Por uma concepção política de conflito escolar

Autores

  • Thiago Colmenero Cunha Universidade Federal do Rio de Janeiro
  • Pedro Paulo Gastalho Bicalho Universidade Federal do Rio de Janeiro

Resumo

A partir de pesquisa-intervenção realizada em duas escolas públicas fluminenses e a emergência do dispositivo grupos de reflexão realizado com os jovens do nono ano do Ensino Fundamental e do terceiro ano do Ensino Médio, o presente artigo analisa as lógicas presentes na concepção de conflito no contexto escolar. Dentro desse cenário emergem diariamente brigas, discussões, polêmicas, dissensos, desacordos. Em um espaço em que majoritariamente a normatização é compreendida como cuidado, a fim de controlar e adestrar jovens para se tornarem mão de obra qualificada no futuro, o desvio serve como ponto de partida para definição da norma. O conflito pode ser entendido a partir de um olhar positivista sobre o indivíduo, generalizante, individualista, intimista, representativo – aqui a Psicologia emerge, na medida em que sua intervenção é pautada na prevenção diagnóstica de distúrbio e disfunções. A partir do referencial teórico-metodologico da Psicologia da Libertação Latinoamericana e da Análise Institucional Francesa propõe-se pautar o conflito como relações de poder, opressão, discriminação, injustiça, desigualdade, estruturas sociais: uma concepção política do conflito escolar. É preciso, portanto, desindividualizar as demandas que emergem como conflito e trazer as tensões, as relações sociais, as convivências, a política das relações das juventudes que habitam as escolas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Thiago Colmenero Cunha, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Psicólogo e pedagogo. Mestre e doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (bolsista CNPq). Professor da Universidade Santa Úrsula.

Pedro Paulo Gastalho Bicalho, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Professor Associado do Instituto de Psicologia, do Programa de Pós-graduação em Psicologia e do Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas em Direitos Humanos da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Bolsista de produtividade em pesquisa (CNPq).

Referências

Abramo, H. W. (2007). Considerações sobre a tematização social da juventude no Brasil. In Juventude e contemporaneidade. Brasília : UNESCO/ MEC/ ANPED, p.25-36.

Baptista. L.A. (1999). A atriz, o padre e a psicanalista: os amoladores de facas. In Cidade dos Sábios. São Paulo: Summus, p.45-49. Bicalho, P.P.G. & Barbosa, R.P.B. (2014) O modo indivíduo nas políticas públicas sobre drogas no Brasil e as encomendas endereçadas à Psicologia. Polis e Psique, 4, 230-249.

Bicalho, P.P.G.; Kastrup, V. & Reishoffer, J.C. (2012). Psicologia e segurança pública: invenção de outras máquinas de guerra. Psicologia & Sociedade, 24, 56-65.

Bicalho, P.P.G. & Reishoffer, J.C. (2009). Insegurança e produção de subjetividade no Brasil contemporâneo. Fractal: Revista de Psicologia, 21, 425-444.

Castro, A.C. & Bicalho, P.P.G. (2013). Juventude, Território, Psicologia e Política: Intervenções e Práticas Possíveis. Psicologia: Ciência e Profissão, 33, 118-129.

Cunha, T.C. & Bicalho, P.P.G. (2015). A Violência nas Escolas e a produção do medo como discurso de ordem. In Guindani, M.K.A.; Martins, G.; Ansari, M. (Org.). Educação em Direitos Humanos: relatos de experiências no campo do ensino, pesquisa e extensão universitária. Rio de Janeiro: Montenegro, p.135-150.

Decotelli, K.C.M.; Bohrer, L.C.T. & Bicalho, P.P. G. (2013). A droga da obediência: medicalização, infância e biopoder: notas sobre clínica e política. Psicologia: Ciência e Profissão, 33, 446-459.

Decotelli, K.C.M.; Cunha, T.C. & Bicalho, P.P.G. (2017). Criminalização da vida escolar: entre policiais, (in)segurança e conflitos emergem os processos de medicalização e judicialização. In Lemos, F.C.S.;

Galindo, D.; Bicalho, P.P.G.; Ferreira, E.T.A.; Cruz, B.A.; Nogueira, T.S.; Neta, F.T.B.; Aquime, R.H.S. (Org.). Práticas de Judicialização e Medicalização dos corpos, no contemporâneo. Curitiba: CRV, p. 194-212.

