LUIZA MAHIN SOB A PENA DE ANA MARIA GONÇALVES E PEDRO CALMON: ENTRE ESTEREÓTIPOS E REVELIA

Abstract

LUIZA MAHIN SOB A PENA DE ANA MARIA GONÇALVES E PEDRO CALMON: ENTRE ESTEREÓTIPOS E REVELIA A literatura brasileira é um reflexo das projeções e tratamentos que são dispensados aos grupos marginalizados na hierarquia de poder na sociedade. Por muito tempo, produções nacionais solidificaram conceitos degradantes sobre negros, povos originários, mulheres, LGBTQIA+, entre outros. Por parte das autorias negro-brasileiras, o intento de romper o ciclo iniciou-se ainda no período escravocrata (1500-1888), como fez os escritores negros Maria Firmina dos Reis e Luiz Gama. Essa atitude deixou um legado seguido por escritores negro-brasileiros contemporâneos, como é o caso de Ana Maria Gonçalves que publicou a epopeia Um Defeito da Cor (2007) protagonizada por Luiza Mahin. Esta personagem está no campo histórico como factual. Não há evidências concretas que existiu e a áurea de incerteza fomenta a possibilidade de representação de acordo com as preferências da autoria. Pedro Calmon, diferente da Gonçalves, em seu romance Malês: a insurreição das senzalas ([1932], 2002), traça um perfil estereotipado de Luiza Mahin colocando-a como vilã, feiticeira, sem moral devido, sobretudo, por ser negra. O que se pretende abordar é: como a raça dos escritores agregada a outros elementos do campo social (gênero, poder econômico e intelectual) podem influenciar na construção de um personagem histórico. Para isso, utilizaremos o método comparativo fundamentado nas reflexões de Cuti (2009, 2010), Lívia Natália Sousa (2015) e Conceição Evaristo (2020) sobre a literatura como instrumento de ruptura do ciclo de inferiorização em que o negro é alvo. Ao fim, busca-se apresentar um panorama, mesmo que breve, sobre a representação de Luiza Mahin na literatura brasileira evidenciando a racialidade da autoria que a desenha. Agradecimento à Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP) pela bolsa concedida.