Revista Em Perspectiva, Fortaleza, v. 11, e93824, p. 1-20, 2025.
ISSN 2448-0789.
Enquanto há vida, há lembrança:
explorando trajetórias, fontes e sujeitos na
história oral
RESUMO
A importância da história oral destaca-se pela sua capacidade de
estabelecer percepções individuais no que tange aos eventos
passados. Como aporte ilustrativo, parte-se do estudo conduzido
como parte do projeto de Iniciação Científica do Centro
Universitário do Espírito Santo UNESC, intitulado “A história
local contada através da singularidade: as memórias culturais e
arte na formação do povo colatinense”. A abordagem proposta
pelo artigo visa resgatar informações e compreender a
constituição dos colaboradores na história oral, considerando
seus lugares sociais, relações e reações diante dos eventos
narrados. Diante desta conjectura, emerge o questionamento
sobre como utilizar a história oral para aproveitar plenamente
sua distinta historiografia na narrativa do passado. Quanto ao
método, conduziu-se pesquisa exploratória por meio do
levantamento bibliográfico, descrevendo as maneiras de tutelar
a história oral tanto como abordagem teórico-metodológica.
Para alcançar o objetivo geral, analisa-se o avanço da história
oral como subcampo da história. Em seguida, o artigo propõe-se
a verificar as características distintivas dessa abordagem e, por
fim, apresenta as possibilidades de pesquisa que podem ser
destacadas nos estudos históricos. Conclui-se, portanto,
enfatizando a relevância e o potencial da história oral como
utensílio valioso na construção do conhecimento histórico.
Palavras-chave: História oral. Colaboradores. Trajetórias.
Lembranças.
As long as there is life, there is memory: exploring
trajectories, sources, and subjects in oral history.
ABSTRACT
The relevance of oral history stands out due to its ability to
establish individual perceptions regarding past events. As an
illustrative reference, this article draws on a study conducted
under the Scientific Initiation Project of the Centro
Universitário do Espírito Santo UNESC, entitled “Local
History Told Through Uniqueness: Cultural Memories and Art
in the Formation of the People of Colatina. The analytical
approach proposed in the article aims to gather information and
understand how narrators are constituted within oral history,
taking into account their social locations, relationships, and
reactions to the events they recount. Within this framework, a
central question arises: how can oral history be employed to
fully harness its distinct historiographical contribution to the
construction of past narratives? Methodologically, this is an
exploratory study based on a bibliographic review, through
Anna Julya M. Soares Pego
Centro Universitário do Espírito
Santo, Colatina, ES, Brasil
annaajumerloo@gmail.com
www.orcid.org/0009-0007-7503-1564
Safira Jennyfer S. Ferreira
Centro Universitário do Espírito
Santo, Colatina, ES, Brasil
sjsunderhus@gmail.com
www.orcid.org/0009-0002-2975-2241
Waléria Demoner Rossoni
Universidade Federal do Espírito
Santo, Colatina, ES, Brasil
wademoner@hotmail.com
www.orcid.org/0009-0002-8512-5322
ARTIGO ORIGINAL
Revista Em Perspectiva, Fortaleza, v. 11, e95127, p. 1-21, 2025.
ISSN 2448-0789.
which the procedures for safeguarding oral history as both a
theoretical and methodological approach are described. To
achieve its general objective, the article analyzes the
development of oral history as a subfield within the discipline
of history. Subsequently, it seeks to identify the distinctive
features of this approach and presents the research possibilities
it offers for historical studies. It concludes by emphasizing the
importance and potential of oral history as a valuable tool in the
construction of historical knowledge.
Keywords: Oral history. Narrators. Life trajectories. Memories.
ARTIGO ORIGINAL
Anna Julya Merlo S. Pego; Safira Jennyfer Sunderhus Ferreira; Waléria Demoner Rossoni
Revista Em Perspectiva, Fortaleza, v. 11, e93948, p. 1-20, 2025. ISSN 2448-0789. DOI: 10.36517/ep.v11i.93948.2025
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1 INTRODUÇÃO
A falta de interesse na história oral é muito considerável, mormente nos estudos
organizacionais históricos. A preferência por documentos escritos, arraigada desde a
institucionalização da disciplina histórica na Europa no século XIX, reflete a crença de que
essas fontes representam a verdade dos eventos passados, superando as limitações da
transmissão da oralidade. A ênfase histórica tradicional recai sobre documentos escritos,
como a expressão de verdade, relegando a pesquisa histórica à atividade em arquivos e
documentos.
O objetivo deste trabalho foi questionar a abordagem anterior, de modo que esta
pesquisa enfatiza o fetiche pelo arquivo, por meio da proposta de reconsideração do valor da
oralidade do ponto de vista subjetivo na construção do conhecimento histórico, em especial
no embrião da formação do povo colatinense.
Logo em seguida, enfatizou-se que a partir da década de 1980, a história oral ganhou
importância na pesquisa histórica, coincidindo com o ambiente universitário que valorizava a
pesquisa qualitativa, a experiência individual, a ascensão da história cultural, os estudos de
memória e a análise da história contemporânea.
Decerto, o reconhecimento de que as fontes documentais também podiam residir na
linguagem e na oralidade ampliou as possibilidades do estudo do passado. Nesse contexto, o
pesquisador frequentemente se tornava coautor do depoimento coletado. Entrementes, a
aceitação do uso de fontes orais foi tardia, e mesmo hodiernamente, muitos historiadores
tradicionais permanecem céticos e relutam em discutir abertamente os méritos e as
fragilidades da pesquisa oral.
