SE O PODER É BRUTAL, A RESISTÊNCIA AOS MUROS E AS GRADES SERÁ VISCERAL

Abstract

A canção "Muros e Grades", da banda Engenheiros do Hawaii, composta em 1991, diz muito sobre a realidade das grandes cidades, ainda - infelizmente - na atualidade: violência, insegurança e fantasias geradas pela falsa sensação de que muros e grades nos protegem. Por sua vez, o filósofo camaronês Achille Mbembe, numa entrevista, aborda a questão da violência, vigilância e divisão social como fatores que suscitam a manutenção das desigualdades, no qual alguém lucra nesse processo. Ao mesmo tempo em que a tecnologia, a despeito do sentido de evolução e desenvolvimento, cria fronteiras que separam os seres humanos entre o "eu e o outro", normalizando os excessos e as ausências de direito e liberdade. Deste modo, o objetivo é relacionar a música como fonte histórica à entrevista dada por Mbembe e abordar as relações possíveis entre as sensibilidades do artista e do filósofo que interpretam, cada um ao seu modo, e buscam transformar a realidade em que vivem, mesmo que cada um não tenha conhecimento do trabalho do outro, algo que não pode ser afirmado, o pertencimento ao que é humano os une. Realizada a análise da composição e do pensamento de Mbembe, percebe-se como resultado inicial deste estudo, que ambos tecem críticas ao sistema capitalista, suas ilusões acerca da falsa ideia de liberdade, bem como na falsa crença de segurança proposta pelo Estado. Pode-se concluir que a superficialidade da vida, a exposição das pessoas aos perigos e a sensação de segurança atrás das grades, sejam da sua própria casa ou na prisão dos "outros", coadunam com o desejo de lucro capitalista, mantém o controle da população através do medo e exige que este confinamento seja permanente enquanto trouxer ganhos. Se assim for, a mudança só virá através da "resistência visceral" destruindo os "muros e grades" que rodeiam e limitam toda e qualquer tipo de liberdade.