A Gestão do Trabalho Indígena frente à Resistência Política em Angola, 1950

Autores

  • Carla Susana Alem Abrantes UNILAB
  • Marina Berthet Universidade Federal Fluminense (UFF)

Palavras-chave:

Colonialismo Português, Trabalho, Leis, Administração Colonial, Agentes Coloniais

Resumo

A partir de um relatório de governo da região norte de Angola escrito em 1957 delineia-se, neste artigo, uma reflexão sobre as transformações na regulamentação do trabalho indígena no contexto colonial português. Em um cenário de forte pressão anti-colonial e resistências locais, as leis e o cotidiano de gestão do trabalho dos indígenas permitem tecer considerações sobre os limites do trabalho livre e as condições para a centralidade do Estado como espaço de representações e agências que afetam indivíduos e grupos locais, seus sentidos de trabalho e seu lugar de participação política.

Biografia do Autor

Carla Susana Alem Abrantes, UNILAB

Professora adjunta dos bacharelados em antropologia e em humanidades da UNILAB, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, em Redenção, Ceará, Brasil. Defendeu sua tese de doutorado em 2012 com o título “Problemas” e “soluções” para a gestão de Angola: um estudo a partir do ensino superior de administração colonial, 1950-1960, no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGAS/MN/UFRJ). Suas áreas de interesse de pesquisa são Colonialismo Português, Administração Colonial e Pensamento Social. É líder do grupo de pesquisa Cooperação Internacional e Tradições de Conhecimento da UNILAB e pesquisadora do LACED/MN/UFRJ – Laboratório de Pesquisas em Etnicidade, Cultura e Desenvolvimento

Marina Berthet, Universidade Federal Fluminense (UFF)

Professora adjunta do departamento de história na Universidade Federal Fluminense (UFF) e no Programa de pós graduação do mesmo departamento. Possui doutorado em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (2006); DEA em ciências sociais pela EHESS (École des Hautes Etudes en Sciences Sociales de Marseille) (1999). Possui experiência de ensino em antropologia e história. Temas, áreas de pesquisa e interesses: São Tomé e Príncipe e Cabo Verde (socio-antropologia e história, migrações, projetos de desenvolvimento, memória e canções do trabalho forçado, trabalho forçado e colonialismo, história política da África); Benin, história e interdisciplinaridade (arte e história, artesãos, memórias e história, história política), África do Índico e as ilhas (história comparada com as ilhas do Atlântico)

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Publicado

2016-04-19

Como Citar

Abrantes, C. S. A., & Berthet, M. (2016). A Gestão do Trabalho Indígena frente à Resistência Política em Angola, 1950. Revista De Ciências Sociais, 46(2), 117–140. Recuperado de http://www.periodicos.ufc.br/revcienso/article/view/2921

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