Em terceira via de escape, verificou-se como a prática da história oral expandiu-se para
diversas áreas do saber, encontrando aplicação hodierna nas Ciências Sociais, Antropologia,
Educação e outras disciplinas das Ciências Humanas. Certamente, o elemento central que une
essas aplicações é a condução de entrevistas gravadas com indivíduos que vivenciaram ou
testemunharam eventos, contextos, instituições, estilos de vida ou outros aspectos da história.
No ponto de vista metodológico, foi realizada pesquisa exploratória mediante o
levantamento de bibliografia, discorrendo sobre as formas de salvaguardar a história oral,
tanto como abordagem teórico-metodológica, quanto como subcampo independente dentro da
história. A título de exemplo ilustrativo, toma-se como referência a pesquisa de campo
realizada no âmbito do projeto de Iniciação Científica do UNESC, intitulado A história local
Enquanto há vida, há lembrança
Revista Em Perspectiva, Fortaleza, v. 11, e93824, p. 1-19, 2025. ISSN 2448-0789. DOI: 10.36517/ep.v11i.93824.2025
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contada através da singularidade: as memórias culturais e arte na formação do povo
colatinense.
Assim sendo, a intenção desta pesquisa consistiu em suscitar indagações acerca da
importância e das potencialidades da história oral como ferramenta valiosa na edificação do
conhecimento histórico, com enfoque particular na comunidade de Colatina-ES.
2 CONCEITUAÇÕES DE HISTÓRIA ORAL: EXPLORANDO TRAJETÓRIAS,
FONTES E SUJEITOS
Para definir o termo, Bloch (2002, p. 52) contestou a ideia de que “a história é a ciência
do passado”, argumentando que o passado não pode ser adequadamente objeto de estudo
científico. Ele também rejeitou a expressão ciência dos homens” como demasiadamente
vaga. Em sua renomada abordagem à pergunta O que é a História?”, Bloch (2002) propôs
que é a “ciência dos Homens no transcurso do tempo”. Adicionalmente, destacou que o
verdadeiro objeto da história é o homem, enfatizando que os historiadores deveriam
concentrar seus esforços na compreensão da trajetória humana ao longo do tempo.
A história oral é como divisão de saberes, sendo que o seu grande objetivo gira em
torno da palavra transformação. Nessa perspectiva, utilizando o silogismo construído por
Meihy (2006), para que os historiadores possam transformar, eles precisam compreender a
história, para conseguirem explicar, e explanando, eles estariam transformando, dado que
compreender é modificar. A história oral não é tão somente instrumento para o acesso à
informação, ela abrange sentido social do conhecimento, logo, sendo recurso e meio de
transformação. Portanto, em todos as etapas de criação e elaboração, ou seja, durante a fase de
execução de projeto envolvendo a oralidade, é preciso ter o comprometimento dos
historiadores com a transformação, já que sem essa ferramenta, não há a história oral.
O pesquisador contemporâneo, devido à sua capacidade de realizar observações diretas
e privilegiadas dos eventos atuais, não desfruta, nesse aspecto, de vantagem significativa em
relação ao historiador do passado. Este último, por sua vez, baseia-se em observação indireta
da história, vez que nunca testemunhou pessoalmente cada fase dos eventos históricos,
dependendo, em vez disso, de relatos transmitidos por diferentes indivíduos ao longo do
tempo. Dessa forma, o conhecimento acerca dos eventos passados é inevitavelmente
construído por meio de vestígios (Bloch, 2002).
A abordagem da história não deve ser isolada, mas sim adotar perspectiva
multidisciplinar, estabelecendo diálogo com outras ciências humanas. Marcando a mudança
Anna Julya Merlo S. Pego; Safira Jennyfer Sunderhus Ferreira; Waléria Demoner Rossoni
Revista Em Perspectiva, Fortaleza, v. 11, e93948, p. 1-20, 2025. ISSN 2448-0789. DOI: 10.36517/ep.v11i.93948.2025
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paradigmática, Bloch (2002) introduziu o estudo da história rural, propondo método que
desloca o foco das personalidades individuais para os processos históricos e a passagem do
tempo.
Ao explorar a seção que discute os testemunhos, os quais oferecem ao historiador a
possibilidade de reconstruir o passado de maneira mais confiável, Bloch (2002) destacou a
suscetibilidade a erros nesse processo, ressaltando a relevância da análise criteriosa desses
testemunhos. Pontuou, ainda, que reunir os documentos para a criação de obra histórica é a
tarefa mais complicada para o historiador, dado que além das inúmeras buscas e análises de
outros materiais, é preciso que haja o que Bloch (2002) denominou de “brilho romanesco”, ou
seja, é preciso que o autor esteja determinado e apaixonado por todos os motivos, causas e
justificações, no qual foram observadas e avaliadas no decorrer do seu trabalho e estudo.
Nesse contexto, a história oral trata-se de abordagem de pesquisa, seja ela de natureza
histórica, antropológica, sociológica, entre outras, que enfatiza a realização de entrevistas com
indivíduos que participaram ou testemunharam eventos, contextos e perspectivas de vida. O
objetivo é se aproximar do objeto de estudo através da compreensão da sociedade a partir das
vivências dos seus membros. Essa metodologia busca estabelecer conexões entre o geral e o
particular por meio da análise comparativa de diferentes versões e testemunhos (Alberti,
1989).