Foucault, M. (2011). Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes.

Góes, L. (2016). A “tradução” de Lombroso na obra de Nina Rodrigues. Rio de Janeiro: Revan.

Guzzo, R. S. L & Lacerda Jr., F. (2007). Fortalecimento em tempo de sofrimento: reflexões sobre o trabalho

do psicólogo e a realidade brasileira. Revista Interamericana de Psicologia, 41 (2), 231-240.

Leite, L.C. (2012). Outros descaminhos na adolescência: Os jovens invencíveis ao controle

social. Cadernos IPUB. Vol. 1 - Da Clínica à Reabilitação Psicossocial - Manual de Saúde Mental de crianças e Adolescentes. Rio de Janeiro: Ed.UFRJ, p.29-34.

Leite, L.C. (2015). A pedagogia na sociedade do açúcar: As raízes da educação cubana. Anais da Reunião Nacional da ANPEd. Florianópolis: EdUFSC, p.1-18.

Lévinas, E. (2004). Entre nós: ensaio sobre alteridade. Petrópolis: Vozes.

Martin-Baró, I. (1985/2012). Acción y ideologia: Psicología Social desde Centroamérica. San Salvador: UCA Editores, 2ª ed..

Martin-Baró, I. (1988), La violencia en Centroamérica: una visión psicosocial. Revista Costarricense de

Psicología, 12/13, p. 21-34.

Martins, K. O. & Lacerda Jr., F. (2014). A Contribuição de Martín-Baró para o Estudo da Violência: uma apresentação. Psicologia Política, 14 (31), p.569-589.

Mattos, A. (2012). Liberdade, um problema de nosso tempo: os sentidos de liberdade para os jovens no

contemporâneo. Rio de Janeiro: Editora FGV.

Melsert, A.L.M. & Bicalho, P.P.G. (2012). Desencontros entre uma prática crítica em psicologia e concepções

tradicionais em educação. Psicologia Escolar e Educacional, 16, p. 153-160.

Meza, A.P. & Bicalho, P.P.G. (2016). A Sociedade de Controle que nos Habita. In Lemos, F.C.S.; Galindo, D.; Bicalho, P.P.G.; Oliveira, F.; Santos, I.; Santos, A.; Elmenescay, E.; Almeida, M. (Org.). Criações Transversais com Gilles Deleuze: Artes, Saberes e Política. Curitiba: CRV, p. 473-494.

Moraes, M. (2010). PesquisarCOM: política ontológica e deficiência visual. In Moraes, M.; Kastrup, V. Exercícios de ver e não ver: arte e pesquisa com pessoas com deficiência visual. Rio de Janeiro: Nau

Editora.

Moreira, A.P.G & Guzzo, R.S.L. (2017). Violência e prevenção na escola: as possibilidades da psicologia

da libertação. Psicologia & Sociedade, 29, p.1-10.

Mouffe, C. (2006). Por um modelo agonístico de democracia. Lisboa: Livraria Pretexto Editora.

Passos, E; Kastrup, V. & Escóssia, L. (2010) (Orgs.) Pistas do método da cartografia:

Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina.

Rancière, J. (1996). O desentendimento. São Paulo: Editora 34.

Rebeque, C.C.; Jagel, D.C. & Bicalho, P.P.G. (2008). Psicologia e Políticas de Segurança Pública: o

analisador Caveirão. Psico, 39, 418-424.

Redes da Maré. (2017) Fórum Basta de Violência! Outra Maré é possível! Disponível em

http://redesdamare.org.br/blog/seguranca-publica/forum-basta-de-violencia-outra-mare-e-possivel/>.

Simmel, G. (1983). Sociologia. São Paulo: África.

Zaffaroni, E.R. (2011). O Inimigo no Direito Penal. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Revan

Downloads

Publicado

2018-01-01

Como Citar

Colmenero Cunha, T., & Bicalho, P. P. G. (2018). Por uma concepção política de conflito escolar. Revista De Psicologia, 9(1), 70–80. Recuperado de http://www.periodicos.ufc.br/psicologiaufc/article/view/20508