MEMÓRIA COLETIVA E TRADUÇÃO:

ADAPTAÇÕES IDEOLÓGICAS NAS TRADUÇÕES ALEMÃS E PORTUGUESAS DO DIÁRIO DE ANNE FRANK

Autores

DOI:

https://doi.org/10.36517/rdl.v1i44.96342

Palavras-chave:

Memória coletiva, Tradução e ideologia, Paratextos editoriais, Diário de Anne Frank.

Resumo

Este artigo examina como traduções do Diário de Anne Frank moldam a memória coletiva por meio de adaptações ideológicas. Na parte alemã, compara-se a versão de Anneliese Schütz (1950) com a de Mirjam Pressler (1991), articulando-as ao contexto da Vergangenheitsbewältigung. Mostra-se que Schütz “desjudaiza” e “desgermaniza” o texto: atenua referências a leis antissemitas, suprime “Vollblut-Juden”, reduz menções a “Jude/Deutsch” e suaviza conflitos familiares e a voz juvenil de Anne, produzindo um efeito de apagamento histórico e moral; Pressler reaproxima o texto do original. Na RDA, o enquadramento antifascista estatal favoreceu leituras universalizantes. Na parte lusófona, mapeiam-se edições portuguesas (Losa, 1958; Vieira, 2004) e brasileiras (Edel, 1978; Calado, 2004; Mariano, 2017; Prado/Paiva, 2019; Zwiesele, 2019), evidenciando prólogos juvenilizantes e a recorrente conversão do presente para pretérito, que distancia a experiência e suaviza a urgência do testemunho. Conclui-se que escolhas tradutórias e paratextuais respondem a expectativas de mercado e políticas de memória, influenciando a percepção histórica, ética e literária do Diário.

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Biografia do Autor

Arvi Sepp, Vrije Universiteit Brussel

Atualmente, é professor de Literatura e Cultura Alemãs na Universidade de Antuérpia e de Estudos de Tradução e Alemão na Universidade Livre de Bruxelas (VUB). Recebeu o Prêmio Fritz Halbers Fellowship (Instituto Leo Baeck), o Prêmio de Pesquisa do Instituto Tauber (Universidade Brandeis), o Prêmio da Fundação Memorial para a Cultura Judaica, o Prêmio da Fundação Auschwitz e o Prêmio de Comunicação em Pesquisa da Real Sociedade Flamenga da Bélgica para as Artes e Ciências. Publicou trabalhos sobre estudos de tradução, estudos autobiográficos, literatura judaico-alemã e teoria literária. Publicou o livro Topographie des Alltags. Eine kulturwissenschaftliche Lektüre von Victor Klemperers Tagebüchern 1933-1945 (2016).

Philippe Humblé, Vrije Universiteit Brussel

Possui graduação em Filologia Românica - Universidade Católica de Louvain (Bélgica) (1978), Mestrado Estudos Hispânicos pela mesma universidade (1982) e doutorado em Letras (Inglês e Literatura Correspondente) pela Universidade Federal de Santa Catarina / University of Birmingham UK (1997). Fez Pós-Doutorado na Universidade Católica de Louvain (2003-2004). Trabalhou de 1984 a 2008 na Universidade Federal de Santa Catarina, dando aulas de Espanhol (língua e literatura) na Graduação e de Tradução e Lexicografia na Pós-Graduação em Estudos da Tradução e na Pós-Graduação em Linguística. Professor visitante na Sichuan University (China). Ele tem experiência na área de Linguística Aplicada, atuando principalmente nas seguintes áreas: Tradução, Literatura espanhola, Literatura latino-americana e Literatura japonesa e chinesa em tradução. Desde 2008 trabalha no Departamento de Linguística Aplicada (espanhol) da Vrije Universiteit Brussel em Bruxelas (Bélgica), universidade da qual ele se aposentou em 2020. Continua orientando teses de doutorado e mestrado na mesma universidade, além de uma disciplina de tradução. Além das áreas acima mencionadas, trabalha atualmente com tradução literária, literatura comparada -mais especificamente de comunidades de imigrantes-, e comunicação intercultural. Em 2021 ele foi agraciado com uma bolsa de pesquisador visitante na UFSC com um projeto sobre os (auto-)tradutores judeus exilados Roberto Schopflocher e Sándor Lénárd, e o também exilado Kader Abdolah.

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Publicado

2025-11-28

Como Citar

SEPP, Arvi; MARIE HUMBLÉ, Philippe René. MEMÓRIA COLETIVA E TRADUÇÃO:: ADAPTAÇÕES IDEOLÓGICAS NAS TRADUÇÕES ALEMÃS E PORTUGUESAS DO DIÁRIO DE ANNE FRANK. Revista de Letras, [S. l.], v. 1, n. 44, 2025. DOI: 10.36517/rdl.v1i44.96342. Disponível em: https://www.periodicos.ufc.br/revletras/article/view/96342. Acesso em: 5 dez. 2025.