Chamada aberta para o envio de manuscritos para o Dossiê "Arte, cultura e resistências na ditadura militar brasileira"

2020-08-13
Organizadoras

Ana Marília Carneiro (Pós-doutoranda em História – CapesPrInt/UFMG)

Gabriela Galvão (Doutoranda em História - UFMG)

Descrição da Proposta

Inaugurada em março de 1964 com o golpe que depôs o presidente João Goulart, a ditadura militar brasileira é uma das experiências autoritárias mais longevas da segunda metade do século XX na América Latina. No decorrer dos vinte e um anos de vigência do regime articularam-se, por um lado, a estruturação de distintos mecanismos de violência e repressão por parte do Estado e por outro, diversos processos de oposição, crítica e resistência provenientes não apenas de segmentos da luta armada, mas também dos movimentos sociais, sindicais, operário, partidários e das classes artísticas e intelectuais. O campo cultural desempenhou um papel fundamental para a configuração de uma identidade de resistência ao regime militar, principalmente entre os jovens de classe média urbana. Se a esfera da cultura já era importante antes da deflagração do golpe — sobretudo para a esquerda —, durante a ditadura continuou a ser um lugar privilegiado para rearticulação de forças e elaboração de identidades políticas contrárias ao regime.

A resistência cultural pode ser considerada como uma das formas privilegiadas de oposição exercida por intelectuais, músicos, artistas, atores, produtores culturais, entre outros, e, segundo Rodrigo Czajka, consistiu em um fenômeno político e cultural sem precedentes na história do Brasil. Político, porque contribuiu no processo de reorganização dos partidos e movimentos de esquerda, e cultural porque essa reorganização deu-se, muitas vezes, no âmbito das produções culturais, no qual a esquerdas constituíram um espaço de contestação e engajamento através das artes e das atividades intelectuais.

Considerando a linha interpretativa da resistência cultural como uma perspectiva teórico-metodológica estimulante e fundamental para uma compreensão mais sofisticada do período ditatorial, este dossiê tem a proposta de reunir análises historiográficas que abordem diversos aspectos da resistência cultural e da repressão posta em marcha durante a ditadura militar brasileira. A ideia é compor um panorama da produção sobre o período a partir de estudos que tenham como objeto historiográfico as relações entre os de diversos campos e expressões artísticas e culturais como o cinema, teatro, literatura, televisão, música, artes plásticas e o governo militar.

Os pontos de partidas para se compor esse panorama são múltiplos e diversos: trabalhos que abordem temas como indústria cultural, política cultural, publicidade e propaganda do governo militar, movimento contracultural, sistemas editoriais, censura de peças teatrais, filmes, canções, telenovelas, publicidade, programas de rádio e TV, livros, assim como as experiências de exílio, resistência e oposição de grupos de artistas e intelectuais são algumas das temáticas capazes de produzir discussões e reflexões pertinentes à proposta do dossiê.

Consideramos que muito sobre resistência cultural foi produzido, sobretudo quando a produção historiográfica voltou a sua atenção para esta temática na década de 1990, impulsionada por uma visão tributária das disputas do campo da memória onde “tudo era resistência”, e de maneira geral, democrática. A “mistificação da resistência”, essa compreensão simplista e datada do conceito de resistência, que ignorava a existência de ambivalências, acomodações, zonas cinzentas e as relações complexas entre cultura e política já foi identificada, debatida e está se conformando em uma interpretação ultrapassada no campo historiográfico, mas ainda há muito a ser investigado no campo das instituições culturais, dos grupos intelectuais e das produções artísticas e culturais. Essas relações ainda precisam ser estudadas justamente a partir de ângulos novos, que se preocupem em evitar as polarizações reducionistas e formulações empobreceras e que sejam capazes de adentrar caminhos e perspectivas ainda pouco visitados pela historiografia brasileira, situando conceitos, fontes, discussões, metodologias e novos enfoques sobre problemas, instituições e atores que façam avançar a compreensão do período ditatorial brasileiro.

Prazo de envio

10 de agosto a 15 de outubro de 2020

 

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