notícias falsas que na verdade essas notícias falsas não existem por si só,
elas têm uma origem e é uma ação de desinformação para converter a opinião
pública ou uma conduta de um determinado grupo, como por exemplo, aspectos
de mercado... uma empresa lança uma notícia falsa para prejudicar a imagem de
outra empresa, a fim de ganhar vantagens competitivas, então são ações de
origem totalmente antiéticas porque se é uma notícia falsa, então é uma
manipulação, ou seja, é uma atitude totalmente condenável (informação verbal).
Agir com ética
Capacidade de análise e…
Capacidade de comunicação
Capacidade de concentração
Capacidade de negociação
Capacidade empreendedora
Conhecimento de outros…
Criatividade
Liderar equipes
Manter-se atualizado
Pró-atividade
Raciocínio lógico
Senso de organização
Trabalhar em equipe e em rede
8
6
7
0
3
4
0
3
3
7
5
1
4
5
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Silva; Tanus | O bibliotecário e as fake news
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Também é importante analisar a resposta do(a) entrevistado(a) 06, “A Fake news
é o assunto mais citado dos últimos tempos e trata-se da informação falsa, ao verdade
sobre o assunto, a informação sem credibilidade, com o poder de persuadir. Sua produção
tem em vista o desfavorecimento de um grupo ou pessoa” (informação verbal). Diante do
exposto, fica notório que os bibliotecários estão cientes dos novos termos e do próprio
contexto em que estão inseridos, conforme a própria literatura da área orienta. Além
disso, este resultado mostra o quanto o tema em questão é pertinente e deve fazer parte
da atuação do profissional para além da intenção individual dos sujeitos. É preciso de fato
operar com a informação como objeto de estudo e de trabalho dentro da Biblioteconomia
e Ciência da Informação, incluído as informações (boas, más e falsas informações) que
afetam diretamente a construção de uma sociedade democrática, e as relações
informação, biblioteca e democracia (BUSCHMAN, 2018).
Na questão 9, foi perguntado aos bibliotecários se eles já se depararam com
notícias falsas, e todos responderam que sim, ou seja, este resultado está consoante ao
resultado da pergunta 7. Com o objetivo de acréscimo, na questão 9.1, os entrevistados
foram perguntados se saberiam dizer qual foi a notícia falsa e onde as viram. Para esta
indagação todos os entrevistados souberam dizer onde viram as notícias falsas e qual era
o tema. Como confirma o(a) entrevistado(a) 05, “Uma delas foi relacionado a campanha
política de 2018 e vi em grupos de WhatsApp” (informação verbal), de acordo com o(a)
entrevistado(a) 04,
Sei sim, foi sobre política, foi no ápice da política atual que tinha muitas fake
news, até corri o risco de compartilhar essa informação porque ela parecia tão
correta, tão verdadeira, que se eu não tivesse um tempo para ler melhor e
identificar a fonte que estava transmitindo a informação, eu iria ter
compartilhado, mas por ter esse cuidado e ser um bibliotecário [...] eu sempre
busquei ter esse cuidado de não compartilhar, mas geralmente, nas redes
sociais, assim no mundo real eu nunca me deparei não (informação verbal).
Na questão 10, os profissionais foram perguntados sobre como eles identificaram
as notícias falsas. Com relação a esta questão os bibliotecários responderam de maneira
satisfatória, pois procederam em suas atividades de maneira ética e usaram as
competências pertinentes para a identificação de notícias fraudulentas, para servir como
exemplo podemos observar o que disse o(a) entrevistado(a) 03,
Geralmente, quando eu recebo uma informação polêmica que chama a atenção,
e mesmo que não seja polêmica a atitude é exatamente já pesquisar. Hoje temos
Silva; Tanus| O bibliotecário e as fake news
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
meios rápidos de confrontar essas notícias, por meio da internet é muito rápido,
mas se for uma informação mais delicada a gente tem meios oficiais, devemos
confrontar (informação verbal).
Além do entrevistado acima, é necessário destacar o que o(a) entrevistado(a) 06
disse sobre como identificar uma fake news, “Atentar sobre a fonte onde esta informação
se encontra e buscar mais dados sobre ela, para que esteja embasado no julgamento se é
ou não fake news” (informação verbal). Entende-se com tudo isso, que o bibliotecário é
um profissional preparado para lidar com as informações e possui habilidades para
disseminá-las de maneira responsável. Todavia, constata-se poucas ações efetivas
realizadas nas bibliotecas de modo mais amplo, como, cursos, eventos, capacitações
voltadas para essas questões, ficando, portanto, restritas as ações pontuais dos sujeitos.
Na questão 11, alguns entrevistados repetiram competências listadas na questão
6, porém o(a) entrevistado(a) 07 acrescentou a importância de o bibliotecário
desenvolver o Bom senso, conhecimento de mundo” (informação verbal). Além dele, o(a)
entrevistado(a) 08 acrescentou que o profissional da informação precisa possuir
“conhecimento prévio sobre o assunto e capacidade crítica para avaliar determinados
‘fatos’” (informação verbal), e diante de tudo isso, ficou claro que os egressos estão
preparados e empenhados em diminuir a disseminação de fake news em paralelo a
orientação de seus usuários quanto a identificação de notícias fraudulentas.
Na questão 12, os entrevistados foram indagados sobre o que sentiram quando se
depararam com notícias falsas. Para essa pergunta, considerou-se necessário apresentar
todas as respostas. Nessa direção, chama-se a atenção para os estudos de comportamento
informacional e das práticas informacionais, que poderiam verticalizar mais essas
discussões que perpassam este trabalho. Os sentimentos revelados são todos negativos,
conforme o quadro:
Quadro 3 - Sentimentos dos bibliotecários ao se depararem com notícias falsas
Entrevistado(a) 01
Impotência
Entrevistado(a) 02
Responsabilidade (em buscar a verdade)
Entrevistado(a) 03
Frustração; Revolta; Angústia
Entrevistado(a) 04
Incômodo
Entrevistado(a) 05
Revolta
Entrevistado(a) 06
Responsabilidade (em buscar a verdade)
Entrevistado(a) 07
Desprezo
Entrevistado(a) 08
Perplexidade
Fonte: Elaborado pela autora (2019).
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Silva; Tanus | O bibliotecário e as fake news
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na questão 13, os bibliotecários egressos da UFRN responderam qual é a atitude
deles quando estão diante de uma fake news. Considerando a importância dos resultados
todas as respostas foram expostas no quadro a seguir:
Quadro 4 - Atitudes dos bibliotecários egressos da UFRN diante de notícias falsas
Entrevistado(a) 01
“Não compartilho quando as vejo e em seguida, as denuncio”.
Entrevistado(a) 02
“De averiguar e, em seguida pesquisar na rede, informações referentes
ao assunto”.
Entrevistado(a) 03
“Procuro averiguar os fatos, e caso a notícia seja falsa falo para as
pessoas que acreditaram na informação que elas estão erradas e
mostro a informação correta”.
Entrevistado(a) 04
“Procuro saber se a pessoa se responsabiliza por estar repassando a
informação e procuro averiguar a procedência antes de repassar e se a
informação for realmente falsa, aviso para quem a compartilhou”.
Entrevistado(a) 05
“Não compartilho nenhuma informação antes de verificar a
procedência e ainda informo a alguns grupos da família qual verdadeira
notícia e explico porque é fake news”.
Entrevistado(a) 06
“Buscar apresentar ao usuário de informação habilidade que os
permita buscar, usar, avaliar e comunicar informação de forma
eficiente e eficaz, com intuito de capacitá-los para saber lidar com as
fake news”.
Entrevistado(a) 07
“Em redes sociais, geralmente, bloqueio o aparecimento de notícias
oriundas da mesma origem assim como do indivíduo que as
compartilhou. Dependendo da gravidade da notícia, notifico o
indivíduo que compartilhou de sua falsidade”.
Entrevistado(a) 08
“A partir da verificação da falsa informação, tento fazer com que as
pessoas parem de vincular as matérias na rede. Passo a alertá-las sobre
o perigo de publicar algo falso”.
Fonte: Elaborado pela autora (2019).
Observou-se nas respostas da questão anterior a maioria dos entrevistados
responderam que, de modo geral, primeiro procuram averiguar a informação e, depois
esclarecem para quem interessar, se a informação é falsa ou verdadeira. Tais falas
demonstram que os bibliotecários estão preparados para promoverem o debate dentro e
fora da biblioteca quando o tema é fake News, embora como ações estruturadas não se
tenha constatado nenhuma ação institucionalizada.
Na questão 14, os bibliotecários responderam se consideram importante que os
profissionais da informação trabalhem com a temática “fake news” e o porquê de suas
respostas. Diante dos questionamentos, todos responderam que acham importante que
os bibliotecários debatam e se aprimorem no combate a disseminação de fake news. Para
fim de embasamento da afirmação acima, pode-se observar a resposta do(a)
entrevistado(a) 07,
Silva; Tanus| O bibliotecário e as fake news
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
É imprescindível, o bibliotecário, como profissional da informação supostamente
capacitado em competências informacionais, deve utilizar tais capacidades para
não apenas identificar a falsidade das notícias, como também, ensinar outras
pessoas a fazerem o mesmo. O bibliotecário que não realiza tal prática insulta
toda a classe profissional e deve ser considerado pelos seus pares como escória
da profissão (informação verbal).
Além do mais, julga-se necessário apresentar o depoimento do(a) entrevistado(a)
04, Acho esse trabalho diante desta temática fake news muito importante, ainda mais
para nós bibliotecários, porque tem questão do suporte. Nós transmitimos informação,
precisamos saber identificar quem está por trás das notícias suspeitas” (informação
verbal). Para reiterar a fala do entrevistado anterior, é importante ao documento, a
resposta do(a) entrevistado(a) 02,
É de suma importância que os bibliotecários se capacitem acerca da temática,
principalmente, por sermos os profissionais da informação, comprometidos em
analisar e disponibilizar uma informação segura e de qualidade, agindo sempre
em conformidade com a ética da profissão (informação verbal).
Diante do exposto, percebe-se que os egressos do curso de Biblioteconomia da
UFRN conhecem os termos centrais abordados: Fake news, Pós-verdade e/ou
Desinformação, e que buscam aliar outras competências necessárias ao contexto atual,
que convoca um olhar crítico e apurado diante de tantas informações. Como apresenta o
relatório produzido pelo Observatório da Profissão de Informação-Documentação (2006,
p. 5), quando se refere às competências profissionais, é indispensável a adaptabilidade e
a localização do conhecimento, que “É situacional, o que significa que se estrutura e se
desenvolve em função de situações específicas ou de um conjunto de situações similares,
pressupondo a transferibilidade das competências”. Assim, os bibliotecários têm a
capacidade de se adaptar ao ambiente profissional e social, devendo atender a sua
comunidade de maneira eficiente, responsável e ética. E como apontado por Buschman
(2018) advoga-se que os bibliotecários m a responsabilidade da alfabetização
informacional e política, inscrevendo o espaço da biblioteca na cultura democrática, o que
requer um engajamento no sentido de demonstrar que a democracia passa por espaços
onde a informação é construída e debatida.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A era da pós-verdade revela que a maioria das pessoas ainda não consegue
distinguir uma informação falsa de uma verdadeira, e diante deste cenário existe o
profissional da informação que além de poder auxiliar os usuários, precisa continuar
aprendendo e adquirindo novas competências profissionais. Competências e habilidades
essas, que o bibliotecário precisa desenvolver constantemente para suprir a demanda e
os desafios informacionais da sociedade da informação e seu correlato a sociedade da
desinformação, o que convoca o olhar mais apurado para indivíduos e os usos de
informação feita de modos e intenções distintas.
Diante das mudanças tecnológicas e a velocidade de disseminação de informações,
outro desafio impõe-se aos bibliotecários: compreender o fenômeno da pós-verdade, da
desinformação, bem como as fake news. Temáticas de grande relevância para a
Biblioteconomia e a Ciência da Informação, pois ambos se ocupam dos usuários/sujeitos
em meio ao fenômeno informacional, que por sua vez, convocam-se diferentes regimes de
informação, abrindo espaço para uma nova configuração das políticas informacionais,
nomeada de infopolítica, em lugar da geopolítica (GOMEZ GONZÁLEZ, 2012).
Constatou-se que os bibliotecários egressos da UFRN, respondentes desta
pesquisa, percebem-se como sendo sujeitos responsáveis no combate à disseminação de
notícias falsas, não apenas em seu ambiente profissional, mas também no contexto
pessoal, reiterando o seu compromisso como cidadão. Os profissionais usam as
competências adquiridas na academia para evitar a propagação de notícias fraudulentas
através das instruções fornecidas aos usuários/cidadãos. Inclusive cumpre salientar que
este tema das fake news passou a fazer parte das disciplinas: Informação e Sociedade” e
“Fundamentos de Biblioteconomia e Ciência da Informação”, ambas as disciplinas
obrigatórias do curso de Biblioteconomia da UFRN, com o claro objetivo de acompanhar
as mudanças sociais e informacionais.
Finalmente, diante do exposto é importante manter uma discussão mais ampla
sobre o assunto, dentro e fora da biblioteca. Como sugestão considera-se de fundamental
importância extrapolar casos e ões individuais de combate a fake news para de fato
envolver a comunidade nesse debate, promovendo mais ações integrativas e voltadas
para a construção do diálogo e pensamento crítico com os usuários. Tal temática é fecunda
para aproximar, ou melhor, fortalecer a comunidade e seus laços com a biblioteca e com
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os bibliotecários, que poderiam aprofundar o debate informacional. Outro ponto
imprescindível é a produção da literatura sobre os temas como fake news, pós-verdade e
desinformação junto ao universo da Biblioteconomia e Ciência da Informação e, mais
especificamente, vinculadas às atividades biblioteconômicas que são ainda pouco
numerosas quando comparada com outras temáticas. Tais temáticas m inclusive
ganhando mais espaço em outros campos do conhecimento como Comunicação,
Jornalismo, Computação, Direito, entre outros, o que demanda um olhar interdisciplinar
e uma possibilidade de ação conjunta.
Portanto, sugere-se que mais pesquisas/ações sejam desenvolvidas dentro da
discussão atual, com vistas a contribuir para o desenvolvimento da sociedade, não da
desinformação, mas de uma sociedade onde os cidadãos possam confiar, verificar, criticar,
acessar e compartilhar informações confiáveis. Além disso, almeja-se que os resultados
alcançados a partir deste estudo, sejam usados como ponto de partida para vários outros,
incorporando outros egressos dos cursos de Biblioteconomia no âmbito nacional.
Aconselha-se ainda, que o estudo aguce os profissionais da informação a se capacitarem
continuamente, perseguindo sempre a melhor preparação para atender as demandas e as
mudanças da sociedade.
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i
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(Dicionário Oxford, 2016).
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APÊNDICE - Questionário aplicado aos egressos do curso de Biblioteconomia da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
01.
Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino.
02.
Qual é a sua idade? anos.
03.
Formou-se no curso de Biblioteconomia da UFRN há quanto tempo? anos.
04.
Você conhece o Código de ética do bibliotecário(a)? ( ) Sim ( )Não.
04.1 Se sim, como você o coloca em prática?
05.
No momento está trabalhando em alguma unidade de informação? ( )Sim ( )Não
05.1 Caso a resposta da questão anterior seja sim, qual tipo de instituição?
( )Pública ( )Privada
05.2 Atua em que área (biblioteca, museu, arquivo, centro de documentação, escola, universidade,
empresa comercial e etc.) como bibliotecário (a)?________________
05.3 Qual público é atendido pela organização onde atua?
( ) Estudantes de nível escolar ( ) Estudantes de nível superior
( ) Funcionários da organização ( ) Comunidade em geral Outros________________________
06. A Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) apresenta as seguintes competências para o
bibliotecário, em sua opinião, quais são as mais importantes? (Selecione asete):
a)
Agir com ética;
b)
Capacidade de análise e síntese;
c)
Capacidade de comunicação;
d)
Capacidade de concentração;
e)
Capacidade de negociação;
f)
Capacidade empreendedora;
g)
Conhecimento de outros idiomas;
h)
Criatividade;
i)
Liderar equipes;
j)
Manter-se atualizado;
k)
Pró-atividade;
l)
Raciocínio lógico;
m)
Senso de organização;
n)
Trabalhar em equipe e em rede
07. Já ouviu falar sobre Fake news, Pós-verdade e/ou Desinformação?
08. Caso a resposta da questão anterior seja sim, poderia explicar pelo menos um dos três termos citados?
09. Você já se deparou com notícias falsas? ( )Sim( ) Não
09.1 Se sim, saberia dizer qual foi a notícia falsa e onde viu?
10. Como você identificou (ou identificaria) notícias falsas?
11. Além das competências supracitadas, qual você destacaria quando relacionada às fake news?
12. Qual o sentimento relacionado quando você se depara com notícias falsas?
13. Qual sua atitude diante de uma fake news?
14. Você considera importante que os bibliotecários trabalhem com essa temática das fake news? Por quê?
TRATAMENTO TEMÁTICO DA INFORMAÇÃO: análise sobre abordagens e enfoques em
artigos científicos da área de Ciência da Informação
SUBJECT REPRESENTATION: analysis of approaches and stances in scientific articles in
Information Science
Lais Pereira de Oliveira¹
Daniel Martínez-Ávila
2
¹ Doutoranda em Ciência da Informação pela
Universidade Estadual Paulista (UNESP).
Docente do curso de graduação em
Biblioteconomia da Universidade Federal de
Goiás (UFG).
E-mail: laispereira2@ufg.br
2
Doutor em Documentación: Archivos y
Bibliotecas en el Entorno Digital pela
Universidade Carlos III de Madrid (UC3M).
Professor permanente do Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Informação da
Universidade Estadual Paulista (UNESP).
E-mail: martinez.avila@unesp.br
ACESSO ABERTO
Copyright: Esta obra está licenciada com uma
Licença Creative Commons Atribuição 4.0
Internacional.
Conflito de interesses: Os autores declaram
que não há conflito de interesses.
Financiamento: Não há.
Declaração de Disponibilidade dos dados:
Todos os dados relevantes estão disponíveis
neste artigo.
Recebido em: 10/11/2019.
Aceito em: 05/12/2019.
Revisado em: 16/12/2019.
Como citar este artigo:
OLIVEIRA, Lais Pereira de; MARTÍNEZ-ÁVILA,
Daniel. Tratamento temático da informação:
análise sobre abordagens e enfoques em artigos
científicos da área de Ciência da Informação.
Informação em Pauta, Fortaleza, v. 4, n. 2, p.
83-100, jul./dez. 2019. DOI: 10.32810/2525-
3468.ip.v4i2.2019.42654.83-100.
RESUMO
Aborda em termos conceituais e teóricos o
tratamento temático da informação realizado no
contexto da organização do conhecimento.
Objetiva analisar as abordagens e enfoques das
pesquisas desenvolvidas sobre tratamento
temático da informação e publicadas na
modalidade de artigo científico.
Metodologicamente constitui estudo descritivo
de natureza quali-quantitativa. Caracteriza-se
ainda como pesquisa bibliográfica, executada a
partir de coleta na Base de Dados em Ciência da
Informação (BRAPCI) e com análise sustentada
em sistematização estatística via gráfico e
análise de conteúdo. Os resultados indicam uma
distribuição de trabalhos ao longo dos últimos
10 anos, com predomínio de abordagens sobre o
próprio tratamento temático, em detrimento de
seus instrumentos, processos e produtos
característicos, além do enfoque teórico na
maioria das pesquisas publicadas na modalidade
de artigo científico. Conclui-se que o assunto tem
buscado, aos poucos, uma solidificação, tornada
evidente em muitos trabalhos nos títulos
empregados para nomear as produções.
Palavras-chave: Organização do conhecimento.
Tratamento da informação. Representação de
assunto. Produção científica.
ABSTRACT
This paper deals with subject representation in
conceptual and theoretical terms in the context
of knowledge organization. It aims to analyze the
approaches and stances of the journal articles on
the subject representation of information. It is a
Inf. Pauta Fortaleza, CE v. 4 n. 2 jul./dez. 2019 ISSN 2525-3468
DOI: https://doi.org/10.32810/2525-3468.ip.v4i2.2019.42654.83-100
ARTIGO
84
Tratamento temático da informação
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
descriptive study of qualitative and quantitative
nature. Its methodology can be also
characterized as a bibliographic research, based
on collection of bibliographic information from
the Brazilian Information Science database
(BRAPCI) and the statistical systematization of
the results using figures and content analysis.
The results show a distribution of papers over
the last 10 years in which there is a
predominance of approaches on subject
representation over its characteristic
instruments, processes and products, as well as
the theoretical approach in many papers
published as scientific journal articles. We
concluded that the topic has gradually been
consolidated, as shown in many of the titles used
for the journal articles.
Keywords: Knowledge organization.
Information processing. Subject representation.
Scientific production.
1 INTRODUÇÃO
A Organização do Conhecimento (OC), um dos marcos conceituais que permeia a
Ciência da Informação e da Documentação (GUIMARÃES; PINHO; FERREIRA, 2012) e
área central de ensino e pesquisa nesse âmbito (SOUZA, 2007), é um campo dedicado à
estruturação e representação do conhecimento produzido e registrado, como forma de
garantir seu acesso e utilização.
Hjørland (2007) delimita uma instância social e outra intelectual para a OC. Na
primeira, o cerne é sobre a disposição formal das áreas do conhecimento, enquanto que
a segunda foca na ordenação dos conjuntos informacionais oriundos das mesmas.
Na organização do conhecimento são construídas modelagens para estruturar o
conhecimento em conceitos e assim, ordenar e representar documentos com base no
assunto, valendo-se de “instrumentos como sistemas de classificação, tesauros,
vocabulário e outras linguagens de indexação” (GUIMARÃES et al., 2015, p. 14).
Consequentemente, a OC servirá ao propósito de organização da informação (OI), pois
fornecerá a metodologia para tal (LIMA; ALVARES, 2012).
Nesse sentido, na OC tem-se as bases para organizar informação considerando-se
especificamente a vertente do assunto, o que resulta em um trabalho de representação
no âmbito do tratamento temático. O tratamento temático da informação (TTI) é, assim,
uma das dimensões da organização da informação, que se volta para o acesso ao
conteúdo (GUIMARÃES, 2009) e, integrando seu universo epistemológico está a
organização do conhecimento (GUIMARÃES, 2008).
O tratamento da informação está evoluindo em razão das próprias
transformações pelo volume de informações e evolução das tecnologias (SOUZA;
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HILLESHEIM, 2014). No caso específico do tratamento temático, por apresentar
diferentes vertentes teóricas, metodológicas e procedimentos para seu desenvolvimento
(MEDEIROS; VITAL; BRÄSCHER, 2016), precisa ser melhor investigado.
A presente investigação volta-se justamente a tal perspectiva, na medida em que
objetiva analisar as abordagens e enfoques das pesquisas desenvolvidas sobre
tratamento temático da informação e publicadas na modalidade de artigo científico.
Parte-se do pressuposto que os estudos no tema orientam-se por uma ênfase teórica
detida especificamente às discussões sobre o TTI, sem muito foco nos instrumentos,
processos e produtos que o representam.
Considera-se aqui a falta de sedimentação conceitual do TTI (GUIMARÃES;
SALES, 2010). Assim sendo, a investigação auxilia na resolução da problemática de quais
as abordagens e enfoques predominantes nas produções científicas sobre tratamento
temático da informação, dimensionando a compreensão do mesmo e elencando
afirmações teóricas que esclareçam sobre essa relevante vertente de organização da
informação.
Em termos teóricos a pesquisa pode contribuir com o campo da organização do
conhecimento e, pontualmente, com os estudos teóricos acerca do tratamento temático
da informação. Em uma perspectiva prática a investigação permite aproximar os
elementos trabalhados nas pesquisas sobre TTI do escopo profissional e aplicado, posto
que lhes concede visibilidade.
2 ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO
A organização do conhecimento é uma área científica com vertente prática que
reflete a necessidade de ordenar para acessar, que organizar e representar são uma
preocupação humana (GUIMARÃES; PINHO; FERREIRA, 2012). De acordo com Souza
(2007, p. 104), na Biblioteconomia essas atividades direcionam-se “a duas funções
básicas: a de acesso a documentos em bibliotecas e a de recuperação do conteúdo
intelectual dos documentos pelos catálogos através do índice de assuntos”.
Mas a OC é, primeiramente, um campo de pesquisa e ensino associado à
Biblioteconomia e Ciência da Informação (HJØRLAND, 2016), com raízes históricas na
base teórica da classificação (LIMA, 2015). Na verdade, fortes vínculos entre o fazer
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biblioteconômico e os desenvolvimentos e avanços na própria concepção do
conhecimento (RENDON ROJAS; HERRERA DELGADO, 2010). Afinal, trata-se não apenas
de acessar e utilizar, mas de organizar o conhecimento disponível (GOMES, 2017).
Barité (2015, p. 120, tradução nossa) considera a organização do conhecimento
uma “área do conhecimento de formação recente”. A mesma concepção se em
Bettencourt (2014, p. 24), segundo a qual:
Embora a necessidade de organizar e transmitir seus conhecimentos
acompanhe o homem, desde a sua gênese, seja pela oralidade ou pela escrita, a
organização do conhecimento (OC) é disciplina de formação recente, e se
tornou valioso objeto de estudo da ciência da informação.
A organização do conhecimento estuda:
as leis, os princípios e os procedimentos pelos quais se estrutura o
conhecimento especializado em qualquer disciplina, com a finalidade de
representar tematicamente e recuperar a informação contida em documentos
de qualquer tipo, por meios eficientes que deem uma resposta rápida às
necessidades dos usuários. (BARITÉ, 2015, p. 120, tradução nossa).
Nesse sentido, organização do conhecimento “significa especialmente
organização de informação em registos bibliográficos, incluindo índices de citações,
registos de texto completos e a Internet” (HJØRLAND, 2003, p. 87, tradução nossa). É
ainda, “um campo sobre como classificar e indexar documentos” (HJØRLAND, 2013, p.
174, tradução nossa).
Para Guimarães et al. (2015, p. 14) a natureza operacional da OC encontra-se “ora
voltada à organização e representação de conceitos, ora voltada à busca de informação e
ao acesso aos conhecimentos, em especial diálogo com a recuperação da informação”.
Desse modo, a organização do conhecimento se preocupa “com aspectos de
organização e representação necessários para socialização dos conhecimentos também
materializados em documentos, entre outros aspectos” (ALVES; MORAES, 2015, p. 119).
Entretanto, a OC não lida somente com organização; “também aborda esquemas de
seleção, análise, procedimentos de transcodificação, representação e acesso a
suprimentos” (GARCÍA GUTIÉRREZ, 2002, p. 518, tradução nossa).
Para concretização de tais questões, a organização do conhecimento se dedica à
constituição de modelagens conceituais. A OC é, então, um tipo de organização aplicável
a unidades do pensamento (BRÄSCHER; CAFÉ, 2010). Logo, constitui-se como um
processo de construção de modelos de mundo (MELO, 2010).
Oliveira; Martínez-Ávila | Tratamento temático da informação
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Conforme Bräscher e Café (2010, p. 93), a organização do conhecimento “visa à
construção de modelos de mundo que se constituem em abstrações da realidade”. Na
perspectiva trazida por Hjørland (2013, p. 169, tradução nossa), OC é sobre conceitos e
suas relações semânticas (e ao mesmo tempo sobre o mundo real, aqui)”. Nesse ponto
vale um adendo sobre o conceito, que é justamente a parte fundamental que i
transmitir a ideia central do documento (CERVANTES; SUENAGA; RODRIGUES, 2017).
De acordo com Guimarães et al. (2015, p. 14) o objeto da organização do
conhecimento:
reside na estrutura do conhecimento contida nos documentos (conhecimento
registrado, socializado e publicado), com especial ênfase aos conceitos e à sua
modelagem assim como às atividades discursivas em domínios científicos e
práticas sociais e culturais específicos.
Assim sendo, a organização do conhecimento lida com a vertente de conteúdo,
sustentando ações de organização dos conjuntos informacionais na medida em que
subsidia a construção de instrumentos e estruturas conceituais. Alves, Oliveira e Grácio
(2015, p. 461), nessa perspectiva, caracterizam-na como “uma disciplina que trata do
desenvolvimento de técnicas para construção, gestão e uso, avaliação de classificações
científicas, taxonomias, nomenclatura e linguagens documentais”.
Mais do que os processos voltados à representação temática, a organização do
conhecimento se dedicará também ao desenvolvimento do instrumental necessário à
consecução de suas ações. Nessa via, Baptista (2013, p. 275) lembra que “organização do
conhecimento envolve agentes, objetos e processos”. E em conexão com a OC, tem-se o
tratamento temático da informação (RODRIGUES; CERVANTES, 2015).
3 TRATAMENTO TEMÁTICO DA INFORMAÇÃO
O tratamento temático da informação é uma subárea fundamental da
organização e representação do conhecimento (TARTAROTTI; DAL’EVEDOVE; FUJITA,
2015). Caracteriza-se como um conjunto de instrumentos, processos e produtos
voltados ao trato do conteúdo e que “abrange dois aspectos, o primeiro relacionado à
determinação do assunto e o segundo à sua especificação” (BRÄSCHER; GUIMARÃES,
2018, p. 243).
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O desenvolvimento do TTI “decorreu, historicamente, de uma necessidade
pragmática de tratamento documental” (GUIMARÃES, 2008, p. 78). É cotidianamente
colocado em prática em ações biblioteconômicas de representação do assunto contido
nos documentos, com emprego de instrumentos específicos e a consequente geração de
produtos característicos de cada processo técnico desse universo.
Na cadeia documental o tratamento temático é intermediário, mediando a
produção e o uso da informação (GUIMARÃES; SALES; GRÁCIO, 2012). Outrossim, no TTI
o profissional se volta à análise para evidenciar atributos temáticos. Para Rodrigues e
Cervantes (2014, p. 158) “o que sustenta a atividade da análise de assunto é o conteúdo
do documento”.
Guinchat e Menou (1994) esclarecem que essa descrição do conteúdo envolve
operações e também produtos delas resultantes. Sendo que, na literatura, recebe
denominações como análise documentária, análise temática, análise de assunto,
descrição de conteúdo e tratamento temático da informação (CAFÉ; SALES, 2010). Esta
última é aqui adotada.
A variação terminológica está também nos componentes do tratamento temático
e advém da evolução de diferentes correntes teóricas no campo. Pode-se evidenciar três
delas: catalogação de assunto, indexação e análise documental (GUIMARÃES; SALES,
2010).
Independentemente das variantes designadoras, o tratamento temático é a
representação do conteúdo por meio da análise documental (KOCHANI; BOCCATO;
RUBI, 2012), entendendo-se representar como o ato de produzir informação sobre
informação (VIEIRA; OLIVEIRA; CUNHA, 2017). Por sua vez, “a análise documental
implica no efetivo entendimento dos significados contidos nos documentos”
(DAL’EVEDOVE; FUJITA, 2013, p. 30).
Sousa (2013, p. 136) observa que, independentemente da época “o conteúdo dos
documentos se torna passível de socialização, a partir da devida importância que é dada
à sua organização. O foco não se resume à estocagem e centralização, mas no acesso às
informações”.
Conforme destacam Bräscher e Guimarães (2018, p. 243), “a distinção que
fazemos entre o TTI e descrição física por vezes não ocorre na prática”. Ainda assim,
deve-se discuti-lo à parte como forma de perceber suas particularidades e avançar na
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sua compreensão, sem esquecer de seu vínculo no tratamento da informação como um
todo. Fujita (2013, p. 149) lembra que o TTI:
[...] é parte das atividades e operações do tratamento da informação que
envolve o conhecimento teórico e metodológico disponível quanto ao
tratamento descritivo do suporte material da informação e ao tratamento
temático de conteúdo da informação.
Para Guimarães, Ferreira e Freitas (2012, p. 183) “o TTI refere-se
especificamente à análise, descrição e representação do conteúdo dos documentos com
vistas a sua posterior recuperação”. Basicamente:
O tratamento temático da informação (TTI) vem sendo estudado na área de
Ciência da Informação como um processo que visa essencialmente representar
e recuperar documentos a partir do seu conteúdo. (MEDEIROS; VITAL;
BRÄSCHER, 2016, não paginado).
Aborda-se então, no TTI, “o assunto existente no documento, compreendendo a
análise documentária como área teórica e metodológica” (SOUSA; FUJITA, 2013, p. 798).
Dessa maneira, o tratamento temático busca propiciar acessibilidade temática
(DAL’EVEDOVE; FUJITA, 2013), de modo que assume forte carga subjetiva (DIAS;
NAVES, 2013).
Em função disso, Sousa (2013, p. 138) destaca o tratamento temático como “uma
área desafiadora, possuindo a constante preocupação de tornar possível o acesso ao
assunto do documento”. E mais do que em seu objetivo, em sua constituição teórica
também se mostra um tanto subjetivo. Como afirmam Medeiros, Vital e Bräscher (2016,
não paginado) o tratamento temático tem como foco:
[...] o conteúdo dos documentos, aprofundar e discutir teórica e
metodologicamente a análise, síntese e a representação, buscando a
cientificidade de um processo complexo e, por vezes, tratado de forma subjetiva
na literatura.