O termo abrange variedade de relatos sobre eventos não registrados por outras formas
de documentação, ou cuja documentação é incompleta. Coletados por meio de entrevistas em
diversas modalidades, esses relatos registram a experiência de indivíduos isolados ou de
diversos membros de determinada comunidade (Couto et al, 2021). Quando múltiplos
narradores estão envolvidos, a história oral busca convergência de relatos sobre evento
específico ou período de tempo. Além de capturar a experiência efetiva dos narradores, a
abordagem também incorpora tradições, mitos, narrativas fictícias e crenças existentes no
grupo (Queiroz, 1988).
A história oral é caracterizada como conjunto sistemático, diversificado e articulado de
depoimentos gravados em torno de tema específico (Camargo, 1989) (Queiroz, 1988)
argumenta que, ao longo dos séculos, o relato oral tem desempenhado papel fundamental
como a principal fonte humana para a preservação e disseminação do conhecimento, sendo
essencial para a ciência em geral. Segundo ela, o vocábulo antecedeu tanto o desenho quanto
a escrita, sendo esta última cristalização do relato oral. Thompson (2002) também sustenta
que a história oral é tão antiga quanto a própria História, sendo a primeira forma de narrativa
histórica.
Enquanto há vida, há lembrança
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Portanto, diante todo o exposto, não como negar que a história oral traz segurança e
demonstra ser ótima fonte para os historiadores. Nessa perspectiva, Assmann (2011) destacou
a importância das recordações como forte aliado para os historiadores na reconstrução e no
entendimento sobre o passado, demonstrando que para haver a recordação é preciso que haja
certos estabilizadores, sendo que o principal deles, seria a língua.
Com o tempo, as Ciências Sociais passaram a valorizar gradualmente os relatos orais, à
medida que se percebia que comportamentos, valores e emoções muitas vezes escapam aos
dados estatísticos. Disciplinas como linguística, semiótica e antropologia contribuíram para o
reconhecimento de que o discurso do ator social possui lógica própria, estruturando-se como
linguagem e possibilitando a compreensão de fenômenos sociais que não podem ser
totalmente observados de maneira objetiva e distante pelo pesquisador (Camargo, 1988).
Diante desse contexto, escolheu-se adotar o método da história oral na investigação
deste artigo. Essa opção se justifica, mormente, diante da necessidade do olhar novo nas
pesquisas envolvendo usuários ou sujeitos. A abordagem da história oral, nas suas diversas
manifestações, como histórias de vida, narrativas e trajetórias, exige a aplicação de princípios
epistemológicos. Isso implica que o pesquisador deve orientar-se por pressupostos que
delineiam a compreensão do uso dos métodos específicos, os quais, por sua vez, determinam a
natureza da investigação social (Gonçalves, Lisboa, 2007).
A epistemologia desempenha papel crucial na pesquisa, vez que estabelece as condições
de objetividade para os conhecimentos científicos, modos de observação e experimentação. É
necessário submeter a prática científica a reflexão sobre a ciência em construção. Essa tarefa,
intrinsecamente epistemológica, consiste em identificar, na própria prática científica,
constantemente ameaçada pelo erro, as condições que permitem distinguir o verdadeiro do
falso, durante a transição de conhecimento menos verídico para outro mais genuíno
(Gonçalves, Lisboa, 2007).
A eficácia da história oral como instrumento de pesquisa é plenamente alcançada
quando o pesquisador confere caráter científico ao seu estudo. Isso implica na orientação por
conhecimento teórico prévio, na inserção da problemática de pesquisa em projeto formulado
antecipadamente, na coleta de informações sobre o campo a ser investigado e na definição de
instrumentos e técnicas de pesquisa. Ao longo do processo de investigação, a hipótese
problematizadora e a fundamentação teórica desempenham o papel de “bússola”, guiando a
pesquisa cujo objetivo primordial é a construção do conhecimento por meio do levantamento,
interpretação e análise dos dados empíricos (Gonçalves, Lisboa, 2007).
Anna Julya Merlo S. Pego; Safira Jennyfer Sunderhus Ferreira; Waléria Demoner Rossoni
Revista Em Perspectiva, Fortaleza, v. 11, e93948, p. 1-20, 2025. ISSN 2448-0789. DOI: 10.36517/ep.v11i.93948.2025
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A vigilância epistemológica se manifesta como quebra necessária entre o entendimento
comum e a linguagem científica. No contexto da atividade profissional ou ao longo do
processo de observação em campo, o pesquisador naturalmente desenvolve conexão com o
objeto de estudo. Quando se trata de interação social, os dados frequentemente surgem como
representações dinâmicas, únicas e excessivamente humanas. Conforme destacado por
Bourdieu, Chamboredon e Passeron (1987), é imprescindível instaurar ruptura com a
realidade, desmontando as totalidades concretas e óbvias que se apresentam à intuição do
pesquisador, para, em seguida, substituí-las por conjunto de critérios abstratos que as
delineiam sob perspectiva sociológica.
A validade da informação sociológica atribuída à história oral reside na capacidade dos
discursos obtidos dos participantes da pesquisa transcenderem as intenções conscientes de
expressar sentidos e significados. Concomitantemente, a compreensão dos processos sociais e
de seu significado exige que as relações subjacentes sejam discernidas a partir do material
empírico, ação consciente por parte do pesquisador. A análise dessas relações é facilitada pelo
uso de ferramentas proporcionadas pelos referenciais teóricos e metodológicos que orientam a
investigação (Gonçalves, Lisboa, 2007).
