ARISTÓFANES QUEER: DA COMÉDIA GREGA ANTIGA ÀS DRAG QUEENS

Resumen

Zilberman (2008, p. 92) afirma que “em decorrência do fato de o leitor não deixar de consumir criações artísticas de outros períodos, essas se atualizam permanentemente”. Deste modo, este trabalho busca refletir sobre questões de gênero e performance de gênero a partir da Comédia Grega Antiga, em especial as peças Tesmoforiantes (411 AEC) e Assembleia de Mulheres (392 AEC) - séculos V e IV, respectivamente -, de Aristófanes, em relação às noções de gênero atuais, sobretudo as postuladas pela teoria queer. Especificamente, pretende-se uma análise comparativa das cenas de travestimento que ocorrem nas peças citadas e as suas implicações; ainda, a recepção dessas performances na arte das drag queens modernas. A hipótese principal desta pesquisa é de que a comédia aristofânica, ao passo que evidencia as demarcações socioculturais de masculino e feminino da Atenas de seu tempo, também revela a instabilidade dessas instâncias, sendo possível a transposição desses espaços por meio do disfarce e da performance. E é este o aspecto que a aproxima do drag, pois, como elucida Butler (2003, p. 196), essa arte desnaturaliza as noções de sexo e gênero a partir da paródia que faz entre a anatomia do performista e a identidade performada. A fim de dar prosseguimento à investigação, adotou-se uma metodologia de pesquisa bibliográfica e descritiva, cujas fontes basilares são Pompeu (2015; 2019), Duarte (2005), Silva (1988), para o estudo das peças de Aristófanes; e Butler (2003), Sullivan (2003) e Miskolci (2007; 2012), para os pressupostos teóricos queer. A pesquisa encontra-se em fase inicial, contudo, conclusões de estudos prévios têm mostrado que a Comédia Grega Antiga, apesar do exagero cômico inerente ao gênero poético, revela-se como importante registro de práticas e costumes de seu tempo, o que viabiliza o percurso aqui proposto. Carece de agradecimento à CAPES pelo fornecimento de bolsa, que permite o desenvolvimento deste trabalho.