As etapas de análise, síntese e representação “permitem que o conteúdo temático
do documento seja representado em forma de subprodutos em diferentes níveis de
especificidade” (DAL’EVEDOVE; FUJITA, 2013, p. 29). É nessa via que se pode afirmar
que o TTI engloba mais do que processos.
Assim sendo, para que possa cumprir com suas funções o tratamento temático da
informação faz uso de linguagens de indexação assim como normas para elaboração de
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resumo e manuais de indexação (DIAS; NAVES, 2013). Exige, por sua vez, que “o
profissional tenha a habilidade de extrair os conceitos representativos de documentos e
representá-los” (BRAZ; CARVALHO, 2017, p. 2498), bem como a capacidade de utilizar
os instrumentos que tem à sua disposição para esse fim.
No âmbito do tratamento temático o profissional desenvolverá os processos de
classificação, indexação e elaboração de resumos. Em decorrência destes gerará
notações, descritores e resumos, que viabilizarão cada qual a seu jeito, a representação
temática da informação contida no documento. Afinal, como ressaltam Guinchat e
Menou (1994, p. 121) “um mesmo documento pode ser objeto de diversas descrições de
conteúdo como a atribuição de um número de classificação, a sua indexação por uma
dezena de termos e o seu resumo”.
Tem-se na classificação a organização física dos documentos, pela adoção de
sistemas de classificação. com a indexação, alcança-se a formalização de produtos
representantes de textos originais, empregando vocabulários controlados (SALES,
2011). O resumo, por sua vez, “é um tipo de texto constituído a partir de um original, de
modo que evidencia as partes essenciais deste” (OLIVEIRA, 2018, p. 248).
Desse modo, o tratamento temático “abrange as atividades de análise, descrição e
representação, utilizando-se de instrumentos com o intuito de gerar produtos” (BRAZ;
CARVALHO, 2017, p. 2501). Constitui ão prática fundamental à busca e recuperação
por assunto.
4 METODOLOGIA
Na OC predominam abordagens sobre aspectos cognitivos, tecnológicos, lógico-
conceituais, socioculturais e de gestão (GUIMARÃES et al., 2015). A pesquisa em questão
dedica-se à dimensão teórica no tema, pois a organização do conhecimento “tem sido
principalmente uma atividade prática sem muita teoria” (HJØRLAND, 2007, p. 369,
tradução nossa).
O estudo, com ênfase sobre o tratamento temático da informação, é descritivo e
de natureza mista, ou seja, quali-quantitativa. Caracteriza-se ainda como pesquisa
bibliográfica, uma vez que contemplou coleta na literatura publicada, especificamente
artigos de periódicos nacionais da área de Ciência da Informação. Trabalhos oriundos de
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anais de evento, ainda que produzidos na modalidade de artigo científico, o
compuseram o escopo analisado, por englobarem outra natureza de apresentação.
A prospecção da produção científica foi feita na Base de Dados em Ciência da
Informação (BRAPCI), no mês de fevereiro de 2019. Conduziu-se busca pelo termo
“tratamento temático da informação”, contemplando todos os campos tulo, palavra-
chave e resumo – e com delimitação temporal de 1972 onde inicia a cobertura da base
– até 2018.
Obteve-se pela busca na BRAPCI, um conjunto de 42 artigos científicos. Esse
número foi posteriormente reduzido a 17, que representam de fato a amostragem
investigada. Isso porque 23 deles não versavam exatamente sobre o TTI, tendo sido
recuperados em função da opção de busca englobando os campos de título, palavra-
chave e resumo, que acabou por retornar registros que continham apenas as palavras
“tratamento” ou “temático” em um desses pontos e, portanto, sem vinculação com o
assunto foco da investigação. Havia também um trabalho oriundo de anais de evento e
um em duplicidade na base.
A análise dos artigos sobre TTI empregou sistematização estatística via gráfico e
análise de conteúdo. Essa última estabelecida em dois momentos: o primeiro para
checagem das publicações, como forma de constatar as que de fato versavam sobre o
assunto e, o segundo, para apreensão das categorias temáticas representativas.
A dimensão analítica foi feita, a princípio, mediante leitura de título, resumo e
palavras-chave das produções científicas. Por fim, diante da amostragem que realmente
abordava o tratamento temático, estendeu-se também para a introdução, a fim de
aprofundar a compreensão da abordagem presente em cada um dos artigos.
Priorizou-se, na segunda análise de conteúdo, o estabelecimento de categorias de
assunto a posteriori. Isso para não haver determinação temática prévia dos artigos
levantados e sim, com base no exame e reconhecimento de cada um.
5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Como descrito na metodologia, em um total de 42 artigos recuperados na
BRAPCI, apenas 17 fizeram parte da pesquisa (vide quadro 1).
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Quadro 1 – Artigos sobre TTI
BRÄSCHER, M.; GUIMARÃES, J. A. C. Tratamento temático da informação (TTI): influência dos
paradigmas físico, cognitivo e social em artigos de revisão de literatura no período de 1966-1995.
Liinc em Revista, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 241-258, nov. 2018.
BRAZ, M. I.; CARVALHO, E. S. de.
Práticas em tratamento temático da informação: interfaces de
ensino e aprendizagem. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v.
13, n. esp. CBBD 2017, p. 2496-2509, 2017.
CERVANTES, B. M. N.; SUENAGA, C. M. K.; RODRIGUES, M. R.
Os conceitos no tratamento da
informação arquivística: unidade basilar para a compreensão do conteúdo documental.
Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 22, n. esp., p. 131-151, jul. 2017.
DAL’EVEDOVE, P. R.; FUJITA, M. S. L. Estudo sociocultural da comunidade discursiva do
tratamento temático da informação em bibliotecas universitárias. Encontros Bibli: Revista
Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Florianópolis, v. 18, n. 36, p. 23-50, 2013.
DIAS, G. D.; CERVANTES, B. M. N. Tratamento temático da informação em periódicos científicos
eletrônicos na Biblioteconomia e Ciência da Informação. Informação@Profissões, Londrina, v. 2,
n. 1, p. 22-38, jan./jun. 2013.
GUIMARÃES, J. A. C.
A dimensão teórica do tratamento temático da informação e suas
interlocuções com o universo científico da International Society for Knowledge Organization
(ISKO). Revista Ibero-Americana de Ciência da Informação, Brasília, v. 1, n. 1, p. 77-99,
jan./jun. 2008.
GUIMARÃES, J. A. C.; SALES, R. de. Análise documental: concepções do universo acadêmico
brasileiro em Ciência da Informação. DataGramaZero Revista de Ciência da Informação, v. 11,
n. 1, fev. 2010.
GUI
MARÃES, J. A. C.; SALES, R. de; GRÁCIO, M. C. C.
A dimensão interdisciplinar da análise
documental nos contextos brasileiro e espanhol no âmbito da organização do conhecimento.
DataGramaZero – Revista de Ciência da Informação, v. 13, n. 6, dez. 2012.
KOCHANI, A. P.; BOCCATO, V. R. C.; RUBI, M. P. Política de indexação para clippings: otimização do
tratamento temático em coordenadorias de comunicação social brasileiras. Revista
Interamericana de Bibliotecología, Medellín, v. 35, n. 3, p. 257-273, 2012.
LINDEN, L. L.; BRÄSCHER, M. O tratamento temático da informação em instrumentos normativos
de descrição arquivística. Em Questão, Porto Alegre, v. 24, n. 3, p. 96-124, set./dez. 2018.
MACHADO, V. F.; ALBUQUERQUE, A. C. de. A representação temática da xilogravura: o processo de
indexação da coleção Paulo Menten. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina,
Florianópolis, v. 21, n. 3, p. 856-873, 2016.
REDIGOLO, F. M.; SILVA, M. V. da. A representação temática como mediadora implícita da
informação em bibliotecas universitárias. PontodeAcesso, Salvador, v. 11, n. 2, p. 49-69, ago.
2017.
RODRIGUES, M. R.; CERVANTES, B. M. N. Análise de assunto e mapas conceituais: semelhanças
nos processos. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 20, n. 4, p. 35-56,
out./dez. 2015.
RODRIGUES, M. R.; CERVANTES, B. M. N.
Organização e representação do conhecimento por meio
de mapas conceituais. Ciência da Informação, Brasília, v. 41, n. 1, p. 154-169, jan./jun. 2014.
SOUSA, B. P. de. Representação temática da informação documentária e sua contextualização em
biblioteca. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 9, n. 2, p. 132-
146, jul./dez. 2013.
SOUSA, B. P. de; FUJITA, M. S. L. A classificação bibliográfica no contexto do tratamento temático
da informação: um estudo com protocolo verbal individual em bibliotecas do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia (IF's). Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina,
Florianópolis, v. 18, n. 1, p. 796-813, jan./jun. 2013.
VIEIRA, A. P. da F.; OLIVEIRA, L. P.; CUNHA, T. M. Incursões sobre o tratamento temático da
informação: estudo da política de indexação em bibliotecas universitárias goianas. Informação
em Pauta, Fortaleza, v. 2, n. 1, p. 28-49, jan./jun. 2017.
Fonte: Elaborado pelos autores (2019).
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Logo, do conjunto de 17 trabalhos que efetivamente compuseram o escopo
analítico da investigação, nota-se a concentração da maioria deles em anos mais
recentes. Como demonstra o gráfico a seguir, quatro artigos foram publicados no ano de
2017 e outros quatro em 2013:
Gráfico 1 – Ano das publicações sobre TTI
0 1 2 3 4 5
2008
2010
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
Fonte: Elaborado pelos autores (2019).
Nos anos de 2018 e 2012 foram publicados dois artigos. Nas demais ocasiões
2016, 2015, 2014, 2010 e 2008 apareceu apenas um trabalho sobre tratamento
temático. Além de tal distribuição, pode-se perceber a margem de 10 anos sobre a qual
se instauram as publicações no tema TTI, quase que sequencialmente, iniciando em
2008 e encerrando em 2018, com exceção de 2009 e 2011, nos quais não houve artigos.
Logo, pode-se considerar que se trata de um assunto recentemente iniciado nos
artigos científicos nacionais de Ciência da Informação. Mas apesar disso, tem tido certa
representatividade na medida em que apareceu no mínimo uma vez a cada ano, desde
2008.
Entretanto, considerando a relevância do tratamento temático na cadeia
documental no papel de mediar a produção e o uso da informação (GUIMARÃES; SALES;
GRÁCIO, 2012), é importante que haja um número mais vultoso de publicações no
assunto, até mesmo para apoiar as atividades práticas desempenhadas nesse universo.
Lembrando também que se trata de uma área desafiadora (SOUSA, 2013). De modo que
as pesquisas são uma forma de dirimir e esclarecer as muitas vertentes teóricas,
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metodológicas e procedimentos (MEDEIROS; VITAL; BRÄSCHER, 2016) que o tema traz
consigo.
que se considerar, claro, que em anos pregressos o tratamento temático pode
ter aparecido em vinculação com outros assuntos e dimensões da Biblioteconomia e
Ciência da Informação, mas não como tema central dos artigos. Razão pela qual não ficou
evidenciado em maior quantidade no levantamento ora apresentado e discutido, que
buscou justamente constatar em que ponto tem tido, ou não, protagonismo nas
produções científicas.
Com relação à abordagem predominante nos artigos publicados sobre TTI, tem-
se o seguinte:
Gráfico 2 – Abordagem das publicações sobre TTI
5,8%
5,8%
5,8%
5,8%
5,8%
11,7%
11,7%
11,7%
35,2%
Análise de assunto
Análise documental
Classificação
bibliográfica
Conceito
Linguagem
documentária
Organização e
representação do
conhecimento
Política de indexação
Representação
temática
Tratamento temático
da informação
Fonte: Elaborado pelos autores (2019).
Como se pressupunha, artigos que tratavam do tratamento temático em si foram
maioria. Representam seis trabalhos ou 35,2%. Assuntos como análise documental,
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política de indexação e representação temática aparecem cada qual em dois artigos
(11,7%). E em abordagem única (5,8%) surgem: classificação bibliográfica, conceito,
linguagem documentária e organização e representação do conhecimento.
Constata-se, desse modo, que o predomínio é sobre produções que discorrem
sobre o próprio tratamento temático. Essa preponderância é indicativa da necessidade
que a área de Ciência da Informação sente de conceituar e discutir o que é, como
acontece e em que vias se estabelece o TTI. O fato da organização do conhecimento
integrar seu universo epistemológico (GUIMARÃES, 2008) pode ser uma das razões para
essa ênfase também, posto que conforme avança, abre prerrogativas de pesquisa para o
seu entorno.
Vale lembrar que o desenvolvimento de um maior número de pesquisas sobre o
tratamento temático em si é uma forma de lhe dar cientificidade e dirimir a abordagem
subjetiva de que falam Medeiros, Vital e Bräscher (2016). Mas é sabido que o tratamento
temático engloba atividades, instrumentos e produtos (BRAZ; CARVALHO, 2017).
Ainda assim, como demonstram os dados, pouco expressivas são as abordagens
sobre os elementos do tratamento temático. É positivo o fato de se constatarem, em
maior número, pesquisas sobre uma das correntes do TTI a análise documental; um
instrumento crucial na execução de um de seus processos a política de indexação; e
uma ação que lhe é característica – a representação temática. Contudo, é um quantitativo
baixo. Além disso, não é aceitável a pequena interface da análise de assunto, da
classificação, do conceito, da linguagem documentária e mesmo do macroprocesso que é
a organização e representação do conhecimento, com o tratamento temático.
A vinculação moderada ou praticamente escassa entre tratamento temático e as
correntes, instrumentos e ações que lhe são inerentes, demonstra que as pesquisas
ainda precisam caminhar no sentido de evidenciar claramente o universo que é
englobado nesse contexto. Aspecto esse que reforça sua falta de sedimentação
conceitual (GUIMARÃES; SALES, 2010).
em relação ao enfoque dos artigos, observa-se que nove (52,9%) são teóricos,
incidindo sobre a literatura com pesquisas bibliográficas ou documentais e pautando-se
na discussão e teorização sobre o tema TTI, enquanto que oito (47%) são aplicados,
trazendo constatações práticas a partir de coleta de campo junto a sujeitos ou
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instituições e arrolando dados de ordem analítica e interpretativa. O gráfico abaixo
demonstra os percentuais:
Gráfico 3 – Enfoque das publicações sobre TTI
47%
52,9%
Teórico
Aplicado
Fonte: Elaborado pelos autores (2019).
Assim, apesar de repartição bastante equilibrada, demonstra-se que as pesquisas
em tratamento temático, publicadas na modalidade de artigo científico, trazem em sua
maioria uma faceta mais conceitual, de princípios opinativos, discussão e exploração de
ideias. Mais uma vez, esse cenário reitera a preocupação com a elaboração de estudos
capazes de explorar, lançar hipóteses e tecer considerações iniciais nesse assunto com
forte carga subjetiva (DIAS; NAVES, 2013).
Entretanto, pelas dimensões envolvidas nessa subárea fundamental da
organização e representação do conhecimento (TARTAROTTI; DAL’EVEDOVE; FUJITA,
2015), é importante que haja mais investigações, tanto de ordem teórica quanto
aplicada. Inclusive porque isso representaum crescimento para o TTI e também para
a OC.
6 CONCLUSÃO
A investigação buscou analisar as abordagens e enfoques das pesquisas
desenvolvidas sobre tratamento temático da informação e publicadas na modalidade de
artigo científico. Constatou-se que as produções científicas versam, em sua maioria,
sobre o TTI em si e em um enfoque teórico.
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Nesse sentido, o pressuposto segundo o qual os estudos no tema orientam-se por
uma ênfase teórica detida especificamente às discussões sobre o TTI, sem muita ênfase
nos instrumentos, processos e produtos que o representam, foi confirmado. Questão que
acaba por demonstrar a preocupação com a solidificação do tratamento temático para
depois partir à exploração das ferramentas, atividades e objetos resultantes.
A evidência do tema em muitos dos trabalhos surgia no título. Em outros, a
constatação foi possível a partir de uma análise mais detida ao resumo e à introdução.
Essa referência ao assunto tratamento temático antes mesmo que se chegue ao texto é
positiva porque expressa a preocupação de realçá-lo, demonstrando que está ali, ainda
que não seja o principal foco do autor.
Estudos futuros podem se dedicar ao aprofundamento sobre as outras instâncias
das produções sobre tratamento temático da informação. Atores que têm alavancado as
discussões, por exemplo, assim como correntes priorizadas naquelas que se estabelecem
sobre uma vertente mais conceitual. Além disso, é possível um maior aprofundamento
acerca do vínculo entre o TTI e a área que o agrega, possibilitando enaltecer a
organização do conhecimento a partir de seu elo teorizante, tão válido quanto o
aplicado.
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ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA PUBLICADA NA REVISTA
INFORMAÇÃO & SOCIEDADE NO PERÍODO DE 2011 A 2017
BIBLIOMETRIC ANALYSIS ON SCIENTIFIC PRODUCTION PUBLISHED BY THE INFORMAÇÃO &
SOCIEDADE JOURNAL FROM 2011 TO 2017
Ana Cláudia Carvalho de Miranda¹
Bruno Duarte Freire²
Nadia Aurora Vanti Vitullo³
¹ Mestra em Administração pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Graduada em Biblioteconomia pela Universidade
Federal do Ceará (UFC).
E-mail: anaclaudia.biblio@gmail.com
² Graduado em Biblioteconomia pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Técnico em Logística pela UNINASSAU.
E-mail: freireduarte@yahoo.com
³ Pós-Doutora pela Universidad Carlos III de
Madrid. Doutora em Comunicação e Informação
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS).
E-mail: nadia.ufrn@gmail.com
ACESSO ABERTO
Copyright: Esta obra está licenciada com uma
Licença Creative Commons Atribuição 4.0
Internacional.
Conflito de interesses: A autora declara que
não há conflito de interesses.
Financiamento: Não há.
Declaração de Disponibilidade dos dados:
Todos os dados relevantes estão disponíveis
neste artigo.
Recebido em: 29/07/2019.
Aceito em: 13/09/2019.
Revisado em: 15/11/2019.
Como citar este artigo:
MIRANDA, Ana Cláudia Carvalho de; FREIRE,
Bruno Duarte; VITULLO, Nadia Aurora Vanti.
Análise bibliométrica da produção científica
publicada na revista Informação & Sociedade no
período de 2011 a 2017. Informação em Pauta,
Fortaleza, v. 4, n. 2, p. 101-120, jul./dez. 2019.
DOI: 10.32810/2525-
3468.ip.v4i2.2019.41709.101-120.
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo traçar o perfil
dos autores e caracterizar os artigos publicados
na Revista Informação e Sociedade: Estudos,
entre 2011 a 2017, atualizando estudos
anteriores realizados. Para tanto, realizou-se
uma pesquisa documental no acervo on-line da
revista, por meio do levantamento da produção
acadêmica publicada, neste recorte temporal e,
posteriormente, fez-se uma análise bibliométrica.
Entre os principais resultados encontrados,
destaca-se que a maioria dos artigos são
publicados em coautoria, exigindo-se que pelo
menos um dos autores tenha a titulação de
doutor. Além disso, verificou-se um crescimento
exponencial na quantidade de artigos publicados
em 2017, com ênfase para os relatos de pesquisa.
Sobre as 7.626 referências encontradas,
verificou-se o seguinte resultado: a tipologia mais
identificada é o livro; o periódico mais citado foi
a revista Ciência da Informação; e o idioma mais
frequente nos artigos é o português. com
relação a periódicos internacionais, cumpre
informar que os seis mais citados possuem
estrato A1 no Qualis. Conclui-se, portanto, que o
presente estudo permitiu uma análise mais
detalhada da produção científica publicada ao
longo dos anos investigados, ratificando outros
estudos que apontam que a revista I&S
representa um instrumento importante de
divulgação do conhecimento para a Ciência da
Informação e áreas afins, em razão do excelente
nível dos artigos publicados.
Inf. Pauta
Fortaleza, CE
v. 4
n. 2
jul./dez. 2019
ISSN 2525-3468
DOI: https://doi.org/10.32810/2525-3468.ip.v4i2.2019.41709.101-120
ARTIGO
102
Miranda; Freire; Vitullo | Análise bibliométrica da produção científica da Revista I&S
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
Palavras-chave: Análise bibliométrica. Análise
de referências. Produção científica. Informação &
Sociedade: Estudos.
ABSTRACT
This work aims to profile of authors and point out
characteristics of articles published in the
scholarly journal Informação & Sociedade:
Estudos between 2011 to 2017. Thus, a
bibliographic research was realized considering
the journal´s online collection. A survey was done
regarding the published academic production in
the time frame followed by a bibliometric
analysis. Amongst the main results, it was seen
that the great majority of articles are published in
co-authoring pattern, requiring at least one of the
authors to have a PhD. In addition to this, there
was an exponential growth in the number of
articles published in 2017, with emphasis on
research reports. Of the 7,626 references, the
most common were books, the most cited
periodical was the Ciência da Informação; and
Portugues was the most common language.
Regarding international journals, it should be
noted that the six most cited have A1 strata.
Therefore, it is possible to conclude that the
present study allowed a more detailed analysis of
the scholarly production published during the
cited time frame as well as to confirm previous
studies, that the journal represents an important
knowledge dissemination tool for Information
Science and related areas due to the excellent
level of published articles.
Keywords: Bibliometric analysis. Bibliographical
analysis. Scholarly production. Informação &
Sociedade: studies.
1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas do século XV logo após a revolução industrial , ocorreu o
avanço da imprensa de tipos móveis de Gutenberg, ocasionado a difusão da informação
que, por sua vez, colaborou com o aumento da produção e da circulação do conhecimento.
Em razão disso, deu-se início à transformação na história da transmissão de saberes
(TOMÁS, 2005). Assim, o desenvolvimento da ciência ocorreu de forma concomitante a
invenção da imprensa, pois havia troca de documentos (cartas, monografias e livros),
preferencialmente, em latim, língua utilizada na Europa de então pelas pessoas cultas.
As primeiras revistas científicas surgiram no início do século XVII, na Europa, com
a criação das sociedades e academias científicas, as quais tinham como objetivo reunir
especialistas para comentar e discutir temas de interesse acadêmico ou social.
Atualmente, vivemos na Era da Informação e do Conhecimento, a qual é marcada
pelo fluxo constante na produtividade de novos conhecimentos acadêmicos como
elemento decisivo no processo global de desenvolvimento, gerando um ambiente
favorável para os avanços científicos e tecnológicos, considerando a informação como
fator relevante da publicação científica, mais especificamente os periódicos.
Nesse sentido, Miranda, Carvalho e Ramos (2016, p. 578) enfatizam que ‘‘a
comunicação científica é uma das etapas do processo da produção do conhecimento’’
devido à importância de divulgação do conhecimento científico. A esse respeito, Targino
Miranda; Freire; Vitullo | Análise bibliométrica da produção científica da Revista I&S
103
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
(2007) considera que a comunicação científica é imprescindível para que a produção
científica se expanda, ultrapassando mais rapidamente as fronteiras da comunidade de
usuários, de forma a evitar que tal produção se torne algo de proveito nulo ou restrito.
No Brasil, a produção científica cresce expressivamente em todos os campos do
conhecimento. De acordo com o relatório do último censo realizado pelo Diretório dos
Grupos de Pesquisa do CNPq realizado em 2016 , existem 199.566 pesquisadores
cadastrados no país, distribuídos em 37.640 grupos de pesquisa e atuando em 530
instituições.
Digiampietri et al. (2012) reconhecem o crescimento exponencial da produção
científica no Brasil nas últimas décadas, pois tal fato estimula o interesse em compreender
o desenvolvimento contínuo dessa produção no cenário nacional.
Hoje, sabe-se que o processo científico tem experimentado transformações
significativas na forma de coletar, de organizar, de produzir e, especialmente, de difundir
a informação e o conhecimento. De acordo com Gallotti (2017), a difusão da informação e
do conhecimento advém da comunicação científica, que é a sua essência. Nessa
perspectiva, Garvey (1979) ressalta que a disseminação da informação permite que o
conhecimento seja referendado, validado e reutilizado, gerando inovação e
desenvolvimento.
Para acompanhar a evolução da ciência, as revistas científicas se modernizaram a
fim de dar maior visibilidade e atender de forma satisfatória à comunidade acadêmica
mediante os meios eletrônicos, sendo um desafio constante frente aos avanços
progressivos do uso da Internet, cada vez mais frequente.
Seguindo nessa mesma linha, Krzyzanovski e Ferreira (2003) e Strehl (2005)
afirmam que o crescente número de novos periódicos científicos nos diferentes suportes,
em conjunção com a proliferação de artigos publicados, requer aperfeiçoamentos
permanentes nos instrumentos de avaliação.
Dessa forma, decidiu-se eleger o periódico científico Informação & Sociedade:
Estudos (I&S), com o recorte temporal dos artigos publicados no período de 2011 a 2017,
para realizar um estudo bibliométrico. Sabe-se que, desde o início, este periódico já
publicava artigos de elevado padrão acadêmico, e, progressivamente, foi se
transformando em uma importante publicação científica especialmente nas áreas de
Comunicação e Informação. Este foi, portanto, o impulso que se levou em conta para
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
analisar e mapear, entre outros itens, o perfil dos autores e das referências citadas em
artigos publicados no periódico.
Feita essa breve explanação, abordar-se-á, na próxima seção, a metodologia
utilizada nesta pesquisa.
2 METODOLOGIA
O presente estudo foi desenvolvido, inicialmente, por meio de uma pesquisa
documental no acervo da revista I&S, em que se fez um levantamento da produção
acadêmica publicada no período de 2011 a 2017. Na visão de Fachin, a pesquisa
documental corresponde:
[...] a toda informação de forma oral, escrita ou visualizada. Ela consiste na coleta,
classificação, seleção difusa e utilização de toda espécie de informações,
compreendendo também as técnicas e os métodos que facilitam a sua busca e a
sua identificação (FACHIN, 2005, p. 136).
Posteriormente, para análise e tratamento dos dados investigados referentes a
cada artigo, utilizou-se a Bibliometria que, segundo Guedes e Borschiver (2005),
quantifica, descreve e prediz o processo de comunicação escrita. Nessa etapa, realizou-se
um fichamento de cada artigo para extrair as seguintes variáveis para análise, a saber: (i)
perfil da autoria (gênero, número de autores por artigo e titulação); (ii) tipologia das
publicações; (iii) número de referências empregadas por artigos; (iv) quantidade de
referência por tipo de fonte de informação; (v) periódicos nacionais e internacionais mais
citados; e (vi) idioma dos artigos.
3 REVISTA CIENTÍFICA INFORMAÇÃO & SOCIEDADE: estudos
Os cursos de pós-graduação normalmente procuram manter um periódico científico
para que professores, alunos e pesquisadores possam divulgar trabalhos resultantes do
processo de ensino, tais como: pesquisas de graduação, mestrado, doutorado e pós-
doutorado.
Nessa esteira, a revista I&S é um periódico da área da Ciência da Informação,
vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade
Federal da Paraíba, em circulação desde 1991. Atualmente é uma das três revistas
brasileiras da área de Ciência da Informação incluídas no Journal Citation Reports (JCR
Miranda; Freire; Vitullo | Análise bibliométrica da produção científica da Revista I&S
105
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
Web), do Institute for Scientific Information (ISI Web of Knowledge) (INFORMAÇÃO &
SOCIEDADE: ESTUDOS, 2019).
A I&S está classificada no quadriênio 2013-2016 pelo Qualis Periódicos”, sistema
que avalia os periódicos acadêmicos no Brasil, da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes) em 12 áreas de avaliação, a saber: com o conceito A1,
na área de Comunicação e Informação: B1, nas áreas de Administração Pública e de
Empresas, Ciências Contábeis e Turismo, Arquitetura, Urbanismo e Design, Ciências
Ambientais, Educação e Interdisciplinar; B2, nas áreas de Enfermagem, Engenharia III e
Antropologia/Arqueologia; B4, em Biotecnologia; e B5, para as áreas Letras/Linguística e
Medicina Veterinária. (CAPES, 2018).
Em 16 julho de 2019, a Capes divulgou por meio do Ofício 6/2019-
CGAP/DAV/CAPES os novos estratos Qualis estabelecidos para avaliação dos periódicos
científicos, tomando por base os indicadores que consideram o número de citações do
periódico dentro de três bases: Scopus (CiteScore), Web of Science (Fator de Impacto) e
Google Scholar (índice h5). Foi levada em consideração a categoria de área que cada base
enquadra o periódico e a sua posição relativa dentro dela. Assim, o valor absoluto não foi
considerado, mas sim o percentil que o periódico dentro das categorias. Dessa forma, caso
a lista preliminar fornecida pela Capes seja definitiva, a revista I&S passará a classificada
como A2. (CAPES, 2019).
Seu objetivo é divulgar trabalhos que representem contribuição para o
desenvolvimento de novos conhecimentos em Ciência da Informação, Biblioteconomia em
suas diversas subáreas e interfaces entre pesquisadores, docentes, discentes e demais
profissionais, independente de vinculação profissional e local de origem.
Possui abrangência nacional e internacional, adotando a estrita revisão por pares.
Por ser uma publicação vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação da UFPB, a revista adota uma política editorial de distribuição da produção
local de modo a não privilegiar autores internos, conforme se observa nos sumários em
todo período estudado. A política editorial da I&S está aberta a variadas perspectivas
pelas quais os cientistas da informação observam a informação na sociedade.
A expectativa é de que a revista contribua para trocas comunicativas sobre relatos
de estudos, reflexões e proposições dos cientistas da informação do Brasil e do mundo. A
I&S é de livre acesso e possuiu periodicidade quadrimestral desde 2007, mas, em 2019,
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
passou a ser publicada trimestralmente, sendo indexada em importantes bases de dados,
como a CLASE; DOAJ; Infobila; Latindex; Lisa; Web of Science Portal da
Capes; OAister; Scopus/Elsevier. Ao longo de sua trajetória, a I&S caracterizou-se pela
regularidade e qualidade dos artigos publicados, pela correção e rigor editorial, além da
abrangência nas abordagens dos conteúdos e da procedência institucional dos autores.
(INFORMAÇÃO & SOCIEDADE: ESTUDOS, 2019).
Ultimamente, avança a preocupação com a segurança de objetos digitais na Internet.
Para tanto, foi criado o Digital Object Identifier System (DOI) que, por sua vez, é um
instrumento que possibilita localizar e acessar materiais na web, principalmente,
publicações periódicas e obras protegidas por copyright, muitas das quais localizadas em
bibliotecas virtuais (BARROS, CASTRO e ARELLANO, 2018). Assim, a inserção do DOI na
revista I&S iniciou-se, em 2017, assumindo um compromisso no qual os artigos
publicados não vão mudar de localização ou, caso mudem, tomarão o redirecionamento
necessário.
No próximo tópico, serão exibidos os principais resultados obtidos na pesquisa
realizada, por meio da utilização de tabelas, sobre as quais se fará uma análise do ponto
de vista da estatística, assim como uma interpretação crítica.
4 RESULTADOS
Nesta seção, são apresentados os resultados da pesquisa a partir dos dados
coletados entre 2011 a 2017, incluindo primeiramente o perfil dos autores: gênero,
número de autores por artigo e titulação; seguido pela caracterização dos artigos:
tipologia dos textos presentes nos fascículos, número de referências utilizadas nos artigos
publicados, tipologia dos documentos referenciados nas publicações, periódicos
nacionais e internacionais mais utilizados nas referências e idioma dos artigos publicados.
4.1 Perfil dos autores
O perfil dos autores dos artigos publicados no periódico I&S (2011-2017) foi
pesquisado, levando-se em conta as seguintes variáveis: gênero (Tabela 1), quantidade de
autores por artigo (Tabela 2) e a titulação (Tabela 3).
Miranda; Freire; Vitullo | Análise bibliométrica da produção científica da Revista I&S
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
Tabela 1 Gênero dos autores na I&S, no período de 2011-2017
Ano da publicação
Feminino
Masculino
2011
51
32
2012
57
45
2013
52
35
2014
44
29
2015
47
33
2016
72
42
2017
92
70
Total
415
286
Fonte: Elaborado pelos autores (2018).
Com base na Tabela 1, pode-se perceber que, em todos os anos analisados, existe
um predomínio de autoria do gênero feminino, com 415 artigos, correspondendo a
59,20%, contra 286 do gênero masculino, representando 40,80% de um total de 701
autores que produziram artigos para a revista entre 2011 e 2017.
Nessa perspectiva, pode-se inferir que o predomínio de autores do gênero
feminino se pelo fato de os cientistas (pesquisadores) que possuem formação
acadêmica nas áreas vinculadas à Ciência da Informação (Biblioteconomia, Arquivologia,
Museologia etc.) serem, em sua maioria, mulheres. Embora nos últimos anos o ingresso
do público masculino nas áreas supracitadas tenha se expandido, ainda prevalece a maior
procura por parte das mulheres.
