Instabilidade Político-Militar, Deslocamentos Compulsórios e a Vida Cotidiana em Moçambique: uma agenda de pesquisa

Autores

  • Albino José Eusébio Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Pará – PPGSA/UFPA
  • Sônia Barbosa Magalhães Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia, Universidade Federal do Pará – PPGSA/UFPA

Palavras-chave:

Moçambique, instabilidade político-militar, deslocamentos compulsórios, vida cotidiana

Resumo

Duas décadas depois do fim da guerra civil pós-independência em 1992, Moçambique vive uma “tensão político-militar” envolvendo a Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO) e Forças de Defesa e Segurança (FDS). O objetivo do presente trabalho é fazer uma reflexão sobre alguns efeitos sociais dessa tensão na vida cotidiana dos moçambicanos, lançando alguns questionamentos para uma futura pesquisa etnográfica. Ao longo do trabalho fazemos também um exame crítico a certos discursos dominantes na “arena pública” moçambicana que reduzem os efeitos socioeconômicos da atual tensão político-militar ao “afugentamento dos investimentos estrangeiros” e consequentemente inviabilização do “desenvolvimento” do país. Esses discursos “invisibilizam” os cotidianos efeitos socioeconômicos do atual conflito para os “cidadãos comuns”, especialmente aqueles que vivem nas áreas rurais, principais zonas de conflito.

Biografia do Autor

Albino José Eusébio, Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Pará – PPGSA/UFPA

Mestre e Doutorando em Sociologia no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Pará – PPGSA/UFPA. Bolsista da Capes. Membro do grupo de pesquisa “Sociedade, ambiente e ação pública”. Principal publicação: EUSÉBIO, Albino José; MENDONÇA, Kátia. Individualismo, violência criminal e a construção social da vida cotidiana. Sistema Penal & Violência, vol. 7, n. 2, p. 265-276, 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.15448/2177-6784.2015.2.21523. E-mail: albinoeusebio@outlook.com. Endereço para correspondência: Conjunto Império Amazônico, 106, bloco 01, Entrada A, Bairro Souza, CEP: 66613080, Belém-PA. Telefone: (91) 9 8020 – 4680. 

Sônia Barbosa Magalhães, Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia, Universidade Federal do Pará – PPGSA/UFPA

Doutora em Sociologia e Antropologia. Professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia, Universidade Federal do Pará – PPGSA/UFPA. Coordenadora do grupo de pesquisa “Sociedade ambiente e ação pública”. Contato: smag@ufpa.br. Última publicação: MAGALHÃES, Sonia Barbosa; SILVA, Y. Y. P.; VIDAL, C. Não há peixe para pescar neste verão: efeitos socioambientais durante a construção de grandes barragens? o caso Belo Monte. Desenvolvimento e Meio Ambiente, vol. 37, p. 111-134, 2016.

Referências

AGIER, Michel. Identifications dans l'exil: les réfugiés du camp de Maheba (Zambie), Autrepart, França, n. 26, p. 73-89, 2003.

AGIER, Michel. Refugiados diante da nova ordem mundial. Tempo Social, São Paulo, vol. 18, n. 2, p. 197-215, nov. 2006.

BAZENGUISSA, Rémy. Les réfugiés dans les enjeux locaux dans le nord-est du Congo. In: GUICHAOUA, A. (Org.) Exilés, réfugiés, déplacés en Afrique centrale et orientale. Paris: Éditions Karthala, 2004, p. 379-424.

BERGER, Peter; LUCKMANN, Thomas (Orgs.). A construção social da realidade: Tratado de sociologia de conhecimento. Petrópolis: Vozes, 2012.

BOUDON, Raymond. Ação. In: BOUDON, R. (Org.). Tratado de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1996, p.27-64.

BOURDIEU, Pierre; SAYAD, Abdelmalek. A dominação colonial e o sabir cultural. Revista de Sociologia e Política, Curitiba, n. 26, p. 41-60, jun. 2006.

BRITO, Luís. Uma reflexão sobre o desafio da paz em Moçambique. In: BRITO, L. (Org.). Desafios para Moçambique 2014. Maputo: IESE, 2014, p. 23-40.

CATUEIRA, André. Após "festas a seco" deslocados no centro de Moçambique partem para 2017 cheios de incertezas. Agência Lusa. 01.01.2017. Disponível em: http://24.sapo.pt/noticias/internacional/artigo/apos-festas-a-seco-deslocados-no-centro-de-mocambique-partem-para-2017-cheios-de-incertezas_21708700.html. Acesso no dia 02/01/2017.

