TRAUMA E TEOR TESTEMUNHAL EM

Resumen

O presente resumo apresenta um dos pontos discutidos na dissertação de mestrado em andamento no PPG em Psicologia, a qual conta com apoio de bolsa CAPES/DS. Tal dissertação faz parte de estudos que vem sendo realizados desde 2006, orientados pela professora Karla Martins, os quais tematizam o estudo da problemática da fome e os seus efeitos subjetivos na clínica e na cultura. Mais especificamente, nesta pesquisa, investigamos a dimensão potencialmente traumática da fome, por intermédio de um romance, a saber, A Fome do escritor cearense Rodolfo Teófilo. No campo psicanalítico, a interface com a literatura não é algo novo, existe desde a criação da psicanálise, com Sigmund Freud. Na atualidade essa interface também tem sido remontada a partir das chamadas literaturas de testemunho (originadas por testemunhos escritos Pós-Segunda Guerra Mundial) ou da apresentação dos traços testemunhais presentes em obras literárias, de modo geral. O romance A Fome (1890) trata especificamente sobre a migração forçada de uma família cearense, desde o sertão à capital Fortaleza, na busca pela sobrevivência no contexto da seca de 1877-1879. Nesse contexto há a presença marcante da fome, somada a epidemia de varíola. Mais de um século após a publicação deste texto literário, em 2020, ano marcado pela disseminação de uma pandemia mundial causada pela COVID-19, demontra-se flagrante a atualidade desse texto, dado o recrudescimento do contexto pandêmico, aumento da pobreza e a profunda indiferença de governantes brasileiros em relação a esse contexto. Uma das discussões que propomos sobre a obra supracitada é de que ela possui traços testemunhais. Dado que expõe, através de escrita ficcional, uma catástrofe coletiva - a seca cearense de 1877-1879 - que o autor presenciou e buscou denunciar suas terríveis consequências e compartilha através de um esforço de expressar experiências traumáticas, decorrentes do horror, fome e negligências que a população foi, e ainda é acometida.