Tabela 2 Quantidade de autores por artigos na I&S, no período 2011-2017
Ano da publicação
1 autor
2 autores
3 autores
Mais de 3 autores
2011
6
22
6
4
2012
21
20
9
3
2013
3
19
8
6
2014
3
19
11
0
2015
8
16
8
5
2016
7
15
15
7
2017
7
29
12
7
Total
55
140
69
32
Fonte: Elaborado pelos autores (2018).
A Tabela 2 permite evidenciar que a maioria dos artigos publicados na revista I&S,
no período correspondente a 2011-2017, possui coautoria, com destaque para publicação
com dois autores (140), seguido de três autores (69) e depois por um autor (55).
Pode-se inferir que essa quantidade de artigos publicados em coautoria é oriunda
das pesquisas científicas discentes, como também pelo fato de a revista fonte desta
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Miranda; Freire; Vitullo | Análise bibliométrica da produção científica da Revista I&S
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pesquisa priorizar a publicação de artigos elaborados por autores com titulação de
doutor.
Tabela 3 Titulação dos autores na I&S, no período 2011-2017
Titulação dos
autores
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
Total
Pós-doutor
2
1
2
0
0
6
1
11
Doutor
44
65
56
49
63
79
94
451
Doutorando
8
6
8
10
9
13
16
70
Mestre
16
7
8
12
10
8
13
74
Mestrando
7
7
8
2
1
4
9
38
Especialista
1
0
1
1
0
0
3
6
Graduado
3
12
3
0
2
5
2
30
Graduando
2
1
1
0
1
1
5
11
Total
83
99
87
74
86
116
143
688
Fonte: Elaborado pelos autores (2018).
Em relação aos dados obtidos na Tabela 3, verifica-se que a titulação da maioria
dos autores que publicaram na revista no período analisado é de doutorado, uma vez que
a I&S possui estrato Qualis A1 e tem como exigência para publicação de artigos a presença
de pelo menos um autor com título de doutor. Essa tendência tem sido adotada por vários
periódicos bem classificados pela Capes, a fim de garantir o alto vel das publicações
científicas por autores doutores.
4.2 Caracterização dos artigos
Nesta parte, é apresentada a caracterização dos artigos publicados na revista I&S:
Estudos, no período citado, por meio de tabelas que mostram a tipologia das
publicações (Tabela 4), o número de referências encontradas nos artigos por ano (Tabela
5), a tipologia dos documentos referenciados nas publicações (Tabela 6) e, ainda dentro
desta categoria, os periódicos mais utilizados (Tabela 7), se desdobrando em nacionais e
internacionais (Tabela 8). Por fim, a Tabela 8 nos traz os idiomas utilizados nos artigos da
revista em tela no período analisado.
A Tabela 4 apresenta o quantitativo dos artigos publicados no período analisado,
2011-2017, correspondente a cada ano e à tipologia dos textos presentes nos fascículos
referentes a cada ano de publicação mapeado.
Miranda; Freire; Vitullo | Análise bibliométrica da produção científica da Revista I&S
109
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Tabela 4 Tipologia das publicações na I&S, no período 2011-2017
ANO
AR
MC
RE
RP
PA
TOTAL
2011
12
5
2
15
3
37
2012
13
10
4
21
1
49
2013
14
1
1
17
1
34
2014
8
6
3
15
2
34
2015
11
7
0
17
1
36
2016
11
9
2
24
0
46
2017
17
6
2
32
3
60
TOTAL
86
44
14
141
11
296
Fonte: Elaborado pelos autores (2018).
Legenda: AR Artigo de Revisão. MC Memórias Científicas. RE Relato de Experiência. RP Relato de
Pesquisa. PA Pesquisa em Andamento.
Das 311 publicações na I&S, foram consideradas apenas 296 conforme
demonstrado na Tabela 4, correspondendo às seguintes tipologias: artigo de revisão,
memórias cientificas, relato de experiência, relato de pesquisa, pesquisas em andamento
e ponto de vista. Cumpre informar que não foram levados em consideração 15 publicações
referentes às seguintes tipologias: resumos de dissertação, resenha, ponto de vista e
entrevistas.
Constatou-se que relato de pesquisa foi a tipologia que obteve a maior quantidade
de publicações, com 141 ocorrências, o que demonstra uma preponderância por parte dos
pesquisadores divulgando os resultados de seus estudos e investigações.
Aparece, em seguida, o artigo de revisão, com 86 casos, revelando o esforço e
interesse dos autores em realizar revisões integrativas da literatura, contribuindo para o
avanço da área da Ciência da Informação.
A esse respeito é válido mencionar o estudo anterior de Albuquerque e Dias (2012)
sobre o mapeamento do periódico I&S, em dez anos de sua trajetória, no período de 1991
a 2000. Esse mapeamento apresentou uma inversão do resultado obtido na presente
pesquisa, tendo o artigo de revisão se destacado com 187 publicações, mais do que as 124
ocorrências do relato de pesquisa.
Ramalho (2012), em sua pesquisa documental, cujo objetivo foi mapear e analisar
a presença da temática Necessidades de informação na I&S (2012), entre os anos de 2002
e 2011, identificou a produção científica publicada: a primeira colocada foi o artigo de
revisão, com 107 eventos, ficando em segundo lugar o relato de pesquisa, tendo sido
contabilizado 92 vezes. As posições atingidas quanto à tipologia das publicações, nesse
estudo, coincidem com as de Albuquerque e Dias (2012).
110
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
Com base nos dados apresentados, é possível inferir que o crescimento dos cursos
de pós-graduação stricto sensu, nos últimos anos, tem contribuído para a maior divulgação
dos resultados de pesquisas. Tal cenário é refletido, com maior intensidade, nos
resultados correspondentes aos anos de 2016 e 2017 desta pesquisa.
4.3 Número de referências encontradas nos artigos
Os artigos publicados pela I&S devem apresentar conteúdo original e texto
normalizado conforme Normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Considerando o período investigado 2011-2017, a I&S publicou um total de 296
artigos científicos em 22 fascículos, perfazendo uma média de 13,59 artigos por fascículos.
No que diz respeito às referências desses artigos, o total contabilizado foi de 7.626
ocorrências que, distribuídas entre o total de artigos publicados no período, dão uma
média de 26 referências por artigo. Conforme a Tabela 5, é possível verificar a quantidade
de referências publicadas nos artigos anualmente.
Tabela 5 Número de referências utilizadas nos artigos publicados na I&S (2011-2017)
Ano da publicação
Quantidade de artigos
publicados
Quantidade de
referências
Número de referência
por artigo
2011
37
949
26
2012
49
1098
22
2013
34
923
27
2014
34
854
25
2015
36
907
25
2016
46
1432
31
2017
60
1463
24
TOTAL
296
7626
26
Fonte: Elaborado pelos autores (2018).
De acordo com os dados apresentados na Tabela 5, o ano que apresentou o maior
número de artigos publicados foi 2017, o que equivale a 60. Dentre o total, nota-se um
crescimento na quantidade de artigos publicados, a partir do ano de 2015, e,
consequentemente, um aumento na quantidade de referências. No entanto, a média de
referências por artigos, com maior percentual apresentado, correspondeu ao ano de 2016
(31%) e 2013 (27%).
Vale destacar, ainda, que, apesar de no ano de 2017 terem sido publicados 14
artigos a mais do que em 2016, a revista permaneceu com publicação quadrimestral.
Miranda; Freire; Vitullo | Análise bibliométrica da produção científica da Revista I&S
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Tabela 6 Tipologia dos documentos referenciados nas publicações da I&S (2011-2017)
Tipo de
Documento
Quant. de referências Valor absoluto
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
TOTAL
Livros
Livro nacional
200
253
182
213
182
287
364
1.681
Livro
internacional
74
91
120
70
127
172
153
807
Capítulo de
livro nacional
66
79
39
39
50
69
43
385
Capítulo de
livro
internacional
20
25
36
22
63
35
52
253
Total
360
448
377
344
422
563
612
3.126
Periódicos
Artigo nacional
145
186
160
171
164
223
277
1.326
Artigo nacional
não científico
(divulgado)
0
0
0
0
0
2
0
2
Artigo
internacional
223
184
158
74
167
329
291
1426
Total
368
370
318
245
331
554
568
2.774
Eventos
Trabalho em
evento nacional
8
8
5
5
4
14
8
52
Trabalho em
evento nacional
em meio
eletrônico
0
0
0
2
0
2
3
7
Trabalho em
evento
internacional
9
7
6
4
6
1
1
34
Trabalho em
evento
internacional
em meio
eletrônico
1
2
0
1
0
3
1
8
Total
18
17
11
12
10
20
13
101
Literatura
cinzenta
Monografia
3
2
3
6
1
2
2
19
Dissertação
24
25
21
26
13
29
29
167
Tese
17
28
10
18
19
28
17
137
Total
44
55
34
50
33
59
48
323
Miscelânea
Anais
37
47
49
27
21
101
52
334
Legislação
16
16
12
12
7
1
13
77
Norma
6
9
0
12
4
7
3
41
Obra de
referência
12
4
4
4
8
17
3
52
Obra de
referência em
meio
eletrônico
0
0
2
0
0
0
0
2
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Miranda; Freire; Vitullo | Análise bibliométrica da produção científica da Revista I&S
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
Tipo de
Documento
Quant. de referências Valor absoluto
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
TOTAL
Documento
somente em
meio
eletrônico
38
78
98
120
58
48
141
581
Outros
50
55
18
28
13
62
10
236
Total
159
208
183
203
111
236
222
1.302
Total
949
1.098
923
854
907
1.432
1.463
7.606
Fonte: Elaborado pelos autores (2018).
A análise da tipologia dos documentos mencionados nas 7.606 referências dos
artigos publicados, apresentada na Tabela 6, demonstra que 3.126 referências
correspondem a livros nacionais e internacionais, com maior destaque para os livros
nacionais, com 1.681 ocorrências. Em seguida, estão os periódicos nacionais e
internacionais (2.732), com destaque para os internacionais com 1.426 referências. Os
demais tipos de materiais representam 1.748 dos casos.
Costa e Vanz (2010) desenvolveram uma análise de citações da produção
intelectual do corpo docente do Departamento de Ciência da Informação na Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. Os dados obtidos pelas autoras evidenciaram, também, que
os documentos mais mencionados nas citações foram os livros e, em seguida, os
periódicos, resultados semelhantes aos encontrados nesta pesquisa. Com base nessas
informações, é possível constatar que não houve mudança na preferência das fontes de
informação utilizadas pelos pesquisadores da área.
Ao observar os resultados revelados na pesquisa de Araújo e Melo (2011), no
tocante à tipologia das referências encontradas na revista Perspectivas em Ciência da
Informação, os livros e artigos publicados em periódicos científicos também representam
uma imensa proporção do material citado nas referências. Vale citar o estudo de Araújo
et al (2010) sobre a coleção da Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG, que também
apresentou o mesmo resultado. Tal fato comprova que a produção acadêmica se
concentra, até o presente momento, nos materiais mais tradicionais, com predominância
dos livros, característica própria das Ciências Sociais Aplicadas e Ciências Humanas.
Atualmente existe uma tendência para publicação de documentos digitais e
eletrônicos, principalmente, com relação aos periódicos eletrônicos. Nesse contexto,
muitas revistas começaram a adotar, exclusivamente, o formato eletrônico, tornando o
processo mais ágil em sua tramitação e resolvendo o problema da falta de recursos para
Miranda; Freire; Vitullo | Análise bibliométrica da produção científica da Revista I&S
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a impressão dos números. Miranda, Carvalho e Costa (2018) apontam essa redução no
custo como uma vantagem.
4.3.1 Periódicos mais utilizados nas referências
Neste item, apresenta-se a análise dos periódicos mais utilizados nas referências dos
artigos publicados, na revista I&S, divididos em duas categorias: nacionais e
internacionais.
4.3.1.1 Periódicos nacionais
Dentre os periódicos brasileiros mais referenciados destacam-se sete, conforme
apresentado na Tabela 7, os quais possuem Qualis variando entre A1, A2 e B1,
correspondendo à seguinte distribuição: A1 (Perspectiva em Ciência da Informação, I&S e
Transinformação); A2 (Encontros Bibli e Informação & Informação) e B1 (Ciência da
Informação). No tocante ao periódico DataGramaZero, este foi avaliado por alguns anos
como Qualis B1, mas, em razão de sua extinção em 2015, passou a ser avaliado com o
estrato B3.
Tabela 7 Revistas científicas nacionais mais referenciadas nos artigos publicados (2011-2017)
Revistas
Qualis
Região do
Brasil
Instituição
Quantidade
de
referências
Ciência da Informação
B1
Centro-
oeste
IBICT
186
Perspectiva em Ciência da Informação
A1
Sudeste
UFMG
112
Informação & Sociedade
A1
Nordeste
UFPB
105
DataGramaZero
B3
Sudeste
PRIVADA
64
Encontros Bibli
A2
Sul
UFSC
41
Informação & Informação
A2
Sul
UEL
36
Transinformação
A1
Sudeste
PUC
Campinas
34
Fonte: Elaborado pelos autores (2018).
De acordo com a Tabela 7, os títulos de periódicos mais citados referenciados
foram Ciência da Informação, editada pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência
e Tecnologia (IBCIT), 186 vezes, seguida pela Perspectivas em Ciência da Informação, em
112 ocasiões, e pela I&S, com 105 ocorrências. Os demais títulos obtiveram menos de 65
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referências. Entretanto, a título de comparação, no estudo realizado pelos autores Araújo
e Melo (2011) e Costa e Vanz (2010), verificou-se, respectivamente, que a revista nacional
mais citada é a Ciência da Informação, correspondendo aos mesmos resultados desta
pesquisa, divergindo apenas no tocante à segunda colocação.
Corroborando a presente pesquisa, Autran e Albuquerque (2002) evidenciaram
que os tulos de periódicos brasileiros mais citados foram, nesta ordem, o da Ciência da
Informação e o da Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG. Esta última teve o título
substituído e hoje se chama Perspectiva em Ciência da Informação. Os resultados da
pesquisa dos autores supracitados, portanto, foram semelhantes aos da análise de Araújo
e Melo (2011).
Ainda no tocante à análise das referências aos periódicos brasileiros das áreas de
Informação (Arquivologia, Biblioteconomia, Ciência da Informação, Documentação e
Museologia) em artigos científicos publicados pelas comunidades cientificas dessas áreas
em 2009 e 2010, realizada por Vilan Filho, Arruda e Perucchi (2012), constatou-se que o
mais utilizado pelos autores dos artigos de periódicos e pelos doutorandos dos Programas
de Pós-Graduação em Ciência da Informação na produção de suas teses é a revista Ciência
da Informação.
Constatou-se, desse modo, tanto nesta pesquisa quanto nas análises bibliométricas
de Vilan Filho, Arruda e Perucchi (2012), Araújo e Melo (2011) e Autran e Alburquerque
(2002), uma concordância em relação aos dois títulos mais referenciados em ambas.
Por outro lado, diferencia-se quanto à segunda colocação na pesquisa de Costa e
Vanz (2010), obtida pela I&S. Vale mencionar que a revista I&S foi a terceira nas
investigações dos autores Vilan Filho, Arruda e Perucchi (2012) e a quinta de acordo com
os relatos de Autran e Alburquerque (2002).
Ressalte-se, ainda, que a revista Ciência da Informação se manteve por longo
período avaliada com estrato Qualis A1 e disponibilizada na base de dados SciELO.
Entretanto, no presente momento, possui Qualis B1 e não está mais acessível na SciELO.
Apesar da queda na avaliação, permanece amplamente utilizada na produção científica da
área.
Os dados compilados permitem ainda uma análise dos periódicos mais
referenciados na pesquisa, de acordo com as regiões brasileiras, a saber: Sudeste, com
210 artigos; Centro Oeste, com 186; Nordeste, com 105; e Sul com 77, conforme
demostrado na Tabela 7.
Miranda; Freire; Vitullo | Análise bibliométrica da produção científica da Revista I&S
115
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Esses dados refletem que a região Sudeste, em termo de produtividade científica,
destaca-se, provavelmente, por ser a que mais recebe recurso do governo federal para
incentivo à pesquisa, visto que é a região com maior concentração de renda e
desenvolvimento do país.
4.3.1.2 Periódicos internacionais
Com relação às referências relativas a periódicos internacionais incluídas nos
artigos da revista I&S: Estudos, entre 2011 e 2017, pode-se observar a Tabela 8, a seguir.
Tabela 8 Revistas científicas internacionais mais referenciadas nos artigos publicados (2011-2017)
Revistas
Qualis
País
Instituição
Quantidade de
referências
Journal of the American Society
of Information Science and
Technology
A1
Estados
Unidos
University
of North
Carolina
85
Journal of Documentation
A1
Reino
Unido
Esmerald
63
Annual Review of Information
Science and Technology
A1
Estados
Unidos
Association
for
Information
Science and
Technology
41
Information Processing
Management
A1
Ciência da
Computação
Alemanha
Elsevier
28
Scientometrics
A1
Holanda
Springer
19
Accounting Auditing and
Accountability Journal
A1
Administração
Reino
Unido
Emerald
12
Fonte: Elaborado pelos autores (2018).
De acordo com a Tabela 8, os periódicos internacionais mais referenciados
correspondem ao estrato A1 (Journal of the American Society of Information Science and
Technology, Journal of Documentation, Annual Review of Information Science and
Technology, Scientometrics), porém, essas duas revistas possuem A1 em outras áreas
Accounting Auditing and Accountability Journal (Administração) e Information Processing
Management (Ciência da Computação), ou seja, todos são qualificados com estrato Qualis
A1.
Analisando os resultados obtidos das referências dos periódicos internacionais,
constata-se que o periódico mais mencionado nas referências foi o Journal of the American
116
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Society of Information Science and Technology, 85 vezes, seguido pelo Journal of
Documentation, 63, e pelo Annual Review of Information Science and Technology, 41 vezes.
Os outros apresentaram menos de 29 referências, como mostra a Tabela 8.
Na pesquisa de Araújo e Melo (2011), os periódicos mais utilizados nos artigos
analisados foram os mesmos listados na Tabela 8; contudo, existe divergência no que diz
respeito à quantidade de referências. O periódico mais referenciado foi o Journal of
Documentation que, nesta investigação, apareceu em segundo lugar, seguido pelo
Scientometrics, o qual aparece, na Tabela 8, em quinta colocação.
Já na análise bibliométrica de Costa e Vanz (2010), conforme evidenciado na
Tabela 8, os periódicos estrangeiros mais referenciados pertencem aos seguintes países:
Alemanha, Estados Unidos, Holanda e Reino Unido. É curioso ressaltar que, na
comparação com pesquisa de Araújo e Melo (2011), averiguou-se que a proveniência das
revistas internacionais, com maior representatividade nas referências é dos Estados
Unidos e Reino Unido, divergindo a partir do terceiro. Esse resultado mostra que os países
que mais investem em pesquisa também são aqueles que apresentam uma maior
produtividade decorrente do seu desenvolvimento científico.
Outra informação apurada na pesquisa se refere ao idioma dos artigos cujos dados
são apresentados na Tabela 9.
Tabela 9 Idioma dos artigos publicados na I&S, no período 2011-2017
Fonte: Elaborado pelos autores (2018).
Conforme se observa na Tabela 9, o idioma predominante dos artigos publicados
na revista I&S é o português, com 269 publicações, seguido pelo espanhol, com 15, e, por
último, o inglês, com 13. Não foram apresentadas publicações em outras línguas
estrangeiras.
Ano da publicação
Espanhol
Inglês
Português
2011
1
0
36
2012
1
0
49
2013
2
3
29
2014
2
0
32
2015
3
1
32
2016
2
5
39
2017
4
4
52
Total
15
13
269
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117
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O periódico científico tornou-se o principal veículo de disseminação da comunicação
científica, pois, de certa forma, ele contribui para a troca de experiências entre os
pesquisadores de forma mais rápida e acessível do que o livro, possibilitando o avanço da
ciência na era da globalização.
Nesse sentido, Meadows (1988) pressupõe que, a partir do século XVII, a
propagação do conhecimento tomou lugar de destaque, em razão das descobertas
científicas mais expressivas do que as do mundo antigo. Nessa linha de pensamento, Le
Coadic (1996, p. 33) corrobora tal pressuposto ao salientar que uma das funções da
comunicação no progresso da ciência é “assegurar o intercâmbio das informações entre
os cientistas”, por intermédio da comunicação científica, repassando o conhecimento à
comunidade acadêmica e à sociedade e, assim, garantindo inclusão instrutiva dos novos
saberes.
No entanto, o presente estudo objetivou, em termos gerais, analisar e descrever o
perfil dos autores e das referências incluídas nos artigos publicados no periódico
científico I&S, no período de 2011 a 2017. Com base em uma análise bibliométrica, foi
possível analisar quantitativamente os dados e obter resultados que mostram, por meio
de um dos periódicos mais importantes da nossa área, como parte da comunicação
científica vem se desenvolvendo ao longo dos últimos anos.
Quanto ao perfil dos autores que publicaram na I&S, verificou-se que o gênero
dominante é o feminino, a maioria dos artigos são publicados em coautoria, sempre com
um dos autores tendo a titulação de doutor. Inclusive, a partir do ano de 2017, ocorreu
um crescimento significativo na quantidade de artigos publicados com dois autores em
relação aos anos anteriores.
A maior evidência percebida na análise do periódico I&S foi o crescimento
expressivo no volume dos artigos publicados no ano de 2017. A periodicidade da revista
se manteve quadrimestral, durante o período investigado, embora, em 2019, tenha
passado a ser publicada trimestralmente. Entre os periódicos nacionais mais
mencionados nas referências tanto nesta pesquisa quanto nos estudos de Araújo e Melo
(2011), de Autran e Alburquerque (2002) e de Vilan Filho, Arruda e Perucchi (2012)
destaca-se a revista Ciência da Informação. Já em relação aos periódicos internacionais, o
118
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mais referenciado foi Journal of the American Society of Information Science and
Technology. Outro elemento a ser levado em consideração diz respeito ao estrato Qualis
das revistas estrangeiras mais citadas: todas possuem A1.
No entanto ainda em relação à análise dos periódicos nacionais e internacionais,
tomando por com base nos dados colhidos , foi possível verificar que os estrangeiros
mais citados possuem extratos Qualis mais elevados, todos A1, comparados com os
brasileiros que apresentam tanto A1 quanto B1 para a revista Ciência da Informação, e B3
para a DataGramaZero.
Em relação, especificamente, à tipologia das publicações na revista I&S, a seção
relato de pesquisa teve uma maior quantidade de artigos publicados, o que representa um
aumento significativo na quantidade de pesquisadores divulgando suas investigações
científicas. No que concerne ao idioma mais frequente nos artigos publicados, o português
tem predomínio sobre os outros.
De modo geral, pode-se dizer que a pesquisa contribuiu para a atualização de
outros estudos e para o aprofundamento da análise da produção científica da área,
publicada na revista I&S. Ademais, constatou-se a importância desse periódico como
instrumento de disseminação do conhecimento de alto nível na área de Comunicação e
Informação, de acordo com avaliação pelo Qualis, na medida em que mantém um elevado
padrão de qualidade na divulgação dos seus artigos para a comunidade acadêmica e ao
público interessado.
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PRODUÇÃO E TIPOLOGIA DOCUMENTAL DE MOVIMENTOS SOCIAIS: estudo sobre o
arquivo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras do Brasil (MST)
RECORD CREATION AND STUDIES BY SOCIAL MOVEMENTS: study of archive of Brazil’s
Landless Laborers’ Movement (MST)
Jean Camoleze¹
Sonia Troitiño²
¹ Mestre em Ciência da Informação pela
Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” (UNESP).
E-mail: jcamoleze@hotmail.com
² Doutora em História Social pela Universidade
de São Paulo (USP).
E-mail: sonia.troitino@unesp.br
ACESSO ABERTO
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Internacional.
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não há conflito de interesses.
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Recebido em: 23/09/2019.
Aceito em: 15/11/2019.
Revisado em: 23/12/2019.
Como citar este artigo:
CAMOLEZE, Jean; TROITIÑO, Sonia. Produção e
tipologia documental de movimentos sociais:
estudo sobre o arquivo do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terras do Brasil
(MST). Informação em Pauta, Fortaleza, v. 4, n.
2, p. 121-136, jul./dez. 2019. DOI:
10.32810/2525-3468.ip.v4i2.2019.42191.121-
136.
RESUMO
Este artigo tem como objetivo discutir a
contribuição da tipologia documental para
organização e contextualização de documentos
produzidos por movimentos sociais. Para tanto,
a reflexão baseia-se em um trabalho metateórico
e um estudo de caso realizado no arquivo do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
do Brasil (MST), um dos movimentos de
penetração social mais bem organizados e
amplos do país. Como resultado, constatou-se
que a produção de registros dessa organização
social mantém os elementos característicos dos
documentos de arquivo, ainda que sejam
produzidos em organizações não caracterizadas
como uma entidade jurídica. Da mesma forma,
foi possível identificar que os documentos
populares, representação documental típica dos
movimentos sociais, têm valor educativo,
cultural e exercem o ato comunicativo em todos
os momentos, permitindo a recuperação de
relações orgânicas, muitas vezes pouco
evidentes, mas que também confirmam a
arquivística dos documentos produzidos por
essas não instituições, no sentido tradicional.
Palavras-chave: Arquivo de Movimentos
Sociais. Produção Documental. Tipologia
Documental. Documento Popular.
ABSTRACT
This article aims to discuss the contribution of
studies of documentary forms to the
organization and contextualization of record
creation by social movements. For this, the
reflection is based on the case study carried out
on the archive of the Brazil’s Land-less Laborers’
Inf. Pauta
Fortaleza, CE
v. 4
n. 2
jul./dez. 2019
ISSN 2525-3468
DOI: https://doi.org/10.32810/2525-3468.ip.v4i2.2019.42191.121-136
ARTIGO
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Movement (MST), one of the most well-
organized entity and wide social penetration in
Brazil. As a result, it was found that the record
creation of this social organization maintains the
characteristic features of archival records,
although they are produced in organizations not
characterized as a legal entity. In the same way,
it was possible to identify that popular records, a
typical documentary representation of social
movements, always have educational and
cultural value and exert communicative action,
allowing the recovery of archival bond, often not
very evident, but also confirm the archival
character of the record creation by these non-
institutions in the traditional sense.
Keywords: Social Movements Archives. Record
Creation. Documentary Form. Popular Record.
1 INTRODUÇÃO
Para racionalizar um sistema arquivístico, antes é necessário compreender a produção
documental e fundamentar os processos de trabalho empregados em critérios que
direcionem a organização e a disponibilização de documentos e informações, permitindo
à sociedade seu uso e recuperação. Esses documentos não devem ser caracterizados
exclusivamente como de satisfação cultural; antes devem ser considerados como
importantes fontes para a análise crítica histórica, contribuindo assim para a identidade
da instituição de origem, para a sociedade, para pesquisas acadêmicas e para a
historiografia contemporânea. (BELLOTO, 2006).
Nesse sentido, o controle da criação de documentos deve ser exercido como
primeira atividade na gestão dos documentos, seja em órgãos públicos ou privados, pois
a produção documental tem como premissa pensar a constituição do documento e sua
melhor funcionalidade, conforme objetivos e atuação do órgão produtor. Pazin-Vitoriano
esclarece que:
A produção documental e o arquivo dessas organizações são também reflexos
dessa relação. Em função da dupla característica dos documentos que registram
o relacionamento de seu produtor, seja ele um indivíduo ou uma entidade, com
as instâncias governamentais e com outras instâncias privadas, eles sofrerão
influência, em sua criação, das condições e exigências legais existentes. (PAZIN-
VITORIANO, 2012, p. 33).
Dessa forma, é possível perceber que a criação do documento não é um ato
aleatório. O documento surge a partir de uma sequência de operações técnicas e
intelectuais que ajudam a cumprir uma finalidade determinada, inicialmente dentro do
órgão produtor e, posteriormente, servindo como fonte de pesquisa, garantindo a
difusão de elementos significativos para a constituição do conhecimento.
Similarmente, a produção de documentos de movimentos sociais, com as
particularidades que os distinguem, também apresenta uma sequência lógica e colabora
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para os estudos desenvolvidos em diferentes áreas do saber. Os movimentos sociais
podem ser caracterizados como um coletivo social que mantém uma identidade e um
interesse comum (GOHN, 2004, p. 245). A constituição dos movimentos sociais ocorre de
maneira ativa e consciente, como algo que acontece nas relações humanas, criando
experiências que formam a cultura, por meio das tradições, dos valores, ideias e
instituições. Assim, o surgimento de movimentos sociais não ocorre com base em
estruturas pré-determinadas, mas se por meio de processos históricos. Compostos
por saberes, informações e organização culturais e transmitidas por vivências e
experiências coletivas.
Mesmo que frequentemente o sistema organizacional no qual os movimentos
sociais estão inseridos caminhe paralelamente ao da tradicional burocracia, a existência
de arquivos que lhes caracterizem é uma realidade concreta. Como qualquer outra
organização, os movimentos sociais registram suas ações com dupla intencionalidade: 1)
memorialística; 2) instrumental. Memorialística na medida em que gera documentos
com a finalidade de comprovação de determinados eventos. Instrumental posto que
rotineiramente documentos são utilizados com objetivos administrativos específicos,
ainda que não regrados, relacionados à atividade-fim ou meio.
Portanto, para sistematizar e alternar os conceitos teórico-metodológicos, com o
intuito de estabelecer critérios para organização de acervos de Movimentos Sociais, este
trabalho utiliza como fonte de estudo o Arquivo do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST), alocado no Centro de Documentação e Memória (CEDEM) da
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP).
Assim, reconhecemos a necessidade de proporcionar coerência arquivística aos
documentos do Fundo do Movimento dos Trabalhadores. Então, com o intuito de
promover uma construção metodológica do processo de organização desse acervo,
utilizamos da metateoria unificada com um estudo de caso, para formular hipóteses e
conceitos, além da elaboração de instrumentos capazes de auxiliar na organização de
arquivos de movimentos sociais.
O MST é reconhecido como um dos movimentos sociais de maior importância do
Brasil, seja por causa da intensa luta pela reforma agrária, sua principal bandeira, ou
pelos mais de trinta anos de história. Atualmente, o MST está presente em 24 estados
brasileiros, com mais de 350 mil famílias, que, mesmo assentadas, continuam a se
empenhar nas ações do Movimento.
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Mesmo que o MST, pelo fato de ser um movimento, não se caracterizar como uma
entidade de natureza jurídica, e, portanto, sujeito à legislação e às regras típicas dessas
administrações, é possível perceber sua estrutura organizacional semelhante à das
instituições regulamentadas. Dessa forma, existe no MST uma produção documental
ativa, não sistematizada no que tange à gestão e à guarda de documentos. Como
consequência, é perceptível a dificuldade do movimento em conservar e disponibilizar
informações sobre suas atividades. Em decorrência, os prejuízos relativos à formação da
memória e construção da história relativa ao movimento são sintomáticos da falta de
uma política específica voltada para a preservação dos registros que os caracterizam: os
documentos populares.
Atualmente, o arquivo oriundo das ações do MST não possui uma metodologia
consolidada de organização arquivística. A ausência da adoção de metodologias e
critérios claros para o tratamento do acervo tem como efeito a dificuldade em se
reconhecer as marcas de sua própria história. Nesse sentido, à semelhança de outros
arquivos, apresenta-se a dificuldade de estabelecer mecanismos de nomear, reconhecer
e denominar os documentos, criando uma árdua tarefa para a disponibilidade do acervo,
sua difusão e sua conservação. (TROITIÑO, 2015).
Desse modo, acreditamos que o estudo tipológico da documentação e sua relação
com a produção documental podem auxiliar na padronização e sistematização da
organização de acervos de movimentos sociais, principalmente no que se refere ao
tratamento técnico de documentos de arquivos.
2 METATEORIA E ESTUDO DE CASO: FUNDAMENTOS TEÓRICOS PARA PESQUISA
EM ACERVOS DE MOVIMENTOS SOCIAIS
As pesquisas que utilizam a metateoria muitas vezes são parte de um estudo com
tendências interdisciplinares, tais como essa pesquisa, provocando pressupostos amplos
e criando hipóteses para estudos teóricos e empíricos (HJØRLAND, 1998a, p. 607). Nesse
contexto, Joaquim Reis afirma:
As metateorias são, pois, estruturas conceptuais que explicam qualquer
fenômeno que se situa no seu domínio. As estratégias de investigação científica
e o desenvolvimento metodológico de uma dada disciplina científica são, pois,
determinadas pelas asserções metateóricas que lhe estão subjacentes. (REIS,
1999, p. 416).
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Desta forma, os estudos metateóricos ampliam e orientam a produção de novos
conhecimentos “num horizonte de possibilidades sociais e historicamente definidas”
(GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2000, p. 333), enfatizando a importância da definição da(s)
metodologia(s). Ou seja, percorrer um caminho metodológico, além de ser passo
essencial para a pesquisa, também amplia a compreensão do processo de análise e as
múltiplas dimensões do objeto estudado.
Os estudos metateóricos, de acordo com Vandenberghe (2013, p. 19), são
aplicados quando envolvem “a reflexão acerca do que faz de certos trabalhos ‘estudos
exemplares’ ou paradigmáticos” e uma melhor maneira de compreender os conceitos e
fundamentos existentes sobre o tema e produzir novos estudos e perspectivas teóricas.
