Do conforto à ruptura
Suspense e suspensão em Continuidad de los Parques
Resumo
A literatura fantástica é um gênero que, como outros, costuma fazer uso do efeito de sentido de suspense como um recurso de manutenção da atenção do enunciatário, deixando-o ansioso por um desfecho. Mas para além de retardar ou interromper a sucessão de eventos, o fantástico manipula elementos da racionalidade, desafiando a concepção do real, do possível e impossível, do esperável, tanto para os personagens quanto para o leitor, numa lógica fortemente concessiva. Zilberberg (2011) define o suspense como “a dilatação extensiva de uma espera intensiva”, num jogo entre o sensível e o inteligível, mas sem a peculiaridade da instabilidade do real. A análise do conto Continuidad de los Parques, de Julio Cortázar, fundamentada na Semiótica Discursiva e na Semiótica Tensiva, demonstrou primeiramente como as escolhas enunciativas de debreagem e de mescla das instâncias narrativas (enunciatário, narrador, personagem-leitor e personagen-lidos) provocam gradativos mais de tonicidade e de andamento no campo de presença discursivo, saindo da rotina ao acontecimento. Foram identificadas duas esperas distintas, uma primeira característica do suspense e outra causada pela irrupção de uma concessão, e que deixou personagem-leitor e enunciatário suspensos ao fim do conto. Observamos, portanto, um suspense “clássico” interrompido por um acontecimento sem resolução, eternamente em suspensão.
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