CERTOU, Michel. A invenção do quotidiano: artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1998.

CHIZENGA, Anselmo. Mineração e conflito ambiental: disputas em torno da implantação do megaprojeto da Vale na bacia carbonífera de Moatize, Moçambique. Dissertação (Mestrado) –Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-graduação em Sociologia, Porto Alegre/RS, 2016. 174f.

COELHO, João Paulo Borges. Antigos soldados, novos cidadãos: a reintegração dos desmobilizados de Maputo. Estudos moçambicanos, Maputo, n. 20, p. 141-236, 2002.

COHN, Gabriel. Crítica e resignação: Max Weber e teoria social. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

CONRADO, Régio. A banalização do problema em Moçambique. In: Opinião. Jornal Savana. 25. 12.2015.

DEUTSCHE WELLE. Tensão político-militar aumenta número de deslocados na Gorongosa, Moçambique: DW.DE 12.03.2014. Disponível em http://www.dw.de/tens%C3%A3o-pol%C3%ADtico-militar-aumenta-n%C3%BAmero-de-deslocados-na-gorongosa/a-17492946. Acesso no dia 03.10.2014.

DILTHEY, Wilhelm. Dos escritos sobre hermenéutica: el surgimiento de la hermenéutica y los esbozos para una crítica de la razón histórica. Espanha: Istmo S.A, 2000.

EUSÉBIO, Albino José. “Cancope” a comunidade onde nutre a esperança: Transformações sociais na vida cotidiana de uma comunidade rural do distrito de Moatize, província de Tete, Moçambique. Revista Visagem, Belém, vol. 2, n. 2, p. 354-371, jul./dez. 2016.

EUSÉBIO, Albino José; MENDONÇA, Kátia. Individualismo, violência criminal e a construção social da vida cotidiana. Sistema Penal & Violência, Porto Alegre, vol. 7, n. 2, p. 265-276, jul./dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.15448/2177-6784.2015.2.21523.

FORQUILHA, Salvador. Do discurso da ‘história de sucesso’ às dinâmicas políticas internas: O desafio da transição política em Moçambique. In: DE BRITO, L. (Org.). Desafios para Moçambique 2014. Maputo: IESE, 2014, p. 61-82.

FREITAS, Raquel. Construção e desconstrução da relação entre migrações forçadas e desafios de segurança em África. Cadernos de Estudos Africanos, Lisboa, n. 22, p. 129-152, jul./dez. 2011.

GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Petrópolis: Vozes, 1999.

GADAMER, Hans-Georg; FRUCHON, Pierre. O problema da consciência histórica. Rio de Janeiro: FGV, 2003.

GALLO, Fernanda. (Des)encontros do Brasil com Moçambique – o caso da Vale em Moatize. In: Morais, C.; Pereira, M.; Mattos, R. (Orgs.). Encontros com Moçambique. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio, 2016, p. 235-264.

GEFFRAY, Christian. La cause des armes au Mozambique. anthropologie d`une guerre civile. Nairobi: Karthala, 1990.

GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis: Vozes, 2013.

GUICHAOUA, André. (Org.) Exilés, réfugiés, déplacés en Afrique centrale et orientale. Paris: Éditions Karthala, 2004.

GUICHAOUA, André. Migrants, réfugiés et déplacés en Afrique centrale et orientale. In: GUICHAOUA, A. (Org.) Exilés, réfugiés, déplacés en Afrique centrale et orientale. Paris: Éditions Karthala, 2004, p.105-212.

LASSAILLY-JACOB, Véronique. Des réfugiés mozambicains sur les terres des Zambiens: le cas du site agricole d’Ukwimi, 1987-1994. In: CAMBREZY, L; LASSAILLY-JACOB (Org). Population réfugiées: du l’exil au retour. Paris: IRD, 2001, p. 269-299.

MACAMO, Elísio. A Constituição de uma sociologia das sociedades Africanas. Estudos Moçambicanos, Maputo, n. 19, p. 5-26, 2002.

MACAMO, Elísio. Cultura política e cidadania em Moçambique: uma relação conflituosa. In: BRITO, L. (Org.). Desafios para Moçambique 2014. Maputo: IESE, 2014, p. 41-60

MAGALHÃES, Sónia Barbosa. Lamento e Dor. Uma análise sócio-antropológica do deslocamento compulsório provocado pela construção de barragens. Tese (Doutorado) do Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará em co-tutela com a École Doctorale Vivant et Sócietés da Universidade Paris 13. Belém, França, 2007. 279f.