Sobre a metateoria, Edward (2013, p. 5 e 6) exalta que houve uma ampliação
sobre os estudos sistemáticos, alterando as perspectivas de uma reminiscência de
análises feitas de maneira extenuante da literatura, embutindo a elas interpretações
pontuais e pessoais. O autor explica que, no passado, “os metateoristas basearam-se em
extensas leituras em diferentes domínios teóricos e disciplinares e, em seguida,
integraram essas visões de acordo com seus próprios conhecimentos científicos e visão
pessoal”, porém atualmente surgem [...] métodos mais sistemáticos e repetitivos para a
construção de sistemas metateóricos”.
Dessa forma, para atender ao objetivo deste trabalho de estabelecer a lógica
orgânica dos conjuntos documentais do MST, o estudo metateórico fornece elementos
abrangentes para a produção de esboços teóricos que objetivam produzir uma
perspectiva de debater, além de parâmetros de arranjo e descrição a arquivos de
movimentos sociais, oferecendo subsídios para pesquisas referentes a produção
documental semelhante.
O estudo de caso é uma das metodologias mais utilizadas, principalmente dento
das ciências sociais. Mesmo assim, existem diversas formas para sua aplicação, o que
dificulta um consenso em suas definições e aplicabilidade (YAZAN, 2015, p. 135). Porém,
utilizamos como metodologia proeminente de estudos de caso, os trabalhos de Robert
Stake, principalmente pelos compromissos epistemológicos que consideram o
conhecimento como algo construído e o descoberto (STAKE, 1995, p. 99). Essa análise
também é pertinente com a alegação de que “há múltiplas perspectivas ou pontos de
vista do caso que precisam ser representados” (STAKE, 1995, p. 108), ou seja, o estudo
sobre a organização do acervo do MST é apenas um aspecto de tantos possíveis, “que
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parte de fenômenos, ao mesmo tempo, complementares, concorrentes e antagonistas,
respeita as coerências diversas que se unem em dialógicas e polilógicas e, com isso,
enfrenta a contradição por várias vias” (MORIN, 2000 p. 387).
Assim, os estudos de caso devem valorizar a experiência como elemento da
construção do conhecimento e reconhecer a interação do objeto estudado como seus
contextos e meio como gênese do conhecimento. Com isso, percebemos que, em um
estudo de caso aplicado ao acervo documental do MST e seu arranjo, faz-se necessário
compreender as ações dos protagonistas sociais e a organização histórica e estrutural do
órgão produtor.
Para a realização da pesquisa, e seguindo a metodologia proposta por Stake,
empregamos alguns questionamentos [...] porque as questões nos atraem para
observar, trazendo mesmo à tona os problemas do caso, as emergências de conflito, as
questões humanas mais complexas” (STAKE, 1995, p. 16-17) e direcionamos os
trabalhos, além de manter uma constante interface com os pressupostos teóricos.
Desse modo, faz-se necessário reconhecer, identificar, atribuir nome aos
documentos dos movimentos sociais e compreender a sua produção documental para
pensar na organização do acervo e na recuperação das informações. Diante disso,
surgem diversos questionamentos como: qual a importância dos arquivos de
movimentos sociais para auxiliar os arquivos públicos ou institucionais? Como organizar
um arquivo de um movimento com tanta dinâmica? Como nomear, reconhecer e
denominar essa documentação com grande especificidade? Quais os mecanismos para
identificar a origem, a objetividade e a veracidade destes documentos? Existe uma
padronização possível da produção a destinação final?
Os documentos que formam o Fundo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra serão a base para a coleta de dados e servirão para a análise significativa dos
procedimentos implantados para a organização documental, além de “dar significado às
primeiras impressões, bem como às compilações finais” (STAKE, 1995, p. 71).
Mesmo reconhecendo os momentos distintos, a coleta e a análise dos dados,
ambas ocorrem de maneira simultânea, “a fim de desenhar sistematicamente a partir de
conhecimentos prévios e reduzir percepções equivocadas” (STAKE, 1995, p. 72).
Os dados coletados e analisados são validação através da triangulação
metodológica. Para Günther (2006) a triangulação é a utilização de diferentes
abordagens metodológicas do objeto empírico para prevenir possíveis distorções
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relativas tanto à aplicação de um único método quanto a uma única teoria ou um
pesquisador.
Mesmo com linhas bem definidas entre a coleta, análise e observação direta com
aplicabilidade metodológica, as etapas são interligadas e promovem uma constante
interação entre si. Assim “a transição de uma fase para outra, enquanto a pesquisa se
desenrola, ocorre na medida em que áreas problemáticas vão progressivamente sendo
clarificadas e redefinidas” (STAKE, 1995, p. 22).
Dessa forma, as integrações entre as metodologias da metateoria e a utilização do
estudo de caso irão criar processos de construção de um conhecimento válido e
confiável. Os procedimentos metodológicos aplicados ao trabalho não se limitam apenas
a um caminho a ser percorrido, mas fazem parte da produção do conhecimento e da
ampliação dos estudos sobre o objeto em questão.
3 PRODUÇÃO DOCUMENTAL DE MOVIMENTOS SOCIAIS
A produção documental dos movimentos sociais é fruto de sua própria
organização, como corpo administrativo, ainda que não convencionalmente constituído.
Entre as atividades-fim às quais se propõe, destacamos aqui as relativas à formação e
comunicação de integração entre seus membros, caracterizando assim a base de
estruturação do próprio movimento. A produção documental decorrente dessas
atividades é determinada pela dinâmica e particularidades de cada movimento social,
interferindo nos tipos documentais e na sistematização da organização do acervo. Isso,
muitas vezes, ocorre por causa das propriedades e atributos do próprio movimento, da
mesma forma que pela falta de padronização dos processos de trabalho e seus registros.
Lopez, explica que:
As organizações do movimento social apresentam características próprias que
tendem a se perder se forem tratadas com base em esquemas universalizantes.
Tais características também tendem a ser diluídas quando se prioriza o aspecto
formal dos documentos. Devemos considerar e discutir os elementos
informacionais presentes na produção documental de natureza social e política.
Nesse tipo de entidade os documentos, muitas vezes, são produzidos sem
regulamentação, normatização oficial, sem muito controle dos padrões de
produção, razão pela qual são de difícil identificação. (LOPEZ, 2012, p. 20).
Camoleze; Troitiño | Produção e tipologia documental de movimentos sociais
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Nesse sentido, importa entender a produção documental como sintomática da
dinâmica e atuação do movimento e, justamente por isso, carecendo de estudos que
elucidem a lógica de criação, destinação e uso da documentação produzida nesse
contexto específico. Nunca é demais lembrar, que estabelecer os tipos documentais
existentes dentro de um arquivo colabora para a organização documental e a
recuperação da informação.
Os documentos produzidos pelo MST são registros de suas atividades e do
funcionamento ideológico e social do movimento. Porém, essa documentação também
tem um importante significado na constituição do social e compõe elemento
representativo da história do Brasil. Ainda que a reunião de documentos provenientes
do MST não possa ser considerada um arquivo nos moldes do tradicionalmente
concebido ou seja, formado dentro de uma organização legalmente constituída
(pessoa jurídica), e obedecendo a regras ditadas pelo direito administrativo, é possível
encontrar, em meio aos documentos oriundos do movimento, sinais de organicidade,
cuja interpretação conduz a entendê-los como documentos arquivísticos. Assim, o
conjunto de documentos proveniente do MST configura arquivo formado de modo
paralelo ao convencional, o que é extremamente significativo e merece reflexão. Essa
documentação também expressa uma autorrepresentação diferenciada da
normalmente apresentada pelas instituições tradicionalmente constituídas, em geral,
voltada para a compreensão das próprias experiências do movimento, enquanto tal, e
da conjuntura na qual está inserido.
Sendo assim, acreditamos que a utilização da metodologia de análise tipológica
para a identificação, interpretação e sistematização de documentos provenientes do
MST, auxilia no estabelecimento de parâmetros documentais que sirvam de modelo
para a organização documental, ao estabelecer referências de tipos documentais
fundamentados no padrão, na formulação da estrutura documental, podendo colaborar
potencialmente na normalização da produção e da guarda documental.
4 MST: luta e informação
Gestado entre o período de 1979 a 1984, o MST não se apoia exclusivamente na
questão da reforma agrária. Segundo posição do movimento, está entre seus principais
objetivos a alteração de “problemas estruturais do nosso país [Brasil], como a
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desigualdade social e de renda, a discriminação de etnia e gênero, a concentração da
comunicação, a exploração do trabalhador urbano” (MST, 2015). Em quase 40 anos de
atuação, o MST tem presença marcante no cenário político-social brasileiro, o que lhe
garantiu a atenção de estudiosos e acadêmicos ao refletirem sobre a realidade
contemporânea brasileira, marcando a historiografia nacional nas pesquisas
desenvolvidas por Fernandes (2000), Welch (2006), dentre tantos outros.
A formação do MST vem de um acúmulo da luta agrária resistente no País ao
longo dos anos e foi intensificada na década de 50 e 60 com a criação das Ligas
Camponesas, da ULTABs (União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas) e o MASTER
(Movimento dos Agricultores Sem Terra). Na atualidade, além dos assentamentos e
acampamentos, o MST conta com diversas cooperativas, associações e agroindústrias
que auxiliam na produção, distribuição e venda de alimentos além da Escola Nacional
de Formação Florestan Fernandes, que contribui para a formação do MST e de outras
organizações. Com isso, a estrutura organizacional do Movimento é pautada por um
modelo de cooperação estabelecido, tendo como diretriz garantir “uma maneira de
organizar a produção através da divisão do trabalho” (MST, 2015).
Porém, dinâmica é característica presente na organização do MST, trazendo
diversas alterações e ampliações em sua estrutura (NAVARRO, 2002). Segundo Lopes
(2004), a organização do MST apresenta grande flexibilidade, capaz de se modificar
conforme as necessidades impostas pela conjuntura político-social do momento e de
incorporar novos princípios e elementos. No entanto, conforme esclarecem DAL RI e
VIEITEZ (2004, p. 46), seus filiados se encontram vinculados ao Movimento não apenas
por ideologia e funções políticas, mas também por estarem integrados a algumas de suas
estruturas organizacionais de base. Consequentemente, criando processos específicos e
constância na elaboração de informações e registros sobre suas próprias atividades.
Em 1998, os documentos correspondentes a atividades de formação promovidas
pelo MST entre 1980 e 2001, incluindo os principais periódicos editados e publicados,
foram entregues à custódia do CEDEM. Esse conjunto de documentos, proveniente da
Coordenação Nacional do MST, estava acumulado na Sede Nacional, na cidade de São
Paulo (CEDEM, 2018).
No Guia do Acervo do CEDEM (2018) é mostrada a diversidade de dimensões e
suportes dos documentos oriundos do MST, composto por registros de diversos gêneros,
com destaque para os gêneros - textual, bibliográfico, iconográfico e audiovisual:
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[...] é composto por publicações do MST e sobre o MST, material de propaganda,
cadernos de formação e educação, recortes de jornal, relatórios de reuniões,
correspondências, projetos, material pedagógico, documentação financeira e
administrativa, documentos textuais produzidos pelo Setor de Educação da
sede nacional, fitas de vídeo e o Jornal dos Trabalhadores sem Terras. (CEDEM,
2018, p. 109-110).
Devido às especificidades e características próprias do MST, esse conjunto de
documentos forma um acervo complexo e com grandes particularidades. Diante desse
desafio, a normalização da descrição de seus documentos, assim como a definição do
nome dos tipos documentais encontrados no acervo, pode ser um grande aliado da
organização arquivística, especialmente na formação das séries documentais e,
posteriormente, em sua organização e posterior recuperação da informação.
A possibilidade de pensar e repensar as ações relativas à organização de arquivos
de movimentos sociais é uma maneira de rever conceitos e procedimentos tradicionais
da arquivologia. Para além do universo relativo aos arquivos institucionais, existem
organizações cujo papel precisa ser considerado na construção da memória social.
Nota-se que o desenvolvimento de metodologias para o tratamento da
informação, assim como a promoção do acesso a conjuntos de documentos constituídos
paralelamente ao sistema de produção de documentos oficiais, pode colaborar com o
estabelecimento de protocolos de trabalho que considerem o perfil e contexto de
produção e atuação da instituição de proveniência.
5 TIPOLOGIA DOCUMENTAL COMO INSTRUMENTO PARA A ORGANIZAÇÃO DE
ARQUIVOS DE MOVIMENTOS SOCIAIS
A metodologia derivada da Tipologia Documental possibilita estabelecer a
relação orgânica do documento, da criação a sua destinação, por se voltar à
compreensão dos componentes desses conjuntos orgânicos, permitindo o
estabelecimento de parâmetros para a organização documental a partir da análise da
configuração do documento, em conformidade com a disposição, natureza das
informações encontradas e correspondência à mesma atividade (BELLOTTO, 2002).
Com isso, a identificação das séries documentais, a partir da tipologia documental, é
fundamental para a classificação, descrição e, principalmente, para a recuperação da
informação (GARCIA RUIPÉREZ, 2007, p. 9).
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Nesse sentido, estudos de tipologia documental proporcionam reconhecer
características semelhantes entre documentos, assim como entre a disposição de
informações, por meio da análise de caracteres externos e internos, permitindo compor
uma série documental. Os estudos de tipos documentais, segundo Arévalo Jordán (2003,
p. 229):
[...] es totalmente necesaria para el archivero, en primer lugar, porque los tipos
documentales van a distinguir las series documentales que son las
agrupaciones documentales indispensables tanto a los efectos de clasificación
como de inventarios, en segundo lugar, porque esa determinación es uno de los
elementos precisos para la catalogación.
Troitiño (2015) observa em alguns arquivos a ausência de uniformidade na
definição dos tipos documentais e, consequentemente, das séries documentais de um
fundo. Essas situações constituem em um verdadeiro desafio nos momentos de
organização e recuperação da informação. Para a autora, parte considerável da solução
do problema reside nos estudos de tipologia documental.
No caso específico do MST, observou-se que a falta de uniformidade no
estabelecimento dos tipos documentais representa um grande desafio a ser enfrentado.
A categorização de determinados documentos picos de movimentos sociais auxilia na
compreensão do mecanismo responsável pelas ações geradoras dos documentos e pelo
uso de documentos para gerar ações.
A produção documental de movimentos sociais pode conduzir à elaboração de
registros para auxiliar em sua própria organização administrativa ou, então, conduzir a
documentos criados com o intuito de formar e comunicar aos seus participantes
diversos assuntos. A esta última categoria de documento podemos classificar como
documento popular, por apresentar a finalidade de transmitir informações voltadas para
a educação dentro do próprio movimento e, também, por ser produzido obedecendo a
regras e estruturas culturais determinadas por sua origem.
Como experimentação inicial referente à aplicabilidade da organização de
acervos de Movimentos Sociais por meio da Tipologia Documental, trabalhamos com
quinze documentos, que compõem a caixa de número um, no Fundo do Movimento Sem
Terra. A escolha por esses documentos ocorre por apresentarem uma organização
definida pela instituição de guarda e por representarem uma grande diversidade dos
tipos documentais dentro do acervo.
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Por meio da apreciação da espécie e da função do documento, estipulamos o tipo
documental, que posteriormente foi utilizado para a organização dos grupos, das séries
e do arranjo, conforme apresentado nos quadros 1 e 2:
Quadro 1 Tipologia Documental do acervo do MST
Título Espécie Atividade Tipo documental
Normas Gerais do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra Norma Regulamentar Normas de regulamentação
As instâncias nacionais e estaduais Manual Regulamentar Manual de regulamentação
Vamos organizar a base do MST Apostila Formar Apostila de Formação
Só direge, quem sabe! Apostia Formar Apostila de Formação
Sugestão para condução de Reunião Manual Orientar Manual de orientação
Como escolher as instâncias do MST Instrução Normativa Instução Normativas
Quadro de Avalião Quadro Avaliar Instução Normativas
Dirigir e ou Administrar Informativo Formar Informativo de formação
Estrutura do MST Organograma Organizar Organograma de Organização
A disciplina no MST Informativo Formar Informativo de formação
A função dos núlceos dos militantes do MST Informativo Formar Informativo de formação
Secretaria: Nosso 'Cartão de Visita" Informativo Orientar Informativo de orientação
Delegar atividades Capacitar Militantes Apostila Formar Apostila de Formação
A Organicidade necessária Apostila Formar Apostila de Formação
Circular Nº 34/95 Circular Orientar Circular de orientação
Contribuição para o debate dos núcleos Informativo Formar Informativo de formação
Fonte: Elaborado pelos autores (2019).
Quadro 2 Possibilidade de Arranjo Documental para o acervo do MST
Arquivo Grupo Série Documento
A Organicidade necessária
Delegar atividades Capacitar Militantes
Só direge, quem sabe!
Vamos organizar a base do MST
Dirigir e ou Administrar
A disciplina no MST
A função dos núlceos dos militantes do MST
Contribuição para o debate dos núcleos
Normas de Organização Normas Gerais do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
Regulamento de Organização As instâncias nacionais e estaduais
Manual de orientação Sugestão para condução de Reunião
Instrução Normativa Como escolher as instâncias do MST
Organograma de Organização Organograma de Organização
Circular de orientação Circular de orientação
Informativo de orientação Secretaria: Nosso 'Cartão de Visita"
Cartilha de Instrução
Informativo de Instrução
Formação
Gestão
Acervo dos
Trabalhadores
Rurais Sem Terra -
MST
Fonte: Elaborado pelos autores (2019).
Dessa maneira, o estudo tipológico desenvolvido buscou situar os elementos
intrínsecos do documento popular e seu valor dentro da formação educacional
promovida pelos movimentos sociais brasileiros. Como resultado, foi possível identificar
que os documentos populares têm valor educacional, cultural e exercem ato
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comunicativo a todo o momento, dentro de uma conduta formativa pré-estabelecida.
Desse modo, é importante refletir sobre criação, uso e repercussão de documentos
conscientemente delineados pelos movimentos, a fim de atingir um de seus objetivos
principais: a formação simultânea de seus membros e da sociedade, como um todo traz
compreensão para o papel desempenhado pelo MST e por movimentos sociais, em geral.
Para além dos documentos populares, outros documentos representativos dos
movimentos sociais carecem de estudo. Sendo assim, utilizar critérios no processo de
análise documental que levem em conta característica do registro documental típico do
MST, auxilia na configuração de formas pré-definidas e estabelece referências, em
relação ao tipo documental, fundamentadas pelo padrão, formulando a estrutura
documental e normalizando a produção e a guarda documental.
Face ao exposto, salientamos que a análise dos tipos documentais permite uma
“[...] reflexão sobre a identificação como processo e as discussões sobre a posição que
ocupa no contexto das metodologias arquívisticas”. (RODRIGUES, 2008, p. 14). A
tipologia documental consiste, portanto, em um instrumento para a uniformização de
procedimentos metodológicos, no sentido de identificação de acervos e tratamento da
produção e organização dos documentos.
Nessa perspectiva, o presente estudo revelou que utilizar a metodologia de
análise tipológica para identificação, interpretação e sistematização de documentos
provenientes do MST auxilia no estabelecimento de parâmetros documentais que
sirvam de modelo para a organização documental, por estabelecer referências de tipos
documentais fundamentados no padrão e na formulação da estrutura documental, o que
pode vir a colaborar potencialmente na normalização da produção e da guarda
documental.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apresentamos neste artigo alguns dos pressupostos teóricos e primeiros
resultados do diálogo estabelecido entre os projetos de pesquisa: À margem da
burocracia: produção documental e arquivos de movimentos sociais e Movimentos
Sociais e Tipologia Documental: estudo da organização documental no acervo do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O primeiro projeto parte da
consideração que a intencionalidade da reunião de documentos que testemunhem
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determinada realidade, mais do que propriamente a instrumentalização de atos
burocráticos, tem relação direta com a dinâmica própria das organizações
representativas de movimentos sociais.
Essa constatação aliada à de que a difusão e reunião de documentos é uma
importante estratégia de perpetuação da memória política, diante da ameaça de sua
dissipação, representa um desafio ao tratamento arquivístico de acervos, conforme o
tradicional modelo pautado em um sistema reconhecidamente administrativo. Assim, a
pesquisa busca averiguar e debater sobre a difícil tarefa de identificar e abordar
arquivisticamente documentos de movimentos sociais e de seus militantes. Por sua vez,
o segundo projeto visa promover uma construção metodológica do processo de
organização do arquivo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
promovendo um estudo metateórico unificado com um estudo de caso para analisar as
hipóteses, os conceitos e a elaboração de novos instrumentos capazes de auxiliar na
organização de acervos de movimentos sociais estruturados com base na metodologia
derivada da Tipologia Documental.
Síntese da interação entre os dois projetos, este estudo possibilitou compreender
que os documentos produzidos por movimentos sociais são registros de suas atividades
e do funcionamento ideológico e social. Porém, a produção documental de movimentos
sociais também tem um importante significado na constituição social e compõe
elementos representativos da história do País. Mesmo esses arquivos não se formando
dentro de uma instituição legalmente constituída, é importante considerar que se
formam igualmente a partir de estruturas inter-relacionadas e atividades rotineiras da
organização de origem.
Assim, essa reflexão permitiu compreender que a criação de documentos de
movimentos sociais segue uma lógica particular, sempre realizando ato comunicativo
entre os próprios movimentos e as camadas populares da sociedade. A forma de pensar,
os modos de produzir e os elementos intrínsecos relativos a arquivos de movimentos
sociais trazem características peculiares, que devem ser consideradas no estudo dessa
documentação, além de configurar a possibilidades do estabelecimento de um arranjo
documental capaz de facilitar a contextualização e a recuperação da informação.
Com isso, a identificação dos tipos documentais existentes dentro de um arquivo
pode servir como base para a organização e a formação das ries documentais. Este é
um processo metodológico que permite priorizar a organicidade do acervo e as
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especificidades do órgão produtor, fator fundamental para o tratarmos de informações
procedentes de movimentos sociais.
Desse modo, adotar a tipologia documental como um instrumento interpretativo
que demonstra a necessidade da identificação da atividade responsável pela produção
dos documentos é um dos métodos a orientar a análise conjuntural sobre a organização
do acervo do MST, mas que potencialmente pode vir a colaborar com futuras pesquisas e
protocolos de organização arquivística em arquivos oriundos de outros movimentos
sociais.
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MEMÓRIA, CIDADE E BIBLIOFILIA
MEMORY, CITY AND BIBLIOPHILIA
Hanna Sandy de Oliveira¹
Lidia Eugenia Cavalcante²
¹ Graduada em Biblioteconomia pela
Universidade Federal do Ceará (UFC).
E-mail: hannaydnas@gmail.com
² Pós-Doutora em Ciência da Informação pela
Université de Montréal, Canadá. Professora do
Departamento de Ciências da Informação da
Universidade Federal do Ceará (UFC).
E-mail: cavalcantelidiaeugenia@gmail.com
ACESSO ABERTO
Copyright: Esta obra está licenciada com uma
Licença Creative Commons Atribuição 4.0
Internacional.
Conflito de interesses: As autoras declaram
que não há conflito de interesses.
Financiamento: Não há.
Declaração de Disponibilidade dos dados:
Todos os dados relevantes estão disponíveis
neste artigo.
Recebido em: 08/05/2019.
Aceito em: 19/09/2019.
Revisado em: 13/10/2019.
Como citar este artigo:
OLIVEIRA, Hanna Sandy de; CAVALCANTE, Lidia
Eugenia. Memória, cidade e bibliofilia.
Informação em Pauta, Fortaleza, v. 4, n. 2, p.
137-155, jul./dez. 2019. DOI: 10.32810/2525-
3468.ip.v4i2.2019.41202.137-155.
RESUMO
Investiga as relações entre memória, cidade e
bibliofilia mediante revisão de literatura e sob o
ponto de vista dos autores estudados. Trata
também dos lugares de memória, apresentando a
cidade como lugar de memória, vislumbrando a
construção da identidade dos sujeitos a partir do
que é dado a ler e a ver em seu patrimônio
literário. Traz, por fim, a possibilidade da
memória dos lugares através dos livros, mediante
registros de memórias orais e em livros de ficção,
vislumbrando a literatura como meio de retratar
um contexto social, época e tempo. Apresenta
conceitos de bibliofilia, de sua possível origem e
as diferentes conotações que o termo carregou ao
longo dos séculos, assim como breve histórico da
bibliofilia no Brasil. Os resultados deste estudo
apontam que o bibliófilo possui relação com a
memória como colecionador de livros e estudioso
de sua história, cujo papel é essencial na
constituição de acervos raros e memorialísticos.
Palavras-chave: Bibliofilia. Lugares de memória.
História do Livro. Cidade e patrimônio literário.
ABSTRACT
Investigates the relation between memory, city
and bibliophilia building a literary revision
through the points of view of the studied authors.
Talks, also, about places of memory, introducing
the city as a place of memory, viewing the
construction of the identity of the subjects
through what is read and seen in their literary
patrimony. In the end approaches the possibility
of a memory from places through books and oral
registers and also in fiction, using literature as a
way to portray a social context, era and time.
Presents the concepts of bibliophilia and its
possible origins and the different conotations
that the term has carried throughout the
centuries, as well as a brief history of bibliophilia
in Brazil. The results of this study show that the
bibliophile has a relation with memory as a book
collector and student of its history, whose role is
essential in the formation of rare and
memorialistic collections.
Keywords: Bibliophilia. Places of memory. Book
history. City and literary patrimony.
Inf. Pauta
Fortaleza, CE
v. 4
n. 2
jul./dez. 2019
ISSN 2525-3468
DOI: https://doi.org/10.32810/2525-3468.ip.v4 i2.2019.41202.137-155
ARTIGO
Oliveira; Cavalcante | Memória, cidade e bibliofilia
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1 INTRODUÇÃO
A memória de uma cidade pode ser encontrada na fala de seus velhos. No livro Les
cadres sociaux de la mémoire (1925), Maurice Halbwachs, sociólogo francês, explica que
historicamente o velho, mais que o adulto, interessa-se pelo passado e que cabe a ele “a
obrigação de lembrar, e lembrar bem” (BOSI, 1979, p. 24). Halbwachs cita como exemplo
tribos primitivas, onde o velho exerce sua função social de “guardião das tradições”
(HALBWACHS apud BOSI, 1979, p. 23). Trazendo para uma perspectiva mais atual, é
possível observar que, ainda que tal papel não caiba apenas aos velhos, é neles que
recordações sem o filtro rigoroso da história podem ser encontradas. E, como escreve
Ítalo Calvino (1990, p. 14) na obra As Cidades Invisíveis (1972), “a cidade se embebe como
uma esponja dessa onda que reflui das recordações e se dilata”.
Utilizando-se do conceito apresentado por Halbwachs, além da importância do
relato de velhos para preservação da história de um local, também a necessidade de
lugares de memória em uma cidade. Segundo Pierre Nora (1993, p. 21) lugares, com
efeito, nos três sentidos da palavra, material, simbólico, funcional” onde “mesmo um lugar
de aparência puramente material, como um depósito de arquivos, só é lugar de memória
se sua imaginação o investe de uma aura simbólica”. A ideia de símbolo permite que o
conceito de lugar de memória possa ser aplicado não apenas a instituições como museus
e arquivos, mas também à cidade em um todo. Entretanto, utilizaremos inicialmente as
instituições de memória padrão para fundamentar a discussão.
Além de espaços como os citados anteriormente, a biblioteca é também “lugar da
memória nacional, espaço de conservação do patrimônio intelectual, literário e artístico.
[…] É um lugar de diálogo com o passado, de criação e inovação […]” (JACOB, 2008, p. 9).
Muito se pesquisa sobre bibliotecas públicas e seu papel na sociedade, entretanto o
estudo de bibliotecas particulares é mais complexo, devido às peculiaridades de cada
coleção, que muitas vezes refletem o perfil de seu organizador. Conforme salienta
Darnton (1995, p. 152), “o estudo das bibliotecas particulares tem a vantagem de ligar o
‘quê’ com o ‘quem’ da leitura”. No Brasil, assim como em muitos outros países, grandes
bibliotecas formaram-se tendo como base coleções particulares. “Foram os Mazarin, os
Grenville, os Barbosa Machado que, legando ou vendendo seus livros à nação,
enriqueceram o patrimônio nacional” (MORAES, 1975, p. 12).
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Oliveira; Cavalcante | Memória, cidade e bibliofilia
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No livro de ensaios A Memória Vegetal (2010) Umberto Eco conceitua bibliofilia
como o “amor ao objeto livro, mas também à sua história” (ECO, 2010, p. 37). Para Eco, o
bibliófilo o apenas valoriza o livro por sua aparência estética e seu valor histórico e
literário, como eventualmente doa seu acervo para que seja disponibilizado a uma
audiência maior, geralmente em bibliotecas públicas. O bibliófilo não é apenas um
colecionador, mas também pesquisador e historiador. Ele conhece o livro, a história de
como foi feito, por quem, para quê e onde. É capaz de ver nas marginálias, no frontispício,
na tipologia e nas entrelinhas, reflexos de épocas passadas.
A partir dessas reflexões o presente texto relaciona os conceitos de memória,
lugares de memória, cidade e a memória dos lugares através dos livros, apresentando
também conceitos e aspectos da bibliofilia em geral e no Brasil, trazendo como ilustração
o bibliófilo brasileiro José Mindlin, assim como conceitos de raridade e colecionismo.
2 MEMÓRIA INDIVIDUAL E MEMÓRIA COLETIVA
O conceito de memória possui diferentes concepções, dependendo do contexto em
que está sendo aplicado. Le Goff (2008, p. 419) descreve a memória como “um conjunto
de funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações
passadas, ou que ele representa como passadas”. Dessa forma, o estudo da memória é
interdisciplinar, passando por áreas como por exemplo a Psicologia, Biologia e Sociologia.
Na área da História, a memória está relacionada em especial com a função de conservar
acontecimentos do passado de um determinado local ou povo através da oralidade e
escrita, resultando na produção de documentos históricos.
Estudando a memória em sua perspectiva de fenômeno social, Maurice Halbwachs,
filósofo e sociólogo francês, identifica em A Memória Coletiva (1950) duas memórias
distintas: uma, interior e pessoal, e outra, exterior e social (HALBWACHS, 1993). A
memória interna de uma pessoa se apoia na memória social e depende do meio em que
esse indivíduo vive, das relações que forma ao longo da vida e da sua cultura. Memória,
então, está intrinsecamente relacionada ao lugar e ao intersubjetivo. Desse modo, trata-
se de uma memória coletiva, posto que é compartilhada.
Apesar de sua característica subjetiva, a memória individual se faz
inexoravelmente no coletivo, mesmo sendo simultaneamente particular ao indivíduo. A
evocação de uma lembrança requer de certo modo uma recontação do evento, seja
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considerada por um ponto de vista diferente, uma situação social ou um contexto
histórico. É “99% construção e 1% evocação verdadeira”, como explica Désiré Roustan
(apud HALBWACHS, 1990, p. 37). A percepção individual é permeada de influências, visto
que para sua realização são utilizadas ferramentas construídas no meio social, por
exemplo a própria linguagem.
A memória coletiva, por sua vez, compreende a memória de um grupo, assim como
a dos indivíduos nele presentes. Halbwachs (1990) enfatiza a importância do grupo, da
sociedade, da família, das relações e afetividades que influenciam na construção e
preservação dessa memória coletiva, assim como seu caráter de transformação constante,
posto que, assim como esses grupos podem se desfazer lentamente, a memória neles
contida também pode se dissipar.
Assim, é difícil determinar o momento em que uma memória coletiva desaparece,
ou até mesmo se ela de fato deixa a consciência dos indivíduos do grupo, pois “basta que
se conserve numa parte limitada do corpo social, para que possamos encontrá-la sempre
ali” (HALBWACHS, 1990, p. 84).
Um elemento crucial para a construção da memória coletiva é o espaço. Indivíduos
e seus grupos ocupam o espaço e por ele são influenciados, em pensamentos e percepções.
Da mesma forma, por meio das relações que os grupos mantêm entre si e seu meio, esse
espaço é modificado. Halbwachs (1990) afirma que a memória coletiva se desenvolve em
um quadro espacial, posto que o espaço é algo que dura, se faz concreto, mais do que
meras impressões:
É sobre o espaço, sobre o nosso espaço aquele que ocupamos, por onde sempre
passamos, ao qual sempre temos acesso, e que em todo o caso, nossa imaginação
ou nosso pensamento é a cada momento capaz de reconstruir que devemos
voltar nossa atenção; é sobre ele que nosso pensamento deve se fixar, para que
reapareça esta ou aquela categoria de lembranças. (HALBWACHS, 1990, p. 143).
Apesar de ser concreto, o espaço pode e é transformado, pois, como dito
anteriormente, ele muda de acordo com as relações entre os grupos que o ocupam. Isso
muito ocorre em cidades, onde suas características podem estar sempre evoluindo,
entretanto, a sua base está lá, o espaço não deixa de existir. Halbwachs (1990, p. 143)
destaca, a importância da conservação desse espaço, pois “é sobre ele que nosso
pensamento deve se fixar, para que reapareça esta ou aquela categoria de lembranças”.
