FILOCTETES NA DITADURA: A DOR COMO MOTOR TRANSFORMADOR DA HISTÓRIA EM RAMOM, O FILOTETO AMERICANO

Resumen

Esta pesquisa é um estudo comparado entre a tragédia grega Filoctetes (409 a. C.), de Sófocles, e sua reescritura moderna Ramom, o Filoteto Americano, de Carlos Henrique Escobar (1976). Na tentativa de compreender o mito da dor humana marcada pela injustiça, este trabalho tem por objetivo analisar o que permanece constante e o que difere entre as duas peças, a partir das diferentes dores vividas pelo herói. Para isso, toma-se por base o estudo de Carvalho (2008), que perscruta as dores de Filoctetes, as quais seriam: tormento físico, ultrage do banido, solidão do inválido, consumição do ódio e desespero metafísico. Tendo em vista as relações de intertextualidade (KRISTEVA, 1974), pergunta-se quais são as semelhanças e as diferenças entre as dores do Filoctetes sofocliano e as do Filoteto Americano. A hipótese básica é a de que as dores deste são distintas das daquele, havendo em comum o tormento físico. A dor de Ramom é coletiva e histórica e tece a identidade dos povos latino-americanos. Esta pesquisa propõe, ainda, apresentar: uma comparação entre as demais personagens, especialmente Odisseu e Neoptólemo; a questão da mestiçagem na peça de Escobar; a formação do coro; a função do metateatro; a simbologia das armas e a relação entre o mito de Filoctetes e sua reescritura durante a Ditadura Militar no Brasil. Os resultados iniciais apontam que a escolha do mito de Filoctetes por Escobar, num contexto de ditadura, coloca as personagens como alegorias da situação política e social vivida pelo Brasil e por países latino-americanos sob a mesma condição. Escobar, influenciado por Brecht (1978), almeja que seu teatro leve à ação, ou seja, à mudança da realidade a partir de uma tomada de consciência que deve ser convertida em luta contra a opressão. Nesse sentido, Filoctetes é o povo, e a dor, fruto das injustiças e da tirania, deve ser um motor transformador da História.