Autores como Giddens (1989) têm destacado o declínio dos “imperialismos”, tanto na
objetividade quanto na subjetividade. O cerne de sua teoria da estruturação reside na intenção
de esclarecer a dualidade entre a ação e a estrutura, e sua interação dialética. Portanto, abordar
qualitativamente implica entrelaçar de forma abrangente a dimensão pessoal e subjetiva com a
estrutura social. O relato individual sobre a vida, valores e cultura inevitavelmente incorpora
elementos subjetivos. Segundo Rolnick (1997), a subjetividade não existe sem cartografia
cultural como guia; e inversamente, não cultura sem determinado modo de subjetivação.
Cada sociedade representa forma de moldar o tempo, construindo assim o tempo. É na
sociedade que o indivíduo se transforma em sujeito.
A singularidade que permeia a arte da história oral é salientada por Marre (1991), cuja
percepção nos conduz a intricado labirinto de narrativas individuais. Nesse emaranhado de
vidas singulares, a síntese abrangente é concebida como tarefa desafiadora, pois busca extrair
panorama geral a partir da riqueza única de cada relato. Marre (1991) argumenta de maneira
persuasiva que, ao viver e relatar sua trajetória, o indivíduo estabelece identificação profunda
com o grupo social do qual é componente essencial.
A complexidade da pesquisa recai sobre o ombro do investigador, que se incumbido
da árdua tarefa de reconstruir, em cada história de vida, as intrincadas relações fundamentais
relacionadas às categorias de sociedade, grupo e indivíduo, todas elas expressas no domínio
Enquanto há vida, há lembrança
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da comunicação oral. Essas relações não se limitam apenas à estrutura social e grupal; elas se
entrelaçam com a noção abstrata de rearranjo e reapropriação do contexto social. Aqui, o
indivíduo emerge como entidade singular, moldando e reinterpretando a teia social em seu
relato pessoal (Marre, 1991).
A perspectiva abrangente busca apreender e elucidar a significância que indivíduos e
grupos conferem às suas ações, enquanto concretização de intenção. As atividades humanas
são sempre a manifestação de consciência, moldadas por valores e impulsionadas por
motivações. Segundo Alberti (2004, p. 2), a abordagem hermenêutica implica “valorizar o
movimento e colocar-se na perspectiva do outro para entendê-lo, acreditando que coisas,
passado, sonhos, textos, por exemplo, têm significado latente ou profundo que é alcançado
através da interpretação”. A autora também destaca três termos na fórmula que tornam os
objetos das ciências humanas acessíveis: vivência, expressão e compreensão. Isso porque “as
criações humanas expressam a vivência, e cabe ao hermeneuta compreender essas expressões
de tal maneira que a compreensão seja equivalente a reviver a vivência” (Alberti, 2004, p. 2).
Partindo do princípio do caráter dinâmico e processual da pesquisa e sua interligação
com o tema em questão, é imperativo que o pesquisador adote essa perspectiva, vez que toda
pesquisa qualitativa busca compreensão histórica. É notório que a realidade social está em
constante mutação e, de maneira análoga, a realidade circundante a determinado tema de
pesquisa não permanece estática. Alberti (2004) ressalta que o campo da história oral se
destaca por sua natureza totalizadora, envolvendo entrevistador e entrevistado de forma
consciente na busca pela ressignificação e reconstrução do passado.
A epistemologia, considerada como ponto central da pesquisa, desempenha papel
crucial ao privilegiar o processo de construção do conhecimento sob duas perspectivas: (i) a
lógica da descoberta e (ii) a gica de validação. A reflexão epistemológica, inicialmente
posicionada na hierarquia do trabalho investigativo, precede a definição dos conceitos
teóricos e a seleção das técnicas. Essa reflexão é indispensável para a pesquisa, pois no
decorrer do processo investigativo, é o polo epistemológico que garante a precisão, a exatidão
e o rigor do método científico (Gonçalves, Lisboa, 2007).
A técnica da história oral emprega diversas abordagens de entrevista para amplificar as
vozes de indivíduos muitas vezes negligenciados e, por meio da singularidade de suas
narrativas, forja e preserva a memória coletiva. Na Europa, especialmente na Alemanha,
pesquisadores que se dedicam à história oral adotam as terminologias “biografia” e “trajetória
de vida” como métodos fundamentais dessa abordagem (Gonçalves, Lisboa, 2007).
Anna Julya Merlo S. Pego; Safira Jennyfer Sunderhus Ferreira; Waléria Demoner Rossoni
Revista Em Perspectiva, Fortaleza, v. 11, e93948, p. 1-20, 2025. ISSN 2448-0789. DOI: 10.36517/ep.v11i.93948.2025
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Segundo as pesquisadoras alemãs, Born et al (1996), o conceito de trajetórias de vida é
visto como “construto científico”. Esse termo é inicialmente definido pela perspectiva
metodológica adotada, permitindo a incorporação de dados quantitativamente analisáveis que
estejam diretamente ligados à sequência cronológica da vida dos indivíduos (Dausien, 1996).
Na visão desta autora, a trajetória de vida recebe a denominação científica de “transcurso”,
pois examina mudanças sociais, transições de status, variações econômicas, atividades
profissionais, fazendo uso de datas marcantes, períodos, números, enfim, abordando aspectos
quantitativos e qualitativos de maneira integrada. Nessa ótica, a trajetória de vida é concebida
como instituição social, sistema de regras que orienta e influencia as relações individuais na
era moderna.
Existe relevante analogia que merece destaque entre a memória cultural, que transcende
épocas e é preservada em textos normativos, e a memória comunicativa, geralmente
conectada a três gerações consecutivas e fundamentada nas lembranças transmitidas
oralmente (Assmann, 2011).