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O caráter transformativo da memória coletiva citado anteriormente enfatiza a
importância da tradução da memória coletiva em memória histórica uma vez que, como
destaca Halbwachs (1990), a memória de uma sociedade é estendida até onde se atinge a
memória coletiva dos grupos pelos quais ela se compõe. Desse modo, quando os grupos
que formavam a memória social desaparecem, a reconstituição dessa memória se faz
importante. Essa preservação resulta na memória histórica.
O registro das memórias coletivas de uma sociedade pode aplicar-se a dois tipos
de materiais, os quais Le Goff (2008, p. 525) denomina materiais da memória:
documentos, escolhidos por historiadores, e monumentos, heranças do passado. Através
desses registros, as memórias coletivas se eternizam, não ficando restritas apenas aos
membros dos grupos nas quais se formou. Esses documentos preservam a memória da
sociedade e de seu espaço, de modo que são comumente preservados em lugares
especiais: os lugares de memória.
3 LUGARES DE MEMÓRIA
O fenômeno que Pierre Nora (1993, p. 15) identifica em seu texto Entre Memória e
História (1984) como a “materialização da memória” cresce nos momentos de ruptura,
momentos em que a sociedade tende a voltar-se para a sua história, procurando sua
identidade e, de certo modo, uma estabilidade. Sendo assim, os lugares de memória
surgem a partir do sentimento de que não é possível apenas uma memória espontânea
posto que, como colocado anteriormente por Halbwachs, esta memória que é viva
desaparece quando o grupo ou indivíduo desaparece.
É, para tanto, que se faz necessária a criação de arquivos, a manutenção de datas e
eventos comemorativos, celebrações, entre outros, pois, como põe o autor, “estas
operações não são naturais” (Nora, 1993, p. 13), não poderão conservar-se sozinhas sem
o suporte do ritual. Desse modo, pode-se dizer que lugares de memória são os espaços
nos quais a memória pode se manter e que possuem a capacidade de evocar lembranças.
Nora (1993, p. 21), em sua explicação de lugar de memória, enfatiza a importância
de a palavra “lugar” apresentar seus três sentidos - material, simbólico e funcional - uma
vez que,
Mesmo um lugar de aparência puramente material, como um depósito de
arquivos, só é lugar de memória se sua imaginação o investe de uma aura
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simbólica. Mesmo um lugar puramente funcional, como um manual de aula [….],
entra na categoria se for objeto de um ritual. Mesmo um minuto de silêncio
[...] é ao mesmo tempo recorte material de uma unidade temporal e serve,
periodicamente, para uma chamada concentrada da lembrança. Os três aspectos
coexistem sempre. (NORA, 1993, p. 21).
Assim, os lugares de memória são compostos do necessário para que o indivíduo,
com suas memórias particulares, procure reclamar sua própria história (NORA, 1993).
Em seu sentido material, esses lugares são normalmente identificados como instituições
de memória, como, por exemplo, arquivos, museus e bibliotecas, lugares nos quais
documentos que guardam a memória histórica de um determinado local ou povo são
preservados. Nesses locais é que a memória coletiva se encontra materializada.
Entretanto, através das características de um lugar de memória apontadas por Nora, é
possível inferir que outros ambientes podem ser um lugar de memória, não apenas as
instituições que são mais comumente conhecidas.
3.1 A cidade como lugar de memória
Bachelard, filósofo francês, escreve no ensaio A Poética do Espaço (1957) que “todo
espaço verdadeiramente habitado traz a essência da noção de casa” (BACHELARD, 1978,
p. 200). Para o autor, a casa serve como uma representação da alma do indivíduo, uma
vez que,
[...] a casa é um dos maiores poderes de integração para os pensamentos, as
lembranças e os sonhos do homem. [...] O passado, o presente e o futuro dão à
casa dinamismos diferentes, dinamismos que frequentemente intervêm, às vezes
se opondo, às vezes estimulando-se um ao outro. A casa, na vida do homem,
afasta contingências, multiplica seus conselhos de continuidade. Sem ela, o
homem seria um ser disperso. […] É o primeiro mundo do ser humano. Antes de
ser “atirado ao mundo”, como o professam os metafísicos apressados, o homem
é colocado no berço da casa. E sempre, em nossos devaneios, a casa é um grande
berço. (BACHELARD, 1978, p. 201).
É possível utilizar a escrita de Bachelard para inferir que a casa é um lugar de
memória, uma vez que ela possui as características apontadas por Nora. Estando dentro
de uma casa e observando seus diferentes objetos como retratos, cartas, quadros, móveis,
entre outros, a evocação de memórias torna-se possível. Uma casa está sempre repleta
delas. Ainda utilizando com a noção de casa para Bachelard, podemos fazer uma analogia
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com a cidade, considerando a cidade como uma extensão da casa, como um berço para o
indivíduo.
A cidade possui um papel muito relevante para a concepção da memória: sua
estrutura e patrimônio permitem que os indivíduos que nela vivem mantenham sua
identidade e possam reviver suas lembranças. Do mesmo modo que ao estar em uma casa,
com todos os seus objetos simbólicos e seus rituais, lembranças são conjuradas, os
diferentes espaços da cidade também têm essa capacidade de evocação.
O geógrafo Maurício de Almeida Abreu, na obra Sobre a memória das cidades
(1998), utiliza os conceitos de memória coletiva de Halbwachs para entender as relações
de memória de uma cidade e se a mesma pode ser recuperada. De acordo com Abreu
(1998, p. 86), “a vivência da cidade dá origem a inúmeras memórias coletivas, que podem
ser bastante distintas umas das outras, mas que têm como ponto comum a aderência a
essa mesma cidade”. Na perspectiva desse autor, a recuperação total da memória coletiva
de uma cidade é impossível, entretanto a reconstituição de algumas dessas memórias é
não apenas possível, como urgente, uma vez que, devido ao seu caráter dinâmico, essas
memórias tendem a se dissipar à medida que os grupos que a mantém desaparecem.
Abreu (1998, p. 87) argumenta, então, que,
É através da recuperação das memórias coletivas que sobraram do passado
(estejam elas materializadas no espaço ou em documentos), e da preocupação
constante em registrar as memórias coletivas que ainda estão vivas no cotidiano
atual da cidade […] que poderemos resgatar muito do passado, eternizar o
presente e garantir às gerações futuras um lastro de memória importante para a
sua identidade.
Na visão do autor, há, ainda, na discussão sobre memória das cidades, o problema
da perda da individualidade que “ocorre porque o que se recuperou na análise foi apenas
a dimensão universal dos lugares. Não se conseguiu recuperar simultaneamente o seu par
dialético, que é a dimensão singular” (ABREU, 1998, p. 89). Em seu ponto de vista, isso
ocorre devido à históriao ter a capacidade de “recuperar aquilo que é fundamental na
constituição de qualquer lembrança, de qualquer memória de cidade, que é a sua
individualidade” (ABREU, 1998, p. 90). Atenta, entretanto, ao erro de se ater apenas às
singularidades do espaço e esquecer-se de contextualizá-lo em relação aos outros lugares
(ABREU, 1998). Para tanto, é importante que história e memória andem juntas.
A memória desses lugares, então, deve ser reconstituída. Porém, através de quais
fontes? Instituições de memória como museus, institutos históricos, arquivos e
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bibliotecas são muito utilizadas por pesquisadores, bem como a utilização de ferramentas
como a oralidade também se faz cada vez mais comum, assim como a literatura.
3.2 A memória dos lugares através dos livros
Nora (1993, p. 28) escreveu que “a memória com efeito, só conheceu duas formas
de legitimidade: histórica ou literária”. A memória oral, por exemplo, relaciona-se com a
literatura, uma vez que narrativas e lendas são uma presença constante nas sociedades.
Idosos contam aos seus netos histórias de sua infância, histórias estas que lhes foram
contadas por seus avós, e assim por diante. Dos contos de fadas adaptados aos causos e
folclore, muito da narrativa literária na transmissão da memória por meio da
oralidade. No texto Setentrião (1972), o memorialista Pedro Nava escreve:
A memória dos que envelhecem (e que transmite aos filhos, aos sobrinhos, aos
netos, a lembrança dos pequenos fatos que tecem a vida de cada indivíduo e do
grupo com que ele estabelece contatos, correlações, aproximações,
antagonismos, afeições, repulsas e ódios) é o elemento básico na construção da
tradição familiar. Esse folclore jorra e vai vivendo do contato do moço com o
velho porque este sabe que existiu em determinada ocaso o indivíduo
cujo conhecimento pessoal não valia nada, mas cuja evocação é uma esmagadora
oportunidade poética. [….] E com o evocado vem o mistério das associações
trazendo a rua, as casas antigas, outros jardins, outros homens, fatos pretéritos,
toda a camada da vida de que o vizinho era parte inseparável e que também
renasce quando ele revive porque um e outro são condições recíprocas.
(NAVA, 2012, p. 40).
Memórias orais podem ser registradas em livros memorialísticos, como os de Nava
onde, além da autoanálise e do comentário sobre o que se passou pelo viés do presente, é
realizada a reconstrução de espaços e tempos que muito foram transformados. O
escritor cearense Gustavo Barroso, por exemplo, retrata com maestria em sua trilogia de
Memórias, a cidade de Fortaleza do início do século XX, Coração de Menino (1939), Liceu
do Ceará (1941) e Consulado da China (1941), descrevendo, além das interações sociais
da época, o urbano.
Essas memórias podem ser também representadas na ficção, na qual autores
apresentam suas perspectivas do espaço em que nasceram e que conhecem como
ninguém por meio de personagens imaginários e diferentes pontos de vista. O escritor
cearense José de Alencar, por exemplo, citado por Marco (2009, p. 107) tinha como
objetivo:
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[…] escrever a História presente e passada do Brasil, na linguagem que lhe
oferecia o Romantismo. Por isso seus romances podem ser vistos como ensaios
(no lato senso da palavra), como tateios, como procura de uma maneira
adequada para capturar a diversidade de cada momento de nossa vida.
Assim como José de Alencar, Oliveira Paiva, em seu primeiro romance, A Afilhada
(1889), descreve a cidade de Fortaleza da época em uma tentativa de entender a cidade
por meio de leituras sociais, observando-a como um organismo em constante processo de
transformação, o que remete à escrita de Halbwachs, exemplificado no segundo parágrafo
de sua obra no qual ele descreve Fortaleza como uma "florescente cidade" que se
comparava a uma "semente fermentando" (PAIVA, 1993, p. 164). Da mesma forma, no
clássico A Normalista (1893), Adolfo Caminha retrata com riqueza a cidade pelo ponto de
vista de seus personagens tão terrivelmente humanos, tornando-os muito próximos ao
leitor, em especial devido à escolha de Caminha de utilizar uma linguagem menos
romântica e mais realista à época. Tomemos como exemplo as observações que o
personagem Zuza faz ao estudar Fortaleza através de um binóculo:
[…] enquanto o vapor singrava em direção ao Mucuripe, começou a examinar a
costa cearense, como se nunca a tivesse visto de fora, da tolda de um navio. Viu
passar diante de seus olhos arregalados todo o litoral da Fortaleza, desde o farol
de Mucuripe até a ponta dos Arpoadores… Primeiro o farol, muito ao longe,
esbranquiçado, cor de areia, ereto, batido pelos ventos; depois a extensa faixa de
areia que se desdobra em ziguezague até à cidade; a praia alvacenta e rendilhada
de espumas. […] Noutro plano, coqueiros maltratados pelo rigor do sol,
erguendo-se da areia movediça que os ameaçava soterrar, uns já enterrados até
a fronde, outros inclinados, prestes a desabar; o torreão dos judeus Boris,
imitando a torre de um castelo medieval, cinzento e esguio; o seminário, por trás
no alto da Prainha, com as suas torres triangulares; as torres vetustas e
enegrecidas da Sé; o Passeio Público, com os seus três planos em escadarias; a S.
C. de Misericórdia, branca, no alto; o Gasômetro; a Cadeia; e, por ali afora, o
arraial Moura Brasil, invadido pelo mar, reduzido a um montão de casebres
trepados uns sobre os outros… (CAMINHA, 1893, p. 216-217).
Ainda sobre a relação dos livros e a memória, Eco (2010, p. 15) escreve que,
Os livros existem desde antes da imprensa, embora no início tivessem a forma
de um rolo e aos poucos tenham ficado cada vez mais semelhantes ao objeto
que conhecemos. O livro, sob qualquer forma, permitiu que a escrita se
personalizasse: representava uma porção de memória, até coletiva, mas
selecionada segundo uma perspectiva pessoal. […] Diante do livro […]
procuramos uma pessoa, um modo individual de ver as coisas. Não procuramos
apenas decifrar, mas também interpretar um pensamento, uma intenção. Em
busca de uma intenção, interroga-se um texto, do qual se podem até fazer leituras
diferentes.
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A partir disso, fica o questionamento: até que ponto a literatura é capaz de retratar
um contexto social, uma época, um tempo? Observa-se que é possível contar a história e
a memória de um espaço, ou partes delas, por meio desse gênero literário. História e
poesia, como exposto ao final da seção anterior, possuem uma relação desde a sua origem.
O filósofo e poeta Aristóteles comenta a diferença entre poesia e história no livro Poética
(2003, p. 115):
Pelas precedentes considerações se manifesta que não é ofício do poeta narrar o
que aconteceu; é, sim, o de representar o que poderia acontecer, quer dizer: o
que é possível segundo a verossimilhança e a necessidade. Com efeito, não
diferem o historiador e o poeta, por escreverem verso ou prosa [….] - diferem,
sim, em que diz um as coisas que sucederam, e outro as que poderiam suceder.
Observa-se, então, que o debate entre história e literatura é algo que ocorre
bastante tempo, desde a Antiguidade. Este assunto vem ao encontro do trabalho de
Sandra Jatahy Pesavento onde, na obra O Imaginário da Cidade (1999), dialoga com a
literatura e história como representações plausíveis do passado. Segundo a autora, a
perspectiva de “concepção da história como narrativa” (PESAVENTO, 2002, p. 12) é
relativamente recente, havendo um surgimento maior de discussões acerca do assunto a
partir da década de 70, entretanto existe contestação acerca da terminologia:
Chartier afirma que a expressão usada por Lawrence Stone de retorno da
narrativa é, em si, malposta, pois a história sempre foi uma forma narrativa,
desde que tomemos em conta a noção aristotélica da narrativa, como a da
articulação de um enredo de ações representadas. (PESAVENTO, 2002, p. 12).
No ponto de vista de Pesavento, o discurso histórico é também uma forma de
ficção, uma vez que engloba o imaginário e critérios de escolha e seleção do enredo por
parte do historiador para representar o passado. Do mesmo modo que o historiador
realiza pesquisas em diversas fontes históricas para recriar o passado, o escritor de
literatura também elabora uma narrativa que poderia ocorrer, e ambos possuem a
capacidade de levar o leitor a uma diferente época da sua atual (PESAVENTO, 2002).
Dessa forma, como muitos autores contaram, a história de sua cidade e povo por
meio da literatura são representações literárias válidas. Como afirma Pesavento (2002, p.
13), a “literatura tem, ao longo do tempo, produzido representações sobre o urbano, que
traduzem não as transformações do espaço como as sensibilidades e sociabilidades dos
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seus agentes”. Essas representações contribuem para a recuperação e interpretação das
configurações do espaço.
Para Pesavento, a mera leitura do espaço urbano tal qual está representado na
cidade no presente não é precisa, uma vez que as cidades modernas passam por uma
“pasteurização” (PESAVENTO, 2002, p. 18) de seu espaço, realizando uma substituição do
velho pelo novo, muitas vezes tornando a cidade mais padronizada e menos pessoal. Cabe,
então, buscar diferentes perspectivas em outras fontes, como em relatos orais ou através
da literatura.
Desse modo, trazendo essa perspectiva para este estudo, é possível relacionar o
que foi exposto com a possibilidade da reconstituição da memória através do livro, assim
como o livro como objeto inserido em determinado contexto histórico. O bibliófilo, por
meio de seus acervos particulares e conhecimento aprofundado dos objetos de suas
coleções, possui considerável conhecimento e informações acerca das memórias de seu
espaço.
4 BIBLIOFILIA: AMOR E DEDICAÇÃO AOS LIVROS
A história do livro representa, também, a história social e cultural da comunicação,
mais especificamente da comunicação impressa, uma vez que através dela é possível
analisar e buscar entender as formas que as vias impressas ampliaram a transmissão de
ideias entre pessoas, cidades, países e como tal evento afetou o pensamento e o
comportamento da humanidade (DARNTON, 1990). Alguns historiadores buscam
pesquisar livros anteriores à invenção dos tipos móveis, outros buscam livros mais
simples que refletiam os gostos e a história de leitores comuns. Não importa a linha de
pesquisa; o livro é um objeto essencial para o estudo do ser humano e seu lugar no mundo,
pois, “assim como não se pode pensar em locomoção sem fazer referências a máquinas,
não se pode tratar de conhecimento sem os livros” (REIFSCHNEIDER, 2011, p. 31).
Desse modo, desde sua origem na forma de manuscritos à sua impressão em massa
e popularização, o livro sempre inspirou fascínio e dedicação uma paixão não apenas
pelo ato de ler, mas de possuir e admirar: “o livro exerce uma atração multiforme, que vai
muito além da leitura, embora esta seja um ponto de partida fundamental” (MINDLIN,
1997, p. 15). Não é surpreendente, então, que tal fascínio tenha recebido um nome:
bibliofilia. Comumente, entende-se o bibliófilo como um amante dos livros, um
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colecionador. Amante de sua história, importância, raridade e conteúdo. Com o auxílio de
bibliófilos ao redor do mundo, parte da história mundial pôde ser preservada em acervos
particulares e, posteriormente, compartilhada para a sociedade em bibliotecas e museus.
4.1 Aspectos conceituais e sócio históricos da bibliofilia
A ideia de bibliofilia ou de uma paixão pelos livros é antiga, apesar de seu
conceito mudar através dos anos, de acordo com os diferentes estudiosos e bibliófilos que
procuram defini-lo. É possível encontrar a bibliofilia em escritos da Antiguidade Clássica,
como o texto O colecionador de livros ignorante, de Luciano de Samósata, publicado no
século II, no qual o autor ironiza um colecionador que busca remediar sua ignorância
através de sua grande coleção de livros (REIFSCHNEIDER, 2011).
Reflexões comuns a um bibliófilo de hoje, como a importância da qualidade das
obras no momento de sua escolha, podem ser encontradas ainda mais anteriormente, no
século I, na obra de Sêneca (REIFSCHNEIDER, 2011). Posteriormente, antecedendo à
imprensa de Gutenberg, durante a era medieval, Ricardo de Bury escreveu a obra
intitulada Philobiblion, publicada em 1345, que consiste em diversos ensaios sobre o
objeto livro, seu valor e sua posse, assim como as “guerras sangrentas por cópias de
exemplares” (REIFSCHNEIDER, 2011, p. 69). De Bury (1903) explica a escolha do título, a
palavra grega philobiblion, por tratar-se de uma obra, principalmente, sobre o amor aos
livros.
Em 1862, o historiador inglês, John Hill Burton (apud BASBANES, 2012, p. 20,
tradução nossa) escreve sobre o que ele intitula uma peculiar “disposição por possuir
livros”, apontando como a ambição desta classe de indivíduos encontrar valor onde
aparentemente não nenhum. Para Burton (apud BASBANES, 2012), trata-se de uma
habilidade e sutileza que é desenvolvida ao longo dos anos permitindo que a pessoa
consiga encontrar algo de valor, ou que tenha a potencialidade de tornar-se valioso, no
meio de pilhas de papéis e coisas. O historiador aponta, ainda, como tal peculiar
disposição é benéfica para a sociedade, uma vez que salva livros da aniquilação e propicia
a criação de grandes coleções (BURTON apud BASBANES, 2012).
Etimologicamente, o bibliófilo é um “amigo dos livros” (REIFSCHNEIDER, 2011, p.
70), vindo das palavras gregas biblion (livros) e filia (amizade). Como mencionado
anteriormente, trata-se, principalmente, de um amor aos livros. Entretanto, nem todo
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amante de livros é um bibliófilo, assim como nem todo colecionador também o é. O
escritor e bibliófilo Umberto Eco (2010, p. 36) define a bibliofilia como “o amor ao objeto
livro mas também à sua história”, apesar de o autor apontar que não exatamente a
necessidade deste amor, estender-se ao conteúdo dos livros. O bibliófilo é alguém que,
“ainda que atento ao conteúdo, quer o objeto, e que este seja, se possível, o primeiro saído
das prensas do tipógrafo” (ECO, 2010, p. 35). Alguns bibliófilos colecionam diferentes
edições de um livro, outros focam em um único autor. Entretanto, como explica Eco
(2010), enquanto um colecionador busca completar sua coleção, o bibliófilo espera que
esta nunca esteja completa, que haja sempre algo a se procurar. O bibliófilo é, então, um
colecionador, amigo e amante dos livros que estuda sua história e sua relevância, fazendo
o possível para obtê-los e guardá-los.
A bibliofilia envolve, também, diferentes formas de arte, como por exemplo a arte
da encadernação, aspecto importante para todo bibliófilo e amante de livros. A
encadernação é, acima de tudo, uma forma de conservação preventiva, tendo como sua
principal função proteger o miolo do livro (MÁRSICO, 2010). A partir do século IV, as
encadernações passaram a ser mais desenvolvidas, com livros sagrados procurando em
sua rica e luxuosa encadernação a valorização da palavra divina neles contida (idem,
2010). Desde então, diferentes eras da encadernação surgiram ao longo dos séculos, como
por exemplo a encadernação bizantina (séculos IV a VI), encadernações ricas, com capas
feitas de placas de marfim ou cobre e prata e incrustadas de pedras preciosas, ouro ou
pinturas de pigmentos coloridos (idem, 2010).
Diferentes estilos de encadernação também são encontrados ao longo dos séculos
e em variados países, como o estilo Aldino (século XV), denominação dada às
encadernações do italiano Aldo Pio Manuzio, que se caracterizavam "pelo emprego, na
sua decoração, de folhas estilizadas terminadas em espiral, filetes a seco, retos e curvos,
entrelaçando-se a flores no centro e nos cantos" (FARIA; PERICÃO apud MÁRSICO, 2010,
p. 9). Tais características são relevantes para bibliófilos pois, além de representar a data
das obras, elas também adicionam status de obra de arte para os livros, tornando-os mais
atraentes para colecionadores.
Outro aspecto importante da bibliofilia é o ex libris, palavra que vem do latim
significando ‘dos livros de’ ou ‘pertencentes a’, sendo então uma forma de assinatura do
proprietário daquele livro (BEZERRA, 2006). Tem-se registrado um dos primeiros usos
do ex libris em seu sentido comum de etiqueta de propriedade no ano de 1188 na
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Alemanha, onde foram encontrados livros com a figura de Frederico I, da Baviera em sua
biblioteca pessoal (BEZERRA, 2006). Os ex libris são comumente encontrados na face
interna do livro, acompanhando nomes, iniciais, ornamentos, brasão, monograma ou
ilustração encomendada pelo proprietário do livro (BEZERRA, 2006).
4.2 Bibliofilia no Brasil
Segundo Reifschneider (2011), para o desenvolvimento da bibliofilia, é importante
que haja um contexto no qual a impressão de livros seja significativa, uma vez que
claramente o livro é a peça-chave para o bibliófilo. É também importante um mercado
editorial desenvolvido, posto que é necessário material para a formação da coleção. Desse
modo, o desenvolvimento tardio da imprensa no Brasil influenciou bastante no
aparecimento da bibliofilia aqui.
A imprensa surge no Brasil como uma das consequências da chegada da família
real Portuguesa em 1808, com a criação da Imprensa Régia, entretanto a primeira
impressão realizada no Brasil trata-se de um folheto de 22 páginas datado de 1747
intitulado Relação da entrada que fez… D. F. Antônio do Desterro Malheiro, Bispo do Rio de
Janeiro… Composta pelo Doutor Antônio Rosado da Cunha… (MORAES, 1975). Alguns
autores, como Moraes, estranham a demora da aparição da imprensa no país, uma vez que
os jesuítas, ao vir para a América do Sul realizar sua catequização, introduziram a
imprensa no Paraguai em cerca de 1700. Outros países também receberam a introdução
nessa época, mas não o Brasil. Seus livros eram impressos em Coimbra, Évora e Lisboa e
trazidos para terras brasileiras para que fossem utilizados em seus colégios para ensino
de gramática e catecismo aos povos indígenas (MORAES, 1975).
Desse modo, o primeiro prelo surge no Brasil em 1747, quando Antônio Isidoro da
Fonseca instala uma tipografia no Rio de Janeiro intitulada de ‘segunda oficina’, sendo a
primeira localizada em Portugal. Entretanto, a tipografia de Isidoro da Fonseca foi fechada
pela família real portuguesa, e todo o seu material apreendido e retornado ao Reino pois
não lhes era conveniente” (MORAES, 1975, p. 138). Percebe-se que o desenvolvimento
de indústrias e de informações na colônia não era prioridade para os colonizadores
europeus na época. Isidoro da Fonseca continuou tentando estabelecer uma tipografia no
Brasil, realizando pedidos oficiais ao governo português, mas foi recusado novamente em
1750.
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A Imprensa Régia surge, então, da necessidade da família real e do governo
português de publicar seus atos oficiais, sendo tido como o primeiro impresso dessa
oficina a Relação dos despachos de 13 de maio, folheto de 27 páginas. Alguns anos após
sua instalação, outra tipografia é aberta, desta vez na Bahia, em 1811, sendo as duas as
únicas oficinas que funcionaram no Brasil até a Independência. A partir de 1922, a
imprensa foi, aos poucos, espalhando-se pelo resto do país (MORAES, 1975).
Durante esse período, a circulação de livros era bastante escassa e restrita, assim
como o número de cidadãos letrados. As bibliotecas coloniais de maior porte possuíam
apenas cerca de 1.000 volumes (REIFSCHNEIDER, 2011). Assim, realizar um histórico da
bibliofilia e de bibliófilos no Brasil desde a implantação da imprensa é tarefa um tanto
complexa, como explica Reifschneider (2011), uma vez que colecionadores raramente
produzem, deixando ao pesquisador a tarefa de vasculhar acervos à procura de algum ex
libris ou nota deixada por algum deles.
A coleção de Salvador de Mendonça foi uma das primeiras coleções brasileiras a
serem doadas para uma instituição pública em 1906, quando o escritor realizou uma
doação de 925 livros à Biblioteca Nacional (BN). D. Pedro II também doou sua rica coleção
para a Biblioteca Nacional (BN), o Museu Nacional e o IHGB em 1891. A coleção doada à
BN possui mais de 48.000 volumes. Dentre esses e outros, diversos bibliófilos foram
surgindo no Brasil e, ao longo dos anos, realizando doações para instituições públicas,
enriquecendo assim o patrimônio nacional, conforme afirma Moraes (1975).
4.3 Raridade e colecionismo de livros
Como citado anteriormente, Eco escreve que o bibliófilo não se contenta apenas
em ter grande coleção, mas possui a pretensão que seus livros sejam, preferencialmente,
os primeiros e os mais raros. Mas o que torna um livro raro? Os critérios de raridade são
diversos, bem como os pontos de vista em que eles podem ser analisados: do bibliotecário,
do restaurador, do livreiro, do bibliófilo (REIFSCHNEIDER, 2011). E, ainda assim, dentro
desses grupos, os conceitos podem variar. Conforme explica Reifschneider (2011), um
livro pode ser fácil de encontrar, mas se seu estado de conservação é normalmente
debilitado, uma edição bem conservada e em estado próximo do original torna-se rara.
Dessa forma, tratando-se de raridade, não se observa apenas a edição da obra ou seu
conteúdo, mas uma série de fatores.
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A Fundação Biblioteca Nacional (FBN) oferece algumas sugestões, assim como os
critérios por ela tomados, entretanto, cabe a cada instituição determinar seus critérios de
raridade durante a formação de suas políticas de aquisição de acervos. Os critérios de
raridade adotados pela Fundação Biblioteca Nacional ([2000]) são os seguintes:
primeiras impressões (entre os séculos. XV-XVI); impressões dos séculos XVII e XVIII;
obras do Brasil (até o século XIX); edições clandestinas; edições de tiragens reduzidas;
edições especiais de luxo; exemplares de coleções especiais (com encadernações de luxo
e ex libris); exemplares com anotações manuscritas de importância (incluindo
dedicatórias); e obras esgotadas.
Pinheiro (2009, p. 33) propõe que curadores de acervos levem em consideração as
seguintes recomendações metodológicas:
o limite histórico (ex: o início da imprensa ou até antes da invenção da mesma),
aspectos bibliológicos (ex: ilustrações artesanais, tipo de papel, uso de materiais
valiosos), valor cultural (ex: primeiras edições, obras censuradas), pesquisa
bibliográfica (ex: estudar as particularidades das obras) e características do
exemplar (ex: presença de algum autógrafo ou dedicatória, marcas de
propriedade).
“Como todo bom bibliófilo”, escreve Eco (2010, p. 53), “vendia a uma entidade
cultural, a fim de que seu patrimônio tornasse inalienável e não se dispersasse”. São a
partir dessas doações de bibliotecas particulares, cuidadosamente organizadas por
bibliófilos, que grandes bibliotecas e acervos históricos são formados. Ainda, os livros de
bibliófilos, muitas vezes, são comprados em sebos ou antiquários e costumam pertencer
a outras pessoas, outras famílias, pessoas que deixam suas marcas nos livros: seja no
simples ato de lê-los repetidamente ou em anotações e marcas pessoais deixadas em suas
páginas. É possível, também, relacionar bibliofilia e a memória de uma cidade tendo os
bibliófilos como guardiões de seus livros e estudioso de sua história, bem como por meio
de museus e bibliotecas que fazem uso de seu acervo.
O bibliófilo precisa conhecer bem seus livros e sua biblioteca. Como explica Moraes
(1975, p. 21):
Para se formar uma coleção homogênea sobre um assunto ou um autor é preciso
ciência, conhecer a vida do autor, saber quando, onde publicou seus livros. É
preciso toda uma soma de conhecimentos, uma verdadeira erudição, às vezes. É
que esa diferença entre o verdadeiro bibliófilo e o mero comprador de livros.
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Oliveira; Cavalcante | Memória, cidade e bibliofilia
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Em A Memória Vegetal, Umberto Eco dedica vários capítulos a diferentes obras,
expondo detalhes sobre sua história de forma minuciosa, apresentando seu contexto
histórico e o porquê do status de obra rara. Em um dos ensaios contidos no livro,
intitulado O estranho caso da Hanau 1609, o autor explica o caso de uma obra publicada
no século XVII, que possui versões diferentes e cada uma com detalhes particulares. No
texto, Eco (2010) apresenta a história do autor do livro, sobre o que o livro trata e o
contexto em que foi publicado, assim como possíveis explicações para o porquê das
diferenças nas edições, diferenças essas, importantes para a definição da primeira edição
a mais rara. Segundo o autor, bibliófilos e historiadores ainda especulam, analisando
minuciosamente datas e detalhes das ilustrações de cada edição.
Essa pesquisa minuciosa, cujo texto se estende por 40 páginas analisando, entre
outros detalhes, a ordem das estampas das versões conhecidas do livro, serve apenas
como uma amostra para o cuidado que o bibliófilo possui com a história de um livro e do
contexto em que ele se insere. É possível, então, pensar a relevância de um bibliófilo para
a preservação da história e da memória, por meio de seus estudos, observações e ponto
de vista particular.
5 CONCLUSÃO
A partir do exposto acerca das relações entre bibliofilia, memória e cidade é
possível perceber que a história dos lugares está envolta nos textos e contextos que os
constroem. Observa-se que a bibliofilia e a memória possuem relação bastante próxima,
uma vez que os bibliófilos, em sua maior parte, buscam para sua coleção livros de valor
histórico e que carregam em si parte da história e da memória de uma época.
O lugar da memória, mesmo que essa adquira características universais,
permanece presente nas práticas cotidianas dos sujeitos em seus espaços de convivência
e de pertencimento. Nesse sentido, o bibliófilo traz consigo muito das referências e
repertórios produzidos nos espaços das cidades, daquilo que é esteticamente
apresentado, a exemplo do patrimônio literário, da pluralidade das convivências e da
cultura presente nos eventos históricos ao longo do tempo.
Atualmente, tem-se observado certa fragilidade na valorização dos lugares de
memória no que concerne à globalização. Isso pode ser evidenciado, por exemplo, na
prática cada vez mais exígua do interesse pela bibliofilia, levando ao esquecimento e à
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consequente desvalorização de parte tão importante do patrimônio que são as obras
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Universidade de Brasília, Brasília, 2011.
AUDITORIA DE REPOSITÓRIOS ARQUIVÍSTICOS DIGITAIS CONFIÁVEIS
AUDIT OF TRUSTWORTHY DIGITAL ARCHIVAL REPOSITORIES
Henrique Machado dos Santos¹
¹ Bacharel em Arquivologia e mestre em
Patrimônio Cultural pela Universidade Federal
de Santa Maria (UFSM). Arquivista da
Coordenação de Arquivo Geral da Universidade
Federal do Rio Grande (FURG).
