MULHER E LOUCURA NO CONTO “DOñA CAYTANA”, DE ARGUEDAS

Resumo

O presente estudo pretende analisar a representação da mulher e da loucura no conto de “Doña Caytana”, publicado em 1935, de José María Arguedas. No início do conto, a indígena Doña Caytana, destacada costureira que vivia em San Juan, um pequeno povoado andino, é descrita pelo narrador como terna, carinhosa e humilde, contudo, ao fim, a personagem é caracterizada, não só pela voz narrativa mas também pelas personagens, como louca, assombrosa e embriagada. Embora a loucura seja, muitas vezes e sem motivo aparente, associada à mulher, no desenvolvimento da história, o narrador dá indícios ao(à) leitor(a) dos motivos pelos quais ocorreu essa grande transformação em Doña Caytana: a morte de seu filho devido a um acidente, quando servia a pátria forçadamente. Por conseguinte, este trabalho almeja contribuir para desmistificar essa recorrente relação entre mulher e loucura, desvendando a urdidura que sustenta, efetivamente, as mudanças decorridas no caráter da personagem. A fim de tentar responder à problemática empreendida, a saber, quais são os motivos para a mulher ser associada à loucura no conto, a pesquisa, a partir de uma perspectiva pós-colonial, debruça-se sobre a extensa fortuna crítica arguediana, como também artigos e trabalhos que exploram a associação mulher e loucura. Destaca-se que o tema do estudo não é inédito, a não ser a leitura e, consequentemente, a conversa com pensamentos e textos afins. Supõe-se que a personagem é vista como louca menos por conta do passado trágico e abusivo envolvendo seu filho do que pelo fato de ser mulher, indígena e sem família.