Para Thompson (2002), a história oral não possui por viés automático ser instrumento
de mudança, tudo depende do espírito com que seja utilizada. Lado outro, a história oral pode
ser meio de transformar tanto o conteúdo quanto a finalidade da história. Decerto, pode alterar
o rumo da história, revelando novos campos de investigação: pode derrubar barreiras
existentes entre professores e alunos, obstáculos entre gerações, dificuldades entre instituições
educacionais e o mundo exterior.
2.1 A História Oral como subcampo dentro da disciplina histórica
De acordo com as palavras de Thompson (2002), a história oral é considerada a forma
primordial de narrativa histórica, e somente recentemente é que a habilidade de utilizar
evidências orais deixou de ser exclusiva dos grandes historiadores. No contexto do
proeminente historiador francês do século XIX, Jules Michelet, que lecionou na École
Normale, Sorbonne e Collège de France, além de desempenhar o papel de curador-chefe
histórico dos Arquivos Nacionais, ao redigir a “História da Revolução Francesa”, ele
sustentava a convicção de que os documentos escritos deveriam ser apenas uma das diversas
fontes disponíveis.
Segundo as ideias expostas por Portelli (1997), a história oral se faz importante, pois
conta para os leitores e historiadores não apenas o que o povo realizou, mas como também o
que queria realizar, o que eles acreditavam estar fazendo. Ainda em sua perspectiva, ele
evidencia que as fontes orais podem até não acrescentar e complementar o que se sabe, como
Enquanto há vida, há lembrança
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exemplo, o custo material de greve para os trabalhadores envolvidos, mas para Portelli
(1997), as fontes orais vão muito além, traz aspectos importantes e significativos, elas
evidenciam os custos psicológicos, algo íntimo que não é passado através de outras fontes,
por exemplo, as escritas.
Em primeiro momento, a história oral moderna tem suas raízes nos anos 1920,
originando-se do estudo de imigrantes poloneses pelos sociólogos William Thomas e Florian
Znaniecki, consolidando o método de histórias de vida na Escola de Chicago. Contudo, sua
influência inicial na disciplina histórica foi limitada, permanecendo subjugada à primazia dos
documentos. A geração subsequente de historiadores orais, surgida nos anos 1940 com o
projeto de Allan Nevis, estava inicialmente vinculada às ciências políticas, buscando
documentar o pensamento das elites para histórias futuras (Ferreira, 2002).
A virada na história oral ocorreu nos finais dos anos 1960, onde ela se transformou em
ato político, dando voz às minorias, operários e mulheres, desafiando narrativas elitistas e
hegemônicas. Embora tenha sido criticada por igualar os relatos a suposta verdade, essa
abordagem pioneira trouxe mudança significativa, ampliando a visão “de baixo” e tornando a
história do tempo presente única em sua capacidade de contestar narrativas dominantes
(Costa, Hodge, 2021).
Na época, a história oral militante foi criticada por simplificar os relatos obtidos como
verdade inquestionável, ignorando sua moldagem pelos discursos públicos dominantes. No
entanto, essa abordagem foi crucial para aprofundar a visão “de baixo” e trazer a memória
como fonte para a história do povo. A história oral, inicialmente associada às elites políticas
no Brasil, ganhou popularidade durante a redemocratização e se desenvolveu principalmente
dentro das universidades (Fico, 2012).
A legitimidade da história oral foi desafiada devido às críticas sobre a subjetividade da
memória. Mudanças nas correntes pós-positivistas, como pós-modernismo e pós-
estruturalismo, contribuíram para a aceitação da história oral ao questionar a objetividade do
pesquisador e enfatizar a interpretação sobre a busca pela verdade. Mudanças sociais, como o
boom da memória na cultura popular e os movimentos de identidade, também impulsionaram
a história oral (Tosh, 2011).
As viradas cultural, linguística e narrativa na história influenciaram a abordagem da
história oral, destacando a importância da interpretação cultural, linguagem e discurso. A
ênfase mudou de buscar a verdade histórica para interpretar cultura, simbolismo e identidade.
A virada biográfica legitimou métodos biográficos, conectando o individual ao social (Costa,
Wanderley, 2021).
Anna Julya Merlo S. Pego; Safira Jennyfer Sunderhus Ferreira; Waléria Demoner Rossoni
Revista Em Perspectiva, Fortaleza, v. 11, e93948, p. 1-20, 2025. ISSN 2448-0789. DOI: 10.36517/ep.v11i.93948.2025
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Nos anos 2000, a história oral foi reconhecida como método, subcampo e recurso em
diversas disciplinas. Duas abordagens predominantes incluem visão realista, considerando as
fontes orais como complementos às escritas, e outra abordagem antropológica e interpretativa,
destacando a relação entre memória e história. A história oral é reconhecida por sua ênfase na
relação entre fenômenos micro e macro, analisando experiências pessoais em contextos
históricos mais amplos (Godoy, 2018).
Thompson (2002, p. 98) explica com clareza que:
Em suma, a história oral cresceu onde subsistia uma tradição de trabalho de campo
dentro da própria história, como com a história política, a história operária, ou a
história local ou onde os historiadores têm entrado em contato com outras
disciplinas de trabalho de campo, como sociologia, antropologia ou pesquisa sobre
dialetos e folclores.
Conforme discutido por Thompson (2002), a distribuição geográfica da prática da
história oral não apenas reflete as preferências acadêmicas, mas também está intrinsecamente
ligada à disponibilidade de recursos financeiros para condução de pesquisas de campo. Esse
fenômeno é evidenciado pela marcada concentração da história oral na América do Norte e no
Noroeste da Europa. É importante notar que a alocação de fundos governamentais
desempenha papel essencial nesse cenário. Esse apoio governamental se estende não apenas à
coleta de folclore, mas também abrange iniciativas vinculadas a programas de combate ao
desemprego, arquivos de rádio e conselhos de pesquisa em ciências sociais.