E-mail: henrique.hms.br@gmail.com
ACESSO ABERTO
Copyright: Esta obra está licenciada com uma
Licença Creative Commons Atribuição 4.0
Internacional.
Conflito de interesses: O autor declara que não
há conflito de interesses.
Financiamento: Não há.
Declaração de Disponibilidade dos dados:
Todos os dados relevantes estão disponíveis
neste artigo.
Recebido em: 07/08/2019.
Aceito em: 28/09/2019.
Revisado em: 15/11/2019.
Como citar este artigo:
SANTOS, Henrique Machado dos. Auditoria de
repositórios arquivísticos digitais confiáveis.
Informação em Pauta, Fortaleza, v. 4, n. 2, p.
156-172, jul./dez. 2019. DOI: 10.32810/2525-
3468.ip.v4i2.2019.41787.156-172.
RESUMO
Este estudo discute a implementação de
repositórios arquivísticos em conformidade com
o Sistema Aberto para Arquivamento de
Informação e a necessidade de auditá-los para
avaliar sua confiabilidade. Para tanto, realiza-se
um levantamento bibliográfico de materiais
previamente publicados, com seleção de: livros
que abordam as perspectivas da Arquivística na
era digital e o desafio da custódia documental
confiável; publicações técnicas como as normas
International Organization for Standardization e
padrões de auditoria; e artigos científicos
recuperados pela ferramenta de pesquisa Google
Scholar, com busca temática relacionada à
preservação de documentos arquivísticos
digitais, repositórios digitais confiáveis,
auditoria de informação e auditoria arquivística.
O repositório arquivístico é o prisma da
discussão, a comparação entre os padrões de
auditoria torna-se a categoria norteadora, logo,
obtém-se um artigo de revisão assistemática.
Dessa forma, são analisados os padrões de
auditoria: Trustworthy Repository Audit &
Certification: Criteria and Checklist, Catalogue of
Criteria for Trusted Digital Repositories da
Network of Expertise in long-term STORage,
Digital Repository Audit Method Based on Risk
Assessment e Audit and Certification of
Trustworthy Digital Repositories. Por fim, o
comparativo entre os padrões demonstra que o
Audit and Certification of Trustworthy Digital
Repositories é o mais indicado para auditar os
repositórios arquivísticos digitais.
Palavras-chave: Preservação digital.
Repositório digital. Arquivística. Documento
digital. Confiabilidade. Autenticidade.
ABSTRACT
This study discusses the implementation of
archival repositories that conform to the Open
Archival Information System and the need to
audit them to assess their reliability. To this end,
a bibliographic survey of previously published
materials is carried out, with selection of: books
that approach the perspectives of Archival
science in the digital age and the challenge of
reliable documentary custody; technical
publications such as International Organization
for Standardization and auditing standards; and
scientific articles retrieved by the Google Scholar
search tool, with thematic search related to the
preservation of digital archival records, reliable
Inf. Pauta Fortaleza, CE v. 4 n. 2 jul./dez. 2019 ISSN 2525-3468
DOI: https://doi.org/10.32810/2525-3468.ip.v4i2.2019.41787.156-172
ARTIGO DE REVISÃO
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digital repositories, information auditing and
archival auditing. The archival repository is the
prism of the discussion, since the comparison
between the audit standards becomes the
guiding category, thus, we obtain a no
systematic review article. Thus, the audit
standards are analyzed: Trustworthy Repository
Audit & Certification: Criteria and Checklist,
Catalog of Criteria for Trusted Digital
Repositories from Network of Expertise in long-
term STORage, Digital Repository Audit Method
Based on Risk Assessment and Audit and
Certification of Trustworthy Digital Repositories.
Finally, a comparison of standards demonstrates
that the Audit and Certification of Trustworthy
Digital Repositories is best suited for auditing
digital archival repositories.
Keywords: Digital preservation. Digital
repository. Digital record. Reliability.
Authenticity.
1 INTRODUÇÃO
O corpus teórico da preservação digital vem agregando novas práticas
recomendadas. Parte disso se deve aos avanços na área das tecnologias da informação e
às discussões realizadas no âmbito da comunidade de preservação. As atividades que
antes eram orientadas exclusivamente às estratégias, como por exemplo, emulação,
migração e refrescamento, agora são orientadas aos sistemas para gestão e preservação
de documentos.
Tal mudança surge em torno da necessidade de agregar confiança ao custodiador.
Dessa forma, os sistemas informatizados e as políticas de preservação digital tornaram-
se peças-chave para garantir o acesso contínuo em longo prazo a documentos
arquivísticos autênticos.
A literatura técnica de preservação digital define o modelo Open Archival
Information System (OAIS) como o principal padrão para implementar Repositórios
Digitais Confiáveis (RDC), tornando-se a norma International Organization for
Standardization (ISO) 14721:2012. Por sua vez, a norma OAIS foi traduzida para a língua
portuguesa do Brasil, e consiste na recomendação ABNT/NBR 15472:2007, Sistema
Aberto para Arquivamento de Informação (SAAI).
O modelo OAIS/SAAI foi desenvolvido no âmbito do Consulative Committee for
Space Data Systems (CCSDS) e apresenta-se como a principal norma no âmbito da
preservação digital. Este é um estudo de fundamentação sólida, que envolve diversos
profissionais com propriedade no tema. De tal modo, a conformidade com o modelo
OAIS permite ao Repositório Arquivístico Digital Confiável (RDC-Arq) desenvolver um
sistema robusto para preservação da informação digital em longo prazo.
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Embora o OAIS não faça claras menções à Arquivística/Arquivologia, observa-se
que demonstra elevada conformidade com os pressupostos teóricos tradicionais como,
por exemplo, os princípios da proveniência, organicidade e autenticidade. Logo, o OAIS
preenche lacunas teóricas, que notadamente foram criadas pelo advento do documento
arquivístico digital.
Essas lacunas relacionam-se à complexidade do próprio ambiente digital, visto
que os referenciais tradicionais da Arquivística eram orientados aos documentos em
suportes analógicos. Assim, o modelo OAIS possibilita tratamento adequado aos
documentos arquivísticos, por considerar a complexidade da informação registrada em
ambiente digital. Igualmente, surge a necessidade de definir uma política de preservação
em nível organizacional para elencar as normas a serem utilizadas, além de manter
conformidade com as especificidades da Arquivística.
A implementação de um RDC-Arq em conformidade com o modelo OAIS
compreende o primeiro passo para a preservação de documentos arquivísticos digitais
autênticos em longo prazo. Quando inseridos no OAIS, tais documentos são
transportados em pacotes de informação: Pacote de Informação para Submissão
(Submission Information Package SIP), Pacote de Informação para Arquivamento
(Archival Information Package AIP) e Pacote de Informação para Disseminação
(Dissemination Information Package DIP) juntamente com os seus respectivos
componentes digitais. Esse transporte compreende o ciclo de vida dos documentos, ou
seja, desde o produtor, perpassando pelo RDC-Arq até chegar ao consumidor.
No entanto, mesmo em conformidade com o OAIS, os RDC-Arq’s precisam ser
auditados e certificados para demonstrar que cumprem os requisitos preconizados, e
consequentemente, possam agregar confiabilidade ao acervo custodiado. Logo, a
implementação de um RDC-Arq requer ir além de sua conformidade com o modelo OAIS.
Tal fato é sedimentado na rápida evolução da Tecnologia da Informação e Comunicação
(TIC), que aliada ao surgimento de documentos complexos, trouxe significativos desafios
ante a preservação digital.
Sendo assim, um RDC-Arq deve manter conformidade com o modelo OAIS,
comportar as especificidades da Arquivística, ser auditado periodicamente, para que
possa demonstrar que é confiável. Considerando o exposto, este estudo tem por objetivo
discutir a adequação de possíveis padrões de auditoria a serem utilizados para
mensurar o nível de confiabilidade dos RDC-Arq’s.
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A metodologia consiste no levantamento bibliográfico de materiais previamente
publicados, que contempla a seleção de livros, publicações técnicas e artigos científicos
recuperados por meio da ferramenta de pesquisa Google Scholar. Com relação aos livros
utilizam-se obras que abordam questões como: as perspectivas da Arquivística na era
digital e a custódia de documentos em ambiente digital publicadas nos últimos cinco
anos. Dentre as publicações técnicas destacam-se: normas ISO e padrões para auditoria
de repositórios. Já os artigos recuperados partem dos seguintes termos: "preservação de
documentos arquivísticos digitais", "repositórios digitais confiáveis", "auditoria de
informação", e "auditoria arquivística”; todas as buscas com a delimitação temporal de
dez anos (2009-2019) e foram escolhidas a partir da análise dos respectivos resumos.
O RDC-Arq é utilizado como prisma da discussão, de modo que o estudo de
possíveis padrões de auditoria para mensurar o seu nível de confiabilidade, torna-se a
categoria norteadora desta pesquisa. Os dados coletados são analisados pelo método
qualitativo e a discussão dos resultados segue a lógica dedutiva, de modo que se realiza
uma triangulação entre a Arquivística, o modelo OAIS e os padrões de auditoria. Após tal
reflexão, obtém-se um artigo de revisão com caráter assistemático (GIL, 2010; LUNA,
1997; SILVA; MENEZES, 2005; VOLPATO et al., 2013).
2 DA NECESSIDADE DE UM SISTEMA DE ARQUIVOS INTEROPERÁVEL
A literatura técnica da preservação digital perpassa questões essenciais como,
por exemplo, as estratégias, os repositórios, a custódia confiável e a auditoria e
certificação de repositórios digitais. Logo, existe a necessidade de aproximar essas
abordagens da Arquivística, a qual está inserida em um contexto de reformulação
epistemológica e pragmática.
A documentação em ambiente digital catalisa um processo de (re)definição dos
princípios teórico-práticos, e assim, reforça a quebra do paradigma arquivístico,
essencialmente analógico e custodial. As transformações sobre os registros
contemporâneos se refletem diretamente na concepção de patrimônio, de modo a
identificar e incorporar o patrimônio em ambiente digital. Desta forma, surge a
necessidade de preservar documentos arquivísticos digitais para que possam ser
utilizados como fontes de pesquisa e informação do futuro.
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Estamos na era do primitivismo digital. Tudo que fazemos agora terá um
impacto nos registros que serão acessados no futuro. Porém, parte dessa
história corre o perigo de se perder em sequências de bits, estruturadas em
bytes sem leitura no futuro. É a obsolescência tecnológica. Para cuidar dela,
usamos técnicas de preservação digital que poderão, daqui a alguns anos,
ajudar nossos descendentes a entenderem os dias de hoje (LUZ, 2015, p. 19).
A fragilidade dos documentos arquivísticos em ambiente digital implica na
necessidade de implementar um sistema de arquivos que contemplem desde a produção
documental; perpassando a destinação final; a preservação de longo prazo; e
promovendo o acesso contínuo aos conteúdos preservados. Dessa forma, os ambientes
de gestão e preservação devem ser geridos por sistemas informatizados que
contemplem as complexidades informáticas e as especificidades da Arquivística.
Inicialmente, a implementação de um sistema de arquivos irá envolver a
conformidade com leis, decretos, portarias, resoluções do Conselho Nacional de
Arquivos (Conarq), diretrizes do projeto The International Research on Permanent
Authentic Records in Electronic Systems (InterPARES), normas ISO e a conformidade com
padrões como o Model Requirements for the Management of Electronic Records (MoReq)
(KANTORSKI; KROTH, 2015). No que tange ao ambiente de gestão documental, ressalta-
se a pertinência de se implementar um Sistema Informatizado para Gestão Arquivística
de Documentos (SIGAD).
Observa-se que o SIGAD consiste em um conjunto de procedimentos e operações
técnicas, dotado de características arquivísticas e processado via computador. Portanto,
poderá compreender um software exclusivo, um conjunto de softwares (integrados,
adquiridos ou desenvolvidos) ou ser uma combinação de ambos. O êxito do SIGAD está
relacionado à implementação a priori de uma política de gestão para documentos
arquivísticos (BRASIL, 2011).
Com isso, o SIGAD pode ser desenvolvido nos moldes do MoReq ou do Modelo de
Requisitos para Sistemas Informatizados de Gestão Arquivística de Documentos (e-Arq).
Logo, o SIGAD será responsável pela tramitação, manutenção da autenticidade e
destinação final dos documentos em fase corrente e intermediária, os quais serão
armazenados em uma base de dados.
O e-ARQ Brasil enumera requisitos mínimos para um SIGAD, indiferente da
plataforma tecnológica na qual for implementado. Desse modo, é possível especificar
todas as atividades e operações técnicas envolvidas no processo de gestão documental,
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incorporando assim, a produção, a tramitação, o uso e sua destinação final. Portanto, um
SIGAD em conformidade com o e-Arq elevará o nível de confiabilidade e possibilita
acesso a documentos arquivísticos autênticos (BRASIL, 2011).
Já o MoReq fornece um conjunto de requisitos abrangente e simples, de fácil
compreensão, voltado para um sistema de registros, de modo que seja adaptável e
aplicável para atividades de negócios, setores industriais e diversos tipos de
organizações. O MoReq define um conjunto comum de serviços básicos que são
compartilhados por diferentes tipos de sistema de registros, que também são modulares
e flexíveis, possibilitando a sua incorporação em aplicativos especializados e dedicados,
os quais podem não ter sido previamente reconhecidos como sistemas de registros
(DLM, 2010).
Com o auxílio dos sistemas informatizados é possível monitorar e tratar a
documentação desde o momento da sua produção ou captura, de modo que o seu ciclo
de vida seja constantemente monitorado, doravante, custódia ininterrupta. Com isso, é
possível intervir quando necessário, com o intuito de garantir a manutenção da
autenticidade e acesso em longo prazo.
As atividades de preservação devem ser consideradas antes mesmo da produção
dos documentos, pois não como prever, evitar e nem é possível ignorar os avanços
das tecnologias da informação. Entretanto, sabe-se que todas as tecnologias
contemporâneas se tornarão obsoletas, e se não houver intervenções humanas, as
informações serão perdidas com o tempo (SANTOS; FLORES, 2017).
A preservação de documentos arquivísticos em ambientes digitais envolve a
interoperabilidade entre os sistemas informatizados para gestão, preservação e acesso.
Logo, será necessário envolver todo o ciclo de vida documental em uma linha de
custódia ininterrupta. Dessa forma, é possível monitorar todas as alterações e
tramitações, para registrar os eventos pertinentes que corroboram com a autenticidade.
Após cumprir o respectivo prazo de guarda, os documentos armazenados nos
sistemas de gestão serão submetidos ao processo de avaliação. Parte desses documentos
será eliminada, com base nos prazos de guarda de uma tabela de temporalidade e
destinação de documentos; e outra parte, dotada de valor permanente, será recolhida ao
RDC-Arq.
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Santos | Auditoria de repositórios arquivísticos
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O RDC-Arq será o ambiente confiável para preservação de longo prazo, no qual
será realizada a maioria das atividades de preservação digital. No entanto, é preciso
comprovar que o RDC-Arq cumpre os requisitos da Arquivística, bem como os
relacionados à confiabilidade, que são enumerados pelo OAIS.
Ressalta-se que o modelo OAIS preconiza funções de preservação que incluem:
admissão, armazenamento arquivístico, gerenciamento de dados, acesso e disseminação.
Ademais, aborda a migração das informações digitais para novos suportes e formatos de
arquivo, bem como, os modelos utilizados para representar a informação, a função do
software na preservação de informação e a interoperabilidade entre os arquivos
(ABNT/NBR 15472:2007; CCSDS, 2012; ISO 14721:2012).
Os documentos em ambiente digital necessitam de um conjunto de informações
para representar corretamente o seu conteúdo, demonstrando a característica de
recursividade. Assim, o modelo lógico da informação arquivada, proposto pelo OAIS,
permite identificar e adicionar os componentes necessários para obter a correta
representação/interpretação dos documentos. A informação adicional irá contribuir
para a presunção de autenticidade, pois identifica o seu histórico de custódia e as
modificações realizadas. Além disso, podem-se vincular informações que irão auxiliar na
preservação dos documentos, identificar o seu armazenamento e descrever o seu
conteúdo para facilitar o processo de busca e recuperação das informações.
Além de manter conformidade com padrões pertinentes, será preciso estabelecer
a interoperabilidade entre os sistemas para gestão e preservação, respectivamente
SIGAD e RDC-Arq. A relação entre SIGAD e RDC-Arq, bem como o controle sobre os seus
fluxos de informações será capaz de manter uma cadeia de custódia confiável.
O lugar para a perspectiva custodial tem finalidades específicas: manter o
vínculo arquivístico entre os documentos, isto é, assegurar a sua preservação
em um conjunto, e garantir a sua segurança, de modo que possam ser acessados
e utilizados como documentos autênticos, seja para fins de prova ou de
referência (SILVA, 2016, p. 22).
Logo, é possível implementar um ambiente de preservação confiável, devendo-se
estabelecer uma cadeia de custódia ininterrupta na relação interoperável entre o SIGAD
e o RDC-Arq e considerar: os modelos e-Arq, MoReq e OAIS, os princípios arquivísticos
(proveniência, autenticidade, naturalidade, organicidade e unicidade), a necessidade de
auditoria, a legislação vigente, as diretrizes do Conarq, os estudos pertinentes sobre o
tema e as demais normas ISO relacionadas à informação e documentação.
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Posteriormente, a plataforma de acesso surge como complemento ao sistema de
preservação, que irá fornecer meios para atingir os objetivos de um sistema de arquivos:
preservar e garantir acesso contínuo em longo prazo.
Ressalta-se que a oferta de informação é responsável por criar a demanda, pois o
consumidor desconhece os conteúdos armazenados nos acervos. Logo, o consumidor
não sabe exatamente o que deseja, entretanto, ele conhece, com alguma lucidez, a
informação que necessita (BARRETO, 2009). Dessa forma, as plataformas de acesso
devem facilitar o acesso aos consumidores, de modo que tenham diversas opções para
delimitação da pesquisa. Compete ao RDC-Arq disponibilizar instrumentos de pesquisa e
mecanismos que facilitem o acesso à informação para sua comunidade designada e aos
demais usuários em potencial.
3 ADICIONANDO CONFIANÇA POR INTERMÉDIO DA AUDITORIA
A auditoria consiste em um processo executado de forma independente,
conforme uma sistemática, o qual é documentado para se obter evidências objetivas, ou
seja, dados que sustentam a existência ou veracidade de determinado fato. Tais
evidências podem ser avaliadas de forma objetiva para determinar o nível de
conformidade com os critérios de auditoria (ABNT/NBR/ISO 19011:2018).
A partir desses critérios, podem-se identificar funções e atividades executadas em
um determinado período com produção de resultados. Tradicionalmente, o conceito de
auditoria esrelacionado às funções de controle (OLIVEIRA; BATISTA, 2019). Ressalta-
se que a auditoria tornou-se necessária em virtude da complexidade das organizações,
de modo que ela busca evidenciar a conformidade das ões com um comportamento
organizacional entendido como adequado.
Com relação ao termo “auditoria de informação” a literatura aponta que seu
aspeto central consiste no estudo de todo o ciclo de vida da informação, de modo que
comporta: produção, tramitação, necessidades e usos da informação; além do custo e do
valor atribuído às informações de uma organização. Nesse contexto, a auditoria de
informação está diretamente relacionada com a avaliação da qualidade dos serviços e ao
planeamento estratégico da organização (PESTANA, 2014).
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o termo “auditoria arquivística” abarca a avaliação dos procedimentos que são
utilizados em todo o ciclo de vida dos documentos arquivísticos. Isso comporta desde a
produção até a sua guarda permanente e acesso, em consonância com o embasamento
legal e teórico da disciplina arquivística. Em caráter complementar, podem-se monitorar
as ações, bem como fazer análises de cunho crítico e enumerar sugestões (OLIVEIRA;
BATISTA, 2019).
Destaca-se que a auditoria, que tradicionalmente esteve relacionada às atividades
de gestão, tem novas perspectivas, que podem ser observadas nos conceitos de
“auditoria da informaçãoe “auditoria arquivística”. O enfoque dado a todo o ciclo de
vida documental reforça a implementação de RDC-Arq’s capazes de salvaguardar a
documentação em longo prazo e garantir o acesso.
A constante evolução das TIC’s e a consequente demanda por documentos
digitais estimula a implementação de repositórios digitais para garantir o acesso
contínuo em longo prazo. Da mesma forma, ainda não a confiança esperada pela
comunidade designada e pelos usuários potenciais. Assim, estima-se que tal confiança
seja atingida com procedimentos periódicos de auditoria e certificação, bem como por
meio da divulgação dos métodos de preservação empregados pelo custodiador do
acervo. Logo, a auditoria de RDC-Arq’s se enquadra no escopo da auditoria arquivística.
O processo de auditoria torna-se essencial para demonstrar que um RDC-Arq está
em conformidade com o modelo OAIS e que segue princípios da Arquivística. Por meio
de auditorias periódicas, será possível verificar as vulnerabilidades dos repositórios e o
cumprimento das políticas de preservação a fim de buscar soluções que elevem os níveis
de confiabilidade. Posteriormente, as atividades de certificação constituem em um
complemento frente à auditoria, para demonstrar que um determinado RDC-Arq atingiu
os níveis de confiabilidade necessários, e poderá ser considerado “confiável”.
Tendo em vista o exposto, observa-se que as atividades de auditoria e certificação
são fundamentais para adicionar confiabilidade às organizações que fazem a custódia de
documentos arquivísticos digitais. Ressalta-se a sua ligação com a gestão de
documentos, assim como a necessidade de manter uma cadeia de custódia documental
ininterrupta, entre o SIGAD e o RDC-Arq, a fim de gerar confiabilidade.
A questão da confiabilidade não se limita, tão somente, ao ambiente de
preservação documental. Portanto, deve ser pensada desde o momento da produção
documental, de modo a incluir metadados que corroborem com a presunção de
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autenticidade. Além disso, o sistema responsável pelos documentos em fases corrente e
intermediária, doravante SIGAD, deverá possuir os requisitos necessários para mantê-
los autênticos até o momento da avaliação e consequente recolhimento ao RDC-Arq.
Após o recolhimento, compete ao RDC-Arq a responsabilidade de preservar
documentos autênticos e mantê-los acessíveis no longo prazo. Para tanto, isso requer
que o RDC-Arq demonstre o compromisso com a preservação tendo em vista que deverá
atender as necessidades de sua comunidade designada. Com isso, o processo de
auditoria e certificação torna-se essencial para reafirmar tal compromisso com a
preservação.
4 PADRÕES PARA AUDITAR REPOSITÓRIOS DIGITAIS
No âmbito da auditoria de repositórios digitais, observa-se que há iniciativas
pertinentes, dentre elas: Trustworthy Repository Audit & Certification: Criteria and
Checklist (TRAC), Catalogue of Criteria for Trusted Digital Repositories da Network of
Expertise in long-term STORage (NESTOR), Digital Repository Audit Method Based on Risk
Assessment (DRAMBORA) e Audit and Certification of Trustworthy Digital Repositories
(ACTDR). Tais estudos visam orientar os preservadores em relação aos requisitos que
um RDC deverá cumprir no processo de auditoria.
4.1 TRAC: o estudo pioneiro
Em 2003, o Research Libraries Group (RLG) e o National Archives and Records
Administration (NARA) uniram esforços para criar uma força-tarefa, a RLG-NARA, com o
objetivo de certificar repositórios digitais. Para tanto, tal parceria desenvolveu critérios
para identificar os RDC capazes de fornecer acesso à informação digital no longo prazo.
Dessa forma, os critérios produzidos visavam orientar o processo de certificação, com
intuito de contemplar repositórios de arquivos, bibliotecas e outros serviços de
armazenamento digital (RLG/NARA, 2007).
Esse padrão oferece ferramentas para auditoria, avaliação e certificação potencial
dos repositórios. O TRAC estabelece a documentação que será exigida para realizar a
auditoria, contemplando assim, questões como, por exemplo, os contratos, as licenças, as
políticas de preservação, o planejamento e os planos de sucessão. Além disso, o TRAC
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estabelece metodologias para determinar a perspectiva de sustentabilidade dos
repositórios digitais (SAYÃO, 2010).
O TRAC tem o objetivo de identificar, em consonância com seus critérios, os
repositórios digitais com capacidade de armazenamento, migração confiável e garantia
de acesso aos documentos digitais. Seu principal desafio consistiu em produzir e
esquematizar um processo genérico para auditar e certificar repositórios digitais
(RLG/NARA, 2007). Os critérios do TRAC são divididos em três seções, que são:
infraestrutura organizacional, gerenciamento de objetos digitais e tecnologias,
infraestrutura técnica e segurança.
Destaca-se que o TRAC consistiu na principal ferramenta utilizada pelo The
Center for Research Libraries (CRL) para auditoria e certificação de repositórios digitais.
Sua versão final foi revisada pelo CRL e pelo RLG após a realização conjunta de testes de
auditorias em diversos repositórios digitais durante o período de 2005-2006. A versão
final do TRAC foi publicada em 2007 pelo CRL e pelo RLG. Posteriormente, os critérios
presentes no TRAC foram base para o desenvolvimento do ACTDR, o qual é outro
documento que auxilia no processo para auditoria de repositórios digitais.
4.2 NESTOR: uma alternativa possível
A primeira versão do NESTOR foi publicada em dezembro de 2006 pelo Working
Group Trusted Repositories Certification com objetivo inicial de ser implementado na
Alemanha. No entanto, o NESTOR é discutido internacionalmente, e posteriormente,
em novembro de 2009, teve sua segunda versão publicada.
O NESTOR consiste em um catálogo de critérios que são destinados,
principalmente, para as organizações que tem o compromisso de preservar a memória,
como, por exemplo, arquivos, bibliotecas e museus. Dessa forma, o NESTOR orienta a
elaboração, o planejamento e a implementação de um RDC no longo prazo. Ademais,
fornece orientações no que se refere à administração de arquivos, prestação de serviços
comerciais e não comerciais, bem como, aos serviços de terceiros (NESTOR, 2009).
O objetivo deste catálogo é formular critérios que possam ser utilizados em uma
ampla gama de repositórios digitais, além de manter-se válido por um longo período.
Supõe-se a necessidade de optar por critérios relativamente abstratos (NESTOR, 2009).
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Tais critérios acompanhados por explicações exaustivas e de exemplos em diferentes
áreas.
O NESTOR oferece uma breve introdução que perpassa os problemas em torno da
preservação da informação digital em longo prazo. Assim, descreve os principais
conceitos e os princípios que sustentam seus critérios. Posteriormente, são
apresentados os critérios em sua forma integral. Por fim, tem-se um checklist, que
consiste em uma visão compacta do catálogo, além do glossário.
4.3 DRAMBORA: autoavaliação de riscos
O DRAMBORA surgiu a partir do trabalho conjunto realizado entre Digital
Curation Centre (DCC) e DigitalPreservationEurope (DPE), formando assim, o grupo
DCC/DPE. Inicialmente, o trabalho do grupo DCC/DPE teve como objetivo proporcionar
uma abordagem complementar em associação com os esforços dos projetos TRAC e
NESTOR.
Para tanto, o DRAMBORA apresenta um conjunto de ferramentas para auditar
repositórios digitais, e se destina em facilitar a auditoria interna. Dessa forma, oferece
aos administradores do repositório, a possibilidade de avaliá-los, e assim, identificar
suas vulnerabilidades e potencialidades (DCC/DPE, 2007).
Dessa forma, em um primeiro momento, procede-se a auditoria interna com o
DRAMBORA para identificar e mitigar os riscos; e posteriormente, executa-se a auditoria
externa com, por exemplo, TRAC, NESTOR ou ACTDR, para então avaliar o repositório e
certificá-lo como “confiável”, caso atinja os níveis desejados.
Com o DRAMBORA é possível obter um catálogo de riscos pertinentes, além de
definir a probabilidade e o impacto potencial dos riscos identificados, e assim, propor
medidas para prevenção, mitigação e tratamento. A análise de riscos possibilita que as
organizações identifiquem e aloquem recursos para minimizar os riscos presentes nas
suas atividades consideradas de maior prioridade.
Tal processo prepara as organizações para atenderem aos requisitos de avaliação
subsequente, ou seja, a auditoria externa. Logo, realizar a auditoria interna com o
DRAMBORA equivalente a um trabalho preparatório a fim de qualificar o repositório
para a auditoria externa. Além disso, os resultados obtidos com o DRAMBORA podem
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fornecer evidências aos auditores externos, demonstrando assim, compromisso com a
preservação de longo prazo (DCC/DPE, 2007).
4.4 ACTDR: o surgimento de uma norma ISO
O ACTDR define um conjunto de práticas recomendadas orientadas ao modelo
OAIS a fim de fundamentar o processo de auditoria e certificação. Sendo assim, é
destinado, principalmente, aos administradores de repositórios e demais profissionais
que prestam serviços de auditoria. Logo, o ACTDR visa mensurar os níveis de
confiabilidade dos repositórios digitais (CCSDS, 2011; ISO 16363:2012).
Com o ACTDR é possível avaliar o repositório digital no que tange à sua
infraestrutura organizacional, sustentabilidade financeira, gerenciamento dos objetos
digitais e gestão de riscos. O padrão ACTDR segue essencialmente a base do TRAC, sendo
composto por três seções primárias: infraestrutura organizacional, gestão de objetos
digitais e infraestrutura de segurança da gestão de riscos.
Ademais, o ACTDR tem por objetivo realizar um processo contínuo de auditoria,
julgando as áreas que necessitam ser melhoradas. O status de confiança não é atingido
uma única vez, logo, será necessário manter um ciclo regular de auditoria e certificação,
para que assim, possa ser demonstrada. Como consequência, a divulgação dos
resultados da auditoria ao público geral irá elevar a confiança no repositório (CCSDS,
2011; ISO 16363:2012). Posteriormente, o ACTDR tornou-se a norma ISO 16363:2012,
firmando-se como o principal padrão para auditoria de RDC’s.
5 COMPARATIVO ENTRE OS PADRÕES DE AUDITORIA
Os padrões para auditoria de repositórios digitais apresentam uma base
fundamental para desenvolver tais atividades. Cada um desses estudos abarca uma série
de requisitos para adicionar confiabilidade à preservação de longo prazo. Desta forma,
entre TRAC, ACTDR, NESTOR e DRAMBORA considerações quanto a sua
aplicabilidade e a própria pertinência do padrão.
O primeiro padrão a surgir foi TRAC o qual foi desenvolvido e revisado pela força-
tarefa RLG-NARA até 2007, quando é publicada a sua versão final. Este estudo é
continuado no ACTDR situado no âmbito do CCSDS. Dessa forma, o ACTDR torna-se o
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sucessor/substituto dos critérios do TRAC em virtude de sua descontinuidade. Os
avanços dos estudos em preservação digital farão com que o TRAC torne-se
ultrapassado com os anos, visto que o conteúdo deste documento é definitivo.
O ACTDR é a continuidade do TRAC, e logo, em 2012 tornou-se a ISO 16363:2012.
Ressalta-se que no âmbito do CCSDS, o ACTDR está inserido em um processo de
constante revisão, o que reforça a sua pertinência. Além disso, enquanto norma ISO o
documento também estará sujeito às revisões realizadas/solicitadas pelo comitê da ISO.
o NESTOR, traz uma proposta inicial para ser implementado na Alemanha, se
limitando de certa forma, a um determinado contexto geopolítico. Posteriormente o
projeto ganhou relevância sendo aplicado fora desse país, com uma tendência de
assumir caráter genérico em seus requisitos, não se limitando, tão somente, à realidade
alemã. O NESTOR é um estudo promissor que influenciou e foi influenciado por outros
padrões como o TRAC e DRAMBORA, entretanto ainda carece de reconhecimento
enquanto norma ISO.
Em um comparativo com os demais padrões para auditoria, o DRAMBORA
diferencia-se por se tratar de um padrão indicado para auditoria interna. No entanto,
isso não minimiza a sua pertinência, visto que apresenta uma série de requisitos
pertinentes para mitigar riscos. Dessa forma, o DRAMBORA pode ser implementado
objetivando uma auditoria posterior com ACTDR ou NESTOR.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo, observou-se que a preservação de documentos arquivísticos em
ambiente digital necessita de intervenção humana para mantê-los autênticos e
acessíveis no longo prazo. Para tanto, recorre-se à implementação de políticas,
estratégias e sistemas informatizados para gestão, preservação e acesso. Ou seja, um
SIGAD para gerir os documentos nas fases corrente e intermediária e um RDC-Arq para
gerir a fase permanente e promover o acesso.
Reitera-se que o SIGAD deve ser desenvolvido nos moldes de estudos
sedimentados como, por exemplo, o MoReq e o e-Arq Brasil. o RDC-Arq,
impreterivelmente, deverá seguir o modelo OAIS, ademais, precisa demonstrar que tem
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capacidade de preservar documentos autênticos no longo prazo, obtendo assim, um
status de confiável.
