CONSIDERAÇÕES PARA O TRABALHO COM A NOÇÃO DE ÉTICA EM MICHEL FOUCAULT

Abstract

O presente trabalho analisa a noção de ética no pensamento do filósofo francês Michel Foucault (1926-1984). No final da década de 70 e início dos anos 80 do século passado, Foucault inicia um deslocamento de suas pesquisas, voltando-se para o pensamento da antiguidade greco-romana e estudando como, naquele contexto, os sujeitos se auto reconheciam como sujeitos desejantes. A noção de cuidado de si é central nessas análises, referindo-se a toda uma experiência do pensamento que Foucault reconhece como ética. Esses estudos levaram muitos de seus leitores a afirmar que há uma ética em Foucault, na medida que trabalham com o pressuposto de que a genealogia ali realizada seria a própria ética do filósofo. Nosso objetivo é argumentar em torno das questões sobre uma ética em Foucault e pensar em que medida todos esses elementos, efetivamente, podem justificar se há uma ética em Foucault. Do mesmo modo, se os estudos acerca da ética em Foucault não se tratam de uma vontade leitora, como diz Celso Kraemer em seu artigo Discurso e Técnicas de Vida: a questão metodológica em Subjetividade e verdade. Haveria um Foucault da ética?. Para isso, buscaremos pensar se é possível afirmar a existência da ética de Foucault a partir da análise de sua genealogia da ética greco-romana e na noção de cuidado. Assim, também pensaremos na coerência em afirmar que um filósofo questionador das certezas, das verdades universais teria, também, deixado uma ética. Das certezas que amparam a argumentação, tem-se que Foucault faz um diagnóstico de práticas éticas na antiguidade greco-romana, que ele tem uma noção de comportamento ético, mas que essa noção não justifica dizer que ele tem uma ética que pode ser extraída dos seus estudos sobre o cuidado de si. A partir da apresentação de argumentos que buscam responder a essas questões, podemos compreender, sem romantismo, em que medida a ética está presente no pensamento de Foucault.