Nos Estados Unidos, por exemplo, embora houvesse projetos governamentais
relevantes, estes tendem a se concentrar primariamente nas Forças Armadas e nas
experiências relacionadas a eventos de guerra. Essa ênfase específica sugere direção
focalizada nos aspectos históricos ligados a conflitos e estratégias militares, destacando como
o financiamento governamental pode moldar e orientar os temas abordados na prática da
história oral (Thompson, 2002).
3 SUBJETIVIDADE E RECORDAÇÃO: OS INDIVÍDUOS COMO ORIGEM DA
INVESTIGAÇÃO
Segundo Bloch (2002), os grandes pivôs para que a história possa chegar para as futuras
gerações, são as lembranças vividas pelos antepassados. Isto é, os documentos, os escritos, os
arquivos e repertórios surgem por meio das declarações e manifestações humanas, ou seja,
através das experiências vividas pelos indivíduos. Conforme argumentou Assmann (2011),
quando se trata de momentos e referências sobre algo em que se viveu, cada indivíduo terá
Enquanto há vida, há lembrança
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seu próprio ponto de vista sobre algum fato e realidade de algo, em outras palavras, os contos
e histórias, são dotadas de achados e visões únicas. Logo, as recordações dos acontecimentos
e as apresentações de informações e conhecimentos sobre fatos passados, ocorrem pelo
fato de que as lembranças e as memórias são passadas no decurso do tempo pelas gerações de
forma única e preciosa.
No que toca à história local, não emerge autonomamente, mas, à semelhança de
qualquer outro empreendimento histórico, sua construção está intrinsecamente ligada à
natureza das evidências e à maneira como são interpretadas. O valor dos relatos depende não
apenas do que o historiador extrai deles, mas também do que ele introduz, da precisão das
perguntas feitas e do contexto mais amplo de conhecimento e compreensão do qual tais
questionamentos se originam (Fonseca, 2006).
As entrevistas como formas capazes de fazer com que os estudos de história local
escapem das falhas dos documentos, uma vez que a fonte oral é capaz de ampliar a
compreensão do contexto, de revelar os silêncios e as omissões da documentação
escrita, de produzir outras evidências, captar, registrar e preservar a memória viva. A
incorporação das fontes orais possibilita despertar a curiosidade do aluno e do
professor, acrescentar perspectivas diferentes, trazer à tona o “pulso da vida
cotidiana, registrar os tremores mais raros dos eventos, acompanhar o ciclo das
estações e mapear as rotinas semanais (Samuel, 1989, p. 233).
Conforme ensinou Cícero (1989, p. 395-396 apud Assmann, 2011, p. 317), “[...] grande
é a força da memória que reside no interior dos locais”. Nesse sentido, cabe analisar que as
localidades são de grande importância para a memória, vez que atuam como peças de
construção da história de determinada pessoa que viveu em determinado lugar. Os locais são
experiências afetivas, que trazem para os indivíduos suas lembranças de admiração, carinho e
estima, bem como incluem o campo das recordações, no qual abrange aos momentos
importantes vivenciados por eles em certas épocas. Portanto, diante o exposto, é possível
notar que com as experiências, conteúdos e impressões captadas e provadas em cenários e
locais tornam-se grande aliado da história oral, dado que, a memória reside nos locais, porém
ela é verbalizada através de seus indivíduos que ali viveram.
E nesse entendimento da função crucial da história oral para projeto de Iniciação
Científica e das verdades que ficam gravadas na memória das pessoas mais velhas sobre a
história local, como destaca Samuel (1989), o presente artigo foi trabalhado. A abordagem da
história local, embora limitada no contexto do trabalho escolar com fontes orais, serve como
ponto de partida para despertar o interesse em questões mais amplas. É crucial destacar a
importância de situar o local em contexto global, possibilitando a análise de relações mais
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abrangentes. Essa abordagem oferece oportunidades de aprendizado ao combinar a atração
pelo concreto e próximo com a exploração do distante e diverso (Schwarzstein, 2001).
A ideia de memória, segundo Benjamin (1994), está atrelada às experiências
vivenciadas, envolvendo a construção narrativa por parte do historiador em relação a tempo
distinto, que não se caracteriza por ser contínuo, vazio ou homogêneo. O tempo da
reminiscência é versátil, buscando proporcionar a salvação aos sujeitos que recordam, em vez
de redenção. Isso ressalta a relevância da preservação, como destacado por Chagas (2002, p.
141).
Para a produção da pesquisa em âmbito do projeto de Iniciação Científica do UNESC, a
história oral emerge como abordagem metodológica que propicia a interseção de fontes, a
fusão de perspectivas e a amalgamação de olhares. No entanto, esse processo está
intrinsecamente envolvido na troca de percepções entre dois atores distintos: o pesquisador
com suas intenções de investigação, e o indivíduo que compartilha suas lembranças,
enriquecendo a narrativa com as diversas facetas da memória (Esquinsani, 2012).
Nesse contexto, Halbwachs (2004, p. 75-76) ensina com maestria sobre a lembrança
para a construção do passado: A lembrança é em larga medida uma reconstrução do passado
com a ajuda de dados emprestados do presente, e além disso, preparada por outras
reconstruções feitas em épocas anteriores e de onde a imagem de outrora manifestou-se
bem alterada”.