Para que um RDC-Arq seja de fato, certificado com “confiável”, torna-se
necessário realizar o processo de auditoria por meio de padrões como, por exemplo,
TRAC, NESTOR, DRAMBORA e ACTDR. Estes padrões possuem uma série de
procedimentos para mensurar os níveis de confiabilidade. Após o processo de auditoria,
deve-se proceder a certificação por órgão competente, a fim de comprovar a
confiabilidade do RDC-Arq.
Tendo em vista a descontinuidade do TRAC, a limitação (auditoria interna) do
DRAMBORA e a incipiência (ausência de reconhecimento ISO) do NESTOR, pondera-se
que o ACTDR consiste no principal padrão para auditoria externa, configurando-se,
inclusive, como ISO 16363:2012. Com isso, preconiza-se a implementação de um RDC-
Arq que siga o modelo OAIS, seja auditado periodicamente com o ACTDR. Além disso, o
RDC-Arq deve respeitar os princípios da Arquivística.
Portanto, manter a confiabilidade de um RDC-Arq requer a manutenção de
sistemas informatizados para gestão, preservação e acesso; envolvidos em uma linha de
custódia ininterrupta. Tais sistemas serão responsáveis por assegurar os princípios da
proveniência, autenticidade, naturalidade, organicidade e unicidade. Dessa forma, o ciclo
de vida dos documentos deverá comportar as especificidades do documento arquivístico
e as complexidades do ambiente digital.
Por fim, este estudo fornece subsídios teóricos aos profissionais de arquivo para
facilitar a compreensão do processo de auditoria. Estima-se que assim seja possível
incentivar o diálogo em torno dos RDC-Arq’s, visto que vasta literatura sobre
“repositórios digitais” (sentido genérico do termo), ao passo que a especificidade
“repositório arquivístico” ainda carece de literatura própria. Observa-se que tanto o
OAIS, quanto os padrões de auditoria possuem uma linguagem direcionada aos
profissionais da informática e administradores de RDC’s. Logo, tornam-se necessárias
adaptações para situar-lhes no âmbito da Arquivística.
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TELESSAÚDE: uma estratégia de educação permanente aplicada às práticas e
reorganização dos processos de trabalho na atenção básica no estado da Bahia
TELEHEALTH: a permanent education strategy applied to the practices and
reorganization of the basic care working processes in Bahia, Brazil
Rosivan Matos¹
Angélica Baptista Silva²
¹ Especialista em Saúde da Família com ênfase
em Gerenciamento e Processo pela Universidade
Federal da Bahia (UFBA/SESAB/MS).
E-mail:
rosivan.matos@Saude.ba.gov.br
² Doutora em Saúde Pública pela Fundação
Oswaldo Cruz (FIOCRUZ).
E-mail:
silva.angelica@gmail.com
ACESSO ABERTO
Copyright: Esta obra está licenciada com uma
Licença Creative Commons Atribuição 4.0
Internacional.
Conflito de interesses: Os autores declaram
que não há conflito de interesses.
Financiamento: Não há.
Declaração de Disponibilidade dos dados:
Todos os dados relevantes estão disponíveis
neste artigo.
Recebido em: 12/11/2019.
Aceito em: 04/12/2019.
Revisado em: 18/12/2019.
Como citar este artigo:
MATOS, Rosivan; SILVA, Angélica Baptista.
Telessaúde: uma estratégia de educação
permanente aplicada às práticas e reorganização
dos processos de trabalho na atenção básica no
estado da Bahia. Informação em Pauta,
Fortaleza, v. 4, n. 2, p. 173-192, jul./dez. 2019.
DOI:
10.32810/2525-
3468.ip.v4i2.2019.42643.173-192
.
RESUMO
O presente artigo consiste em verificar e
responder o papel da oferta da Tele-educação por
meio do Telessaúde na melhoria da qualificação
dos serviços de saúde e identificação dos serviços
segundo a proposta de uma ferramenta de gestão.
A Estratégia metodológica para o alcance dessa
proposta iniciou-se com uma análise documental
através do Termo de Referência (TR) e outros
documentos institucionais de domínio blico
(manuais, planilhas eletrônicas, notas técnicas),
visando a esclarecer os objetivos e metas,
detalhados em seu plano de execução, em seguida
foram utilizadas reuniões de conversas no intuito
de formular um consenso para validação do
desenho do modelo–teórico-lógico, da
construção da Matriz de Avaliação a partir das
Dimensões, critérios, indicadores, padrão e os
critérios de julgamento dos resultados
alcançados. Espera-se com essa proposta
metodológica, apresentar e aplicar uma Matriz de
Medidas Avaliativas segundo a dimensão
educacional do programa Telessaúde, através de
suas atividades educacionais em Tele-educação,
Teleconsultoria e Telediagnóstico pretende-se:
buscar as informações produzidas pelos
indicadores, assegurar as análises dos resultados
alcançados e os julgamentos das metas
propostas, evidenciarem o Telessaúde, como uma
ferramenta estratégica de educação permanente
indutora que proporciona melhoria na formação
dos trabalhadores e profissionais de saúde,
aplicada às práticas e reorganização dos
processos de trabalho na Atenção Básica do
Estado da Bahia.
Palavras-chave: Telessaúde. Educação
Permanente. Atenção Básica.
Inf. Pauta Fortaleza, CE v. 4 n. 2 jul./dez. 2019 ISSN 2525-3468
DOI: https://doi.org/10.32810/2525-3468.ip.v4i2.2019.42643.173-192
ARTIGO
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ABSTRACT
This article aims to verify and respond to the role
of Tele-education provision through telehealth in
improving the qualification of health services and
identifying services according to the
management tool proposal. The Methodological
Strategy for the scope of this proposal began with
a documentary analysis through the Terms of
Reference (TR) and other public domain
institutional documents (manuals, spreadsheets,
technical notes), aiming to clarify the objectives
and goals, detailed in its After the execution plan,
the following meetings were used in order to
formulate a consensus to validate the design of
the theoretical-logical model, the construction of
the Evaluation Matrix based on the dimensions,
criteria, indicators, standard and judgment
criteria of the participants. Results achieved. It is
hoped with this methodological proposal, to
present and apply an Evaluative Measures Matrix
according to the educational dimension of the
telehealth program, through its educational
activities in Tele-education, Teleconsulting and
Telediagnosis is intended: to seek the
information produced by the indicators, to
ensure the analyzes of the results achieved and
the judgments of the proposed goals, highlight
the telehealth, as a strategic tool of inductive
permanent education that provides
improvement in the training of workers and
health professionals, applied to the practices and
reorganization of the work processes in the
Primary Care of the State of Bahia.
Keywords: Telehealth. Permanent Education.
Basic Attention.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo tem por objetivo apresentar um Projeto Avaliativo em Saúde
através dos componentes e subcomponentes oferecidos pela ferramenta de gestão
disponibilizada pela Atenção Básica na Bahia: o Telessaúde, na perspectiva da Estratégia
de Educação Permanente, que procura reduzir o processo de esvaziamento da capacidade
de respostas de instância públicas de gestão da informação e informática em saúde, como
também processos de EP de suas equipes técnicas, voltados para atualização tecnológica
essencial a um campo de saberes extremamente dinâmico (MORAES; GOMEZ, 2007).
No estudo apresentado por Moraes e Gomez (2007), os autores identificam a
existência de um Intercampo de Informações e Informática em Saúde (IIS) que
consubstancia tanto a partir de uma diversidade de formas de pensar a saúde conquanto
referência a uma abordagem transdisciplinar num processo de consolidação de político-
histórica de construção institucional, espaço portador de potencialidades e relevante para
epistemologia presente no transcorrer da proposta metodológica avaliativa do
Telessaúde Bahia, que traz no seu arcabouço os recursos tecnológicos da Informação e
Comunicação voltados para o campo da Saúde.
Pode-se dizer que a Educação Permanente (EP) é uma ferramenta potente do
Sistema Único de Saúde (SUS), que possibilita transformar e qualificar as práticas de
saúde, capaz de permitir o desenvolvimento individual e institucional (PINTO, 2012),
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sendo uma estratégia transformadora na reorganização do processo de trabalho, que
pode contribuir para formação do trabalhador em saúde.
A educação é um processo complexo e, atualmente, com a facilidade de acesso às
tecnologias, pode ganhar reforço, potencializando os métodos educacionais clássicos.
Existem diversas tecnologias interativas de apoio, seja para a educação presencial, seja
para a Tele-educação Interativa (TIn) ou Educação a Distância (EAD). Entre elas, podemos
citar a computação gráfica, os simuladores cirúrgicos, o ambiente de simulação realística
e o laboratório de habilidades com manequins robóticos, entre outros (WEN, 2008). O
autor considera a TIn um tipo de educação mediada por tecnologia, que tem a
possibilidade de replicar a educação, mesmo para localidades fisicamente distantes.
Nesse sentido, a formação de profissionais no uso dos serviços de saúde, como
também a reorganização do seu processo de trabalho, acontece por meio de treinamentos
presencial e a distância (web-palestras), operacionalizado sob uma plataforma online,
disponível para os 417 municípios baianos. A plataforma está acessível em qualquer lugar
e a qualquer hora, seja por meio de computadores fixos, portáteis ou dispositivos móveis.
É simples e fácil tirar dúvidas e receber informações de forma clara, concisa com base em
evidência científica, que visam à proficiência e melhoria da gestão e qualificação das
equipes.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 Caracterização do território baiano e da Atenção Bahia no Estado
A Bahia (BA) é um estado brasileiro localizado na região Nordeste, cuja capital é
Salvador, fazendo divisa com os estados de Pernambuco e Piauí, ao norte; com o Tocantins,
a oeste; com Goiás, a sudeste; Minas Gerais, ao sul; Espírito Santo, a sudeste; e Sergipe e
Alagoas, a nordeste. Possui uma área territorial de 564.733 km², possui uma população
de 14.016.906 de habitantes, segundo o último censo de 2010, dispostos entre os 417
municípios, apresentando densidade demográfica de 24,82 habitantes/km² (IBGE, 2010).
A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) considera os termos “atenção básica”
e “Atenção Primária à Saúde”, nas atuais concepções, como termos equivalentes. Associa
a ambos os princípios e as diretrizes definidos neste documento. A PNAB tem na Saúde da
Família sua estratégia prioritária para expansão e consolidação da atenção sica. A
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qualificação da Estratégia Saúde da Família e de outras estratégias de organização da
atenção básica deverá seguir as diretrizes da atenção básica e do SUS, configurando um
processo progressivo e singular que considera e inclui as especificidades locorregionais.
Segundo conceito trazido por Tanaka (2011, p. 928) numa referência a PNAB, a Atenção
Básica caracteriza-se por:
Um conjunto de ações de sde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a
promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o
tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. Comenta o autor em seguida
que, pode ser desenvolvida por meio do exercício de práticas gerenciais e
sanitárias democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe,
dirigidas a populações de territórios bem delimitados.
Atualmente no Estado da Bahia, a Atenção Básica é composta de 3.555 Equipes de
Saúde da Família (EqSF) implantadas em 99,99% municípios garantindo uma cobertura
de aproximadamente 73,40% da população (10.660.903 pessoas beneficiadas), 2.341
equipes de saúde bucal (EqSB) em 411 municípios vinculada à Equipe de Saúde da
Família. A razão entre EqSB/EqSF no estado é de aproximadamente de 0,7. A Atenção
Básica é também compostapor 410 Núcleos de Apoio de Saúde da Família (NASF),
distribuído em: tipo I=293, tipo II=105 e tipo III=12 (BAHIA, 2019b).
O Estado conta ainda com 25.533 Agentes Comunitários de Saúde (ACS)
implantados em todos os municípios da Bahia, garantindo uma cobertura de
aproximadamente 83,21% da população baiana (11.795.763 pessoas beneficiadas). Conta,
ainda, com 246 polos de academia da saúde, contemplando 201 municípios, 1.710 pontos
de Telessaúde, contemplando 417 municípios, 37 Unidade Odontológica Móvel em 37
municípios. (BAHIA, 2019c).
Tais características vêm sendo referidas em alguns estudos, correlacionando-as
com as ações de saúde, como também relatam Cunha, Silva e Maria (2010); Oliveira et al.
(2012), sobre Acessibilidade aos serviços de saúde abordando a relação da organização
dos serviços com os aspectos geográficos, em alusão à distribuição espacial dos recursos,
à existência de transporte e à localização das Unidades Básicas de Saúde (UBS), onde
apontam os fatores geográficos como sendo importantes obstáculos para o acesso aos
serviços de saúde. Por outro lado, é “necessário conhecer as múltiplas territorialidades
existentes em um espaço geográfico, a fim de facilitar a acessibilidade ao serviço de saúde
para não comprometer o cuidado e a continuidade dos tratamentos e reflexos negativos
na população” (SILVA et al., 2011 apud PIROPO; AMARAL, 2015, p.283)
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2.2 Telessaúde no território baiano
Telessaúde é entendido como o uso de tecnologias da informação e comunicação,
disponíveis por meio físico ou virtual, onde são desenvolvidas atividades a
distância,relacionadas à saúde em seus diversos níveis de atenção, sejam ambulatoriais,
de média ou alta complexidade, que possibilita a interação entre profissionais de saúde e
os usuários dos serviços de saúde, de forma presencial ou a distância. Assim, o Telessaúde
pode ser entendido como “toda atividade em rede, mediada por computação que promove
a translação de conhecimento entre a pesquisa e os serviços de saúde” (SILVA, 2013).
A atuação mais ampla de serviços de Telessaúde implica no aumento das ações
atuais de teleconsultorias, tele-educação, telediagnóstico, como também no oferecimento
de outras modalidades de ão (Segunda Opinião Formativa e Monitoria de Campo/Apoio
aos municípios), que implica numa maior efetividade sobre as práticas dos serviços de
saúde, por meio da mudança do processo de trabalho, incluindo ações de regulação do
fluxo dos pacientes, assim como intervenções multifacetadas sobre as equipes de saúde”
(MAZMANIAN & DAVIS, 2002 apud BRASIL, 2012, p. 16).
O Telessaúde é um serviço ofertado pelo Governo do Estado, administrado pela
Secretaria da Saúde (SESAB), com abrangência nos 417 municípios do estado da Bahia,
nas Unidades de Saúde da Família ou Unidade Básica de Saúde por meio de um ponto de
acesso à plataforma virtual e como forma de ampliar a resolubilidade da Atenção Básica
(AB), promover melhorias na qualidade dos serviços, cuidados em saúde e atender às
necessidades baianas, considerando suas particularidades sanitárias e epidemiológicas
presentes nas nove macrorregiões de saúde (Sul, Sudoeste, Extremo-Sul, Norte, Centro-
Norte, Nordeste, Oeste, Leste e Centro-Leste). A estrutura tecnológica e comunicação
necessária para funcionamento dos pontos de Telessaúde é de responsabilidade dos
municípios e envolve a aquisição de equipamentos de informática, conectividade e
mobiliário.
O Telessaúde Bahia integra o Programa Telessaúde Brasil Redes do Ministério da
Saúde (MS).Tem por objetivo apoiar a consolidação das Redes de Atenção à Saúde,
ordenadas pela Atenção Básica no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) por meio da
integração de tecnologias de informação e comunicação, educação em saúde e
teleconsultoria com a perspectiva de aprimorar a qualidade do atendimento e consolidar
o processo de trabalho, a partir do desenvolvimento de ações de apoio à saúde e de
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educação permanente aos profissionais de saúde da Atenção Básica (AB), como também
aprimorar a qualidade do atendimento, da ampliação do escopo de ações ofertadas por
essas equipes, da mudança das práticas de atenção e da organização do processo de
trabalho, através das ofertas, como: Teleconsultoria, Tele-educação, Segunda Opinião
Formativa, Telediagnóstico.
O projeto Telessaúde Bahia é uma plataforma tecnológica, constituída para apoiar
a consolidação das Redes de Atenção à Saúde, ordenada pela Atenção Básica no âmbito do
Sistema Único de Saúde (SUS). Ao completar cinco anos de implantação, em 2018, teve
como lançamento a Plataforma de Teleconsultorias, iniciando, nesse mesmo ano, a oferta
de telediagnóstico com a realização do primeiro seminário virtual voltado para
trabalhadores da saúde do estado, dentre outras ações. Desde a implantação no Estado da
Bahia em 2013, o serviço registra números expressivos principalmente na oferta de tele-
educação com mais de 46 mil participantes online, com temas que reuniram mais de dois
mil participantes ao vivo como "NASF: desafios para o cuidado e gestão na Atenção Básica”,
realizada em abril de 2018 e “Diante do risco de suicídio, qual o papel do profissional da
saúde?”, em setembro de 2018 (BAHIA, 2019a, p. comunicação).
2.3 Teleconsultoria, Tele-educação, Telediagnóstico, Segunda Opinião Formativa
(SOF) e Monitor de campo
A Teleconsultoria pode ser realizada de duas maneiras: em tempo real, chamada
de teleconsultoria síncrona, geralmente realizada por chat, web ou videoconferência; ou
ainda assíncrona, quando é realizada por meio de mensagens off-line. Esta última é a mais
frequente e comumente envolve assuntos pertinentes à APS (BRASIL, 2012).
Para o Núcleo Técnico-Científico da Bahia, a Teleconsultoria permite que os
profissionais e trabalhadores da Atenção Básica recebam esclarecimentos sobre
procedimentos clínicos, ações de saúde, materiais educativos, organização e gestão da
Atenção Básica. As teleconsultorias são solicitadas via plataforma online do Ministério da
Saúde, e podem ser realizadas via texto ou vídeo segundo os tipos de consultorias: o
primeiro (consultoria via texto),o profissional envia sua pergunta através da plataforma
online, e recebe a resposta na forma de texto em até 72 horas após a solicitação e o
segundo tipo (consultoria via vídeo), o profissional envia sua pergunta através da
plataforma online e a equipe do núcleo agenda um horário entre o profissional que fez a
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solicitação e teleconsultor para que sua dúvida seja esclarecida por vídeo em tempo real
(BAHIA, 2019a). No entendimento do Núcleo de Telessaúde de Santa Catarina, a Teleconsultoria
é:
Uma consulta registrada e realizada entre trabalhadores, profissionais e gestores
da área da saúde, por meio de instrumentos de telecomunicação bidirecional,
com o objetivo de esclarecer dúvidas sobre procedimentos clínicos, ações de
saúde e questões relativas ao processo de trabalho, com respostas baseadas em
evidências científicas e adequadas às características loco-regionais (SANTA
CATARINA, 2019, p. inicial/serviços).
A Tele-educação, ligada à Educação a Distância, é uma forma de ensino que
possibilita a aprendizagem, com a mediação humana de recursos didáticos
sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação,
utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de
comunicação, que procuram estabelecer uma relação entre os
professores/teleconsultores e os alunos/solicitantes, utilizando-se de elementos, tais
como computadores, smartphones e conexões de banda larga, sendo que a voz e a
linguagem não verbal podem ser transmitidas por meios não presenciais, que vão desde
gravações audiovisuais até recursos multimídia. (BRASIL, 2012; SÃO PAULO, 2019).
Nesse contexto a Tele-educação se utiliza de elementos tecnológicos de informação
e comunicação para atividades educacionais a distância como meio para apoiar a
qualificação de trabalhadores do SUS, de acordo com a Política Nacional de Educação
Permanente em Saúde. São atividades de tele-educação: cursos, módulos educacionais,
webaulas, webpalestras e tutoriais. O Núcleo de Santa Catarina, traz em seu portal
(Telessaúde Santa Catarina) o entendimento de que a Tele-educação é um:
Serviço de Tele-educação desenvolve atividades de educação permanente e
educação continuada a distância, onde possui uma equipe composta por
profissionais com experiência na Atenção Básica, responsáveis por planejar e
desenvolver diferentes tipos de objetos de aprendizagem e, quando necessário,
acrescida de especialistas que apoiam o desenvolvimento dos conteúdos. Que
tem por objetivo em promover a permanente reflexão e avaliação dos processos
de trabalho e das práticas de saúde e apresenta como pauta o desenvolvimento
das atividades webpaletras, webseminários, fóruns de discussão, reuniões de
matriciamento e curso a distância (Santa Catarina, 2019, p. inicial/serviços)
O Telediagnóstico está definido na Portaria Ministerial 2.546, de 27 de outubro
de 2011, como um serviço “que utiliza as tecnologias da informação e comunicação para
realizar serviços de apoio ao diagnóstico através de distâncias geográfica e temporal”.
Nesse sentido, a proposta do telediagnóstico é reduzir custos em saúde, evitar longos
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deslocamentos de pacientes e profissionais, além promover acesso remoto a recursos de
apoio a diagnósticos e tratamentos essenciais à atenção à saúde.
Segunda Opinião Formativa (SOF) é uma resposta sistematizada, originada das
teleconsultorias, elaboradas pelos Núcleos de Telessaúde (NT) com base nas melhores
evidências científicas. Abordam-se temas prioritários para a Atenção Primária à Saúde
(APS) e têm como objetivo ampliar a capacidade resolutiva dos profissionais e equipes de
saúde, construídas a partir das perguntas e dúvidas dos trabalhadores das Equipes de
Saúde da Família, possuem um forte potencial de transmissão e produção de
conhecimento e apoio às questões do cotidiano da Atenção Básica.
A Monitoria de Campo exerce apoio aos municípios baianos quanto à implantação
e qualificação no uso das ofertas do Telessaúde, através de um canal de comunicação que
realiza treinamentos, apresentações e reuniões a distância, por meio de voz, imagem e
vídeo em tempo real, e facilita a troca de informações, cujo objetivo de apoiar gestores e
trabalhadores de saúde da Atenção Básica para utilização do Telessaúde como estratégia
de Educação Permanente e apoio clínico e diagnóstico.
O Projeto Avaliativo consistirá em responder qual a importância da Tele-educação
através do Telessaúde na melhoria da qualificação dos serviços de saúde, identificação
dos serviços segundo a proposta da ferramenta de gestão, objetivando avaliar o papel do
Telessaúde na formação dos trabalhadores da Atenção Básica do Estado da Bahia e na
perspectiva de realizar estudos comparativos entre os Núcleos de Telessaúde que
ofereçam a tele-educação como fonte de formação de trabalhos de saúde. No estudo
proposto sobre o uso de Tecnologia de Informática e Informações em práticas de saúde
como o Telessaúde, os autores concluíram que se torna valiosa e indispensável para a
formação, a atualização e a ampliação da prática profissional em saúde. E que, em um
estado com grande extensão territorial como a Bahia, a utilização de tecnologias de
comunicação pode auxiliar a diminuir as desigualdades observadas (PIROPO; AMARAL,
2015).
3 ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS
Na busca por consenso entre conversas e entrevistas estruturadas e utilização de
métodos pré-existentes na literatura para a coleta de informações para o
desenvolvimento da proposta metodológica do projeto, optou-se em realizar a análise
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documental através do Termo de Referência e outros documentos (manuais, planilhas
eletrônicas, notas técnicas), visando a esclarecer os objetivos e as metas, detalhados em
seu plano de execução, como também a situação atual do problema e seus determinantes.
Contudo, em outros momentos, foram utilizadas reuniões de conversas no intuito
de formular um consenso para validação do desenho do modelo–teórico-lógico, da
construção da Matriz de Avaliação a partir das Dimensões, critérios, indicadores, padrão
e os critérios de julgamento dos resultados alcançados. Esforços conjuntos junto à
Coordenação Gestora do Telessaúde, sendo esta composta por três profissionais da área
de Saúde, o que levou à construção dos desenhos e instrumentos propostos no projeto
(APÊNDICE B).
Destaca-se como limitação no processo de construção desse projeto de avaliação
em saúde, quanto às conversas, entrevistas e instrumentos estruturados, bem como
outros métodos de coletas de dados e informações, procedimentos ora recomendados
para execução da metodologia proposta que pode ser justificado, dado o tempo para
entrega final da proposta do projeto, como submeter um instrumento de coleta de dados
à aprovação do conselho de ética, solicitação de submissão que necessitaria de um prazo
mais adequado. Embora o tempo fosse um limitador na construção desse processo, isso
não impediu a adoção metodológica aplicada ao projeto. Assim, optou-se em utilizar
análise documental, técnica aplicada para coleta das informações, fundamentada no
Termo de Referência e análise de documentos a fim de esclarecer, conceitos, objetivos e
metas acerca do Programa Telessaúde Bahia, assim como desenvolver estratégias
metodológicas e de implantação do projeto de avaliação proposto nesse estudo.
3.1 Construção do modelo–teórico-lógico segundo os componentes do Telessaúde
A adoção do Modelo Lógico como referência inicial para o Programa do Telessaúde
Bahia na perspectiva da utilização da Educação Permanente aplicada às práticas e
reorganização dos processos de trabalhador dos trabalhadores da Atenção Básica,
ancora-se na afirmação de Medina et al. (2005, p. 48), que o atribui como o “primeiro
passo no planejamento de uma avaliação”, por possibilitar a compreensão da
racionalidade implícita do programa por meio de esquema visual. Para Medina et al.
(2005, p. 47):
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A construção do modelo teórico ou teórico-lógico do programa, explicitando sua
racionalidade subjacente, inclui, portanto, especificações sobre o problema ou
comportamento visado, a população alvo, as condições do contexto, o conteúdo
do programa e os atributos necessários e suficientes para produzirem isolada ou
integradamente os efeitos esperados.
A elaboração do modelo lógico consiste em representar a lógica do Programa
Telessaúde na Bahia, buscando demonstrar, através dos seus componentes e
subcomponentes, como uma importante alternativa para melhorar o acesso em massa dos
trabalhadores dos SUS, as ações estratégicas de formação e ao mesmo tempo ofertar
assistência em saúde qualificada a distância (OLIVEIRA, 2010), assim como apoiar a
consolidação das Redes de Atenção à Saúde, ordenada pela Atenção Básica do SUS no
Estado da Bahia e os seus componentes, na perspectiva da infraestrutura dos serviços e
dos processos de trabalhos presentes nas RAS.
Para os componentes compreendem-se as ofertas de serviços que o Programa
disponibiliza para potencializar a Educação Permanente como ferramenta estratégica na
formação dos trabalhadores de saúde, Técnicos em Informação e comunicólogos. Esse
processo de construção foi pensado e elaborado por meio de uma solicitação de
Imagem
Objetivo
Objetivos Ações Beneficiários do Serviço
Realizar "serviços de apoio ao
diagnóstico através de distâncias
geográfica e temporal" (Portaria nº
2.546, de 27 de outubro de 2011, do
Ministério da Saúde).
Utilização das tecnologia da
informação e comunicação
através da realização dos
serviços de apoio diagnósticos
Usuários do serviço
(população atendida pelas
ESF e EAB nas UBS dos
municípios).
Modelo Teórico-Lógico a partir dos componentes do Programa Telessaúde Bahia, 2019
Atividades em
Telediagnóstico
Apoiar a consolidação ds Redes de Atenção à Sde, ordenadas pela
Atenção sica no âmbito do Sistema Único de Sde (SUS)
Componentes/sub-
componentes
Atividades em
Teleconsultoria
Segunda Opinião
Formativa (SOF)
Atividades em
Tele-educação
Permitir que os profissionais e
trabalhadores da Atenção Básica
recebam esclarecimentos sobre
procedimentos clínicos, ações de
saúde, materiais educativos,
organização e gestão da Atenção
Básica, como também Ampliar a
capacidade resolutiva dos
profissionais e equipes de saúde.
Discussão de casos e/ou dúvidas
sobre procedimentos clínicos e
processo de trabalho de forma
assincronica e síncrona; e
Atendeimento às respostas
sistematizadas com bases em
melhores evidências científicas.
Fonte: Elaborado por Rosivan (2019), baseado em Oliveira (2010) e Termo de Referência do Telessaúde (2019-2022)
Profissionais da Atenção
Básica, como também
Profissionais de Saúde e
estudantes.
Utilizar elementos tecnológicos de
informação e comunicação para
atividades educacionais à distância
como meio para apoiar a qualificação
de trabalhadores do SUS, de acordo
com a Política Nacional de Educação
Permanente em Saúde.
Realização de atividades de tele-
educação: cursos, módulos
educacionais, webaulas,
webpalestras e tutoriais, assim
como Realização de
treinamentos, apresentações,
reuniões presenciais e à
distânica.
Profissionais de Saúde e
estudantes que atuan nas
ESF e EAB dos 417
municípios baianos.
Monitoria de Campo
(Apoio aos
Municípios)
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autorização para realizar análise documental através do Termo de Referência
1
, com
vigência contratual de 2019 a 2022 e outros documentos (BRASIL, 2012) e através de
conversas informais com o corpo técnico do Núcleo Técnico de Telessaúde Bahia (NTT-
BA), direcionado a identificar os níveis de detalhamento dos elementos do desenho,
partiu-se da Imagem objetiva, que apresenta a meta proposta do programa, detalhando
atividades que retratam a melhoria da qualidade do atendimento dos serviços de saúde e
da atenção básica no Sistema Único da Saúde (SUS), integrando ensino e serviço por meio
de ferramentas de tecnologias da informação, que oferecem condições para promover a
Teleassistência e a Teleducação.
Em seguida são citados os componentes que retratam os serviços tecnológicos
oferecidos a RAS, aos profissionais e trabalhadores da Atenção Básica; segue com os
objetivos dos componentes que dão aporte tecnológico a nível central (âmbito da gestão)
e regional (âmbito geográfico) à execução do programa no estado da Bahia; das ações
descritas, nesse momento, serão desenvolvidas em cumprimentos dos prazos e metas
estabelecidas no Termo de referência do Programa; na etapa seguinte são apresentados
no modelo, os beneficiários dos serviços ofertados, que refere ao público alvo (usuários
dos serviços) que se espera atingir com a execução das atividades propostas no Programa
pensando na qualificação, fortalecimento e aumento da resolubilidade da Atenção Básica;
e por fim os resultados esperados visando o cumprimento da imagem objetivo do
Telessaúde.
3.2 Construção da matriz de avaliação a partir das dimensões educacionais
Quanto à proposta do desenho da Matriz de avaliação conforme Apêndice A, foi
construída a partir do modelo lógico na perspectiva de representar graficamente,
trazendo as dimensões educacionais, detalhando os critérios e padrões que se
estabelecem nas ofertas dos serviços estabelecidos no Telesssaúde, dos indicadores que
servirão de bases de acompanhamento das ações do programa conforme o Plano de Ação,
delineados no Termo de Referência (vigência contratual, 2019-2022); dos resultados
esperados, busca-se melhorar a formação dos trabalhadores da Atenção Básica, bem como
1
Termo de Referência - Documento que tem por objetivo prover a manutenção do Núcleo Técnico
Científico para viabilizar os serviços do Projeto Telessaúde Bahia como estratégia de qualificação,
fortalecimento e aumento da resolubilidade da Atenção Básica (documento interno da DAB/SESAB).
184
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qualificar a assistência ofertada na Rede de Atenção à Saúde (RAS) e os critérios de
julgamento dos resultados para as metas alcançadas e não alcançadas.
Com a construção dessa matriz, podem-se compreender melhor,
sistematicamente, os caminhos percorridos pelas dimensões educacionais através dos
componentes do Telessaúde, pontuando ações que propiciarão às equipes de Saúde da
Família o acesso a tecnologias para a sua capacitação por meio de uma das dimensões
educacionais, como, por exemplo, utilizar a Tele-educação interativa, com materiais
elaborados pelas universidades públicas com curso de graduação na área de saúde, e
apoiadas por uma biblioteca virtual em atenção primária da saúde, que permitirá aos
profissionais o apoio à tomada de decisão, uma vez que terão acesso a fontes de
informações científicas atualizadas.
Dentre as dimensões de atividades educacionais do Telessaúde proposta, destaca-
se o apoio especializado de profissionais da área de saúde, por meio da estratégia
metodológica “Segunda Opinião Formativa” originada da teleconsultorias, baseadas em
evidências científicas, com vistas às melhorias dos serviços prestados pelo SUS a
população, assim posto:
Dimensão das atividades ligadas à Tele-educação - Quanto aos critérios, observa-se
a utilização da Tecnologia de informação e comunicação para realização de atividades
educacionais, tendo como padrão as sessões temáticas da webaulas direcionadas aos
profissionais de saúde, bem como a gestores em saúde em todo território baiano; dos
indicadores é apresentado o número de módulos educacionais, número de webpalestras
realizadas, número de participantes e o número de eventos realizados; dos resultados
esperados tem-se os profissionais da AB atualizados e uma assistência à saúde melhor
qualificada no território.
Dimensão das atividades ligadas à Teleconsultoria - Atividades educacionais frente
a esta dimensão. Buscou-se trazer como critérios os esclarecimentos das dúvidas sobre os
procedimentos clínicos, ações de saúde e questões relativas ao processo de trabalho tendo
como foco a qualificação do cuidado prestado na Atenção Básica; do padrão que se espera
dessa dimensão são as dúvidas esclarecidas sobre procedimentos clínicos, ações de saúde,
materiais educativos, organização e gestão da Atenção Básica em todos seus aspectos,
bem como sessões de webconferências ou meio de mensagem de texto contendo
esclarecimentos das dúvidas; dos indicadores selecionados para essa etapa temos os
números de pontos ativos no trimestre, meros de teleconsultorias respondidas, como
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também relacionadas ao serviço, foi sugerida a inclusão dos indicadores: número de
profissionais participantes sobre os esclarecimentos relacionados aos serviços, número
de participantes nas sessões temáticas na web ou videoconferência realizadas por
profissionais de saúde; e os resultados esperados, são casos e/ou dúvidas clínicas
esclarecidas.
