A melancolia da esquerda resignada

Reflexões sobre reformismo e neoliberalismo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.36517/rcs.53.1.a02

Palavras-chave:

Esquerda, Melancolia, Neoliberalismo, Pós-guerra, Reformismo

Resumo

Apresentamos um diagnóstico, sugerido pela cientista política Jodi Dean, segundo o qual a categoria psicanalítica de “melancolia” pode ser usada para interpretar a resignação de determinados segmentos da esquerda assujeitados ao capitalismo ocidental. Então, o assumimos como referência de análise para ensaiar, em associação ao campo da economia política, uma interpretação histórica de três momentos da recente trajetória da luta de classes — a ascensão do Estado de bem-estar no pósguerra, sua queda e o programa neoliberal de austeridade —, refletindo sobre os lugares que certa esquerda veio ocupando ao longo dos mesmos. Guiamo-nos pela hipótese segundo a qual as posições de “reformismo” socialdemocrata e de “neoliberalismo de esquerda” sejam exemplos de resignação, em graus variados, à estrutura capitalista e à ideologia dominante. Nosso objetivo é refletir sobre desafios para a assunção de uma concepção de mundo revolucionária na política, introduzindo o conceito psicanalítico de melancolia como uma referência teórica relevante para análises nesta temática — debate que também se situa no campo da subjetivação política.

Biografia do Autor

Luan Cardoso Ferreira, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política pelo IESP-UERJ. Especialista em Teoria Psicanalítica pela UCAM. Pesquisador do Grupo de Estudos em Subjetividade e Política, associado ao Laboratório Cidade e Poder (GESP-LCP-UFF). 

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Publicado

2022-03-01

Como Citar

Cardoso Ferreira, L. (2022). A melancolia da esquerda resignada: Reflexões sobre reformismo e neoliberalismo. Revista De Ciências Sociais, 53(1), 309–343. https://doi.org/10.36517/rcs.53.1.a02