Nesse ponto, surge paradoxo entre o tangível e o intangível. O pesquisador, alguém que
não experimentou diretamente a história (episódio, evento, entre outros), busca conferir-lhe
valor palpável no âmbito acadêmico por meio dos mecanismos da pesquisa científica. Para
tanto, ele se utiliza de narradores que vivenciaram os fatos, os quais se tornam, no contexto da
pesquisa, os próprios sujeitos de investigação. Contudo, diferentemente do pesquisador, esses
narradores mergulham em suas próprias sombras ao recordar elementos que são, do ponto de
vista pessoal, efêmeros e inapreensíveis (Halbwachs, 2004).
A integração da história oral desvela cenário onde coexistem duas subjetividades
distintas: (i) a do meticuloso pesquisador e (ii) a do eloquente narrador. Essas subjetividades
se entrelaçam em dois olhares sobre a mesma trama histórica ou evento narrado. Esta última é
tapeçaria rica em matizes, entrelaçamentos e emoções, que se entrecruza e se entrelaça,
intrincada pelas interpretações pessoais que cada indivíduo confere aos fatos (Esquinsani,
2012), conforme se delineará no próximo capítulo.
Enquanto há vida, há lembrança
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4 A IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA ORAL PARA A FORMAÇÃO DOS POVOS, EM
ESPECIAL, PARA A POPULAÇÃO COLATINENSE
A história oral carrega um misto de sentimentos próprios que não é possível captar por
meio da fonte escrita. Com a narrativa oral, o historiador consegue difundir entre seus
ouvintes as experiências passadas de uma perspectiva de forma mais vívida e clara, dessa
forma, a população que possui acesso a estas informações experimenta a história através de
emoções recheadas de sensações que envolvem amor, saudade, apego e superação.
Nessa perspectiva, é notável a importância da memória como uma fonte vital tanto na
fonte oral, como também para a formação de uma população. Conforme ensina Montenegro
(2010), o sujeito, ao narrar, preserva conscientemente seu lugar social, seguindo os rituais da
narrativa. A construção da memória não ocorre em determinado vazio de sentido, mas em
quadro de referências complexo, onde a trilha do relato percorre labirinto de muitas voltas,
aproximando e distanciando passado e presente, em delicado campo minado de palavras.
Portanto, através das diversas referências e a busca de se entender e compreender o passado,
surgem as associações e vínculos de pertencimento de um povo. As memórias transmitidas
pelas gerações se vinculam à identidade social de uma população, auxiliando na formação e
na concretização de uma sociedade unida e vinculada a suas próprias narrativas e
acontecimentos.
Em uma mesma análise, o crescimento e o desenvolvimento de Colatina possuem um
grande condão ao aspecto da memória, uma vez que é através dela que se transmitiram as
tradições, os valores, os quereres e os acontecimentos passados. Para que a expansão e a
formação de Colatina tomassem rumo, muitas ideias e sonhos foram passados através da
oralidade para os indivíduos, já que uma ideia não nasce pronta.
A construção da estrada de ferro e da ponte sobre o Rio Doce, carrega inúmeras
referências aos esforços e a identidade da população colatinense, que com essas criações o
município obteve estrategicamente um desenvolvimento extraordinário, dado que a estrada de
ferro proporciona uma comunicação direta com a capital do estado, bem como a ponte
Florentino Ávidos, permitiu a expansão geográfica da cidade. Portanto, como afirma Portelli
(1997), é através da história oral que a população pode conhecer e entender os fatos passados,
visto que é através da oralidade, que os ouvintes e espectadores vivenciam e experimentam a
realização dos povos passados.
As lembranças e as memórias dos antepassados permitem que erros não sejam
cometidos, que pensamentos, ideias e sonhos não sejam esquecidos. Colatina possui vários
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aspectos relevantes na sua formação e com ela a ajuda incansável dos colatinenses, que
mostraram para suas gerações como a resiliência pode criar um potencial para comunidades
que se empenham e acreditam podem construir um futuro próspero.
A ferramenta da história oral, para a formação da população colatinense, permite que
seus indivíduos desfrutem de esforços, dedicação, persistência, saudade e recordações. Nessa
esfera, os elementos da oralidade, como a memória, permitem o fortalecimento dos
sentimentos de pertencimento, orgulho e valorização do passado, sendo essencial para a
construção de uma população unida e conhecedora de suas raízes e trajetórias.
5 CONCLUSÃO
Em nenhum momento, o propósito deste texto tinha por finalidade o viés
epistemológico sobre a história oral, nem em seus elementos metodológicos, vez que
existem obras consagradas que abordam tais aspectos. Em vez disso, o texto buscou
apresentar argumentos e reflexões sobre a condição do indivíduo que decide compartilhar sua
memória por intermédio da narrativa, especialmente em contextos da pesquisa educacional
(como o projeto de Iniciação Científica do UNESC), notadamente na história do município de
Colatina-ES.
O escopo não é recuperar os eventos iniciais da pesquisa ou suas ramificações, mas sim
explorar as características das pesquisas com fontes orais. Estas, como sugere o tulo do
artigo, estão intrinsecamente ligadas a trajetórias e originam-se de colaboradores que, ao
ocupar essa posição, se tornam fontes de pesquisa. Eles assumem conscientemente sua
funcionalidade, não apenas na narrativa, mas também nos eventos narrados.
A utilização da história oral para resgatar os eventos permitiu infundir vida crucial na
narrativa, buscando demonstrar como determinado episódio impactante é capaz de manter
viva a memória e a lembrança, tornando-a robusta e fundamentada pela revisitação dos fatos
para fins de pesquisa.