Dimensão das atividades ligadas ao Telediagnóstico - Atividades educacionais
ligadas ao telediagnóstico serão realizadas através dos serviços de apoio diagnóstico a
distância geográfico e temporal, contidos na Portaria nº 2.546 de 27 de outubro de 2011,
do Ministério da Saúde; pretende-se como padrão a identificação das necessidades e
potencialidades das equipes da Atenção Básica; o indicador, número de telediagnósticos
disponibilizados em até 72 horas, para chegar ao resultado esperado desse componente
terá que está disponível em até 72 horas de acordo com o plano contratual, compreendido
pelo período de 2019 – 2022.
3.3 Estratégias de implantação do projeto em saúde, resultados esperados e
cronograma de execução
A proposta apresentada no Apêndice A mostra o detalhamento da estratégia de
implementação do projeto de avaliação em saúde, resultados esperados e cronograma,
seguido da proposta no Apêndice B, que apresenta a metodologia da avaliação do
programa Telessaúde Bahia na perspectiva da Estratégia de Educação Permanente,
observando as dimensões educacionais, aplicadas à formação dos trabalhadores, quanto
às mudanças das práticas e reorganização dos processos de trabalho na Atenção Básica
do Estado da Bahia, propostas que foram elaboradas objetivando compreender as etapas
que tornarão o projeto viável em todo o seu desenvolvimento.
Nesse sentido, compõe a proposta de implantação do Projeto, a elaboração do
instrumento, conforme o Apêndice D, que servirá de matriz para o preenchimento de
dados e informações acerca dos indicadores selecionados de avaliação dos resultados
alcançados ao final do período preconizado no TR. Partindo-se das dimensões
educacionais, dos critérios que correspondem aos produtos das ações propostas no
documento contratual, assim como são apresentados os Indicadores de resultados que
auxiliaram a determinar os critérios de julgamento dos resultados alcançados e julgar as
metas (APÊNDICE A).
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A fonte de verificação dos dados e informações será realizada através de boletins,
relatórios e planilha de acompanhamento, disponíveis em planilha eletrônica Excel,
instrumentos de monitoramentos e verificação dos resultados produzidos nas atividades
desenvolvidas e elaboradas pelo NTT-BA junto a cada coordenação dos componentes de
serviços ofertados pelo Telessaúde.
Os critérios de julgamento dos resultados alcançados aos níveis avaliativos, no
contexto de Regular, Bom e Ótimo, servirão para verificar em que momento se encontra,
dados os serviços prestados pelo Telessaúde; quanto falta para alcançar as metas
estipuladas nos instrumentos de planejamento sob gestão estadual.
O julgamento das metas propostas na Matriz de Avaliação ou de Medidas
(APÊNDICE A), tanto quanto no TR, o dispositivos contratuais para continuidade dos
serviços oferecidos pelo Projeto Telessaúde Brasil na Bahia, que terá o objetivo de
determinar se meta foi ou não alcançada: Meta Alcançada (MA) ou Meta não Alcançada
(MnA) (APÊNDICE D).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Espera-se com a proposta metodológica do projeto de avaliação em saúde para o
programa do Telessaúde da Bahia, na perspectiva de utilização da estratégia Educação
Permanente aplicada às práticas e reorganização dos processos de trabalho na Atenção
Básica, apresentar e aplicar uma Matriz de Medidas a partir das dimensões educacionais:
Tele-educação/Monitoria de campo, Teleconsultoria/Segunda Opinião Formativa e
Telediagnóstico, com o propósito de identificar as atividades educacionais desenvolvidas
pela intervenção estudada. Procurou-se demonstrar os serviços direcionados como
indutores para formação dos trabalhadores e profissionais envolvidos na Atenção Básica.
Apresentação do Programa Telessaúde na Bahia como imagem-objetivo de apoiar
a consolidação das Redes de Atenção à Saúde, visa demonstrar através das suas
dimensões educacionais, critérios, indicadores e demais componentes, uma importante
alternativa de contribuição para produção do conhecimento, melhora ao acesso dos
trabalhadores do SUS aos serviços de saúde, como também aprimorar as ações
estratégicas na formação em saúde à distância, assim como de modo presencial.
A oferta dos serviços prestados pela ferramenta de gestão da Atenção Básica no
Estado da Bahia através da Tecnologia de Informação e Comunicação do Telessaúde,
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procura reduzir o processo de esvaziamento da capacidade de respostas de instâncias
públicas de gestão da informação e informática em saúde, como também processos de
Educação Permanente de suas equipes técnicas, voltados para atualização tecnológica
essencial a um campo de saberes extremamente dinâmico.
REFERÊNCIAS
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Bahia - SESAB. Diretoria da Atenção Básica -
DAB. Núcleo Telessaúde da Bahia. História e
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Formativa). Salvador: SESAB, 2019ª, p.
inicial/ofertas/comunicação. Disponível em:
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Acesso em: 24 mar. 2019.
BAHIA. Secretaria da Saúde do Estado da
Bahia - SESAB. Diretoria da Atenção Básica –
DAB. Coordenação Gestão de Projetos –
COGEP. Planilha de Atualização:
competência janeiro 2019. Salvador: SESAB,
2019b.
BAHIA. Secretaria da Saúde do Estado da
Bahia - SESAB. Diretoria da Atenção Básica –
DAB. Coordenação de Avaliação e
Monitoramento – COAM. Planilha de
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2019.Salvador: SESAB, 2019c.
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Telessaúde para Atenção Básica/Atenção
Primária à Saúde. Brasília, DF: Ministério
da Saúde, 2012. (Série A. Normas e Manuais
Técnicos). Disponível em:
http://telessaude.bvs.br/tiki-download_file.
php?fileId=2450. Acesso em: 15 jul. 2019.
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município do Estado da Bahia, Brasil, em
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Telemedicina-e-telessaude-um-panorama-
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Categorizão dos critérios de avaliação
[
Regular (<); Bom (=); e Ótimo (>)
]
Atividades em
Telediagnóstico
Identificação das necessidades e potencialidades das equipes
da Atenção Básica (AB), quato a diagnóticos realizados
Número de telediagnósticos disponibilizados em a
72 horas.
Telediagstico disponibilizado
em a 72 horas
Bom
(=), se disponibilizar o telediagnóstico em 72horas; e
Ótimo
(>) se disponibilizar o diagnóstico em menos de 72
horas
Fonte: Elaboração própria, por Rosivan (2019).
Bom (=)
, se eleborar em 72 e enviar para BVS duas SOF/s;
e
Ótimo (>)
se atingir mais que duas elaboração de SOF/mês
para BVS.
Realização de teleconsultorias vinculadas aos servos de
regulação seja estadual e/ou municipal, visando qualificar o
acesso e ampliar a resolubilidade da AB.
Realizar no mínimo 300
teleconsultorias/trimestre
Bom
(=), se for realizadas 300 teleconsultorias vinculadas; e
Ótimo (>)
, se atingir mais que 300 teleconsultorias vinculadas
aos servos
Envio de SOF para consulta a BVS de profissionais,
estudantes e gestores de qualquer lugar.
Elaborar/atualizar 72 SOF
período contratual (2019-
2012), sendo 02/mês.
Atividades educacionais em
Teleconsultroia
Número de teleconsultoria respondidas/trimestre
Bom
(=), se for realizadas 1200 teleconsultorias; e
Ótimo
(
>)
,
se atingir maior que 1200 teleconsultorias por profisssional e
gestor (AB)
Realização de teleconsultorias síncronas ou assíncronas
solicitadas por profissional e gestores da Atençãosica
dos municípios baianos.
Realizar no mínimo de1200
teleconsultorias/ trimestre
Atividades de campo com a participação dos profissionais
das estragias de divulgação das Webpalestras e com a
escolha de temáticas de acordo com a necessidade do
território.
22.500 participações em
atividades de tele-educação em
36 meses
Regular (<)
para elaboração de cursos em menor e igual 2
módulos educacionais;
Bom (=)
para prodão de curso em 3
modulos;
Ótimo (>)
para elaboração de 3 ou + módulos
Educacionais com temas do MS.
Sessões de webpalestras realizadas com temas que deverão
dialogar com as necessidades dos profissionais da AB.
288 atividades de tele-educão
ncronas no período contratual
(2019-2022).
Regular (<)
para realização de menor que 288 ativdades de
Telessaúde;
Bom (=)
para 288 relizações e
Ótimo (>)
para
maior de 228 ativdades no periodo contratual.
Número de módulos educacionais/cursos produzidos
e disponibilizados
Número de Webpalestras realizadas/trimestre
Regular
(<) se for menor que 22.500 participações em
ativdades nos 36 meses;
Bom
(=) para igual a 22.500
presenças de profissionais e
Ótimo
(>) para participações de
maior que 22.500 profissionais nas webpalestras.
Apoio aos Pontos ativos de telessaúde no município, cujo
trabalhador da equipe de saúde tenha utilizado ao menos
uma das ofertas do telessaúde, nos últimos 03 meses.
Mínimo de 250 pontos ativos
por trimestre.
Regular
(<), se menor que 250 pontos ativos apoisdos;
Bom
(=)
se alcançar 250 (=) pontos de telessaude; e
Ótimo (>)
, se
maior que 250 pontos ativos de telessaude apoiados.
Bom
(=) para a realização de um evento e
Ótimo
(>) se
realizar mais de um evento de divulgação
APÊNDICE A - Matriz de Avaliação com Critérios, Indicadores, Padrão e Categorização dos crtérios de avaliação a partir das dimensões educacionais do Telessaude - Bahia
Dimeno
Educaional
Critérios Padrão
Atividades educaionais em Tele-
educação
Indicadores
Realização de curso ou módulos educacionais em ambientes
virtuais, ressaltando a obrigatoriedade de disponibilização
no AVASUS.
>= 3 módulos com 120 horas
de cursos educaionais com
temas indicados pelo Ministério
da Saúde
Realização de evento para divulgação e treinamento na
utilização do Portal Baseado em Evidências.
Realizar no mínimo 1 evento
por semestre de
divulgação/treinamento
Número de teleconsultorias respondidas relacionadas
ao servo de regulação.
Número de participantes nas webpaletras
realizadas/trimestral
Número de eventos ralizados
Número de SOF elaboradas/trimestre
Número de pontos ativos no trimestre
190
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APÊNDICE B
-
Estragias de implementação e cronograma do projeto
de avaliação em saúde do Telelessaúde Bahia, 2019.
Objetivo geral do Projeto de Avaliação em Saúde:
Propor uma metodologia de avaliação para o programa Telessaúde Bahia na perspectiva da Estragia de Educação Permanente na formação dos trabalhadores da Atenção
Básica do Estado da Bahia
Objetivos Específicos:
Construir a Matriz de Medidas contendo as dimensões do Programa Telessaúde Bahia quanto a Estratégia de Educação Permanente nas dimensões educacionais em Tele-
educação, Teleconsultoria e Telediagnóstico.
Identificar as etapas dos componentes do Telessaúde Bahia como indutor da estratégia de Educação Permanente na formação dos trabalhadores da Atenção Básica.
Atividades/ Ações Responsáveis/Participantes Recursos (pessoal, material/outros) Prazos (cronograma)
Apresentar proposta da Matriz de Avaliação do
Telessaúde ao Núcleo Técnico do Telessaúde-Ba
(NTT-BA).
O responsável pela proposta de avaliação.
Por meio de apresentação presencial através
slide em PowerPoint.
Janeiro de 2020 a fevereiro de 2020
Implantar e Capacitar o preenchimento e utilização
da Matriz de Avaliação proposta (MA)
Responsável pela proposta de avaliação
junto ao NTT-BA.
Por meio de apresentação presencial através
slide em PowerPoint.
Fevereiro de 2020 e Março de 2020
Distribuir a MA entre os coordenadores de todos os
componentes responsável do programa do
Telessaúde.
O responsável pela proposta de avaliação.
Por meio eletrônico (e-mail) Fevereiro de 2020 e Março de 2020
Preenchimento da MA pelos Coordenadores
responsáveis pelos componentes
Coordenação de Gestão do NTT-BA Por meio eletrônico (planilha eletrônica) Março de 2020
Encaminhamento da Matriz de Avaliação
Responsável pela proposta de avaliação
junto ao NTT-BA.
Por meio eletrônico (e-mail) e de
comunicação (impresso).
Ao fim de cada trimestre e, semestre
de referência.
Inexistência de custo para implantação da proposta Inexistência de custo Inexistência de custo Inexistência prazo
Realização do monitoramento e avaliação das
ações realizadas por meio dos indicadores
propostos
Coordenadores responsáveis pelos
componentes.
Por meio eletrônico (Internet) e planilha
eletrônica (Excel).
Ao fim de cada trimestre e, semestre
de referência.
Divulgação dos resultad
os será
feitas através da
análise dos resultados apurados por meio da matriz
de avaliação implantada
Coordenadores responsáveis pelos
componentes
Através de boletins eletrônicos
Ao fim de cada trimestre, semestre de
referência ou anuamente.
Apuração dos resultados esperados quanto à
imagem objetivo apontados no Modelo Lógico.
Coordenação Gestão do Núcleo Técnico
de Telessaúde - Bahia
Através de boletim eletrônico e relario
Ao fim de cada trimestre, semestre de
referência ou período de encerramento
contratual (2019-2022).
Fonte: E laboração própria, por Rosivan (2019).
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APÊNDICE C – Etapas para desenvolvimento da proposta metodogica de avaliação do programa telessaúde Bahia
Fonte: Elaboração própria, por Rosivan (2019).
Objetivo geral do Projeto de Avalião em Sde:
Propor uma metodologia de avaliação para o programa Telessaúde Bahia na perspectiva da Estratégia de Educação Permanente na formação dos trabalhadores da
Ateão
Básica do Estado da Bahia
Atividades/ ões
Responsáveis/Participantes
Recursos (pessoal, material/outros)
Prazos (cronograma)
Elaborar a revisão de literatura para construção
da proposta da metodologia de avaliação.
O responsável pela proposta de
avaliação.
Arquivos por meio eletrônico de artigos
literários
18.02.2019 a 07.04.2019
Construir o modelo lógico da Proposta de
avaliação do telessaúde.
O responsável pela proposta de avalição
em consenso com o NTT-BA.
Arquivos por meio eletrônico para análise
documental
20.05.2019 a 30.06.2019
Consenso do modelo lógico.
Responsável pela proposta de avaliação
junto ao NTT
-BA.
Reunião com membro da Coordenação
Gestora do NTT-BA.
06.06.2019 a 17.07.2019
Encaminhar solicitação de Análise documental
para coordenação do Núcleo Técnico do
Telessaúde.
O responsável pela proposta de
avaliação e participação da
Coordenação do NTT-BA.
Ofício encaminhada a Coordenação NTT
-
BA via meio eletrônico (e-mail
institucional da Secretaria da Saúde da
Bahia).
20.05.2019 a 30.06.2019
Alise do termo de referência e outros
documentos para construção do Modelo logico.
O responsável pela proposta de
avaliação.
Arquivos por meio eletrônico para leitura
e alise documental
20.05.2019 a 30.06.2019
Alise Documental para construção dos
critérios, padrão.
O responsável pela proposta de
avaliação.
Arquivos por meio eletrônico para leitura
e alise documental.
18.07.2019 a 18.08.2019
Consenso da matriz dos critérios, padrão,
categoria dos critérios de julgamento a partir das
dimensões.
O responsável pela proposta de
avaliação em consenso com o NTT-BA.
Reunião com membro da Coordenação
Gestora do NTT-BA.
15.08.2019
Constrão da Matriz de Avaliação a partir das
dimensões e subdimensões.
O responsável pela proposta de
avaliação.
Arquivos por meio eletrônico (planilha
eletrônica) atras da leitura de artigos e
alise documental
18.07.2019 a 25.09.2019
192
Matos; Silva| Telessaúde
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Regular
Bom Ótimo
Atividades em
Telediagnóstic
o
Identificação das necessidades e potencialidades das equipes da
Ateãosica (AB), quato a diagnóticos realizados
Número de telediagsticos disponibilizados em a 72
horas.
- = 72 < 72
Envio de SOF para consulta a BVS de profissionais,
estudantes e gestores de qualquer lugar.
Realização de evento para divulgação e treinamento na
utilizão do Portal Baseado em Evidências.
Número de teleconsultoria respondidas/trimestre
Atividades educaionais em
Tele-educação
Apoio aos Pontos ativos de telessaúde no município, cujo
trabalhador da equipe de saúde tenha utilizado ao menos uma
das ofertas do telessaúde, nos últimos 03 meses.
-
Sessões de webpalestras realizdas com temas que deverão
dialogar com as necessidades dos profissionais da AB.
Fonte: Elaboração própria, por Rosivan (2019).
= 22.500
= 1
= 250
= 1200
Atividades educacionais
em Teleconsultroia
N
úmero de pontos ativos no trimestre
Atividades de campo com a participação dos profissionais das
estragias de divulgação das Webpalestras e com a escolha de
teticas de acordo com a necessidade do território.
Realização de teleconsultorias vinculadas aos serviços de
regulação seja estadual e/ou municipal, visando qualificar o
acesso e ampliar a resolubilidade da AB.
Realização de teleconsultorias síncronas ou assíncronas
solicitadas por profissional e gestores da Ateão Básica dos
municípios baianos.
Critério de Julgamento dos
resultados alcançados
< = 2
< = 287
Dimensão
Educacional
Critérios Indicadores
Fonte
de
verificão
APÊNDICE D - Instrumento para coleta das informões dos indicadores selecionados para análise dos resultados alcançados e julgamentos
das metas, segunda a dimensão educacional do Telessaúde Bahia, 2019
Número de Webpalestras realizadas/trimestre
Número de participantes nas webpaletras realizadas/trimestral
Número de eventos ralizados
Realização de curso ou módulos educacionais em ambientes
virtuais, ressaltando a obrigatoriedade de disponibilizão no
AVASUS.
> 22.500
Julgamento
das
Metas
> 1
= 3
Número de módulos educacionais/cursos produzidos e
disponibilizados
Número de teleconsultorias respondidas relacionadas ao
servo de regulação.
> 250
> 1200
-
= 72Número de SOF elaboradas/trimestre
< = 249
Boletins, Relatórios e planilha de acompanhamento,em exccel, elaborada pelo NTT-BA junto a cada
coordenação dos componentes.
-
-
Meta Alcançado (A); Meta não Alcançada (MnA)
= 300
> 3
> 288 = 288
< =
22.499
< 72
> 300
193
OLIVEIRA, Thiago Pinheiro Ramos. Comportamento informacional de servidores e colaboradores da
Universidade Federal do Ceará no uso do Sistema Eletrônico de Informações (SEI). Orientação:
Maria de Fátima Oliveira Costa. 2019. 138 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Programa
de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Centro de Humanidades, Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza, 2019.
COMPORTAMENTO INFORMACIONAL DE SERVIDORES E COLABORADORES
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ NO USO DO SISTEMA ELETRÔNICO DE
INFORMAÇÕES (SEI)
INFORMATIONAL BEHAVIOR OF THE CEARÁ FEDERAL UNIVERSITY SERVERS
AND ITS EMPLOYEES BY USING THE INFORMATION ELECTRONIC SYSTEM (SEI)
RESUMO
Trata do comportamento informacional dos usuários do Sistema Eletrônico de
Informações (SEI) que estão lotados na Coordenadoria de Administração e Patrimônio
(CAP) da Universidade Federal do Ceará (UFC). Apresenta como questão norteadora:
Como os servidores e colaboradores da CAP da UFC se comportam no processo de busca
de informação disponibilizada no Sistema Eletrônico de Informações? Foi estabelecido
como objetivo geral analisar o comportamento informacional dos usuários da
Coordenadoria de Administração e Patrimônio da Universidade Federal do Ceará na
busca de informações no ambiente do SEI à luz do Information Search Process (ISP) de
Carol Kuhlthau. Definimos como objetivos específicos: Identificar as necessidades dos
servidores e colaboradores que motivam a busca de informação; descrever o modo de
busca da informação por meio do Information Search Process (ISP) criado por Carol
Kuhlthau; e apontar as dificuldades dos servidores e colaboradores no uso do SEI. A fim
de alcançar os propósitos estabelecidos foi realizada uma pesquisa descritiva e
exploratória de natureza quanti-qualitativa, configurando um estudo de caso, cujo lócus
de pesquisa foi a Coordenadoria de Administração e Patrimônio, sendo os servidores e
colaboradores que usam o SEI considerado como amostra da pesquisa. A amostra se
constituiu por 22 (vinte e dois) servidores e 3 (três) colaboradores. O instrumento de
coleta de dados foi o questionário, cujo envio se deu via endereço eletrônico. A Análise
de Conteúdo foi utilizada para organização e interpretação dos dados coletados. Baseado
no percurso metodológico, obtivemos os seguintes resultados: as necessidades de
informação dos servidores e colaboradores estão atreladas às atribuições inerentes ao
setor em que estes desenvolvem suas atividades, bem como, aos processos relacionados
à vida funcional. O conteúdo dos documentos e as bases de conhecimento inseridas no
SEI, impulsiona os usuários a usá-lo no processo de busca por informações. As etapas
Inf. Pauta Fortaleza, CE v. 4 n. 2 jul./dez. 2019 ISSN 2525-3468
DOI: https://doi.org/10.32810/2525-3468.ip.v4i2.2019.43117.193-195
RESUMO DE DISSERTAÇÃO
194
Oliveira | Comportamento informacional de servidores e colaboradores da UFC no uso do SEI
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 2, jul./dez. 2019 | ISSN 2525-3468
deste processo envolvem o início, a seleção, a exploração, a formulação, a coleta e a
apresentação especificadas no ISP. Este processo gera sentimentos de otimismo, quando
os servidores e colaboradores encontram a informação que necessita, ou frustração,
caso não consigam obtê-la. Constatou-se que os usuários do SEI possuem habilidades
para utilização do sistema, no entanto, existem dificuldades no tocante a representação
dos ícones, ao campo de pesquisa e às funções dos perfis disponibilizados aos
colaboradores. Esses reveses possivelmente geram sentimentos ruins que podem
influenciar o processo de busca da informação. Sugerimos como estratégia de
capacitação dos usuários, a fim de superar as dificuldades apresentadas, a estruturação
de um curso básico com conteúdo que abarque a gestão de documentos administrativos
públicos e as boas práticas de uso do SEI. Concluímos que ao perceber as necessidades
de informação, os servidores e colaboradores da CAP são motivados a iniciar o processo
de busca no SEI, perpassando as etapas e domínios do ISP. Neste processo são
evidenciadas as dificuldades dos usuários no uso do sistema, podendo ter êxito ou não
em suas pesquisas.
Palavras-chave: Estudos de Usuários. Comportamento Informacional. Necessidades de
Informação. Busca por Informações. Sistema Eletrônico de Informações. Information
Search Process (ISP).
ABSTRACT
This research presents the informational behavior of the Information Electronic System
(IES), that have been at the Coordination of Administration and Patrimony (CAP), on the
Federal University of Ceará (FUC). As a question point, it propounds: how the servers
and contributors from CAP, on FUC, behave in the process of searching information
provided on the Information Electronic System? It was established, as the general
objective, to analyze the informational behavior of the users of the Coordination of
Administration and Patrimony, on the Federal University of Ceará, on searching
information at the SEI’s environment, according to the Information Search Process (ISP),
by Carol Kuhlthau. We defined as specifics objectives: identify the needs of the servers
and contributors that encourage the information searching; describe the information
searching mode by means of the Information Search Process (ISP), created by Carol
Kuhlthau; and point the servers and contributors’ difficulties using IES. In order to
achieve the established purposes, it was composed an exploratory and descriptive
research, with quantitative and qualitative character, configuring a case study, whose
the researching locus was the Coordination of Administration and Patrimony, with the
servers and contributors, SEI users, being research samples. The sample was formed by
22 (twenty-two) servers and 3 (three) contributors. The instrument of data collect was
the questionnaire, whose shipping was made by electronic mail. The Content Analysis
was used to organization and interpretation of the collected data. Based on the
methodological trajectory, we had these results: the servers and contributors’ needs of
information are tied down to the intrinsic assignments to the sector that they execute
their activities, so as the process related to their functional life. The content of the
documents and the databases inserted on IES impel the users to use it on the process of
information searching. The stages of this process evolve the beginning, the selection, the
exploration, the formulation, the collect and the presentation specified on the ISP. This
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process brings feelings of optimism, when the servers and contributors find the
information that they need, or frustration, in case of they didn’t make it. It was verified
that the IES users has abilities to use the system. However, there are difficulties about
the icons representation, the research environment and the functions of the profiles
available to the contributors. These occasions possibly brings bad feelings that could
influence the process of information search. We suggest, as a user training strategy, in
order to overcome the present difficulties, the structuring of a basic course with content
that include the management of administration public documents and the best practice
on the use of the IES. We conclude that when we noticed the information needs, the
servers and contributors from CAP was motivated to begin the process of search on IES,
passing by the ISP’s stages and domains. In this process, we can notice the difficulties of
the users to use the system, doing well on their researches or not.
Keywords: Users study. Informational Behavior. Information Needs. Information
Search. Information’s Electronic System. Information Search Process (ISP).
SOBRE O AUTOR
Thiago Pinheiro Ramos de Oliveira
Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal do Ceará
(UFC).
E-mail: thiagobiblio.oliveira@hotmail.com
ACESSO ABERTO
Copyright: Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.
Financiamento: Não
Recebido em: 20/12/2019.
Aceito em: 20/12/2019.
Revisado em: 21/12/2019.
Como citar este resumo:
OLIVEIRA, Thiago Pinheiro Ramos. Comportamento informacional de servidores e colaboradores da
Universidade Federal do Ceará no uso do Sistema Eletrônico de Informações (SEI). Informação em Pauta,
Fortaleza, v. 4, n. 2, p. 193-195, jul./dez. 2019. DOI: 10.32810/2525-3468.ip.v4i2.2019.43117.193-195.
SANTOS, Francisco Edvander Pires. Gestão de acervos audiovisuais em repositórios.
Orientação: Maria Giovanna Guedes Farias. Coorientação: Luiz Tadeu Feitosa. 2018. 194
f. Dissertaçã o (Mestrado em Ciência da Informação) Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação, Centro de Humanidades, Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza, 2018. Disponível em: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/39305.
Acesso em: 25 set. 2019.
GESTÃO DE ACERVOS AUDIOVISUAIS EM REPOSITÓRIOS
THE MANAGEMENT OF AUDIOVISUAL COLLECTIONS ON DIGITAL REPOSITORIES
RESUMO
Apresenta resultados de pesquisa cujo objetivo se constituiu em construir critérios e
diretrizes para a gestão de imagens em movimento e acervos sonoros produzidos na
Universidade Federal do Ceará (UFC), uma proposição realizada a partir da mediação
bibliotecária na estruturação de um repositório audiovisual. Como aporte teórico,
discutem-se as dimensões da informação audiovisual; a competência e mediação
bibliotecária na gestão de acervos audiovisuais; e as diretrizes nacionais e internacionais
para gestão de repositório audiovisual. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, que recorre
à triangulação metodológica visando contemplar a amplitude do tema proposto. Como
primeiro método de pesquisa, utiliza a pesquisa documental para análise dos documentos
normativos que regem os repositórios institucionais de universidades e institutos de
pesquisa brasileiros, selecionados sob o critério dos que mais se destacaram no Ranking
Web of Repositories, na finalidade de verificar se essas políticas e repositórios
contemplam, de alguma forma, os acervos audiovisuais. O segundo método adotado foi a
análise de conteúdo, que possibilitou a categorização e análise de uma amostra dos
acervos audiovisuais produzidos na UFC, dentre eles: documentários; curtas-metragens;
animações; programas de televisão; programas de rádio; podcasts; videoaulas; palestras;
e espetáculos musicais. A fim de proceder com a análise e descrição dessa amostra, houve
a necessidade de criação de um instrumento para coleta de dados, construído no software
Evernote e compartilhado no repositório Zenodo. Os dados foram coletados no software
de acordo com o corpus selecionado para cada ambiente de pesquisa, quais sejam: Curso
de Jornalismo da UFC; Casa Amarela Eusélio Oliveira; Programa UFCTV; Rádio
Universitária FM; Biblioteca de Ciências Humanas; e Coral da UFC. A escolha dos
ambientes corresponde à amostra selecionada para esta pesquisa, representando os tipos
de acervos audiovisuais categorizados na análise de conteúdo. Para descrição dos dados
coletados, foi utilizada a técnica de decupagem, que permite o detalhamento do que é
assistido nas imagens e ouvido nos áudios analisados, além da atribuição de palavras-
chave que representam o conteúdo audiovisual. Como análise e discussão dos resultados,
apresentam-se a análise dos documentos que regem o funcionamento dos repositórios
institucionais; a análise das categorias de acervos audiovisuais produzidos na UFC; e os
critérios e diretrizes estabelecidos para repositório audiovisual. Definiram-se elementos
Inf. Pauta Fortaleza, CE v. 4 n. 2 jul./dez. 2019 ISSN 2525-3468
DOI:
https://doi.org/10.32810/2525-3468.ip.v4i2.2019.42263.196-198
RESUMO DE DISSERTAÇÃO
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que conduziram à proposta dos critérios e das diretrizes para gestão das coleções em
repositório audiovisual no software DSpace, a saber: desenvolvimento de acervos
audiovisuais; definição de metadados; decupagem e indexação; e ciclo de produção
audiovisual, fluxo de submissão e designação de responsabilidades. Conclui que os
critérios e diretrizes propostos fornecem subsídios informacionais para gestão de
imagens em movimento e acervos sonoros em repositório audiovisual no DSpace e que
podem ser aplicados em todos os ambientes produtores de informação audiovisual, e não
apenas no ambiente universitário.
Palavras-chave: Gestão da informação. Acervos audiovisuais. Mediação bibliotecária.
Decupagem. Repositório audiovisual.
ABSTRACT
This master’s thesis presents the results of a research that focusing on proposing criteria
and guidelines to manage moving images and sound collections, which have been
produced at a public university in Brazil, named Universidade Federal do Ceará (UFC). It
is a proposal made from the librarian’s mediation at setting up an audiovisual repository.
As a theoretical contribution, we discuss the dimensions of audiovisual information, the
librarian’s competence and mediation at managing audiovisual collections, and some
Brazilian and international guidelines for managing audiovisual repository. It is
characterized as a qualitative research through methodological triangulation, which is
proposed to explain the breadth of the subject. The first research method is the
documentary research for analyzing normative documents that rule the institutional
repositories of ten Brazilian universities and research institutions, which were selected
under the criterion of those that stood out most on the Ranking Web of Repositories,
aiming to verify if those documents have pointed out audiovisual collections in their
scope. The second research method is the content analysis, which enabled the
categorization and analysis of a sample of the audiovisual collections produced at UFC,
such as: documentaries; short films; animations; television programs; radio programs;
podcasts; video classes; lectures; and musical concerts. After that, a data collection tool
was constructed on Evernote to analyze and describe that sample of audiovisual
productions, and then the data was shared on Zenodo, which is an online repository. The
data were collected according to the corpus selected for each research environment at
UFC, namely: a course of Journalism; a school of cinema; a television program called
UFCTV; an academic radio station; an academic library; and an academic choir. The choice
of these environments is related to the sample for analyzing and describing. The analysis
and description were made based on the types of audiovisual collections categorized from
the content analysis method and through the audiovisual description technique, which
allows to describe in detail all that is seen on the moving images and also which is heard
from the sound analyzed, besides represent the audiovisual content by keywords. The
section on discussion of the results is compounded by the analysis of ten normative
documents on Brazilian institutional repositories; by the analysis of each category of
audiovisual collections produced at UFC; and by our criteria and guidelines to manage
audiovisual repository on DSpace, which were set up from communities, collections,
metadata, audiovisual description and indexing, and a proposal of workflow at producing
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audiovisual information. Finally, we conclude that the development of our criteria and
guidelines provides informational resources for managing moving images and sound
collections on online repositories, also considering that each criterion and guideline can
be applied at all kind of environments which have produced audiovisual information, and
not only in public universities.
Keywords: Information management. Audiovisual collections. Librarian’s mediation.
Audiovisual description. Audiovisual repository.
SOBRE O AUTOR
Francisco Edvander Pires Santos
Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal do
Ceará (UFC). Bibliotecário na Biblioteca de Ciências Humanas da UFC. Membro da International
Association of Sound and Audiovisual Archives (IASA).
E-mail:
edvanderpires@gmail.com
ACESSO ABERTO
Copyright: Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.
Financiamento: Não há.
Recebido em: 29/09/2019.
Aceito em: 29/09/2019.
Revisado em: 13/10/2019.
Como citar este resumo:
SANTOS, Francisco Edvander Pires. Gestão de acervos audiovisuais em repositórios. Informação em
Pauta, Fortaleza, v. 4, n. 2, p. 196-198, jul./dez. 2019. DOI:
10.32810/2525-3468.ip.v4i2.2019.42263.196-
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