MARTINS, José de Sousa. O sensu comum e a vida cotidiana. Tempo Social, São Paulo, vol. 10, n. 1, p. 1-8, maio 1998.

MUCALE, Ergimino. Afrocentricidade: complexidade e liberdade. Maputo: Paulinas, 2013.

MUNANGA, Kabengele. Desenvolvimento, construção da democracia e da nacionalidade nos países africanos: desafios para o milênio. Trabalho apresentado no Simpósio Samora vive, re-significando pátria, identidade nacional e cidadania. Organizado pelo Centro de Estudos Africanos, Universidade Eduardo Mondlane, Maputo, 01 – 02 de Setembro de 2016. Disponível em: http://www.movimentopatria.ac.mz/images/comunicacoes/1-kabengele_munanga-simposio_samora_vive-1set16.pdf. Acesso no dia 22/01/2017.

NIMUBONA, Julien. Mémoires de réfugiés et de déplacés du Burundi: lecture critique de la politique publique de réhabilitation. In: GUICHAOUA, A. (Org.) Exilés, réfugiés, déplacés en Afrique centrale et orientale. Paris: Éditions Karthala, 2004, p. 213-246.

NIZURUGERO, Jean. Intégration des rapatriés et déplacés rwandais dans le district de Butare-ville. In: GUICHAOUA, A. (Org.) Exilés, réfugiés, déplacés en Afrique centrale et orientale. Paris: Éditions Karthala, 2004, pp. 695-728

PALMER, Richard. Hermenêutica. Lisboa: Edições 70, 1969.

RAIMUNDO, Inês Macamo. Immigration and refugee policy in Mozambique: the experience of refugees from Maratane Refugee Camp. Trabalho apresentado no Workshop discussion on refugee status determination and rights in sub-Saharan África. Kampala, Uganda, 16 – 17 de Novembro de 2010.

RICOEUR, Paul. Interpretação e ideologias. Rio de Janeiro: F. Alves, 1988.

ROYER, Arnaud. Lês déplacements internes au Burundi: la gestion de l’incertitude. In: GUICHAOUA, A. (Org.) Exilés, réfugiés, déplacés en Afrique centrale et orientale. Paris: Éditions Karthala, 2004, p. 269-378.

SCHUTZ, Alfred. Fenomenologia e relações sociais. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.

SCOCUGLIA, Juvanka. Hermenêutica de Wilheim Dilthey e a reflexão epistemológica nas ciências humanas contemporâneas. Sociedade e Estado, Brasília, vol. 17, n. 2, p. 249-281, jul./dez. 2002.

UNHCR. UNHCR begins relocating Mozambican asylum-seekers in Malawi. 2016c. Disponível em, http://www.unhcr.org/news/latest/2016/4/5710d5746/unhcr-begins-relocating-mozambican-asylum-seekers-malawi.html. Acesso no dia 24.05.2016.

UNHCR. UNHCR.Clashes drive Mozambicans to seek safety in Malawi. 2016a. Disponível em, http://www.unhcr.org/news/latest/2016/1/5698ea5c6/clashes-drive-mozambicans-seek-safety-malawi.html. Acesso no dia 24.05.2016.

UNHCR.UNHCR stresses asylum right of Mozambicans crossing into to Malawi. 2016b. Disponível em, http://www.unhcr.ie/news/irish-story/unhcr-stresses-right-to-asylum-of-mozambicans-crossing-into-malawi. Acesso no dia 24.05.2016.

VIVET, Jeanne. Os deslocados de guerra em Maputo: percursos migratórios, “citadinização” e transformações urbanas da capital moçambicana (1976-2010). Maputo: Alcance Editores, 2015.

WAGNER, Helmut. Introdução: Obras de Alfred Schutz; pontos de partida; O quadro da sociologia fenomenológica de Schutz. In: SCHUTZ, A. Fenomenologia e relações sociais. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.

WEBER, Max. A “objetividade” do conhecimento nas ciências sociais. São Paulo: Ática, 2006.

Downloads

Publicado

2018-02-28

Como Citar

Eusébio, A. J., & Magalhães, S. B. (2018). Instabilidade Político-Militar, Deslocamentos Compulsórios e a Vida Cotidiana em Moçambique: uma agenda de pesquisa. Revista De Ciências Sociais, 49(1_Mar/Jun), 349–374. Recuperado de http://www.periodicos.ufc.br/revcienso/article/view/6365