Decerto, enquanto vida, lembrança. Esta se molda em estrutura composta por
diversos materiais, como sentimentos, sentidos, contextos sociais, projeções e esquecimentos.
Tentar aprisionar a memória em único momento através de representação estática da escrita
contradiz o princípio modificável da vida. As lembranças são tão fluidas quanto os
significados que assumem ao serem contados, e apreendê-las é sempre tarefa referencial,
dependendo do momento e das condições em que a narrativa se desdobra.
Enquanto há vida, há lembrança
Revista Em Perspectiva, Fortaleza, v. 11, e93824, p. 1-19, 2025. ISSN 2448-0789. DOI: 10.36517/ep.v11i.93824.2025
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A reconstrução da memória também implica em revitalizar caricaturas, contradições e
conflitos presentes nas diversas exegeses individuais dos colaboradores. Mesmo o relato
histórico utilizado para compor este texto não perdeu sua natureza de apreensão íntima e
social, sendo representação da classe ou grupo ao qual cada sujeito se identifica ou
identificava.
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Informações Adicionais
Biografia
profissional
Waléria Demoner Rossoni é doutoranda em História, área de Concentração em
História Social das Relações Políticas, da Universidade Federal do Espírito
Santo (curso iniciado em 2024). Mestra em Segurança Pública pela
Universidade Vila Velha (2015-2016). Especialista em Filosofia e Teoria do
Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2014-2015).
Especialista em Direito Penal e Processual Penal pelo Centro Universitário do
Espírito Santo (2013-2014). Graduada em Direito pelo Centro Universitário do
Espírito Santo (2009-2013). Graduada em História pela Universidade Federal
do Espírito Santo (2021-2025). Professora do Centro Universitário do Espírito
Santo desde fevereiro de 2016, onde leciona as disciplinas de Legislação
Trabalhista; Direito Processual Trabalhista; Processo Coletivo e Interesses
Difusos; Direito da Seguridade Social e Prática Jurídica Simulada II
(Trabalhista). É avaliadora ad hoc do UNESC em Revista (ISSN 2527-0168)
desde o ano de 2018. Advogada militante no Estado do Espírito Santo desde
março de 2014, com ênfase em Direito do Trabalho e Direito Civil.
Safira Jennyfer Sunderhus Ferreira é bancária concursada no BANESTES e ex-
estagiária jurídica no Ministério Público do Espírito Santo. Foi Jovem
Embaixadora nos EUA e líder pela Embaixada Americana, atuando em projetos
sociais e educacionais. É chefe de edição no Jornal Tribuna Cidades, com
experiência em jornalismo, design e comunicação. Possui artigo científico
publicado e atua nas áreas de Direito, Administração Pública, Relações
Internacionais, educação e impacto social. Poliglota autodidata, recebeu
diversos prêmios, como destaque acadêmico e reconhecimento internacional
pela liderança jovem.
Anna Julya Merlo Soares Pego é pesquisadora acadêmica com artigo científico
publicado. Atuou como bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação
Científica e Tecnológica (PIBICT), vinculado ao Programa de Iniciação
Científica e Tecnológica (PICT/UNESC), desenvolvendo o projeto intitulado
“A história local contada através da singularidade: as memórias culturais e a
arte na formação do povo colatinense”. Atualmente, exerce a função de
estagiária no Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo, onde vem
aprofundando sua experiência prática na área jurídica.
Endereço para
correspondência
Av. Fioravante Rossi, 2930 - Martineli, Colatina - ES, 29703-858
UNESC - Centro Universitário do Espírito Santo - Câmpus Colatina
Contribuição
de autoria
Conceituação: Ana Julya M. Soares Pego, Safira Jennyfer S. Ferreira e Waléria
Demoner Rossoni confeccionaram em conjunto na conceituação do tema central
do artigo, na elaboração do problema de pesquisa e no delineamento dos
objetivos e da abordagem, com fundamento em referenciais críticos e
interseccionais.
Curadoria de dados: Ana Julya M. Soares Pego e Safira Jennyfer S. Ferreira
tiveram a tarefa da coleta, organização e sistematização dos dados, fontes e
documentais utilizados. A Professora Waléria Demoner Rossoni supervisionou
a etapa, orientando os critérios e validando o material.
Escrita Primeira Redação: elaboraram a primeira versão do artigo, com
Enquanto há vida, há lembrança
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enfoque na fundamentação teórica, descrição da metodologia e análise dos
dados. A Professora Waléria Demoner Rossoni contribuiu na confecção de
trechos fundamentais do texto.
Escrita Revisão e Edição: A revisão textual e técnico-científica do texto foi
conduzida pela Professora Waléria Demoner Rossoni, que promoveu
adequações de linguagem, coesão de argumentos e adequação às normas da
publicação. As autoras Ana Julya e Safira empreenderam esforços na
incorporação das sugestões e ajustes editoriais.
Investigação: A pesquisa bibliográfica e a exegese das fontes foram
desenvolvidas por Ana Julya M. Soares Pego e Safira Jennyfer S. Ferreira, com
orientações e contribuições críticas da Professora Waléria Demoner Rossoni ao
longo da finalização do texto.
Conflito de
interesse
Nenhum conflito de interesse foi declarado.
Preprint
O artigo não é um preprint.
Disponibilidade
de dados de
pesquisa e
outros
materiais
Os conteúdos subjacentes ao artigo estão nele contidos.
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Histórico
editorial
Data de Submissão: 29/07/2024
Data de aprovação: 28/04/2025