número de baixas. Segundo Doratioto (2002), as estimativas vão de 3 a 10 mil baixas, entre
mortos e feridos, para o lado aliado, o que notadamente simboliza um número muito elevado
para a realidade do século XIX. Assim, afirmar que em Curupaiti 14 mil pessoas perderam a
vida, como é relatado na revista, soa bastante exagerado, embora o conflito, não há como
negar, tenha representado uma catástrofe para os atacantes, sobretudo se considerarmos as
perdas paraguaias que, segundo as estimativas, giram em torno de 50 homens (Doratioto,
2002). Tal dado, por sua vez, demonstra uma disputa que se fazia presente em torno da
construção de um discurso precipitador de uma memória acerca do vivido.
A despeito da derrota, a revista inicia de maneira esperançosa uma exaltação ao Brasil,
pois “[...] felizmente, graças ao brio nacional e ao incessante cuidado do governo do país, a
guerra parece aproximar-se ao seu termo” e “[...] se já não está finda, se os gozos de paz
durável ainda se fazem esperar, a causa de que assim aconteça não pode nem de deve ser
atribuída ao governo imperial” (Semana Illustrada, edição 307, 1866, p. 2454). Desta forma,
tenta-se tirar a responsabilidade do Império sobre o infortúnio, afinal “Curupaiti foi um revés.
A sorte da guerra é vária. Quem muitas vezes vence, pode uma vez ser vencido”. Assim,
tratou-se, para ela, somente de um golpe de azar, no qual a batalha representou um momento
em que a imprevisibilidade os conduziu a derrota, mas que poderia ser contornada no futuro,
sendo “[...] um insucesso, que em nada deslustrou a gloria e a honra dos soldados e dos
marujos brasileiros”.
Para o periódico, tal desvio não deveria ser capaz de se sobrepor às boas previsões,
garantindo que “[...] a guerra vai entrar em nova fase e abrir novas datas de triunfos” (Semana
Illustrada, edição 307, 1866, p. 2454). Ora, não seria possível para o periódico ignorar os
acontecimentos nos campos de batalha dada a repercussão que a mesma teve na Corte. Mas,
ao tecer críticas acerca do ocorrido, busca retirar do Império a responsabilidade da grande
derrota sofrida. O seu empenho está em, apesar de lamentar as mortes brasileiras nos campos
de batalha, evidenciar que o governo estava fazendo um bom trabalho até aquele momento.
Dessa forma, utiliza-se de uma memória das batalhas que foram vencidas na tentativa de
construir a ideia de que a guerra caminhava no rumo certo e evitar uma desancoragem das
expectativas em relação ao seu termo.
Além disso, expressando desdenho por Solano López, presidente do Paraguai, a revista
afirma que
[...] o inimigo do Brasil e da civilização, jactancioso e animado pelo insucesso de
Curupaiti, conta aproveitar-se de outros revezes, e zombar dos grandes recursos do
Império, que sempre pretendeu puni-lo severamente pelos crimes de violação de