Fronteiras do projetar: diálogos entre arte e design (REVISTA VAZANTES v.4, n.2)

2020-06-12

Prazo para submissão de propostas: 12 de AGOSTO de 2020

:: Propostas serão aceitas em Português, Espanhol ou Inglês ::

http://www.ppgartes.ufc.br/wp-content/uploads/2020/06/CHAMADA-Vazantes-2020-2design1.pdf

Fronteras del proyectar: diálogos entre arte y diseño

Frontières de la conception: dialogues entre l’art et le design

Em meio ao presente distópico da pandemia em que vivemos no ano de 2020, propomos um convite à reflexão sobre as vidas permeadas pelos fluxos e refluxos das “coisas do mundo” (Benjamin, 2007) - desde uma perspectiva da expansão do design em direção à arte e vice-versa.

Muitas são as estratégias que um pesquisador, artista e/ou designer tem adotado neste início de nosso século para análise de tais artefatos culturais: entre o Atlas Mnemosyne (de Aby Warburg, Alemanha), a Crítica de Processo (de Cecília Salles, Brasil),  a  Teoria Ator-Rede (de Bruno Latour, França) e a Visualização de Dados (de Lev Manovich, EUA), entre outros. Debates estes que transitam entre a mediação técnica e a política das coisas para ampliar a compreensão dos modos de fazer na arte e no design.

Dessa maneira, a presente chamada ao quarto ano da Revista Vazantes abre-se um espaço às materialidades que se encontram nas pesquisas, criações e fazeres entre a Arte e o Design: interessa-nos identificar em que medida o cotidiano vivido hoje se mostra em sua versão mais radical daquilo que se configurou como o nosso corpo ao longo dos últimos séculos - um corpo ora disciplinado, normalizado, acelerado, qualificado, ora desacelerado, descartado, ora recomposto... E, então, intimamente conectado à vitalidade e às eloquências das coisas (Haraway, 2008).

Os debates sobre ecologia e sustentabilidade - pautados por termos como extinção (da espécie), degradação (da terra, da água e do ar) e deslocamentos (humanos) - apresenta-se em transparente urgência quanto às práticas cotidianas e evidencia as múltiplas trilhas de uma práxis das coisas em nossas vidas a despeito das nossas intenções, desejos, interpretações… De mercadorias a coisas. Por exemplo, a coisa que você segura em suas mãos (que Deleuze apontara como uma coleira digital);  a coisa que você usa pra beber aquilo que te mata a sede, pra cortar a comida que te alimenta; a coisa que exibe o teu entretenimento; a coisa que projeta, projetada, projetou-se.

 

Como as coisas projetadas afetam a vida das pessoas? 

As nossas vidas e o ambiente ao nosso redor? 

Ou, ainda, como afetam os meios mais longínquos?

 

Clamamos aos pesquisadorxs e/ou artistas e/ou designers que respondam a essas questões. São perguntas que visam provocar reflexão sobre os modus operandi das práticas e das ideias. Ou seja, como os processos das distintas formas de projetar, “to design”, definem dinâmicas das materialidades contemporâneas (Flusser, 2004) e expandem os territórios das atividades da arte no seu complexo conjunto, configurando o mundo sensível compartilhado: techné, aesthesis, práxis.

A divisão entre a materialidade, de um lado, e o design, do outro - divisão tipicamente modernista - vem se dissolvendo e se dissolvendo... lentamente. Assim como o paradigma do design centrado no humano, ou no usuário, as implicações das transformações tecnológicas e ambientais têm desafiado os designers hoje a se concentrarem em sistemas sócio-técnico-complexos, como apontara Rafael Cardoso (2012).

Para além das questões de produção e consumo, pensamos o design pelo viés de um conjunto de relações - sociais e afetivas, tecnológicas e sensitivas, individual e coletiva -, estéticas que envolvem, portanto, as relações entre agentes humanos e não-humanos. Victor Papanek (1971) já havia apontado o caminho ao designer na esteira do artista que sai às ruas, para além de seus ateliers, psicogeografando a cidade, a fim de projetar outros mundos possíveis.

Outros autores, como  Arturo Escobar (2016) e Tony Fry (2010), têm apontado como o design contemporâneo tende a perpetuar os imperativos da modernidade - traduzidos hoje pelo  capitalismo neoliberal -  dada a insistência do protagonismo do humano como base do projeto e defendem a necessidade de se buscar outras práticas, disciplinas e culturas. Portanto, uma busca por novos sentidos para a prática do projetar: por uma equidade entre humanos e não-humanos através da supressão das fronteiras entre o design e a arte em seus processos de criação em direção a outros saberes e materialidades (Krippendorf, 2006), inúmeras vezes ignorados nos projetos à forma.

Nesse ínterim, a disseminação da cultura do design sinaliza as mudanças nas relações entre sujeito e objeto. Propomos, então, um número com contribuições que coloquem luzes sobre os métodos, estruturas e práticas relacionadas ao design/ arte (à arte/ design) que se vinculam às nossas singularidades e materialidades - uma relação entre humano e o não). 

Convidamos a explorar as micropolíticas que envolvem os processos que contaminam o design pela arte e a arte pelo design (Rancière, 2012) e listamos, para tanto, alguns pontos que por você - caro pesquisador, artista e/ou designer - deverão ser ampliados frente a este agenciamento material:

  • Do motion graphics aos artefatos críticos (entre o design especulativo e a ficção científica)
  • Open design (cultura open source, tecnologias abertas, culturas de acesso)
  • Co-design (design colaborativo, design participativo)
  • Arte e feminismo (mulheres no design?)
  • Fab Lab (fabricação digital,  materialidades híbridas)
  • Design, interseccionalidade e multiculturalidade (cultura indígena, africanidades e povos em situações diaspóricas)
  • Dentre interfaces e usuários (UX, HCI, GUI e IOT)
  • Design antropoceno (transhumano, multiespécie)
  • Estéticas e materialidades do projeto
  • Perspectivismo e design (design decolonial, design multiverse)
  • Materialidades da moda (talidades e tatilidades)
  • Arte, design e tecnologias em rede 
  • Arte, design e identidade (design regional, arte glocal, redes de arte e estéticas da periferia)
  • Arte, design e paisagens cotidianas
  • Redesign (o design na contemporaneidade)
  • Ergonomias da acessibilidade 
  • Design e arte nas práticas do cotidiano (morar, habitar, vestir, comer, caminhar, comunicar, cozinhar etc)
  • Design e arte frente às filosofias do esgotamento

 

Editora convidada ao dossiê: Claudia Marinho (DAU/UFC).

Coordenadora Editorial: Milena Szafir (UFCE). 

Equipe de editoria: Patricia de Lima Caetano (UFC), Deisimer Gorczevski (UFC) e Jo A-mi (UNILAB).

Prazo para submissões: 12 de agosto de 2020 :: propostas serão aceitas em português, espanhol ou inglês ::

Normas de submissão de propostas: http://periodicos.ufc.br/vazantes/about/submissions#onlineSubmissions 

Dúvidas, favor endereçar para: revistavazantes@gmail.com ou diretamente às editoras: marinhoclufc@gmail.com | profmilena@manifesto21.tv